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Empreendedorismo sapatão para comemorar o dia do orgulho lésbico

quarta-feira, 25 de agosto de 2021 0 comentários

Cerveja Sapatista: criada por uma mulher lésbica e premiada em uma indústria masculina. 
(Foto: Renata Fetzner)

Uma coisa interessante que as lésbicas das últimas gerações fizeram foi ressignificar positivamente a palavra sapatão, considerada pelas gerações passadas de lésbicas uma palavra só pejorativa, usada pela sociedade preconceituosa para agredir as mulheres que amam mulheres. Houve até quem quisesse tirar de circulação a marchinha Maria Sapatão do Chacrinha, que popularizou o termo. Pessoalmente, nunca vi nada demais na marchinha que inclusive diz :

"O sapatão está na moda
O mundo aplaudiu
É um barato
É um sucesso
Dentro e fora do Brasil"

Parece que o Chacrinha previu que as sapatas fariam sucesso (ver Origens do termo sapatão) inclusive no mundo do empreendedorismo. Sapadaria, Sapatista, Sapanavalha, Sapa Mística são os nomes dados aos negócios das lésbicas que a Hype entrevistou pelo Dia do Orgulho Lésbico deste ano. O texto que reproduzo abaixo é da jornalista Veronica Raner.

Míriam Martinho


Sapadaria, Sapatista, Sapanavalha, Sapa Mística. Os nomes de empreendimentos liderados por mulheres lésbicas não escondem o orgulho que existe por ser quem se é. Elas atuam nos mais variados ramos e usam seu talento — seja para entender os astros, fazer pães ou fermentar cervejas — também como uma forma e levantar a bandeira do Orgulho Lésbico todos os dias.

Neste 19 de agosto, Dia do Orgulho Lésbico, o Hypeness conta a história de 7 “mulheres sapas” que decidiram empreender na cara e na coragem, sem esquecer da militância.

O dia do Orgulho Lésbico é comemorado no dia 19 de agosto por conta de um fato ocorrido em 1983. Naquele ano, a ativista lésbica Rosely Roth e outras militantes ocupara o Ferro’s Bar, em São Paulo, para protestar contra agressões lesbofóbicas que vinham ocorrendo nas semanas anteriores. (De fato, invadimos o bar porque nos proibiram de vender o ChanacomChana lá)

Roberta Pierry já ganhou prêmios com a Cervejaria Sapatista

Roberta Pierry toca a Cervejaria Sapatista praticamente sozinha. Sem um espaço próprio para a produção de suas “geladas”, ela passa as receitas e o material para fábricas devidamente registradas e recebe o produto finalizado.

Entre os rótulos, cujos designs foram feitos por uma amiga, faz homenagens a mulheres importantes na luta feminista. A exemplo disso está a Maria da Penha, feita com polpa de butiá. A cerveja foi premiada com a medalha de bronze no Concurso Brasileiro de Cervejas, o maior do ramo no país. “Quando anunciaram que quem podia comemorar também era a Cervejaria Sapatista… Nossa! É sobre isso, sabe? Ser destaque naquele salão cheio de macho. Dar lugar e visibilidade é uma forma de quebrar preconceitos em vários lugares”, ressalta.

Roberta conta que sempre foi muito envolvida com movimentos sociais. “Acho que eu misturei um pouco de todos esses desejos, aprendizados e formas de se posicionar no mundo dentro do que é a Sapatista. O nome vem da minha identidade sapatão, de mulher sapatão, mas também carrega o trocadilho com o Movimento Zapatista.”

Para a empreendedora, o nome da marca também ajuda a quebrar estigmas sociais e a mostrar que ninguém, diferente da cerveja, ninguém precisa usar um rótulo.
Eu quis trazer essa pegada de mulher sapatão justamente para quebrar o estereótipo de que mulher precisa ser a mulher feminina. E também trazer mulheres para esse meio da cerveja. Você pode ser mulher do jeito que você quiser e você pode beber o que quiser.”
A carioca Alessandra Calado e suas criações: cuecas femininas.

Alessandra Calado criou marca de cuecas femininas a partir de uma necessidade pessoal

A carioca Alessandra Calado (@librtaoficial) conta que a Librta nasceu de uma necessidade pessoal. Por experiência própria, ela sempre teve muita dificuldade em comprar peças íntimas. As cuecas que usava nunca ficavam confortáveis o suficiente ou “eram muito feias”, como ela mesma diz.

Durante anos, ela pensou em colocar o negócio em prática: fazer suas próprias cuecas. Mas foi apenas durante a pandemia que o negócio saiu do papel. Hoje, a Librta é uma micro empresa que fabrica e comercializa cuecas para mulheres, feitas por mulheres. Inclusive, quem faz as embalagens dos produtos é a mãe de Alessandra, a quem ela chama carinhosamente de “gerente de tudo”.
Eu passei uma boa parte dessa caminhada estudando qual seria o tecido, se teria um forro, se não teria. Eu não sou desse ramo, sou formada em administração e tenho pós nessa área, mas tudo nasceu de uma paixão”, lembra.
Foi no curso de pós-graduação que Alessandra conheceu uma pessoa que trabalhava na indústria têxtil. Só então que a empreendedora começou a estudar tipos de tecido e a entender como fazer seus modelos de cueca.
A Librta me trouxe muito isso: pessoas que compraram o meu sonho”, diz.
Atualmente, as vendas da Librta são feitas por estoque, mas aos poucos a empresa vai passar a trabalhar por demanda.
A gente tem cinco coleções e estão vindo mais duas aí. Em um ano, a gente já atendeu quase todos os estados do Brasil.”

Catharina Fischer passou a investir em panificação durante a pandemia.

Catharina Fischer abriu a Sapadaria durante a pandemia

A pandemia também fez Catharina Fischer (@_sapadaria) a investir em um antigo sonho. Cozinheira há quase dez anos, ela já havia trabalhado em diversos restaurantes — inclusive fora do país, na Indonésia — mas nunca tinha se aventurado na panificação. Até que o isolamento a obrigou a ficar em casa e testar receitas de pães se tornou uma válvula de escape para o ócio dentro de casa. Foi assim que surgiu a Sapadaria.

Eu já comia muito pão porque minha avó panifica há mais de 40 anos, mas eu nunca tinha estudado para fazer. Até que eu e minha ex-namorada começamos e fazer pão juntas e surgiu a ideia de criar a Sapadaria”, diz.
Na medida em que as receitas foram dando certo, Catharina fez alterações na estrutura da própria casa para viabilizar a produção, mas logo sentiu a necessidade de ir para um outro espaço. Por estar habituada com cozinhas de restaurantes, sabia que poderia pensar em formas melhores de produzir suas fornadas.

Catharina calcula que faz entre 100 e 150 pães por mês. As vendas acontecem pelo Instagram, algo que ela pretende mudar em breve. No cardápio, há o pão tradicional, o pão multigrãos (sucesso de vendas), pão de azeitonas, além de focaccias, rolinhos de canela, coco, goiabada e ainda um brownie com receita criada por ela mesma.

Luanda e os avós, dona Joaninha e seu José Alberto Carignato.

Linguiça Carignato: receita de família feita a seis mãos

Luanda Carignato (@linguica.carignato) é formada em Letras, pela Universidade de São Paulo, e também atuou 12 anos na área de Tecnologia da Informação. Mas só encontrou realização profissional ao buscar dentro de sua casa a receita do sucesso. Literalmente. Veio dos avós, Joaninha e José Alberto Carignato, ambos com 85 anos, o passo a passo para fazer uma linguiça artesanal de primeira qualidade, em São Paulo.

Nasceu assim a Linguiça Carignato, negócio que Luanda toca com a ajuda dos avós. A família tinha o costume de fazer as tradicionais linguiças uma vez ao ano, quando todos se encontravam. Até o dia em que, durante a pandemia, Luanda procurou por linguiças artesanais em São Paulo e encontrou apenas dois lugares que entregavam.

No processo de produção da família, cada um tem a sua função. Às quartas-feiras, eles preparam almôndegas. Às quintas, é a vez do carro-chefe: as linguiças. De acordo com Luanda, elas não têm conservantes, o que é um diferencial no mercado. “A única coisa que tem é o sal de cura. O alho é fresco, a pimenta é fresca. O cheiro verde eu compro da feira”, explica.

Na hora de colocar a mão na massa, dona Joaninha é quem cuida do preparo dos ingredientes. Seu José Alberto se encarrega do corte do alho. Na hora de ensacar, também é ele quem ajuda Luanda a mexer na máquina.
Eles estão juntos no processo comigo. Eu vivo falando que a gente precisa contratar uma pessoa, mas eles acham um gasto desnecessário”, ri a empreendedora.
Ana Paula Munari e Victoria Gallo: inauguração de queijaria trouxe liberdade para o casal.


Ana Paula Munari e Victoria Gallo se ‘libertaram’ ao criar a Queijaria Vermú

“A queijaria saiu de um desespero”, desabafa Ana Paula Munari, de 29 anos, sobre a Vermú (@vermuqueijaria). Ela e a namorada Victoria Gallo (28) foram pegas de surpresa quando a demissão veio por conta da pandemia. As duas prestavam consultoria para uma outra queijaria quando se viram sem emprego, em um momento em que o trabalho que faziam estava sendo reconhecido até mesmo pela imprensa. “Nós fomos pegas de calça curta”, define Vic.

Se em um primeiro momento a demissão causou espanto e incerteza, logo tudo se transformou em afeto e apoio. Ana e Vic criaram laços tão fortes com os fornecedores da queijaria em que trabalhavam, que quando eles souberam das demissões, correram para incentivar que o casal montasse o próprio negócio.

Eles começaram a procurar a gente no Instagram”, contam. Movidas pelas palavras de força, o casal decidiu começar do zero. Elas abriram a queijaria dentro do apartamento onde moram, na Vila Buarque, em Higienópolis. Lá, equiparam um quarto com freezer, geladeira e uma parte que funciona como um estúdio para fazer fotos de divulgação.
Todos os fornecedores deram prazo para a gente pagar em 45 dias. Eles apostaram de verdade no nosso trabalho, não é todo mundo que faz isso. São empresas e parceiros que não fazem isso com qualquer pessoa e a gente entendeu que o que a gente vende vai muito além do produto, são as relações que a gente constrói e isso a gente leva para onde for”, observa Vic.
Atualmente, a Vermú trabalha com mais de 30 tipos de queijos de São Paulo, do interior de Minas Gerais e do Paraná. Muitos deles frutos do trabalho de produtoras mulheres.Ana reflete que a abertura da Vermú foi também um passo de liberdade. Na loja anterior, ela e Vic não podiam deixar às claras que eram um casal. Segundo Ana, o público da queijaria em que elas trabalhavam era “mais conservador”.
A gente sentia um pouco de medo (de se assumir) porque o negócio não era nosso. E aí a gente decidiu que não ia mais se esconder atrás disso. E também que há clientes que a gente não quer atender. Quem não quiser comprar com a gente, tudo bem.”

Poder trabalhar e ser quem você é, fazer o que você gosta, sem ter que se esconder, é a melhor parte”, completa Vic. “Hoje nós não somos a Ana e a Vic, somos a AnaeVic, entendeu? É como se a gente fosse uma pessoa só mesmo, as pessoas associaram a Vermú ao casal”, brinca Ana.

A diretora e astróloga Maria Fernanda Batalha.

Maria Fernanda Batalha mergulhou na astrologia por meio do codinome Sapa Mística

A avó da astróloga Maria Fernanda Batalha (@sapa_mistica), conhecida como Sapa Mística, contava às netas que havia andado em uma nave espacial. O misticismo e a crença nos astros sempre estiveram no sangue da família. Tanto que, aos 15 anos, Sapa Mística foi levada pela mãe para fazer seu primeiro mapa astral oficial.
Ali eu já me interessei e comecei a estudar”, conta. “Minha mãe e minha avó tinham um monte de livro e eu fui pesquisando. sempre tive esse atravessamento da astrologia na minha vida. Ela é uma das nossas formas de ler o mundo”, explica a paulistana de 33 anos.
Aos poucos, o talento herdado da família foi se enraizando na vida de Maria Fernanda, que também é dramaturga e diretora e usa as redes sociais para divulgar o seu trabalho de forma bastante esclarecedora. Além dos mapas astrais, ela também faz leitura de oráculo. 
São ferramentas de autoconhecimento profundo, que revelam coisas que a gente não sabe que estão acontecendo. Eu não acredito que uma leitura de oráculo ou de mapa astral te dê uma sentença de vida. É uma tendência. Importante é a gente trabalhar com as escolhas”, observa.
Recentemente, ela trocou o nome de sua conta no Instagram e incorporou de vez sua alcunha profissional. A intenção foi direcionar o conteúdo ao mesmo tempo em que colocaria em voga a questão da visibilidade lésbica.
Existe um apagamento da letra L. As pessoas não dão muita bola, se perguntam ‘o que é isso de empreendedorismo lésbico?’ Eu acho de extrema importância que a gente leve isso à frente porque às vezes a gente está produzindo conteúdo que vem dessa vivência, mas que são para todas as pessoas. Se eu pude a vida inteira me identificar com conteúdo hétero na televisão, porque as pessoas não podem se identificar com a minha”, reflete.
A minha clientela no Rio era 90% LGBT

Sapa Navalha: da Lapa, no Rio, para Itacaré, na Bahia

“O fruto não cai muito longe da árvore.” O ditado popular vem muito a calhar para falar de Sapa Navalha (@sapanavalha), professora de teatro e cabeleireira de Florianópolis, radicada por muito tempo no Rio de Janeiro e que hoje vive em Itacaré, na Bahia.
Minha avó e minhas tias eram cabeleireiras, meu avô barbeiro, então eu cresci muito dentro do salão. Adorava ficar vendo quando era criança”, conta. Apesar da ligação próxima com a profissão, Navalha, como gosta de ser chamada, acabou optando por fazer a graduação em artes cênicas.

Ela dava aulas em uma escola estadual em Florianópolis, mas decidiu se mudar para a cidade maravilhosa quando o contrato acabou. Sua fama de cabeleireira logo correu a cidade maravilhosa.

Na época eu estava no grupo Maracatu Baque Mulher e sempre depois dos ensaios eu ficava cortando o cabelo das mulheres. Eu comecei a cortar o cabelo na rua, na Lapa, nos bares…”, relembra sobre a trajetória.
Eu não tinha a pretensão de ser cabeleireira profissional, eu fazia mais para gastar uma onda na Lapa. Saía para beber e cortava o cabelo das pessoas”, se diverte.
Com a pandemia, ela decidiu mais uma vez se reinventar. Passou a fazer telecortes — cortes de cabelo feitos por chamada de vídeo, auxiliando a pessoa que desejar cortar os fios — e se mudou para Itacaré. Lá, Navalha conta que seus clientes são cerca de 90% heterossexuais, algo que não acontecia no Rio de Janeiro. 
A minha clientela no Rio era 90% LGBT”, conta.
Em Itacaré, ela sente a resistência das pessoas de falarem o nome da marca “porque elas acham que podem estar ofendendo”.
Eles querem saber logo o meu nome e aí só me chamam de Julia”, conta. “E aí eu tenho que explicar que não estão me ofendendo, pelo contrário, é um lugar de afirmação mesmo”.
Clipping De queijos a cuecas femininas: 7 negócios de mulheres lésbicas para comemorar o Dia do Orgulho, Hypeness, 19/08/2021

Memória lesbiana: há 34 anos surgia a Rede de Informação Um Outro Olhar, paladina da visibilidade lésbica

segunda-feira, 12 de abril de 2021 2 comentários

Trio elétrico da Um Outro Olhar em 2003

Registrada em 12 de abril de 1990, a Rede de Informação Lésbica Um Outro Olhar (RILUOO) marca o divórcio do Grupo Ação Lésbica Feminista (GALF/1981-1990) do movimento feminista, dando início a um ativismo focado nas questões e visibilidade lésbicas. De fato, o GALF já iniciara um processo de separação do movimento feminista desde 1985, priorizando mais a população lésbica do que as chamadas questões de gênero, por considerar contraproducente sua atuação num movimento que, à época, hostilizava sem pudores a visibilidade lésbica. Entre as feministas homossexuais do período prevalecia a ideia de que era necessário submergir a identidade lésbica na identidade feminista (o armário feminista) ou de que as lésbicas deveriam no máximo se contentar em realizar alguma oficina sobre “lesbianismo” perdida entre zilhões de outros temas heterossexuais dos encontros feministas. Grupo autônomo de lésbicas nem pensar.

As ativistas do GALF, contudo, vão progressivamente considerar que valia mais a pena tentar a autonomia, influenciadas pelo crescimento das organizações lésbicas em nível internacional e pela leitura do livro Lesbian Ethics da filósofa lésbica americana Sarah Lucia Hoagland e seu conceito de redes entre sapatas. Com esta nova perspectiva em mente, as integrantes do GALF passaram a gerar a Um Outro Olhar a partir dos últimos 2 meses de 1989, oficializando-a em abril do ano seguinte.

Entre inúmeras produções e atividades, ao longo de sua trajetória, a Um Outro Olhar publicou o título Um Outro Olhar, primeiro como boletim (11 edições), depois como revista (14 edições). A partir de 1995, como parte do pioneiro projeto Prazer sem Medo, financiado pelo Ministério da Saúde, publicou também o boletim Ousar Viver (15 edições) sobre saúde lésbica em geral, encartado na revista Um Outro olhar, a cartilha Prazer sem Medo, e vários outros materiais sobre prevenção a doenças sexualmente transmissíveis e saúde lésbica em geral.

Na organização de atividades, destacaram-se, entre suas realizações, a organização do VII Encontro de Lésbicas e homossexuais, em setembro de 1993, inserindo a palavra lésbica no nome do encontro e inaugurando o movimento de gays e lésbicas brasileiro, antigo Movimento Homossexual, e o IX Encontro Brasileiro de Lésbicas e Travestis, em fevereiro de 1997, que inspirou a I Parada GLT de SP. Destacou-se também pelo lançamento do Dia Do Orgulho Lésbico, em 2003, em homenagem à primeira manifestação lésbica contra a discriminação e à memória de Rosely Roth, destaque do evento. Participou ainda pioneiramente da maior parte das edições das Paradas LGBT de São Paulo até 2009, sempre buscando garantir a visibilidade lésbica num evento até hoje majoritariamente masculino.


A Um Outro Olhar foi igualmente sócia-fundadora da Associação Brasileira de Gays, Lésbicas e Travestis (ABGLT-1995) e participou de vários outros encontros, nacionais e internacionais, como a Reunião de Reflexão Lésbica-Homossexual (Santiago, Chile/ nov. 1992), a 17ª Conferência da ILGA (18 a 25/05/1995), no Rio, e a Conferência Nacional de Mulheres Brasileiras (6-7 de julho de 2002), onde garantiu a menção, na Plataforma Feminista, da contribuição inestimável das lésbicas para a luta das mulheres, pelo direito ao próprio corpo, pela livre orientação sexual e tantas outras contribuições sapatônicas pelos direitos do sexo feminino.

Ainda a Rede de Informação Um Outro Olhar construiu acervo onde preservou publicações e documentações das primeiras organizações lésbicas e homossexuais desde 1979, inventariados e resgatados agora por sua orgulhosa herdeira, esta página Um Outro Olhar, através da série Memória Lesbiana e outros títulos históricos. Informe mais detalhado da organização para breve.

Míriam Martinho e gay criativo na Parada do Orgulho LGBT de SP


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*Miriam Martinho é uma das fundadoras do Movimento Homossexual brasileiro, em particular da organização lésbica, tendo co-fundado as primeiras entidades lésbicas brasileiras, a saber, Grupo Lésbico-Feminista (1979-1981), Grupo Ação Lésbica-Feminista (1981-1989) e Rede de Informação Um Outro Olhar (1989....). Editou também as primeiras publicações lésbicas do país, como o fanzine ChanacomChana (década de 80) e o boletim e posterior revista Um Outro Olhar (década de 90 até 2002). Atualmente administra as páginas Um Outro Olhar e Contra o Coro dos Contentes. 

Fundou igualmente o movimento de saúde lésbica no Brasil, em 1994, realizando a primeira campanha de prevenção às DST-AIDS para mulheres que se relacionam com mulheres, em 1995, e editando as primeiras publicações sobre o tema desde essa época (em 2006 publicou a 4 edição da cartilha Prazer sem Medo sobre saúde integral para lésbicas e bissexuais). Participou da organização do I EBHO (1980), organizou dois encontros LGBT nacionais (VII EBLHO/93 e IX EBGLT/97) e foi sócia-fundadora da Associação Brasileira de Gays, Lésbicas e Travestis (ABGLT-1995). Participou igualmente de vários encontros internacionais com destaque para a 8ª Conferência Internacional do Serviço de Informação Lésbica Internacional-ILIS (Genebra, Suiça, 28 a 31/03/1986), o I Encontro de Lésbicas-Feministas Latino-Americanas e do Caribe (Cuernavaca, México, 1987) e a Reunião de Reflexão Lésbica-Homossexual (Santiago, Chile/ nov. 1992).

Quando as lésbicas mudaram o movimento homossexual brasileiro para de gays e lésbicas

quarta-feira, 23 de setembro de 2020 2 comentários



Há 30 anos, no dia 04 de setembro de 1993, iniciava-se o VII Encontro Brasileiro de Lésbicas e Homossexuais (04-07/09), dando início à alteração, para GL a princípio, do nome dos encontros nacionais e do próprio movimento pelos direitos homossexuais, genericamente chamado até então de Movimento Homossexual Brasileiro (MHB).

Embora, no exterior, já se usasse inclusive a sigla LGBT à época, aqui a simples inserção da palavra lésbica se deu sob forte oposição dos grupos Gay da Bahia (GGB), Triângulo Rosa (RJ) e Dignidade (PR), entre outros (p. 4), que alegavam haver redundância na inserção do vocábulo "lésbica", pois homossexual era comum de dois gêneros, que a palavra lésbica era agressiva, que ia confundir a imprensa, que era divisionista, etc... Foi necessário que a comissão organizadora do encontro, composta, pela primeira vez, também por dois grupos lésbicos (Um Outro Olhar e Deusa Terra), fizesse consulta, com votação, a todas as organizações do país no período, para que o encontro se realizasse já com a inserção do termo polêmico. Com a anuência da maior parte dos grupos e moções de apoio de grupos feministas, de prevenção à AIDS, e até de grupos de gays e lésbicas do exterior, a vitória foi conquistada.

Polêmico também por ter sido realizado num reduto petista, Instituto Cajamar (devido à falta de condições financeiras de realizá-lo em São Paulo), o encontro foi um divisor de águas na história do movimento pelos direitos homossexuais. Divisor de águas não só por ter inserido a palavra lésbica (proposta por Míriam Martinho) e a discussão sobre sexismo no movimento (questão nunca bem resolvida até hoje) mas também por ter mudado a estrutura dos encontros, que passaram a ser mais profissionais, e ter dado início ao que viria ser a futura Associação Brasileira de Gays, Lésbicas e Travestis (ABGLT) (p. 25). O Encontro reuniu igualmente militantes do início do movimento, que ficaram ausentes do mesmo por praticamente toda a década de 80 (p. 29), a então secretária-geral da ILGA, Rebeca Sevilla e até o cônsul americano do período (pp. 4, 5 e 6). 

Outro ponto polêmico do evento foi o relativo à inclusão da não discriminação por orientação sexual na revisão constitucional da época. A proposta foi rejeitada pelo encontro por se acreditar que a inclusão não seria tecnicamente viável (pp. 15-16). Em vez dela, propôs-se a criação de uma lei extravagante que tipificasse os crimes cometidos contra a livre orientação sexual nos termos do inciso IV, artigo 3 (embrião da futura lei contra a homofobia). De fato, por ampla maioria de votos (250 contra, 53 a favor e 7 abstenções) foi rejeitada, em 02/02/94, no Congresso Nacional, a proposta revisional que previa a inclusão da expressa proibição de discriminação por orientação sexual na constituição brasileira (p. 15).

Na plenária final do encontro, entre outras deliberações, ficou decidido que os próximos encontros teriam a denominação de Encontros Brasileiros de Gays e Lésbicas. O encontro seguinte, realizado em Curitiba, em 1995, ficou definido como VIII Encontro Brasileiro de Gays e Lésbicas. No decorrer deste, as travestis reivindicaram e tiveram aprovada, sem polêmicas, a inserção do T para os encontros seguintes. Na década de 90, também o portal Mix Brasil ajudou a popularizar o termo lésbica, com a divulgação da expressão GLS, os grupos mistos passaram a se definir como gays e lésbicos e outras organizações especificamente lésbicas surgiram no Brasil.

A versão digitalizada do relatório do VII Encontro Brasileiro de Lésbicas e Homossexuais. pode ser lida e baixada aqui. No boletim Um Outro Olhar 21, às páginas 8 e 9, e 16 a 19, também podem ser encontradas mais informações sobre o evento. Boa leitura!

Míriam Martinho

São Paulo, 07/09/2019

(reedição em 10/09/2023)

Biblioteca sapatônica: livros da década de 1980 por um movimento lésbico

quarta-feira, 19 de agosto de 2020 0 comentários

Talking LGBTQ Symbols with @Mashable Made Me Some New Friends ...

Míriam Martinho

Certa feita, uma pesquisadora me perguntou que livros as integrantes do Grupo Ação Lésbica Feminista (GALF) e da Rede de Informação Um Outro Olhar (REDUOO) liam. De imediato, não foi muito fácil de lembrar, dada à distância temporal de quatro décadas, mas a pergunta me levou a tirar do baú alguns títulos importantes de uma época em que as ativistas lésbicas buscavam criar um movimento lésbico autônomo, independente de gays e feministas.

Considerando que, hoje, lésbicas estão sendo canceladas até das célebres dyke marches (equivalente às caminhadas lésbicas brasileiras) pelo simples fato de afirmarem que lésbicas são mulheres que se relacionam exclusivamente com outras mulheres (pessoas do sexo feminino), creio que compartilhar clássicos da produção lésbica internacional de viés separatista possa ajudar a fundamentar ações contra a atual perda de nossos direitos e espaços. Afinal, a orientação homossexual não é fóbica contra ninguém e, de tal forma, jamais pode ser vista. Para acessar os livros, clique aqui

Nota 1.
Ao acessar esse material, vale evitar o anacronismo e não projetar o vocabulário atual no passado da década de oitenta. Nesse período, ativistas lésbicas e gays usavam, sem problemas, os termos "homossexualismo", "lesbianismo", "opção sexual", entre outros, hoje considerados politicamente incorretos. Não se assustem, portanto, ao encontrar o termo "lesbianismo" nesses livros.

Nota 2. A copiadora digitalizou os livros, um deles bem volumoso, em resolução alta, razão pela qual alguns não abrem no visualizador do Google Drive. Mas eles foram devidamente checados e estão seguros para baixar.
 
Rosanna Fiocchetto
A Amante Celeste é uma tradução do italiano para o espanhol do livro da escritora e ativista feminista e lesbiana Rosanna Fiocchetto (trabalhou na Livraria de Mulheres de Roma e participou do Centro Feminista Separatista de Roma e da União entre Lésbicas Italianas).

Neste livro, de 1987, cujo subtítulo é A destruição científica da lésbica, Fiochetto anallisa difrentes abordagens científicas da lesbianidade, situando-a historicamente como entidade e identidade separada e absolutamente diferenciada da homossexualidade masculina.

Sara Lucia Hoagland

Ética Lésbica, rumo a novos valores, de 1988, é de autoria de Sarah Lucia Hoagland, filósofa e professora da Universidade de Illinois em Chicago (EUA).

Segundo comentário de uma leitora, o livro encoraja a compaixão pelas lésbicas entre as lésbicas (cai bem contra as exposições e cancelamentos de hoje), questionando a raiz dos conflitos entre as lésbicas que impedem o florescimento de um movimento específico.


Este livro foi inspiração para a fundação da Rede de Informação Um Outro Olhar.
                          Susan Cavin

Origens Lésbicas, publicado em 1985, é de autoria da socióloga política Susan Cavin. Nele a autora busca traçar a origem da opressão feminina e os registros da lesbianidade e das Amazonas na História. Fruto da tese de doutorado da autora, o livro é importante por registrar a presença das lésbicas em todos os padrões de assentamentos humanos.

Sarah Lucia Hoagland e Julia Penelope

Publicado pela mesma autora de Lesbian Ethics, Sarah Lucia Hoagland, e Julia Penelope, conhecida ativista lésbica do período, Só para Lésbicas, uma Antologia Separatista é um tijolaço de 596 páginas de textos acadêmicos e não acadêmicos de ativistas e coletivos lésbicos dos anos 70 e 80. Tem análises teóricas, insights autobiográficos, contos, poesias e o ideal de uma cultura lésbica.

"O que é uma lésbica? A lésbica é a ira de todas as mulheres condensada a ponto de explodir." (Radical Lesbians,  The Woman Identified Woman, 1970).

Para acessar os livros, clique aqui

História Lésbica: Surgimento do Dia Internacional da Visibilidade Lésbica (26 de abril)

segunda-feira, 4 de maio de 2020 0 comentários

Happy lesbian visibility day to all the awesome transbians out ...
Em 2008, o 26 de abril tornou-se o Dia Internacional da Visibilidade Lésbica

Em 2008, o 26 de abril tornou-se o dia da Visibilidade Lésbica. Conforme as fontes, hispanófonas ou anglófonas, a iniciativa é atribuída a ativistas do Estado Espanhol ou dos Estados Unidos da América. Nas fontes francófonas, a Journée de visibilité lesbienne é referida como tendo origem no Quebeque, em 1982, embora com comemorações em diferentes datas ao longo dos anos. O certo é que o evento do 26 de abril se tornou internacional graças à Internet. Mas essa não é a única data.

Na Argentina é assinalado o 7 de março desde 2011 em homenagem a Natalia “La Pepa” Gaitán, mulher de 27 anos assassinada pelo padrasto da sua namorada. No Brasil, o Dia Nacional da Visibilidade Lésbica celebra o 29 de agosto de 1996, data em que aconteceu o Primeiro Seminário Nacional de Lésbicas - Senale, e o Dia do Orgulho Lésbico recorda o 19 de agosto de 1983, a primeira grande manifestação de mulheres lésbicas no Brasil, ocorrida em São Paulo. Em vários países da América Latina também é assinalado o Día de las Rebeldías Lésbicas em homenagem ao 13 de outubro de 1987, data do Primeiro Encontro Lésbico Feminista da América Latina e das Caraíbas. E na Austrália e na Nova Zelândia o 8 de outubro é o Lesbian Day pelo menos desde os anos 1990.

Este ano, o Clube Safo, primeira associação lésbica portuguesa, decidiu adotar oficialmente a data. O Clube Safo nasceu em janeiro de 1996, em Aveiro, e registou-se como associação no dia 15 de fevereiro de 2002, em Santarém. Espaço de encontro e partilha, este coletivo publicou o boletim Zona Livre e foi um dos convocantes da primeira Marcha do Orgulho LGBT de Lisboa no ano 2000. Este ano, o Clube Safo não só adotou o dia 26 de abril como dia da Visibilidade Lésbica, como lançou um conjunto de iniciativas naquilo a que chamou o Mês da Visibilidade Lésbica: “Dia 26 de Abril é o dia em que se celebra a ️‍Visibilidade Lésbica️‍ o mesmo mês que em Portugal se celebra também a Liberdade. Por isso dedicamos este mês à visibilidade, a podermos ser quem somos, a amarmos quem amamos e existirmos numa sociedade em que o existir é também resistir”.

Entre outras iniciativas, decidiram falar “de visibilidade lésbica, de políticas e direitos de mulheres que têm relações com mulheres” e convidaram “três mulheres que participam no movimento de defesa destes mesmos direitos tanto pela sua visibilidade como pelos lugares de liderança que ocupam”. No dia 24 de abril organizaram um encontro online com Rosa Monteiro, Secretária de Estado para a Cidadania e Igualdade de Género (ver vídeo(link is external)), dia 25 de abril com Ana Aresta, presidente da ILGA Portugal (ver vídeo(link is external)) e, hoje, dia da Visibilidade Lésbica, com Fabíola Neto Cardoso, sócia fundadora do Clube Safo e deputada na Assembleia República eleita pelo Bloco de Esquerda (ver transmissão em direto(link is external) às 17h).

Além da iniciativa do Clube Safo, também a plataforma cultural Queer as Fuck está a promover o Queer Quiz Virtual: Visibilidade Lésbica!(link is external) E outros coletivos e pessoas a título individual terão a sua forma de assinalar a data.

Por que celebrar a Visibilidade Lésbica?

Em maio de 2018, através de uma entrevista, Sandra Cunha, socióloga e ativista feminista, pelos direitos das crianças e pelos direitos LGBTI, tornou-se a primeira deputada portuguesa a assumir-se publicamente como lésbica. Em outubro de 2019, Fabíola Cardoso, fundadora da primeira associação lésbica portuguesa, foi também eleita para a Assembleia da República. Entre uma data e outra, em fevereiro de 2019, na Costa da Caparica, as jovens Débora Pinheiro e Sara Casinha foram agredidas por um homem por estarem a dar um beijo e denunciaram publicamente esse ato de violência. Ainda há quem questione: A visibilidade lésbica é importante? Entre a família, na escola, no hospital, no emprego... as mulheres não continuam a ser logo à partida presumidas heterossexuais? É ainda importante que as mulheres lésbicas se sintam representadas na cultura ou na política? É seguro ser visivelmente lésbica nas ruas? O Esquerda decidiu perguntar à ativista queer feminista Raquel Smith-Cave, à investigadora Anna M. Klobucka e à investigadora Raquel Afonso porque razão é importante comemorar a Visibilidade Lésbica (ver mais dados sobre as entrevistadas ao fim do texto).

Anna M. Klobucka: A minha perspetiva sobre a questão da (in)visibilidade lésbica em Portugal é sobretudo histórica, decorrente de alguma investigação que tenho desenvolvido ao longo dos últimos dez anos sobre a “existência lésbica” (para evocar o conceito de Adrienne Rich, desenvolvido no seu artigo clássico “Heterossexualidade compulsória e existência lésbica”) na cultura portuguesa moderna.

A “heterossexualidade compulsória”, por sua vez, é o princípio simbólico que tem definido – até muito recentemente de forma absoluta – os horizontes epistémicos de todas as vertentes da história nacional, articulando-se de forma particularmente perniciosa com a marginalização das mulheres em geral nos cânones do conhecimento patriarcal. Por conseguinte, a inscrição no registo histórico vigente do protagonismo social, cultural, artístico e/ou literário das mulheres portuguesas que amaram mulheres encontra-se ainda numa fase incipiente, não obstante vários trabalhos notáveis já realizados (como o livro de Raquel Afonso, Homossexualidade e resistência no Estado Novo, ou a tese de Helena Lopes Braga sobre Francine Benoît). E é uma vertente de investigação que ainda precisa de vencer muitas resistências firmemente instaladas, como a alegada irrelevância dos fatores como a afetividade e sociabilidade (no caso, lésbicas) para a interpretação da vida e obra das figuras históricas notáveis.

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Eventos públicos de ativismo lésbico em diferentes países deram origem ao 26 de abril

Para dar apenas um exemplo entre muitos possíveis, a escritora e ativista açoriana Alice Moderno (1867-1946), que viveu, viajou e colaborou durante décadas com a sua companheira Maria Evelina de Sousa, continua a ser apresentada em diversas biografias como solteira, cujo único relacionamento amoroso terá sido o noivado à distância com Joaquim de Araújo. Já quanto à sua relação com Sousa, a biografia de Alice Moderno na Wikipédia contém esta pérola: “O seu relacionamento causou bastante especulação na sociedade micaelense mas desconhece-se se era meramente platónico.” (O respetivo artigo em inglês afirma que “Sousa and Moderno lived openly as lesbians.”)

Raquel Smith-Cave: Celebrar o dia da visibilidade lésbica ajuda-nos a lembrar que o L da sigla LGBT+ ainda é muitas vezes negligenciado, mesmo dentro da comunidade queer. Reforçando a importância das lutas feministas de uma perspetiva intersecional, precisamos de ter em atenção os vários níveis de opressão a que muitas de nós estão sujeitas e que não são visíveis ou possíveis de modificar se continuarmos a lidar com estas questões em caixinhas separadas. É necessário questionarmos os nossos privilégios, agindo a favor de uma maior consciencialização e integração das questões de classe, anti-racistas, feministas e muitas mais opressões que também intensificam a constante invisibilização de pessoas lésbicas na sociedade.

Acredito no poder da arte como potencializador de mudança e que existem várias formas válidas e fundamentais de se fazer ativismo. Através da minha experiência pessoal, como alguém que desde cedo questionou as normas sociais e obteve respostas primeiramente através da arte, foi no artivismo que me envolvi de forma mais natural. Com a plataforma Queer As Fuck, tento explorar e analisar a falta de representação das diversas identidades de género e sexualidades não-normativas (principalmente LBT+) na sociedade, criando espaços de partilha de experiências e conteúdos criativos que abordam vivências menos evidentes e, por isso, mais importantes de realçar. 

Por exemplo, o ciclo de cinema “Where Are My Lesbians?” com a exibição de filmes com temática lésbica, o clube de leitura Queer Books em que partilhamos textos escritos por pessoas queer, ou o queer quiz, que começou por se basear em perguntas gerais sobre o movimento LGBT+ e agora são quizes mais específicos, como o especial para este dia da visibilidade lésbica, com o qual tenho aprendido muito sobre a história da comunidade e sei que quem participar também vai sentir orgulho por ficar a conhecer tantos marcos e figuras revolucionárias que impulsionaram o movimento lésbico.

Raquel Afonso: É estranho como se “estranha” o facto das lésbicas quererem visibilidade, sabes? Trabalhei sobre lésbicas e homossexuais no período do Estado Novo e, já nesse tempo, as mulheres lésbicas eram praticamente invisíveis (e é tão difícil chegar até elas!) Até nos movimentos posteriores ao 25 de abril. Invisibilizadas no movimento gay e igualmente invisibilizadas no movimento feminista.

É engraçado, quando o meu livro saiu, tive muitas pessoas a questionarem o facto de eu ter informado que era lésbica. Cientificamente era clara a razão, era importante dar conta da relação que tinha com o meu objeto de estudo. Mas também o fiz como uma provocação. Qual é o problema? Quis dar visibilidade, hoje, porque continuamos ofuscadas pelo (pelo menos) duplo estigma, de sermos mulheres e de sermos mulheres lésbicas.

Acho que a visibilidade é importante porque as mulheres lésbicas não têm que estar na sombra de ninguém, seja essa sombra feita por homens ou por mulheres heterossexuais. Nós também lutámos, também estivemos lá. E estamos. A visibilidade é importante para nós porque nós também existimos. E não somos menos que ninguém. É importante reconhecer isso.

Anna M. Klobucka é professora(link is external) no Departamento de Português da Universidade de Massachusetts Dartmouth (EUA), onde leciona principalmente literatura portuguesa e literaturas africanas em língua portuguesa. Entre outros(link is external) trabalhos seus, podemos referir o artigo Portugal’s First Queer Novel: Rediscovering Visconde de Vila-Moura’s Nova Safo (1912)(link is external), o livro O Mundo Gay de António Botto(link is external), ou o volume co-editado com Hilary Owen Gender, Empire, and Postcolony: Luso-Afro-Brazilian Intersections(link is external).

Raquel Smith-Cave é uma ativista queer feminista, uma das fundadoras do Festival Feminista de Lisboa(link is external) e é dinamizadora do projeto cultural Queer as fuck(link is external).

Raquel Afonso é investigadora, autora do livro Homossexualidade e Resistência no Estado Novo(link is external), e é membro do associação Fem - Feministas Em Movimento.

Clipping Como e porquê comemorar o dia da Visibilidade Lésbica?, por Fabíola Cardoso, Esquerda.Net, 26/04/2020

Pandemia de coronavírus cancela parada LGBT de Nova York

segunda-feira, 27 de abril de 2020 0 comentários

A Parada do Orgulho Gay de Nova York de 2019 - AFP
A Parada do Orgulho Gay de Nova York de 2019 Imagem: AFP

Pela primeira vez em 50 anos Nova York não terá uma Parada do Orgulho Gay. O evento, que acontece todo ano no final de junho, foi oficialmente cancelado hoje pelo prefeito da cidade, Bill de Blasio, que alegou não ser possível realizar eventos por causa da pandemia do covid-19. Nova York é o local com mais casos de coronavírus nos Estados Unidos.
A Parada vai voltar e encontraremos a melhor forma de fazê-la", declarou o prefeito, sem uma previsão de nova data. Ele lamentou ter de cancelar um dos eventos mais importantes do calendário da cidade no ano em que ele completaria meio século. Bill de Blasio é conhecido como defensor dos direitos LGBT.
A Parada do Orgulho Gay de Nova York começou em 1970, um ano depois da revolta de Stonewall, que foi celebrada no evento no ano passado. A data tem a ver com o dia em que a polícia invadiu o bar Stonewall Inn, em 28 de junho de 1969, um dos poucos locais que reunia gays, lésbicas, trans e drags na época.

Naquele dia, os frequentadores do bar resolveram se rebelar contra as constantes batidas da polícia e fizeram história e saíram em marcha pelas ruas da cidade para defender seus direitos. A partir deste acontecimento histórico, várias cidades pelo mundo passaram a promover suas próprias paradas.

A Parada do Orgulho Gay de Nova York caíria exatamente na data em que se celebra o Stonewall, 28 de junho, um domingo. Além do dia do desfile, foram cancelados todos os eventos relacionados à Parada que aconteceriam entre 14 e 28 de junho na cidade.

Clipping Parada do Orgulho Gay de Nova York é cancelada; evento faria 50 anos, UOL Internacional, 20/04/2020

Parada LGBT incluída no calendário oficial de eventos do DF

segunda-feira, 20 de abril de 2020 0 comentários

Parada LGBT de Brasília — Foto: José Cruz/Agência Brasil
Decisão foi publicada no DODF na terça-feira (14/04) após projeto do distrital
Chico Vigilante (PT) tramitar por dois anos na CLDF

O governador Ibaneis Rocha (MDB) sancionou a lei que inclui, no calendário oficial de eventos do Distrito Federal, a Parada do Orgulho LGBTS (lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transexuais e simpatizantes) de Brasília. O ato foi publicado no Diário Oficial (DODF) da terça-feira (14/04).

Aprovada no dia 20 de março, a proposta tramitava desde o ano de 2017 e é iniciativa do deputado distrital Chico Vigilante (PT). O evento é realizado anualmente no mês de junho, em referência ao Dia Internacional do Orgulho LGBT, comemorado no dia 28 do mesmo mês.

Neste ano, caso não haja prorrogação das medidas restritivas causadas pelo novo coronavírus, o evento ocorre no fim de junho.
Estamos felizes com o governador. É fruto de muita luta e resistência da população LGBT. A parada é o maior ato de direitos humanos e é um dos maiores eventos dos DF. São 23 anos colorindo a capital. Reconhecimento fundamental para fazer do DF um território livre do preconceito”, declarou o ativista Michel Platini, presidente do Centro de Defesa do Direitos Humanos e diretor da Aliança Nacional LGBTI no DF.
Contribuição

De acordo com a legislação, o Poder Executivo, por meio de seus órgãos e entidades, passa a contribuir, dentro das possibilidades, com a realização do evento.

Do ponto de vista prático, a inclusão do festival no calendário facilita para os organizadores, por exemplo, a captação de apoio administrativo do poder público para o evento. Com isso, torna mais simples a obtenção de licenças para as próximas edições, liberação de espaços e apoio da estrutura local. O registro também agrega valor simbólico e institucional ao movimento.

Clipping GDF sanciona lei que inclui Parada LGBTS no calendário oficial, por Caio Barbieri, Metrópoles, 14/04/2020

Faleceu Phyllis Lyon, pioneira ativista lésbica, aos 95 anos

quarta-feira, 15 de abril de 2020 0 comentários

Phyllis Lyon, Pioneering Lesbian Activist, Dies at 95
Ativista Phyllis Lyon fundou a 'Daughters of Bilitis', primeira organização lésbica americana 

Faleceu aos 95 anos, de causas naturais, em 13/04/2020, a ativista Phyllis Lyon, pioneira na luta pelos direitos homossexuais.

Phyllis, junto de sua esposa Del Martin, falecida em 2008, fundou a primeira organização de direitos lésbicos na América, o 'Daughters of Bilitis'. Juntas, elas também criaram a publicação lésbica 'The Ladder'.

Em 2004, foram o primeiro casal do mesmo sexo a trocar votos de casamento em São Francisco, nos Estados Unidos. E foram casadas pelo atual governador da Califórnia, Gavin Newsom.

O casamento foi anulado quando a Suprema Corte da Califórnia derrubou as leis contra o casamento entre pessoas do mesmo sexo em 2008, mas elas se casaram novamente.

Phyllis Lyon and Del Martin, first same-sex couple ever to marry ...
Del Martin e Phyllis Lyon tiveram um papel crucial na conquista dos direitos homossexuais

No decorrer da vida, o casal também fez campanha para que figuras políticas e religiosas se tornassem mais favoráveis aos direitos de gays e lésbicas.

Phyllis co-fundou e dirigiu o Fórum Nacional do Sexo, foi professora do Instituto de Estudos Avançados da Sexualidade Humana e, ao lado de Del, escreveu o livro 'Lesbian/Woman'.

A morte de Phyllis foi compartilhada por Gavin Newsom, que afirmou em um comunicado:
Phyllis e Del eram a manifestação do que é o amor e a devoção. Phyllis, sua coragem mudou o curso da história."
O senador da Califórnia Scott Wiener disse:
Perdemos uma gigante hoje. Phyllis Lyon lutou pela igualdade de gays e lésbicas quando não era seguro nem popular fazê-lo. Ela e sua esposa, Del Martin, tiveram um papel crucial na conquista dos direitos e dignidade de que nossa comunidade agora desfruta. Devemos imensa gratidão por seu trabalho"
Phyllis deixa uma filha e genro, dois netos e um bisneto. A família pediu que sejam feitas doações aos Serviços de Saúde Lyon-Martin de São Francisco, uma clínica nomeada em homenagem a ela e Del, que atende à comunidade de gays e lésbicas.

Clipping Morre aos 95 anos Phyllis Lyon, pioneira na luta pelos direitos LGBTQ+, UOL Universa, 13/04/2020

O primeiro casamento homoafetivo da Irlanda do Norte foi entre mulheres

quarta-feira, 19 de fevereiro de 2020 0 comentários

Sharni Edwards, 27 (à esq.), e Robyn Peoples, 26, é o primeiro casal do mesmo sexo a se...
O primeiro casamento homoafetivo da Irlanda do Norte entre as jovens Sharni Edwards e Robyn Peoples,

O primeiro casamento homoafetivo da Irlanda do Norte, entre as jovens Sharni Edwards e Robyn Peoples, aconteceu na terça-feira (11/02). Em outubro de 2019, a província suspendeu a proibição deste tipo de união, marcando a legalização histórica do casamento entre LGBTs em todo o Reino Unido.

Robyn Peoples, 26 anos, que trabalha na área da saúde em Belfast, capital do país, e Sharni Edwards, 27, que trabalha como garçonete em Brighton, no Reino Unido, se tornaram o primeiro casal gay da província a se casar, de acordo com a Love Equality, campanha da sociedade civil organizada para defender a aprovação do casamento LGBT na Irlanda do Norte.

Após seis anos juntas, o casal de lésbicas trocou votos em Carrickfergus, no condado de Antrim em uma cerimônia pequena para amigos e familiares. “Isso significa tudo para nós. Esta é minha esposa. Finalmente posso dizer que é minha esposa”, disse Peoples a repórteres após a cerimônia.
Somos o rosto desta causa na Irlanda do Norte. Para mostrar a todos que está tudo bem. Lutamos por tanto tempo para que esta oportunidade fosse vista como igual e agora estamos aqui e é simplesmente incrível”, completou.
O “sim” histórico aconteceu na data em que Edwards e Peoples já haviam reservado para assinar a união estável - permitida em todo o Reino Unido desde 2005. Com a legalização do casamento entre pessoas do mesmo sexo em outubro de 2019, o casal decidiu oficializar a união de outro jeito.

O “sim” histórico aconteceu na data em que Edwards e Peoples já haviam reservado...
“Isso significa tudo para nós. Esta é minha esposa. Finalmente posso dizer que é minha esposa."

A dupla vai comemorar a lua de mel com uma viagem até Paris, na França, para curtirem juntas um show da estrela do pop, Ariana Grande. A primeira dança do cal será ao som da canção Over and Over Again, de Nathan Sykes, com participação de Grande.
Do jeito que você sorri, até o jeito que você olha, você me captura como nenhuma outra. Desde o primeiro olá, é tudo o que preciso. E de repente tínhamos uma à outra”, diz a letra da canção.
Em outubro de 2019, proibições tanto em relação ao aborto e ao casamento entre pessoas do mesmo sexo caíram na Irlanda do Norte por decisão do Parlamento britânico. 

Ao contrário do resto do Reino Unido, onde o aborto é autorizado desde 1967, na Irlanda este procedimento era ilegal, com exceção para quando a gravidez coloca em risco a vida da mulher. União estável entre pessoas do mesmo sexo já era permitida desde 2005, porém, o casamento civil, era proibido.

O ministro britânico da Irlanda do Norte, Julian Smith, membros do parlamento e ativistas comemoraram a legalização do casamento gay em um evento em Londres na mesma terça-feira.

Sara Canning, que era casada com Lyra McKee, ativista LGBT e jornalista assassinada em abril do ano passado, também participará do evento. 

Clipping Irlanda do Norte celebra primeiro casamento homoafetivo após proibição cair em 2019, Huffpost Brasil, Via Reuters,, por Equipe HuffPost,, 11/02/2020

Lésbicas organizam blocos de Carnaval em São Paulo, Rio e Belo Horizonte

sexta-feira, 7 de fevereiro de 2020 0 comentários

Regido pela maestrina Jaqueline Cunha, a trilha sonora do Siga Bem Caminhoneira tem paródias como Ser sapatão é bom demais (Araketu é bom demais)
 Regido pela maestrina Jaqueline Cunha, a trilha sonora do Siga Bem Caminhoneira de São Paulo
                   tem paródias como "Ser sapatão é bom demais" (Araketu é bom demais)
Crédito: Divulgação

Perguntar às mulheres lésbicas organizadoras de blocos de Carnaval qual foi o principal motivo que as levou a criarem seus próprios espaços de folia esbarrou numa questão tão unânime quanto difícil de ignorar. Ninguém se sentia segura para mostrar suas afetividades e carnavalizar nas ruas durante a festa que é, ou pelo menos nasceu para ser, o auge da integração social no Brasil.
Antes de o bloco existir, sempre saímos numa turma grande de amigas e, vira e mexe, dava um probleminha na rua. Se uma já ficasse com a outra, em um bar, por exemplo, já dava uma bafafá”, conta à Tpm a DJ Renata Corr, que comanda a festa e o bloco sapa-bi Desculpa Qualquer Coisa, nas ruas do centro de São Paulo.
A cultura do assédio e do estupro – que existe o ano todo, vale lembrar – se intensifica no Carnaval. Além da censura ainda maior à liberdade de ir e vir dos corpos femininos nos espaços públicos, também existe a lesbofobia, a misoginia e o racismo. Conclusão: sair às ruas se torna sinônimo de correr perigo. Afinal, quem quer se arriscar num contexto de excessos quando seu direito à cidade sequer é garantido em dias comuns? 
Depois do nosso primeiro cortejo, no ano passado, recebemos diversos relatos de mulheres que, pela primeira vez, se sentiram estimuladas a sair para curtir o Carnaval, porque antes não estavam à vontade para ocupar esses espaços, não se sentiam representadas”, relatam Fernanda Branco Polse e Isabella Figueira, integrantes do bloco mineiro Truck do Desejo, que saiu nas ruas do bairro Barro Preto, em Belo Horizonte, com uma ala fantasiada com roupas que imitavam vaginas e ânus.
É preciso colocar vaginas na rua e colocar em pauta a genitália feminina – historicamente tão mal falada, temida e vulnerabilizada. É preciso colocar o ânus na rua também e falar sobre ele com dignidade. É o órgão sexual unissex, que nos une, afinal, quem não tem?
Folionas da Truck do Desejo desfilam pelas ruas do bairro Barro Preto, em Belo Horizonte
Folionas da Truck do Desejo desfilam pelas ruas do bairro Barro Preto, em Belo Horizonte. Crédito: Lorena Zschaber/Divulgação

Lugar de pertencimento e de não-violência

O coletivo Ilú Obá de Min, que se baseia na arte e preservação da cultura de matriz africana e afro-brasileira para empoderar mulheres, é um dos precursores na luta contra a lesbofobia no Carnaval. 

Surgimos como bloco em 2005 e não teve estranhamento”, conta Beth Beli, diretora e maestrina do grupo.
Acredito que as pessoas necessitavam de blocos assim. No começo, a gente tinha 30 mulheres. Quinze anos depois, somos 430. Muitas delas são homossexuais ou bissexuais. Além disso, muitas também se descobriram homossexuais no Ilú. Esses blocos são um lugar de tranquilidade para nós, sabe? Tem a ver com esse lugar de pertencimento e de não-violência”, continua Beth. 
Já o bloco Toco-Xona, que tem esse nome devido a fama das lésbicas de se apaixonarem depois de serem dispensadas, começou como uma reunião de amigas que só queria se divertir, mas também precisou passar por um processo de emancipação dos padrões e superação de preconceitos para, aí sim, se jogar na brincadeira.

Antes de se tornar “referência em sapatonice” no Rio de Janeiro, o grupo foi tema de uma reportagem de um jornal de grande circulação que as chamou de “lésbicas safadinhas”, causando pânico entre as integrantes – algumas ainda não tinham se assumido no trabalho ou para as famílias. 

O processo do Toco-Xona foi o mesmo que acontece com a maioria das mulheres lésbicas: um processo de aceitação. Lá em 2008, não se falava em visibilidade ou resistência”, conta Bruna Capistrano, uma das idealizadoras.
Foi preciso se assumir, se reconhecer para só então ter orgulho. Hoje, nosso desfile é transmitido pela Globo News”, diz Bruna. 
Em 2020, o Toco-Xona espera um público de aproximadamente 15 mil pessoas no Aterro do Flamengo, cartão-postal da cidade, e que foi criado por Lota de Macedo Soares, uma das primeiras arquitetas e paisagistas a assumir sua homossexualidade no país.

Cortejo do Toco-Xona, no Aterro do Flamengo, reúne 15 mil pessoas e tem transmissão pela Globo News
Cortejo do Toco-Xona, no Aterro do Flamengo, reúne 15 mil pessoas 
e tem transmissão pela Globo News,  Crédito: Divulgação

“Merecemos seguir bem e ser respeitadas”

Outra mudança positiva e muito bem-vinda que veio junto com o aumento desses blocos foi o reforço da representatividade sapatão. Se, no passado, o estado de desordem típico do Carnaval autorizava a objetificação, a fetichização e o deboche sobre os relacionamentos entre mulheres, hoje a folia é um lugar de ressignificação dos estereótipos. Nomes como Siga Bem Caminhoneira, Truck do Desejo, Siriricando e Ou Vai ou Racha evidenciam que mais do que dirigir seus blocos, as mulheres homossexuais assumiram também o controle das suas narrativas carnavalescas. 
Faz todo sentido o nosso nome. A ideia foi fazer um trocadilho pensando na forma pejorativa como algumas lésbicas que não performam feminilidade são chamadas, apropriando e ressignificando o termo ‘caminhoneira’, no intuito de mostrar que não importa quem somos, merecemos seguir bem e ser respeitadas”, afirma a dupla Leka Peres e Didi Lima, que comanda o bloco Siga Bem Caminhoneira, também em São Paulo.
Se o caminhão é a imagem alegórica que representa a força da mulher sapatão, o combustível é a música. O empoderamento que esses blocos incentivam também passa pelo repertório. Regido pela maestrina Jaqueline Cunha, a trilha sonora do Siga Bem Caminhoneira tem paródias que estão intimamente relacionadas com o imaginário lésbico, como “Ê Sapatão" (Faraó - Divindade do Egito) e "Ser sapatão é bom demais" (Ara Ketu Bom Demais).

Com uma veia mais pop, a Desculpa Qualquer Coisa vai apostar nos hits Verdinha e Amor de Que, de Ludmilla e Pabllo Vittar, respectivamente, como as prováveis músicas chiclete do Carnaval. Já no Truck do Desejo, as organizadoras apostam em músicas mais antigas, mas que sempre agitam as minas:
Me fala um bloco que toca 'Vá Com Deus', da Roberta Miranda?! É demais ver a ala da bateria e da dança cantando essa super clássico em ritmo de pagodão baiano”, adiantam.
Para quem quiser ouvir clássicos da MPB sapatônica, beijar sua menina na rua ou apenas curtir o Carnaval num espaço seguro e livre de julgamentos, os blocos lésbicos são o lugar.
Sermos mulheres que amam outras mulheres é um ato político. Vamos contra tudo o que é esperado de uma sociedade patriarcal e acreditamos que a nossa potência, juntas, e o nosso amor é muito maior que isso”, avisam as mulheres do Siga Bem Caminhoneira. 

PARA NÃO PERDER O CAMINHÃO:

SÃO PAULO

Desculpa Qualquer Coisa
15/Fev - 14h30
Consolação

Ilú Oba de Min
21/Fev - 17h00
Centro

23/Fev - 14h00
Bom Retiro

Siga Bem Caminhoneira
29/Fev - 14h
Rua Rui Barbosa, 453

RIO DE JANEIRO

Toco-Xona
23/Fev - 7h00
Aterro do Flamengo

BELO HORIZONTE

Truck do Desejo
25/Fev - 8h00
Barro Preto

Clipping Carnaval Sapatão: Blocos para mulheres lésbicas e bissexuais ganham força, por Natalia Guarato, TPM, 30/01/2020 

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