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Envelhecimento de gays e lésbicas foi destaque em congresso de geriatria e gerontologia realizado no Rio

quarta-feira, 6 de novembro de 2019 0 comentários



Na semana passada, o X Congresso de Geriatria e Gerontologia do Rio de Janeiro (GeriatRio 2019) foi palco, durante três dias, de discussões sobre os temas que mais instigam os profissionais da área. Nesta e nas próximas colunas, pretendo compartilhar um pouco do que vi e ouvi, e começo pela questão LGBT, que lotou a sala de conferência. A médica Roberta Barros da Costa Parreira, mestre em epidemiologia e geriatra da Policlínica Piquet Carneiro, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, afirmou que a comunidade LGBT sofre duplo preconceito: além da discriminação social, a falta de qualificação da rede de saúde afeta o atendimento.
Na verdade, como o padrão presumido é o da heterossexualidade, o profissional de saúde nem costuma perguntar qual é a orientação sexual da pessoa”, disse.
A discriminação e a violência às quais estão expostas essas pessoas têm consequências dramáticas: o risco de depressão é cinco vezes maior, assim como de manifestações de disfunções sexuais, distúrbios alimentares, abuso de substâncias psicoativas e isolamento social. No ambiente social, com frequência a rede de suporte familiar é comprometida, porque o jovem ou adulto LGBT se afasta, mas a lista de problemas não para aí. A homofobia impacta a escolaridade – muitos abandonam os estudos por causa do bullying – e faltam locais de lazer acolhedores. Quando envelhecem, gays e lésbicas acabam não recebendo benefícios previdenciários quando o cônjuge morre e, se são obrigados a se recolher a instituições de longa permanência, enfrentarão novos preconceitos.

A doutora Roberta Parreira preferiu abrir a palestra com um assunto ainda menos visível: a homossexualidade e bissexualidade femininas. Mostrou que, de acordo com o dossiê da Coordenação de DST/Aids do Ministério da Saúde, entre as mulheres heterossexuais, a cobertura de exames preventivos realizados nos últimos três anos é de quase 90%; entre as lésbicas e bissexuais, não chega a 67%.
Cerca de 40% não revelam sua orientação sexual. Entre as que revelam, 28% afirmam que, depois disso, o atendimento é feito de forma mais rápida”, lamentou.
Esse grupo acaba tendo risco aumentado para câncer de mama, colo de útero e ovário, porque se submete a um menor número de exames para o rastreio da doença. Os motivos? Medo da discriminação e também a negação do risco: como o sexo é feito com outras mulheres, muitas acham que estarão menos expostas ao câncer no colo do útero, por exemplo.
Deixamos de alertar essas mulheres em relação ao uso de proteção para o sexo seguro: há recursos como calcinhas de látex e o uso de luvas para penetração com dedo”, explicou a médica.
Yone Lindgren
 Por isso o depoimento da fotógrafa e ativista Yone Lindgren foi tão aplaudido. Aos 63 anos, ela é consultora em direitos humanos e diversidade e contou por que é uma exceção:
estou aqui para falar da realidade da população que represento, mas sou branca, estudei o quanto quis, moro na Zona Sul carioca e adotei meus filhos. Sou uma exceção de uma parcela que é calada, perseguida e, quando envelhece, perde sua identidade sexual. Acaba tendo que voltar para o armário se tiver que morar com a família ou ficar numa instituição”. 
Diversos relatos partiram da própria plateia. O médico Wilson Jacob Filho, professor titular de geriatria da Faculdade de Medicina da USP, compartilhou um caso ocorrido no Hospital das Clínicas da universidade:
duas senhoras se encontravam internadas na enfermaria. Ao final da visita, uma delas foi beijada por sua cônjuge, e essa demonstração de carinho provocou uma forte reação da outra idosa e sua família. Os profissionais de saúde que estavam ali também não souberam lidar com a situação e isso nos serviu de lição sobre a necessidade de educação continuada para toda a equipe”.
Clipping Desafios do envelhecimento LGBT mobilizam profissionais de saúde, por Mariza Tavares, G1, Bem Estar, 05/11/2019

Pessoas homossexuais correm mais risco de sofrer solidão quando envelhecem

sexta-feira, 12 de abril de 2019 0 comentários



Risco de solidão é maior para a comunidade de gays, lésbicas e outras minorias que envelhece

Falta de apoio de amigos e familiares é uma preocupação para os idosos gays

Relatório mundial divulgado no dia 19 de março mostra que a relação homossexual ainda é crime em 70 países, sendo que seis deles preveem pena de morte. O levantamento chama-se “Fobia de Estado” e está em sua 13ª. edição. Inclui apenas membros da ONU, entre os quais 35% criminalizam a homossexualidade – a maioria na África. É realizado pela Associação Internacional de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Trans e Intersexuais (Ilga em inglês). Segundo a organização, em 1969, 74% das pessoas viviam em nações onde ser gay era crime; atualmente, esse percentual é de 23%. Um caso emblemático é o da populosa Índia, onde a prática foi descriminalizada ano passado. Aproveito para voltar ao assunto porque, se envelhecer é um desafio para todos, pode ser bem mais difícil para os homossexuais.

Muitos desafios relacionados ao envelhecimento são comuns a todos: imaginar quem cuidará de nós se ficarmos muito frágeis ou avaliar qual será nossa reserva financeira depois da aposentadoria. Há outros que angustiam os homossexuais, como mostrou pesquisa nacional realizada no ano passado pela AARP, a Associação de Aposentados dos EUA, entidade que reúne quase 38 milhões de afiliados. De acordo com o levantamento, 57% dos homens gays acima dos 45 anos são solteiros e 46% vivem sozinhos. Entre as lésbicas, os percentuais são menores: respectivamente, 39% e 36%.

A solidão tem um enorme impacto negativo no bem-estar e, quanto mais vulnerável o círculo de relacionamentos de uma pessoa, pior. Na falta de cônjuges e filhos, essa rede de proteção diminui e mesmo o número de potenciais cuidadores é afetado, ainda mais se o indivíduo se afastou do seu núcleo familiar. A mesma pesquisa mostra que os adultos LGBTQ se preocupam de não ter apoio de amigos e familiares ao envelhecer. Um outro estudo, do Williams Institute, ligado à Universidade da Califórnia, relatou que quase 60% de idosos homossexuais se ressentem da falta de companhia e 50% se sentem isolados. Enquanto o aumento do número de centros comunitários voltados para o segmento homossexual já é uma realidade na Califórnia, no Brasil mal engatinha.

Fonte: G1, Bem Estar, por Mariza Tavares, 28/03/2019

Gays e Lésbicas na terceira idade: amor, solidão e resistência

quarta-feira, 27 de março de 2019 0 comentários

Silmara e Valeria dançando Imagem: Arquivo pessoal

LGBT na terceira idade: 3 histórias inspiradoras sobre amadurecer

Uma projeção do IBGE aponta que o Brasil terá mais idosos que jovens em 2060. E, se envelhecer é tabu para qualquer pessoa, essa angústia se reforça entre a população de gays e lésbicas. 

"Isso porque existe uma possibilidade maior de essa pessoa se ver 'mais sozinha' na velhice em relação a outras pessoas", explica a neuropsicóloga Elaine di Sarno.

Há motivos variados de solidão: quem rompeu com familiares de origem há algumas décadas por conta da orientação sexual, quem não teve filhos... a psicóloga Juliana Guimarães de Araujo acredita que essa postura tem a ver com o momento em que se assume a homossexualidade. Só em 1990 a OMS retirou a homossexualidade da lista internacional de doenças.

"A pessoa que se assumiu nessa época teve uma determinada experiência. Até por conta do contexto social, cultural da época: ninguém os estimulava a se expressarem. Muitos pensavam que tinham de se moldar para serem aceitos", conta a profissional.

Mas como é a vida de pessoas de 50, 60 e 70 anos que se assumiu LGBT há algumas décadas?

Veja relatos de pessoas maduras que contam como vivem o amor (e a solidão) hoje:

Ela era o amor da minha vida

Se eu me sinto sozinha? Sim, mas por causa da ausência da Ester."
Assim começou a entrevista com a jornalista e escritora Laís de Castro, 72 anos, que acabara de enviuvar de Ester -- segundo ela, o grande amor da sua vida, com quem comemorou 28 anos de união estável em fevereiro.

Laís conta que, meses antes, as duas haviam feito check-ups e estavam com a saúde em dia - mas a companheira teve um infarto fulminante.

Física nuclear e professora, casou com o pai de seu filho aos 23 anos, mas aos 27 já estava separada e namorando uma moça. Cerca de 10 anos depois, ela e Laís foram apresentadas. "Eu não a conhecia, nunca tinha visto na vida, mas foi como se um raio caísse na cabeça das duas. Um ano depois nós estávamos juntas, e assim passamos os últimos 28 anos."

Laís se considera privilegiada pelo fato de ter uma família que sempre respeitou sua orientação sexual, assim com as suas companheiras.
Eu tenho 5 irmãos e 19 sobrinhos -- e eles são muito meus amigos. Então, tem alguns que ficaram até mais amigos dela", contou fingindo estar com ciúmes. "Minha irmã, maravilhosa, no velório [da Ester] chorou quase tanto quanto eu."
Além disso, ela trabalhava em ambientes que considerava mais abertos, relacionados à Comunicação. Por isso, acha que nunca esteve no armário.
Quando alguém me convidava para algum evento, sempre chamavam a mim e à Ester. Eu nunca cheguei e falei que era homossexual", lembra.
Por outro lado, como professora universitária e física nuclear, Ester não se sentia tão confortável.
Com o pessoal do trabalho, ela só falava do ex-marido, do filho."
Em 2013, as duas foram morar em Franca, no interior de São Paulo: Ester foi convidada para ser reitora de uma grande faculdade particular da região. Laís foi com ela, claro. Como prima.

A reitora não pode ser sapatão, né?

No armário permaneceram até 2018, quando Ester morreu -- lá em Franca, mesmo. Seu filho, então com 38 anos de idade, já era médico geriatra e foi um dos responsáveis por atestar o óbito da mãe. Ele também é descrito por Laís como um grande amigo.
Sou uma idosa autônoma: eu dirijo meu carro, compro meus remédios, vou ao médico sozinho e sou craque no computador", diz Laís. "Eu não tenho problema de saúde, meus 72 anos são só no documento. Eu vivo como uma pessoa de 60", disse ela, que não aguentou permanecer na casa onde viviam juntas e se mudou para Ribeirão Preto, também no interior paulista.
Por outro lado, tenho outras amigas LGBT também, que vivem uma realidade complicadíssima: como não têm filhos, não têm acompanhantes para levarem aos médicos e fazer exames, por exemplo", lamenta.
Conheço outras idosas lésbicas que sofrem com a solidão porque não têm um vínculo com as famílias, ou não tem boas relações com as colegas. Ficam vivendo só entre elas."
No dia 25 de março, quando a morte de Ester completa um ano, Laís lança o livro "Vida a duas - O livro do nosso amor", que ela escreveu "para que a mulher nunca seja esquecida". Ela prefere não mostrar fotos da parceira para não expor.

Se eu pudesse escolher, eu nascia era gay, de novo

"Nascido em Recife, o sociólogo Carlos Sena, 68 anos, disse que nunca
teve problemas por ser gay" Imagem: Arquivo pessoal

Nascido no interior de Pernambuco, o sociólogo Carlos Sena, 68 anos, disse que nunca teve problemas por ser gay. Veio de Bom Conselho para Recife cedo, mas quando morava lá, namorava mulheres. Depois que chegou em Recife e começou a trabalhar e a fazer faculdade, começou a notar os olhares de outros homens.
Eu sempre apresentei meus namorados com a maior naturalidade para a minha família. E sempre me senti superior a qualquer tipo de preconceito."
Sena dava aulas de psicologia social e sociologia. Um dia, uma aluna disse que estava apaixonada por ele.
Ela sabia que eu era gay, mas disse que queria me colocar no caminho certo. Eu disse que não queria."
Especializado em gestão pública em saúde, ele conta que já ocupou cargos importantes do governo de Pernambuco e sempre foi tratado com respeito, porque sempre se impôs.
Ainda tem muito preconceito dentro do mundo gay. Muitas "bichinhas" se acham melhor que as outras porque não são pintosas, ou porque têm mais dinheiro".
Apesar de ter sido casado algumas vezes, ele reclama que o problema sempre foi arrumar um parceiro que o acompanhasse no nível intelectual.
Se eu nascesse de novo e pudesse escolher, eu nascia era gay. Eu me amo e são poucas as bichas que travam o caminho de se amar", diz ele que garante não sentir solidão, apesar de estar solteiro há seis meses. "Chovia rapaz novinho na minha horta, mas eu não quero."

“Eu aprendo muito com a Sil. Com ela fui a primeira vez em um boteco.
Ela me incentivou a voltar a estudar, a me preparar para o concurso” Imagem: Arquivo pessoal


Conheci o amor da minha vida numa sala de bate-papo.

A funcionária pública Valéria Casolato, 53 anos, esteve com um homem durante 14 anos -- 2 de namoro e 12 de casamento.
De repente, me vi em um casamento falido, sem emoções, sem amizade ou companheirismo e com uma filha de menos de dez anos. Eu não tinha mais sonhos ou objetivos aos 30 e poucos anos."
Desencantada com a crise no casamento, ela procurou atividades como teatro e até salas de bate papo virtuais -- muito populares no fim dos anos 90.
Entrei em uma sala de lésbicas porque queria conversar com pessoas diferentes de mim e conheci o amor da minha vida."
Fiquei assustada, claro. Fui para a terapia para entender o que eu estava sentindo, coloquei a minha filha também. Depois conversei com o meu marido e me separei."
Formada em Relações Públicas, ela acredita que a área é mais aberta e, por isso, se deparou com poucas situações em que foi vítima de preconceito. Mas, no meio familiar, foi mais difícil.
Quando minha mãe soube, teve um pico de pressão alta e foi parar no hospital. Ela achava que eu só dividia um apartamento com uma amiga."
Mesmo sentindo que estava fazendo algo errado, Valeria percebia que estava cada vez mais envolvida com a atual esposa, Silmara.
Eu aprendo muito com a Sil. Ela me incentivou a voltar a estudar, a me preparar para o concurso", conta. Em fevereiro elas comemoraram 19 anos de relacionamento.
Até hoje durmo com ela fazendo carinho em mim. Passamos por muitas coisas juntas: falta de grana, desemprego, doenças. Mas gostamos de estar juntas e temos um trato: não dormimos brigadas."

A vida de gays e lésbicas na velhice

quinta-feira, 20 de setembro de 2018 2 comentários

Naiara (E): "As pessoas se torcem para olhar. 'Onde já se viu
 duas velhas sapatonas no meio da rua?'"Andréa Graiz / Agencia RBS

A velhice entre iguais: como é a vida de gays e lésbicas depois dos 60 anos
A rotina na terceira idade inclui a paixão e, também, o sexo. Mas, para os homossexuais, pode haver particularidades. GaúchaZH ouviu idosos sobre seus afetos e suas relações

Elas simulam o primeiro beijo até hoje: se há algum desentendimento, um selinho que depois passa para um toque de lábios mais demorado, quando uma não deixa a outra se afastar, tem o poder de lembrá-las da fortaleza do relacionamento de mais de três décadas e, ao mesmo tempo, do frescor de que esse amor ainda desfruta. 

A comerciária aposentada Mary Saupe Malavolta, 66 anos, com os cabelos grisalhos que nunca quis pintar, já está plenamente instalada na terceira idade, grupo formado pelos indivíduos a partir dos 60. Falar de envelhecimento é comum para uma população que está se tornando cada vez mais longeva, mas a velhice dos homossexuais ainda é tabu até mesmo entre o público LGBT. Desafios como a deterioração da forma física e da saúde, a necessidade de amparo, a solidão e a falta de políticas públicas específicas podem dar tons mais dramáticos às vivências desse grupo, nativo de um tempo em que as relações entre pessoas do mesmo sexo eram reprovadas com muito mais veemência.

Mary e a companheira, a servidora pública federal aposentada Ana Naiara Malavolta Saupe – uma adotou o sobrenome da outra –, 51, estão juntas há 33 anos. Enfrentaram caras feias e grosserias no começo, namoraram escondidas, tiveram suas próprias barreiras a superar, como qualquer par, mas jamais passaram por uma situação que provocasse um rompimento. São reconhecidas como um casal não apenas nas rodas por onde circulam e pelos vizinhos, mas também quando são somente duas anônimas na multidão: andam de mãos dadas, abraçam-se na parada de ônibus, afagam-se quando sentadas lado a lado. A tolerância com a diversidade deveria ter aumentado muito em todo esse período, mas elas ainda chocam.
Sai comigo e com a Mary na rua um dia. As pessoas se torcem para olhar. "Onde já se viu duas velhas sapatonas no meio da rua?" — relata Naiara.
Alguns querem tirar a prova e as questionam se são mãe e filha, dando abertura para a resposta natural:
Não, ela é minha esposa. 
Andréa Graiz / Agencia RBS

A sensibilidade do tema e o forte preconceito ainda vigente ficaram evidentes nas dezenas de tentativas de Zero Hora para convencer idosos homossexuais a contarem suas histórias. A reportagem carecia de voluntários dispostos a falar abertamente, sem se proteger por trás de nomes fictícios ou letras iniciais, e a se deixarem fotografar. Possíveis entrevistados, quando contatados, sentiram-se até ofendidos. Alguns toparam conversar, narrar suas rotinas – a prática de frequentar saunas para socializar e se satisfazer sexualmente, os encontros clandestinos, a dificuldade de arranjar parceiros devido à idade –, mas apenas como desabafo, sem cogitar jamais que as confidências viessem a público. Muitos saudaram a ideia de ver o tema no jornal como um meio de conscientizar os leitores e dissolver preconceitos, mas se desculparam por não terem interesse ou coragem de encarar a repercussão. Um conhecido senhor de mais de 80 anos alegou que uma tia sabia de sua orientação, mas jamais suportaria passar pela exposição do sobrinho.
Se já é difícil ser gay no dia a dia, imagine quando todos os vizinhos e parentes enxergarem minha foto estampada no jornal falando sobre minha homossexualidade — alegou outro dos personagens sondados para dar um depoimento.
Não é questão de se esconder, de ser enrustido, o que não sou, mas expor minha vida em jornal não faz minha cabeça — desculpou-se um terceiro, de 68 anos. — Somos pessoas que pertencem a uma geração muito reprimida. Na época de juventude, éramos vistos como coisa demoníaca, um pecado, um insulto a Deus, uma aberração. Fomos achatados por uma cultura religiosa, educacional e familiar, o que é bem diferente da gurizada de hoje, muito mais livre, solta, natural nos seus gestos e atitudes, que teve pais que não a sufocou com conceitos retrógrados e pobres.
Mary, 66 anos, e Naiara, 51, moradoras de Viamão, estão juntas
há mais de três décadas Andréa Graiz / Agencia RBS

Quando pequena, como quase toda menina, Mary brincava com bonecas. Com uma diferença fundamental nos papéis atribuídos a ela e aos brinquedos: o contexto não era de mamãe e filhinhas, mas de namoradas que se beijavam. As duras reprimendas da mãe eram acompanhadas de palmadas na bunda e beliscões nos braços. Mary se sabia diferente, mas levou muito tempo até descobrir o que era. Seguiram-se amores platônicos pela professora e por uma menina da escola, além de tentativas de casinhos com meninos – por pressão de familiares e amigos –, cujos beijos lhe provocavam repulsa. 
Eu não tinha a quem recorrer, organizações que pudessem acolher ou tirar dúvidas. A homossexualidade era considerada anormal. Eu nem conhecia a palavra lésbica. Conhecia a palavra que a minha mãe usava: machorra — recorda a comerciária, durante uma manhã de agosto em que conversou com a reportagem, na companhia de Naiara, diante do fogão a lenha de casa, em Viamão. 
A primeira relação com uma mulher aconteceria apenas por volta dos 30 anos. Mary virou motivo de chacota e, ao mesmo tempo, um troféu a ser conquistado: naquela idade, ainda era uma "princesinha", virgem, disputada por garotas que queriam lhe ensinar as artimanhas da transa entre iguais. Em um período de muito sofrimento, Mary era cobrada para que se assumisse. À época, os termos "coturno" ou "sapatilha" designavam os papéis masculino e feminino na relação. 

Um episódio traumático traria uma certeza. Lateral-direita de boa técnica e condicionamento físico, Mary disputava um campeonato feminino de futebol no Litoral quando deu um chute forte que atingiu em cheio a coxa de uma jogadora. A atleta se queixou, começaram as reclamações, um burburinho, "manda embora essa sapatão!", "não pode!", "é homem!". De repente, a fúria da quadra incendiou a plateia ao redor.
Sapatão! Machorra! — urrava quase uma centena de torcedores. 
As crianças olhavam para Mary como se mirassem um ET. Ela segurou o choro. Amigos a incentivaram a "ficar surda" para a balbúrdia. O jogo recomeçou, a lateral marcou incríveis 10 gols e deu mais quatro ou cinco boladas nas adversárias. Seu time ganhou. 
Aquilo me fortaleceu em algumas convicções. Saí arrasada, cara, mas sem nenhuma dúvida do que eu era — recorda.
Naiara estava na turma que deu força a Mary na partida. Apesar do fracasso da abordagem inicial, anos antes, na boate Vitreaux, quando Mary aproveitou a trilha sonora para revelar suas intenções em relação à jovem atraente, bem mais moça do que ela, cantando Deixa Eu te Amar, de Wando ("Quero te pegar no colo/ Te deitar no solo e te fazer mulher"), ambas já haviam entrado uma na vida da outra para não mais sair.

Duplo estigma

Envelhecer, para a população homossexual, pode ser mais pesado devido a um duplo estigma: além dos muitos enfrentamentos que homens e mulheres têm no espaço social, eles ainda sofrem com a rejeição dentro do grupo. Ou seja, gays e lésbicas idosos, frequentemente, são desprezados ou ignorados por seus pares mais jovens. O sociólogo Murilo Peixoto da Mota, do Núcleo de Estudos em Políticas Públicas de Direitos Humanos na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), descreve um movimento comum de recuo, protetivo, na idade avançada. 
 O homem que, ao longo da vida, lutou para se autoafirmar como homossexual, quando consegue tornar isso público, depara com o seu envelhecimento. Então, muitos voltam para o armário depois de terem lutado para sair do armário — explica o autor de Ao Sair do Armário, Entrei na Velhice... Homossexualidade Masculina e o Curso da Vida.
Mota percebeu resistência ao assunto inclusive em suas pesquisas:
 É um tema do gueto na academia. A academia olha de lado: que importância tem estudar gay velho?
Outros marcadores podem tornar a experiência do envelhecimento ainda mais dolorosa. Carlos Eduardo Henning, antropólogo, professor da Universidade Federal de Goiás (UFG) e pesquisador na área da gerontologia LGBT, cita, além da homossexualidade e da velhice como geradores de preconceito, a raça e a classe social. A experiência varia em graus de dificuldade para gays e lésbicas idosos de classes altas ou baixas e para os negros, por exemplo. 

Henning encontrou as primeiras publicações sobre o envelhecimento LGBT datadas da década de 1960, apresentando um cenário sombrio, sobretudo para os homens, solitários e excluídos dos espaços de socialização, tomados pela mocidade. Era como se os gays idosos não existissem. Decorrido mais de meio século, houve avanços. Hoje, relata o pesquisador, a representatividade é um pouco mais ampla, graças à atuação de militantes e à inserção do tema no enredo de filmes, séries e novelas – Fernanda Montenegro e Nathalia Timberg provocaram polêmica ao se beijarem no primeiro capítulo de Babilônia, trama exibida em 2015 pela Globo (RBS TV). Para Henning, agora é possível, graças a exemplos positivos, vislumbrar um futuro para os homossexuais. 
Algumas pesquisas mostram que, para você se conceber como velho, não teria como se conceber como gay. Quando as pessoas não veem modelos bem-sucedidos de velhice, não conseguem conceber o que é isso, vira um vácuo de representação. Esse traço de imediatismo era muito presente há 10 anos. Muitos diziam: "Estou vivendo o momento, não vou chegar à velhice, não quero envelhecer". Agora a gente está vendo que a velhice é um projeto possível. A juventude de hoje começa a pensar que um futuro como velho LGBT é algo bem distinto de antigamente. Muitos entrevistados me disseram: "Eu nunca me imaginei chegando até aqui" — conta Henning, também pesquisador do Ser-Tão – Núcleo de Estudos e Pesquisas em Gênero e Sexualidade, ligado à UFG.
Apesar da militância pelas causas lésbica e feminista, Mary tinha até anos atrás uma trava que a levou a buscar apoio psicológico: fugia das demonstrações públicas de carinho. Naiara, também ativista, cobrava:
 Estou aí falando de liberdade e a gente não consegue sair de mãos dadas. Como assim?
As sessões, durante um ano e meio, provaram-se libertadoras.
 Me reafirmei como lésbica. Não tenho que ter medo de expressar a minha sexualidade, e é um direito que tenho o de ser respeitada por isso. Comecei a dar entrevista, sair de mão dada com ela, abraçá-la... Chamo ela de "mor" em qualquer lugar agora — orgulha-se Mary.
A visibilidade, garantem as duas, é protetora, empodera. A vergonha e o medo, por outro lado, dão brecha para agressões e chacotas. Se ouve algum comentário depreciativo ou piada de mau gosto, Mary encara: 
Qual é o problema que o senhor tem com isso? No que posso ajudá-lo? Tem alguma dúvida? Quer saber alguma coisa? Porque eu sou lésbica!
Tanta segurança também impulsiona Mary a intervir em defesa de outras mulheres. Em mais de uma ocasião, flagrou homens forçando proximidade com jovens em ônibus lotados. Furiosa, chamou a atenção das vítimas, que, muitas vezes, entretidas com os celulares, nem perceberam o que estava se passando.
 Por favor, senta aqui no meu lugar, menina — pediu Mary certa vez. — Senta aqui que eu quero ver se vão se esfregar em mim como estão se esfregando em ti! — falou, alto, atraindo a atenção dos demais passageiros.
Ao trocar de posição, encarou o abusador, indicando com as mãos o seu próprio corpo:
Tá, meu querido, vai ou não vai? Não gostou do material? Vamo lá!
Começou uma movimentação no coletivo, outros usuários se oferecendo para atirar o sujeito pela janela, Mary dispensando a ajuda e alegando estar no comando da situação. Na parada seguinte, o agressor desembarcou.
 Não aguento mais esse tipo de coisa — revolta-se ela.
No exercício de uma intimidade tão duradoura, Mary e Naiara observam em detalhes as mudanças em seus corpos. Mary sentiu a diminuição da libido na menopausa. No toque e no beijo, sua falta de vontade para o sexo já era percebida pela parceira, o que nunca foi motivo de atrito, graças a muita conversa. A comerciária diz não se constranger por estar 15 anos à frente. Questionada sobre o que a incomoda defronte ao espelho, tem dificuldade em encontrar a resposta. Pensa e responde: as varizes. No geral, a diminuição da força e do vigor. Para Naiara, a atração continua intacta. 
Adoro o barrigão dela! — diverte-se a servidora pública aposentada, provocando uma gargalhada geral. — (O envelhecimento dela) não afeta minha libido, de jeito nenhum. As pessoas são condicionadas a achar que tem a ver com a estética. Não tem! Tem a ver com o cheiro, a química, a intimidade. Adoro o cheiro dela. A cumplicidade que a gente tem... Somos duas mulheres, não há entendimento melhor do que esse. Ela sabe que sou apaixonada por ela.
Mary retribui:
 Nós tiramos na loteria quando nos encontramos.
A residência do bairro São Lucas está à venda. O plano, antigo, é uma mudança para a Bahia – o pai de Mary, de 87 anos, vai junto. É hora de aproveitar a vida, justificam elas. Pretendem também organizar uma espécie de comunidade, cercando-se de pessoas que possam cuidar umas das outras conforme a idade aumenta.
Morrer é da vida, né? A probabilidade é de que eu vá antes — comenta Mary, explicando que esse tema não é proibido nas conversas. 
Quero mais 33 anos do ladinho dela — deseja Naiara.
Fonte: GauchaZH, 07/09/2018

Britânica assume lesbianidade aos 91 anos

segunda-feira, 19 de fevereiro de 2018 0 comentários

Ao escrever suas memórias, a ex-servidora inglesa Barbara Hoskins revelou manter um relacionamento com outra mulher há 20 anos | Foto: Antonio Olmos

Por que resolvi me assumir homossexual aos 91 anos
Eu realmente aprecio o fato de que, na minha idade, posso ser totalmente livre com as pessoas. Acho que corro um pouco o risco de me tornar um ícone gay!", diz Barbara Hosking, que decidiu assumir sua homossexualidade aos 91 anos, em meio a suas reflexões sobre sua vida nos corredores do poder.
Como funcionária pública, a inglesa trabalhou para dois primeiros-ministros britânicos, Edward Heath (1970-74) e Harold Wilson (1964-70 e 1974-76), e também foi uma executiva de televisão.

Hosking combateu o sexismo em toda sua carreira, tendo defendido equiparação salarial entre mulheres e homens e  brigado para estar na mesma sala durante algumas reuniões.

Em entrevista à BBC Radio 5, ela explicou o motivo de nunca ter falado de sua sexualidade para a sua família.
Meus pais não teriam entendido e teriam ficado chocados. Eles me amavam muito, mas meu pai era um homem à moda antiga, convencional. Minha mãe provavelmente teria pensado que foi uma escolha difícil e infeliz para eu ter feito. Na verdade eu tenho sido muito feliz. Tive uma vida plena."
Hosking mantém um relacionamento homossexual há 20 anos e decidiu revelar isso publicamente ao escrever sua autobiografia, com o título Além dos meus limites: Memórias de uma Desobediente Funcionária Pública (em tradução livre).
Os homens tiveram um grande momento libertador quando as leis (que proibiam a homossexualidade) mudaram e eles não corriam mais perigo de serem presos ou, mais antigamente, serem mortos (por causa da orientação sexual)", diz ela. "As mulheres nunca tiveram isso, mas é extremamente difícil - você pode facilmente ser relegada ao ostracismo."
A inglesa se mudou da Cornuália para Londres aos 21 anos, em busca de uma carreira no jornalismo.

Ela se integrou ao escritório de imprensa do Partido Trabalhista e passou a servir como assessora de imprensa de Edward Heath e Harold Wilson.
Igualdade salarial

Apesar de seu histórico no Partido Trabalhista - ela chegou a pensar em concorrer a uma vaga como parlamentar -, Hosking diz ter certa empatia pelas dificuldades enfrentadas pela atual premiê, Theresa May, que tem o desafio de colocar em prática a saída do Reino Unido da União Europeia (o Brexit, decidido em plebiscito no ano passado), tendo perdido maioria absoluta no Parlamento em meados do ano passado.
Ela teria sido uma primeira-ministra maravilhosa em 'tempos fáceis', com uma grande maioria (no Parlamento), mas ela não teve condições para lidar com o que está acontecendo agora."
É uma posição horrorosa para qualquer primeiro-ministro estar, com seu gabinete rachado, assim como parlamentares divididos atrás dela. É triste porque ela tem muitas qualidades, mas falta o 'instinto matador' para agir. Pode ser que ela olhe em volta e sinta que não consegue."
Barbara Hosking em sua festa de 90 anos Foto: Arquivo Pessoal

Hosking, que já soube de subordinados que ganhavam salário maior que o seu, diz estar desanimada com o fato de as mulheres terem de continuar lutando por igualdade profissional.
Acho isso chocante. Por que é tão difícil pagar salários iguais? (A desigualdade) acontece em vários lugares, (mas) poderia ser resolvida."
Em defesa de direitos iguais

Apesar disso, Hosking acredita que agora as mulheres "têm mais liberdade para escolher serem elas mesmas do que em qualquer outro momento da história".

Ela lembra de mulheres sendo convidadas a se retirar da sala após um jantar de alto nível em Bruxelas.
Eu respondi 'Sinto muito, eu preciso voltar. Estou com meu ministro, sou sua secretária particular'. E eles disseram: 'Você não pode fazer isso, as mulheres se retiram para os homens então poderem discutir'. E eu disse: 'Ele não será capaz de fazer isso sem mim, eu fiz todo o trabalho para isso'", conta. "Me disseram que eu viraria tema de conversa em Bruxelas no dia seguinte (por causa dessa postura)."
Barbara também cuidou de uma mina na Tanzânia, onde encontrou criaturas como essa cobra da foto
(Foto: Arquivo Pessoal)

Ela torce para que o movimento #MeToo, que começou com os escândalos de Hollwood e se espalhou por todo o mundo trazendo denúncias de assédio e abuso sexual vivenciados por mulheres, seja um divisor de águas, mas não esconde certo ceticismo.
Pode haver uma mudança cultural, mas é algo difícil", opina. "No passado, (o assédio) era algo que você suportava e guardava para você. Você dava um tapa na mão deles (homens) ou dava um bom empurrão. Acho que você poderia dar uma joelhada se fosse o caso."
Ela também diz lamentar o Brexit, já que esteve com o primeiro-ministro Edward Heath quando ele assinou o Tratado de Roma, em 1957, que lançou as bases para a formação da União Europeia.
Eu votei para que o Reino Unido permanecesse na União Europeia. Que grande tiro no próprio pé (é o Brexit). As pessoas queriam mudança, então foi fácil culpar a imigração ou a Europa, como se não fossemos parte da Europa."
Por fim, ela revela sua estratégia de longevidade: vinho tinto. 
Bebo duas taças por dia. Meu médico sabe e diz que está tudo bem".

Fonte: BBC 5 Live,  Jim Taylor, 14/02/2018

Bisavô de 95 anos se assume gay e provoca reflexão sobre velhice e homossexualidade

terça-feira, 28 de março de 2017 0 comentários

Liberdade. Roman Blank, 95, sobrevivente do Holocausto e que ficou 60 anos casado, conta ao youtuber Davey Wavey sobre a decisão de se revelar homossexual

Bisavô de 95 anos que se revelou gay abre debate sobre o tema na terceira idade

Assumir a homossexualidade é uma decisão difícil para a maior parte das pessoas, pois não se sabe de que forma a revelação irá afetar a vida afetiva, familiar e profissional. Por isso, muitos acabam deixando a revelação em último plano. E, quando a velhice e a homossexualidade ocupam os mesmos espaços, o preconceito e a exclusão costumam aparecer em dose dupla. Por outro lado, para outros, é quando chega a terceira idade que a vida pode ganhar todo um novo sentido.

Recentemente, o bisavô inglês Roman Blank surpreendeu o mundo ao se declarar homossexual aos 95 anos. A revelação desse senhor, que sobreviveu ao holocausto, foi casado por mais de 60 anos com uma mulher e tem dois filhos, foi feita ao youtuber Davey Wavey em vídeo que já teve mais de 405 mil visualizações.
Eu disse para eles (família) que nasci e fui gay a minha vida toda. Então, contei a eles toda a tragédia que foi a minha vida, para que eles pudessem entender o que houve comigo. Você pode imaginar 90 anos no armário?”, disse Roman.
Orgulhoso de sua coragem, um dos netos, Brando Gross, decidiu registrar essa história no documentário “On My Way Out” (“A Caminho de Fora”, em tradução livre), que ainda está sendo produzido.
Há, de fato, um número maior de pessoas se revelando, aponta o psicólogo e psicoterapeuta de terapia afirmativa para homossexuais Klecius Borges. Com base em relatos feitos em seu consultório, em São Paulo, ele atribui esse comportamento “às mudanças comportamentais e sociais em relação à sexualidade e também a uma ênfase maior na busca por uma vida mais feliz e livre”.

Por outro lado, quem acaba adiando demais essa manifestação costuma ter que lidar também com os prejuízos e os sintomas decorrentes do processo de autorrepressão, como depressão, ansiedade, abuso de substâncias (álcool, cigarro e outras drogas), doenças psicossomáticas, entre outras, diz Borges.

Segundo uma pesquisa realizada em 2012 pela ONG inglesa Stonewall, o preconceito e a falta de direitos civis acentuam as consequências do envelhecimento para os homossexuais. Resultados semelhantes também foram encontrados no Brasil. Dados apresentados pela psiquiatra Carmita Abdo durante o Congresso Brasileiro de Geriatria e Gerontologia, em 2014, indicam que os idosos LGBTs são mais propensos a sofrer de depressão: 24% das lésbicas e 30% dos gays, contra 13,5% de heterossexuais.

Situações de maus-tratos e solidão, que acometem a população idosa em geral, são ainda mais preocupantes entre os gays. O Brasil é o país que mais mata LGBTs no mundo. O levantamento aponta que, entre a população com mais de 61 anos, existem 2,2% de homossexuais e 1,8% de bissexuais do sexo masculino. O índice, porém, não reflete, necessariamente, a sociedade, haja vista que muitas pessoas não revelam sua orientação.
Preconceito interno. No livro “Ao Sair do Armário, Entrei na Velhice... Homossexualidade Masculina e o Curso da Vida”, escrito pelo ativista e professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Murilo Peixoto da Mota, chama atenção o preconceito entre os próprios homossexuais. No caso da velhice, os próprios LGBT discriminam seus pares que chegam a essa idade, logo tachados de “bichas velhas”.
Vivemos em uma sociedade que cultua a juventude, o velho é encarado como feio, não sexualmente atraente”, diz.
Na avaliação da coordenadora da especialização em geriatria da Faculdade Ciências Médicas de Minas Gerais e vice-presidente da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia – Seção Minas Gerais, Ana Cristina Nogueira, em Belo Horizonte ainda é difícil que os idosos falem sobre sexualidade nos consultórios, pois “foram criados com muito rigor, preconceitos e religiosidade”.
Tive um paciente que me falou uma vez que ser uma ‘bicha velha’ era impossível, usando um termo que transparecia uma autoimagem horrível”, contou.
Para Ana Cristina, a revelação desse segredo, embora possa causar sofrimento, pode também ajudar a curar feridas familiares. Ela ressalta que,
para muitos idosos, as questões relativas à aceitação por parte dos outros tendem a ser menos significativas, pois já estão em um estágio da vida em que valorizam a liberdade e sabem que têm menos tempo para serem felizes”.
Fonte: Com informações de O Tempo, 26/03/2017, por Litza Mattos


Exclusão familiar leva população LGBT a viver nas ruas

sexta-feira, 22 de abril de 2016 0 comentários


Fator de exclusão da população LGBT é a família, diz censo
Ex-detentos são 5 anos mais jovens que a média da população de rua. Levantamento aponta que idosos passaram a viver nas ruas aos 57 anos.

Entre 5,3% e 8,9% do total da população em situação de rua em São Paulo pertencem à comunidade LGBT, como apontou o censo divulgado pela Secretaria de Assistência e Desenvolvimento Social (SMADS) da Prefeitura. Coordenadora do Observatório de Políticas Sociais (Cops), da SMADS, Carolina Teixeira Nakagawa Lanfranchi explica que é a primeira vez que o levantamento inclui essa informação.

O censo já havia sido divulgado em março de 2015, mas, na quarta-feira (20), a Prefeitura publicou o perfil socioeconômico da população de rua no Diário Oficial. De acordo com os dados, a cidade tem 15.905 pessoas na rua, sendo 8.570 nos centros de acolhimento e 7.335 em vias e espaços públicos

De acordo com o levantamento, essa população é estimada entre 4,5% e 10,1% dos que estão nos centros de acolhimento e nas ruas, entre 5,4% e 9,0%. Na amostra, 106 pessoas se identificaram como não sendo heterossexual (51 entre os acolhidos e 55 na rua).
Observamos que entre a comunidade LGBT, a família é fator de exclusão. São vítimas de preconceito e acabam saindo do núcleo familiar. Os índices de violência são superiores nesse grupo, por isso já havia sido criado o Centro de Acolhida LGBT. A violência é sofrida pela população LGBT também no acolhimento, mas entre a população de rua é muito maior”, afirma a coordenadora do Cops. “Precisamos de um olhar mais específico para esse grupo em busca de respostas mais adequadas.”
De acordo com os dados, a população LGBT exerce mais mendicância e atividades marginalizadas, como prostituição, venda de drogas e roubos, do que os heterossexuais em situação de rua. Há indícios de que o número de casos de tuberculose e portadores de HIV é maior nessa comunidade do que entre os heterossexuais em situação de rua, porém essa população procurou os serviços de saúde em maior proporção do que o grupo heterossexual.

O levantamento mostra ainda que no grupo LGBT, há uma maior incidência de pessoas que passaram por instituições, especialmente pelo sistema penitenciário. De um modo geral, tanto entre os acolhidos como entre os moradores de rua, a população LGBT parece sofrer mais agressões do que a heterossexual.

Egressos do sistema prisional

Em geral, os ex-detentos em situação de rua são 5 anos mais jovens e, proporcionalmente, são os que menos possuem documentos, especialmente os que vivem na rua (24%). A idade média dos egressos em centro de acolhimento é de 39,7 enquanto entre os não egressos é de 44,6. Na rua, a média de idade é de 38,1 anos entre ex-presos e 42,8 entre não presos.
O uso de drogas ilícitas também é maior entre os ex-detentos que vivem na rua, além de sofrerem mais discriminação e violência física e verbal do que os moradores de rua que nunca foram presos.

“Egressos do sistema prisional e população LGBT vem representando uma parcela maior a cada censo da população de rua. A maioria não tem documentos básicos para reinserção, como RG, CPF. Como vão acessar os direitos se não têm os documentos básicos? Eles sofrem também muito mais discriminação e violência, agressões verbais e físicas”, afirma a coordenadora.

Idosos

Na população em situação de rua, a proporção de idosos no grupo de acolhidos é 16%. A proporção de idosos entre os que vivem na rua é bem menor (7%). Apesar da proporção de adultos que chegam às ruas a partir dos 50 anos ou mais (20,3% no acolhimento e 12,6% nas ruas) ser menor que a encontrada do grupo entre os 18 e 49 anos (76,6% no acolhimento e 81,1% nas ruas), o censo informa que essas pessoas passaram a viver nos locais públicos com idade já avançada, em média 57 anos, mas a metade dessa população já tinha mais de 60 anos.

Os idosos em situação de rua são principalmente homens, com idade média de 65 anos, sendo que a maioria tem de 60 a 64 anos. Entre os idosos em centros de acolhimento, 41% moravam sozinhos ou com pessoas sem vínculo de parentesco, estando mais vulneráveis a situações de desemprego ou problemas de saúde.

Segundo a coordenadora , os dados revelam que essas pessoas não envelheceram nas ruas. “Essas pessoas já viviam sozinhas antes da situação de rua. A gente imaginava que tinham ido na vida adulta e se tornavam idosas nessa condição, mas não é isso. Agora, precisamos pensar políticas específicas para os idosos”.

Vínculos familiares

O censo verificou também a situação atual dessa população e a anterior à ida para a rua. No confronto dos dois momentos, conforme o levantamento, há um aumento de pessoas sozinhas e uma expressiva redução de pessoas convivendo com membros da família.

Do total da população nos centros de acolhimento, 80% afirmou viver só e 20% convivem com familiares ou alguém sem laço de parentesco. Mesmo antes da perda da última moradia, 26% da população já vivia só, enquanto 68,9% moravam com a família e pouco mais de 5%, com pessoas sem relação de parentesco. 

Entre as pessoas que moram nas ruas, atualmente 69% vivem sós, 16,5% vivem com algum familiar e quase 16% vive com pessoas sem relação de parentesco. Anteriormente, 18% viviam sozinhos, 79,2% moravam com familiares e 3,4% com pessoas sem relação de parentesco.

Fonte: G1, 21/04/2016

Folhas de Outono: amor entre duas mulheres da terceira idade contado com humor e delicadeza

sábado, 2 de maio de 2015 0 comentários


Lindo episódio de Os Experientes. O amor de duas mulheres da terceira idade. Delicado, bem-humorado, e de quebra o Paulinho da Viola cantando Meu Mundo é Hoje.

Nunca é tarde demais para recomeçar. Francisca (Selma Egrei) se perguntou o que faria após a morte do marido Arlindo. Ansiosa para um novo mundo que se abria, ela surpreendeu ao decidir passar em uma loja de camisolas asism que deixou o velório do marido, com quem passou 45 anos de sua vida. Determinada a viver emoções que ficaram adormecidas durante o tempo em que passou casada, nem ela esperava que a vida lhe reservava o melhor para o final. Reveja momentos marcantes do episódio ‘Folhas de Outono”, o último de Os Experientes. 

'Late-blooming-lesbians’, mulheres que passam a ter relações homossexuais após a maturidade

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2015 0 comentários

Monica Donetto Guedes: "Acho que o amor independe da questão sexual"
- Fabio Rossi / Agência O Globo

Mônica Donetto, psicanalista: ‘Sou hétero, mas posso ser capturada a qualquer momento’

Antes especializada em infância, terapeuta freudiana agora dedica-se às ‘late-blooming-lesbians’, mulheres que passam a ter relações homossexuais após a maturidade
Sou psicanalista, membro titular da Formação Freudiana e autora do livro ‘Em nome do pai, da mãe e do filho’. Há alguns anos, pesquiso a sexualidade na contemporaneidade, com o intuito de pensar as questões que surgem na clínica psicanalítica em torno desse tema, com base na teoria freudiana.”
Conte algo que eu não sei.

O fenômeno das “late-blooming lesbians” (mulheres que passam a se envolver com outras mulheres já na maturidade) é cada vez mais discutido nos Estados Unidos. Há blogs sobre sobre mulheres que passam por isso depois de 35 anos de casadas. No Brasil, já ouvimos sobre o tema dentro dos consultórios, e o fenômeno já ganhou um nome. De repente, essa mulher se encontra dentro de outra experiência sexual. E não é necessariamente algo que ela escondeu.

Então não é uma saída do armário tardia?

Não sempre. É, muitas vezes, um encontro com outro objeto. Os encontros amorosos se dão a partir da pura pulsão. Eles não têm nada a ver com a anatomia. O corpo não é preparado “objetivamente” para uma relação homem-mulher por meio dos aparelhos sexuais.

Mais do que sentir desejo sexual por outra mulher, também há as relações de amor. As duas esferas se relacionam nessa dinâmica?

Acho que o amor independe da questão sexual. Posso morar com uma amiga e amá-la sem sentir desejo sexual por ela. A possibilidade de essas mulheres terem contato com outro corpo feminino é a questão importante. E as meninas já experimentam isso com as amigas na adolescência.

A sexualidade feminina é mais fluida?

Sim. Até por conta dessa experiência inicial das meninas. A experiência com o corpo do outra flui com melhor.

E a sexualidade da mulher e também psicanalista, é mais fluida ainda?

Para mim isso é muito natural. Sou hétero e ainda não passei por essa experiência com outra mulher. Mas posso ser capturada a qualquer momento! (risos). Meu corpo permite essa fluidez, já que a questão passa pelos meus pensamentos, pelos meus estudos.

Como as late-blooming-lesbians lidam com essa descoberta? E os maridos?

Quando chega a falar disso, ela já sabe o que sente e do que gosta. Mas isso causa um transtorno tão grande na sua vida, que ela não chega à análise pela sexualidade, mas pela angústia social. Ela pode entrar em depressão, porque não consegue sair do casamento. Ou, quando consegue falar disso, é bombardeadaa pela família. Os filhos entendem melhor. Os homens sentem que não foram potentes para fazer a mulher gozar dentro de uma estrutura hétero.

Suzane von Richthofen se envolveu com outra mulher na cadeia, depois de matar os pais com ajuda do namorado. Você pensou sobre esse caso?

É bem complexo fazer uma análise selvagem. Mas é um exemplo possível. Estou falando de uma sexualidade fluida, e como a Suzana está presa num lugar só com outras mulheres seria normal encontrar es sa outra experiência.

Brad Pitt e Angelina Jolie têm uma filha criança que só pede para se vestir de homem. E quando a sexualidade se manifesta muito cedo assim, no outro extremo?

A transsexualidade é um campo complexo, que ainda precisa ser investigado, até mesmo no campo médico. Não vejo a psicanálise com recursos para isso. A não ser para acompanhar e ajudar a família a não provocar um adoecimento da criança. Se você tenta forçar a construção dessa identidade, há muito mais prejuízo.

Fonte: O Globo, por Maurício Meirelles, 12/02/2015

Adriana Calcanhoto entrou para os Trending Topics do Twitter após comentar sobre saúde de sua mulher na TV

terça-feira, 16 de setembro de 2014 0 comentários

Adriana Calcanhoto fala da doença de sua mulher a Ana Maria Braga, no Mais Você 

Adriana Calcanhoto gera comentários após falar de união com mulher

No Mais Você, a cantora comentou relação de 25 anos com filha de Vinicius de Moraes

Adriana Calcanhoto entrou para os Trending Topics do Twitter após participar do programa Mais Você da quarta-feira (10/09), na TV Globo. Mas se engana quem pensa que foi por ela ter ido vestindo pijama. O assunto mais comentado na rede social é a relação de 25 anos da cantora com a atriz e diretora Suzana de Moraes, filha de Vinícius de Moraes, que luta contra um câncer de endométrio.
Queria que você mandasse muita força a ela. Eu sei que ela está no momento mais delicado da vida. E desejo muita boa sorte para vocês", disse Ana Maria, que também já enfrentou a doença. "São 25 anos. Dou muita força a ela diariamente. Ela está melhor", afirmou Calcanhotto. Apesar de estarem juntas há tanto tempo, elas tiveram o direito de oficializar a união na Justiça por meio de uma união estável apenas em 2010.
Logo que recebeu a cantora no estúdio, a apresentadora brincou com seu look:
"Adriana Calcanhotto, de pijama. Adorei o pijama. Olha, ninguém teve essa ideia até agora". "É pra você saber que estou me sentindo em casa", respondeu a artista.
No fim da participação, Calcanhotto cantou a música Me dê motivo, que faz parte da trilha sonora da novela Geração Brasil

No Twitter, parte dos usuários foi pega de surpresa pelas declarações da cantora sobre sua sexualidade. “Adriana Calcanhoto é lésbica e eu não sabia”, escreveu @aanin_. “Notícia do dia: a Adriana Calcanhoto é lésbica”, postou @diejunqs.

Outros tuiteiros se chocaram apenas com a falta de informação dos demais usuários do microblog. “Como assim vocês só descobriram que a Adriana Calcanhoto é lésbica hoje?”, questionou @juquinhars. “Adriana Calcanhoto é lésbica? Avá, é nada! Morto com a galerinha do Tredding Topics se sentindo descobridores dos sete mares”, ironizou @arthursouza.

Mais Você - Adriana Calcanhotto canta no Mais Você | http://buff.ly/1ANgXxi

Fonte: Terra, 10/09/2014

Velhice LGBT: solidão e maus tratos mais preocupantes quando pessoa é homossexual

segunda-feira, 12 de maio de 2014 0 comentários

Precaução. Jorge Barbosa, de 61 anos, planeja guardar dinheiro para morar em um condomínio de idosos no futuroFoto: Daniela Dacorso / O Globo
Precaução. Jorge Barbosa, de 61 anos, planeja guardar dinheiro para morar
em um condomínio de idosos no futuro Daniela Dacorso / O Globo

Gays idosos no país são mais propensos a sofrer de depressão
 - Pesquisa mostra que 30% dos homossexuais do sexo masculino com idade avançada no Brasil ficam deprimidos
 - Solidão e maus tratos, que acometem a população idosa em geral, são ainda mais preocupantes entre gays


BELÉM e RIO - Envelhecer e ser gay. A dupla luta contra o preconceito traz contornos próprios para um grupo que apenas nos últimos anos começou a ter mais atenção da ciência. Hoje se sabe, por exemplo, que eles são mais propensos a sofrer de depressão: 24% das lésbicas e 30%, no caso dos gays, contra 13,5% de heterossexuais. Esses dados do Brasil foram apresentados pela psiquiatra Carmita Abdo, durante o Congresso Brasileiro de Geriatria e Gerontologia, realizado esta semana em Belém, no Pará. Solidão e maus tratos, que acometem a população idosa em geral, são ainda mais preocupantes entre os gays.

A tendência não é apenas brasileira. No Reino Unido, a questão da solidão é apontada num amplo estudo divulgado pela YouGov, que mostrou que homossexuais e bissexuais têm três vezes mais chances de envelhecer solteiros. Além disso, ressalta a pesquisa, apenas um quarto de gays e metade das lésbicas têm filhos, em comparação com 90% dos heterossexuais.
— Está claro que eles necessitam de mais cuidados nessa área — defendeu a psiquiatra, colunista do GLOBO e autora de livros como “Descobrimento sexual do Brasil” e “Depressão e sexualidade”.
A precaução já levou o empresário Jorge Barbosa, de 61 anos, a pensar no que fará se precisar de cuidados na velhice. Gay e sem filhos, ele diz que o plano é juntar dinheiro para morar em um local especializado no cuidado de idosos.
— Sou casado, no papel, com uma amiga, mas moramos separados a vida inteira. Já conversamos sobre um dia ir morar em um desses condomínios para velhinhos. Não quero ser um estorvo para ninguém. — conta. — Tive um namorado bem mais novo e ele brincava que, no futuro, me levaria para passear de cadeira de rodas no calçadão de Copacabana. Esse discurso é muito bonito, mas, na prática, sabemos que as coisas são bem diferentes.
Carmita enfatizou que a própria ciência precisou mudar o paradigma diante dos homossexuais e alertou que, nem sempre, os profissionais estão aptos para tratar o grupo:
— Nós, profissionais de saúde, devemos pensar se estamos cumprindo com o nosso papel de isenção diante do paciente, que tem não uma escolha, mas uma orientação sexual que ele é absolutamente incapaz de reverter. A reversão da homossexualidade há muito tempo deixou de ser motivo dos tratamentos psiquiátricos, porque resultava muito mais em suicídio, desenvolvimento de psicose, depressões seríssimas e, na verdade, não se revertia esta condição.
Há pelo menos duas décadas, a Organização Mundial de Saúde retirou da classificação geral das doenças mentais a homossexualidade, e o mesmo ocorreu na última atualização do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM, na sigla em inglês), conhecida como a “Bíblia da psiquiatria. No entanto, Carmita lembra, o termo homossexualismo, cujo “ismo” remete à doença, ainda é usado, inclusive, entre profissionais de saúde, enquanto que o aceito é homossexualidade.

Mas se por um lado eles são os mais propensos a viver solitários, por outro, são os mais resistentes a adversidades. Esse grupo sofre altos níveis de violência, seja física ou emocional, além de abusos sexuais, o que os leva a desenvolver a chamada competência em crise. Ou seja, homossexuais passam por tantos desafios na experiência de se assumir que acabam desenvolvendo mais capacidade de enfrentar outras crises, no caso de doenças físicas, por exemplo, ao longo da vida.
— A estigmatização por parte da sociedade acaba sendo um fator protetor para esta população — conclui a psiquiatra.
Aos 71 anos, comemorados ontem, Orlando Almeida, organizador do Miss Gay Rio de Janeiro, concorda. Ele diz que se assumir homossexual “exige atitude”, mas acha que o preconceito tem diminuído ao longo dos anos.
— Sou bem aceito pela sociedade. Sempre tive pulso e força de vontade, por isso nunca me senti vítima dessa coisa de ser chamado de “bicha velha”. Mas sou exceção — diz Almeida, que vive com quatro gatos e um cachorro. — Não moro e nem quero morar com um companheiro, estou bem sozinho. A gente precisa se amar e se respeitar acima de qualquer pessoa.
Há dez anos, um estudo da Universidade da Califórnia, publicado na “American Journal of Psychiatry” já alertava sobre os índices de depressão em homossexuais, na época três vezes mais altos do que em heterossexuais devido a fatores como abuso de drogas e álcool e contaminação por HIV. Na ápoca os pesquisadores sugeriam melhores políticas públicas para tratar a situação. O estudo analisou dados da “Urban Men's Health Study", pesquisa de saúde feita com 2881 homossexuais de São Francisco, Nova York, Chicago, e Los Angeles — as quatro cidades respondiam por dois terços dos casos de Aids nos EUA, e sua população sofria com estigmatização e discriminação.

Maior aceitação nas novas gerações
Segundo dados do estudo apresentado por Carmita Abdo, e que foi realizado pela Universidade de São Paulo (USP), há 2,2% de homossexuais e 1,8% de bissexuais do sexo masculino com mais de 61 anos. Na juventude, este índice sobe para 11% e 3%, respectivamente. Segundo a psiquiatra, não por haver mais gays jovens, mas porque, provavelmente, são mais propensos a se assumir, o que mostra mais aceitação nas novas gerações.

A relação gay no envelhecimento também tem características próprias. Todos passam pelos mesmos problemas hormonais e de progressiva incapacitação física, mas lidam de maneira diferente diante disso. As mulheres gays, por exemplo, enfrentam menos dilemas diante da menopausa. O fato de ambas terem o mesmo desafio hormonal gera cumplicidade. 

Naturalmente, também o apetite por sexo diminui, mas elas chegam ao orgasmo com mais frequência do que as heterossexuais mais velhas. Entre os homens gays, diz Carmita, o apetite sexual se mantém ao longo da vida, já que a chamada andropausa é pouco incidente, e eles têm recursos farmacológicos para reverter uma possível disfunção erétil.

Mulheres também se cuidam menos e têm mais problemas de saúde, como a obesidade, segundo o estudo. Nos homens, percebe-se o oposto. Mais vaidosos, preocupam-se com a forma física. Em ambos os sexos, gays idosos têm mais risco de doenças cardiovasculares. O câncer de mama também tem diferenças: são 14,1% entre as homossexuais contra 11,9% entre as heterossexuais mais velhas, o que poderia ser explicado pela amamentação (tido como protetor) e hábitos de vida menos saudáveis.

* A repórter viajou a convite da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia

Fonte: O Globo, Flávia Milhorance e Dandara Tinoco, 02/05/2014

Inaugurada casa Arco-Íris para a terceira idade LGBT na Suécia

sexta-feira, 6 de dezembro de 2013 1 comentários

Sweden opens first retirement home for gays
A casa de repouso Regnbågen (Arco-Íris) fica localizada neste prédio em Estocolmo. Foto: Olof Holdar/Micasa

No dia 22 de novembro, em Estocolmo, Suécia, foi oficialmente inaugurado o primeiro lar para a terceira idade LGBT. Conquista de uma associação cooperativa de inquilinos, a casa, chamada Regnbågen (Arco-Íris), tem 27 apartamentos, situa-se em Sandhamnsgatan (área central da cidade), e visa abrigar pessoas com idade a partir de 55 anos.

Segundo Lars Mononen, morador e vice-presidente da associação Regnbågen, a casa se destina a prover um lugar onde os integrantes da comunidade LGBT possam se sentir confortáveis numa fase mais avançada da vida.
Geralmente, não temos filhos nem muita proximidade com familiares, e, quando a gente para de trabalhar, sente falta de interação social. Em Renbågen, temos uma rede de segurança social extra e a possibilidade de integrar uma comunidade ativa. É um local onde as pessoas realmente buscam contato com os vizinhos em vez de evitá-los. 
Embora criada para atender as necessidades específicas da comunidade LGBT, Renbågen permanecerá aberta para qualquer pessoa de qualquer parte do país. Segundo o presidente da associação,  Christer Fällman:
Não queremos que vejam essa iniciativa como uma espécie de volta ao armário. Qualquer um poderá viver aqui. Será uma nova forma de integração.
Por outro lado, Mononen acredita que Renbågen não será a única casa para aposentados LGBT da Suécia por muito tempo. Segundo ele, em Gothenburg, já se está pensando em projeto similar.

Com informações de The Local, Sweeden's New in English, por David Landes, 22/11/2013

Centro para idosos homossexuais em Nova York - Também precisamos no Brasil

terça-feira, 6 de março de 2012 1 comentários

Criado no bairro Chelsea, coração de Manhattan, em Nova York, um centro exclusivo para gays, lésbicas, bissexuais e transexuais (LGBT) idosos, o SAGE Center (Serviços e Apoio aos LGBT), a partir de um acordo entre a prefeitura e uma organização dedicada a melhorar a vida dos idosos dessa comunidade.

O centro oferece programas vinculados à arte, alimentação, saúde e bem-estar, e objetiva possibilitar que os idosos homossexuais possam envelhecer com boa saúde, segurança financeira e amplo apoio da comunidade. 

No site do centro, em uma postagem, lê-se resumidamente o seguinte: Uma das razões da importância do trabalho da SAGE é, por exemplo, retribuir o trabalho dos pioneiros de nossa comunidade, que tanto trabalharam para criar um futuro melhor para os LGBT, e agora na velhice precisam de nós. E citam o caso de Jerry Hosse, um dos pioneiros da revolta de Stonewall Inn, também fundador do histórico Gay Liberation Front e organizador  da primeira marcha LGBT em Nova York (1970). Cerca de dois anos atrás, Jerry, hoje com 62 anos, perdeu o apartamento onde vivia e virou sem-teto. Agora, felizmente, está abrigado no SAGE e é membro ativo do centro.

Os americanos, LGBT ou não, tão mal falados por estas nossas plagas cheias de anacrônicas ideias dos tempos da Guerra Fria, sabem muito o que significa a palavra comunidade e sempre trabalharam para apoiar uns aos outros. Aqui, no Brasil, já há quase dez anos com governo dito de esquerda, não existe o mínimo senso comunitário em sentido algum. Precisamos urgentemente mudar de governo e de cabeça.

Fonte: SAGE

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