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Manual sapatão: de bem com os seios e suas 1001 utilidades

quinta-feira, 22 de abril de 2021 0 comentários

Seios, pra que lhes quero

por Eliane Di Santi*

Barreiras devem ser quebradas, mas às vezes não conseguimos esse objetivo. É frustrante. Muito. Mas descobri que, se não consigo quebrar, posso contornar, pular barreiras ou até cavar um buraco e passar por baixo delas. Ok, dá mais trabalho, leva mais tempo, mas - posso ser taxada de tonta, maluca, idiota - sabe que funciona?

Consegui ultrapassar algumas das minhas barreiras. Claro, com alguns arranhões, suja de lama, poeira, cimento, mas... consegui finalmente.

Porque estou falando isto? Porque quero contar a vocês que faz anos que eu reparo que muitas lésbicas tentam esconder os seios. Para elas os seios são uma grande frustração. Não é como estar dentro de um corpo que não desejam, já que muitas lésbicas não querem ser homens, não são transgênero.  Apenas detestam seus seios porque para elas os seios não passam de dois objetos sem utilidade que só servem, quando se é mãe, para dar de mamar. Mas para aquelas que nunca foram nem serão mães, os seios parecem um órgão inútil no corpo, ficam ali, pendurados, atrapalhando o peito. Não podem nem tirar a camisa e ainda têm que usar sutiã, coisa de mulherzinha. Pois é, por isso muitas colocam faixa, tentando esconder aquele volume, como a travesti faz com o pênis quando se monta de drag queen.

PHOTO: P-INK.ORG PINTEREST PAGE.

E é justamente sobre os seios das lésbicas ativas, daquelas que os escondem, que eu quero falar. Meninas, ahhh meninas, se vocês soubessem o que seus seios são capazes de fazer, nunca mais os esconderiam. Simmmm, do que são capazes de fazer na cama com uma mulher!!!!! A mulherada pira!!!! O poder dos seios da lésbica ativa é o mesmo que o do pênis de um homem, se é que me entendem. Com duas vantagens: a primeira é que não tem bolas pra atrapalhar e a segunda é que são dois, então, pode-se variar o prazer que oferecem revezando um e outro.

Então meninas, não detestem seus seios. Ultrapassem suas barreiras, explorem mais as possibilidades eróticas dos seios e aprendam a apreciá-los como merecem.

Seios sapatônicos para serem degustados


* Eliane Di Santi escreve contos e crônicas e
é colaboradora da Um Outro OLhar de longa data. 


O aparelho de dentes

quinta-feira, 20 de dezembro de 2012 0 comentários

Beija-lhe as partes todas e no seu regaço, banhado de prazer,
mergulha os dedos cúpidos, a língua voraz.

Por Stella Ferraz

A última visita despediu-se já noite alta, agradecendo uma vez mais o convite para o sarau. Ao retornar, a dona da casa passou pela sala recolhendo os derradeiros copos, os cinzeiros cheios, indagando aos gatos quem a haveria de ajudar. Na cozinha, empilhados os pratos à espera da água e do sabão.

Toca a campainha. Uma, duas vezes com urgência.

Quem seria? Se pergunta a dona. Uma esquecida decerto, que de tudo se esquecem em sua casa. Como aquele aparelho de dentes que a empregada, bissexta no arrastar dos móveis, achou sob o sofá. De quem seria?

“Já vai”, diz a dona da casa, falando de dentro. Entre o tocar a campainha e o abrir o portão vai toda a distância de um quintal comprido, alumiado por tochas e transbordante de plantas. “Já vai”, avisa a dona. Não com um grito, mas num sussurro escancarado, porque é noite alta e a vizinhança dorme. Lá no céu daquela sexta-feira, 13 nos dias do mês e segunda nas feiras de sexta, impera alta e cheia a lua.

Aberto o portão, atrás da folhagem densa e vasta que encobre a entrada, uma figura jovem, elegante e muito branca se apresenta.

“Vim buscar meu aparelho de dente”, demanda sem aspereza, numa voz que é mais um pedido de doce exigência.

A dona da casa que aqui dispensa o nome, porque é sabidamente a dona, por termo passado e lavrado em cartório, olha incrédula a figura atraente que tem por diante. Não se recorda de sarau que a jovem houvesse frequentado, poema que houvesse lido, música que tocasse ou palmas que batesse emocionada.

“Meu aparelho de dente”, insta a jovem de olhos súplices postos na dona da casa, que vencida pelo rogo, se esquece de inquirir o básico, qual seja: quem seja que lhe bate à porta. Começa por lhe abrir o portão, depois leva-la à porta, introduz à sala, encaminha pelo corredor e com ela adentra o quarto onde jaz sobre o criado mudo calado e aguardante o aparelho de dente.

A jovem se lança sobre o objeto com a sofreguidão de quem há muito o procura.

“Preciso dele para que meus dentes fiquem direitos” confessa num sorriso tímido a mostrar magnífica a dentadura sem falhas, os dentes, os de cima e os de baixo, alvos, circundados pelos caninos, domados dentro da branca fileira.

Com cuidado a jovem envolve o aparelho num guardanapo que solícita lhe oferece a dona da casa. E guardado o objeto, à dona da casa volve sua atenção. Os olhos antes tímidos transmudam-se em sedução e brilho como se só agora pudessem notar a dona em cuja casa estava. E a anotar cada traço de sua tez, os olhos doces, a pele pálida, jamais tanto quanto a sua, as mãos pequenas, as covinhas graciosas no rosto.

Num gesto delicado, passa-lhe a mão pela face, desce-a pelo pescoço, acaricia-lhe a nuca, que essa dona de casa é especial, não somente por lhe entregar seu aparelho, mas por guardá-lo com apreço longe da poeira.

O gesto delicado, falou-se em delicado?, delicado fora, pois agora se reveste de um calor intenso que seduz imperioso a dona da casa, lhe inunda a fronte, umedece as mãos, desce por entre os seios, tropeça no umbigo e se instala fremente e pulsante entre as pernas. A dona da casa sente arder em si o desejo de que algo aconteça e em acontecendo se faça sempre e mais e fundo.

A jovem a toma nos braços, nos seus roça os lábios, beija-lhe os cabelos, suspira resignada junto ao pescoço, tenro e saboroso, por onde vê pulsar quente e desavisada uma veia. Freme o desejo de si e de seus dentes que um dia ainda hão de ser magníficos e contundentes, por obra e graça do aparelho.
Despe-lhe à dona da casa o suéter e com dedos vorazes e língua cúpida ganha seu colo, diverte-se em saborear os mamilos escuros e doces, tesos de querer mais. Com eles brinca os dedos, confere sua leveza e seu ardor e desce, desce sempre, gozando das delícias da forma, do veludo da pele, do latejar da carne, desnudando, retirando à dona da casa o pouco que lhe resta até restar à dona tão nua e ardente apenas o seu muito querer.

Beija-lhe as partes todas e no seu regaço, banhado de prazer, mergulha os dedos cúpidos, a língua voraz. E beija e mordisca, e lambe e abraça, arredonda nos lábios o que de mais caro há para a dona da casa que em tremores de gozo se abre por inteira. E geme e chora e pede sempre mais, até saciar-se num cansaço prazeroso.

E aí e então entra por uma fresta o primeiro raio de sol. O abraço caloroso se esvaece e se transforma abrupto num ruído de asas a bater-se contra a janela até achar um canto por onde fugir dos gatos que se aproximam ameaçadores. Mas a dona da casa nada vê, pois, saciada e quieta, dorme o sono de quem sabe cuidar dos objetos dos outros.

Stella C. Ferraz é autora dos romances lésbicos Preciso te ver, A Vilas das Meninas e Pássaro Rebelde, publicados pela ed. Brasiliense.  Originalmente publicado no site Um Outro Olhar e 25/10/05.                  

Na linha de 50 tons de cinza: Um prédio de 3 andares

terça-feira, 31 de julho de 2012 3 comentários

Um prédio de três andares (Conexão D/s)

Por Filha da Lua

Era um prédio de três andares, estava quente e Clara resolveu ir até a varanda tomar um ar.

Beatriz, por sua vez, estava em frente à entrada do prédio. Estava se mudando para lá e pensando em como seria sua nova vida. Era escritora e havia escolhido aquele bairro porque precisava de um local mais tranqüilo para escrever seu novo livro. Foi num cruzar de olhares que tudo começou. Um magnetismo ocorreu entre as duas, uma vontade de penetrar naquele enigma que uma ainda representava para a outra. A distância não permitiu uma palavra sequer, mas Clara baixou o olhar e Beatriz entrou no prédio, completando assim o encaixe perfeito.

Os dias foram se passando e as duas não mais se viram. Clara saía cedo e Beatriz ficava trancada em casa, tentando começar seu livro. Mas algo a bloqueava. Uma noite Beatriz resolveu sair, encontrar uns amigos para relaxar um pouco. Tinha sido convidada para uma reunião na casa de sua grande amiga Deca, que lhe prometera um belo presente.

Chegando lá, a festa já estava no auge, o grupo não era muito grande. Beatriz passava por escravas aos pés de seus Donos, via escravos sendo pisados, outros em sessão de spanking, algumas pessoas apenas conversando. Deca a levou até o outro lado da sala e lhe apresentou uma bela mulher. Conversaram um pouco e logo lá estava Beatriz se divertindo com aquele brinquedinho novo que lhe fora oferecido. Estava muito bom, mas algo dentro dela lhe dizia que não era ali que ela queria estar. Achou estranho, pois costumava adorar aquele tipo de festa. De repente, do nada, veio-lhe a imagem daquela mulher que ela vira na varanda no dia em que se mudou. Foi então que percebeu que queria aquele olhar outra vez, queria aquele corpo, queria aquela mulher. Não sabia por quê, mas era o que queria. 

Voltou para casa, já estava tarde, olhou para a varanda de Clara, mas todas as luzes estavam apagadas. Beatriz entrou em casa, escreveu um bilhete, pegou uma chave, colocou tudo dentro de um envelope e, sem vacilar, deixou na caixa de correio de Clara. No dia seguinte, ao encontrar o bilhete e a chave, as pernas de Clara bambearam. O bilhete dizia: “Entre quando tiver certeza de que é isso que quer”.

Foi numa tarde de sábado que Clara olhou para as escadas e resolveu subir. Parou em frente à porta de Beatriz, respirou fundo e tocou a campainha. Aqueles minutos pareciam uma eternidade, ninguém atendia... Já estava resolvida a dar meia-volta, quando ouviu o barulho da porta se abrindo. Lá estava Beatriz, parada, sem dizer nada, apenas olhando para ela. Não a convidava para entrar nem a mandava embora. Aquele olhar a inibia, mas também a deixava curiosa. Aquela mulher conseguia estar séria e sorrindo ao mesmo tempo. Havia nela uma força inexplicável que atraía fortemente Clara. Por fim Beatriz disse: “Entre”. 

Clara parecia um bichinho assustado, levava nas mãos um bolo e foi logo o entregando e dizendo: “Eu mesma é que fiz, espero que goste”. Beatriz agradeceu, pegou o bolo, colocou-o sobre a mesa e, olhando fixo, nos olhos de Clara disse:

“Já vi que sua curiosidade é grande. Essa chave que eu lhe dei uma chave abrirá novos caminhos... Caminhos que só lhe mostrarei quando você se sentir pronta. Quando você entrar por esta porta sem bater, estará me dizendo que dali em diante eu te guiarei. Enquanto isso não acontecer, pode tocar a campainha quantas vezes quiser, pode perguntar o que quiser, pode me mostrar quem você é de verdade, sem medo. Jamais quero o seu medo; quero a sua entrega. Estou desde já mostrando o que desejo de você. Pode sair correndo ou ficar, pode sair e não voltar nunca mais, pode sair agora e voltar depois, mas se por acaso um dia você resolver ficar é porque decidiu que seguirá comigo para onde eu quiser te levar.”

Da boca de Clara só conseguiu sair: “Eu fico”.

Desse dia em diante, todas as noites Clara tocava a campainha do apartamento de Beatriz, entrava e as duas ficavam horas conversando. Conversavam sobre o que havia acontecido no dia de cada uma, sobre o livro que finalmente Beatriz tinha conseguido começar, e também falavam sobre Dominação e submissão. Algumas vezes as duas saíam, iam ao cinema, ao teatro, jantavam fora. Estava tudo maravilhoso e não mais falaram da chave.

Um dia, Clara chegou à casa de Beatriz quando ela estava de saída, já na porta. Clara perguntou se podia ir junto, porém Beatriz respondeu: “Não, meu bichinho, hoje não, ainda não está na hora de você ir comigo para onde estou indo”. E sem nem se virar para um tchau, sumiu. Aquilo foi como tirar o chão de Clara, foi ali que ela percebeu o quanto aquela mulher era importante em sua vida. Beatriz desapareceu por uma semana, mas Clara sabia que ela estava bem porque no dia seguinte à sua saída, preocupada com seu sumiço, havia ligado para o celular de Beatriz e ela atendeu dizendo que estava tudo bem e que voltaria dentro de alguns dias. E não deu mais detalhes. Clara ligou outras vezes nos dias seguintes, mas aí só atendia a secretária.

Dias depois, Beatriz voltou. Clara achou que ela fosse procurá-la, mas isso não aconteceu. Não agüentando mais de saudade, Clara foi até a casa dela, sabendo que Beatriz estava lá. Tocou a campainha, mas a porta não se abriu. Isso aconteceu duas vezes. Então um dia, do alto de sua varanda, Clara viu Beatriz chegando na entrada do prédio e, como no primeiro dia, seus olhares se cruzaram intensamente. Clara foi para dentro de casa, pegou o envelope que Beatriz lhe enviara e durante umas duas horas ficou olhando para ele e tomando coragem. Então se decidiu. Subiu as escadas e parou em frente à porta de Beatriz. Leu mais uma vez o bilhete, segurou a chave com força e tomou a decisão final. Até então ela sempre havia temido aquela chave, tinha medo que depois que entrasse por aquela porta sem tocar a campainha o vínculo entre elas mudasse e Beatriz passasse a vê-la apenas como mais uma escrava em sua vida. Clara não suportaria isso, mas ela também não agüentava mais a indiferença de Beatriz e sabia muito bem o porquê dela. A decisão de Clara estava tomada. Ali, naquele momento. Colocou a chave na fechadura e virou.

Capítulo 2 

Clara entrou e viu-se invadida por um silêncio enorme. Ela estava seguindo em direção ao escritório de Beatriz, quando notou um bilhete em cima da mesa da sala: “Você resolveu andar pelos meus domínios, portanto é chegada a hora de te mostrar o caminho. Me espere aqui, exatamente onde está e como está”. Em seguida, Clara ouviu a voz de Beatriz: “Então finalmente resolveu se entregar a mim?”. Quando Clara ia se virar, escutou:

“Não se vire, eu mandei você ficar exatamente como está. Não pense que não sei por que você demorou tanto a tomar essa decisão, mas a partir do momento em que eu decidi, você só tinha duas opções: devolver a chave ou usá-la. Estou feliz que você tenha decidido usá-la, porque agora você não terá mais o que temer e o que existia entre nós só crescerá. Saiba que eu ficaria muito triste de te perder. Você já sabe como eu sou e do que eu gosto, já conversamos muito a respeito, mas vou falar mais uma vez, para que não fique nenhuma dúvida. Daqui em diante, você passa a ser minha propriedade. Quero saber de todos os seus passos, de todos os seus pensamentos, as suas vontades passam a ser as minhas vontades. Quando tiver dúvidas, pergunte. Não gosto de fantoches, mas exijo respeito e devoção sempre, não por obrigação mas porque a sua entrega será verdadeira, porque esse será o seu único desejo. Você terá carinho quando eu assim desejar, será torturada quando eu assim desejar, terá castigos quando eu achar que merece, estará sempre à minha disposição porque me pertence e faço com você o que eu bem desejar, quando desejar e como desejar. Vou adestrar você e deixá-la perfeita para mim. Alguma pergunta?”
Clara respondeu: “Não... Senhora”. 

Beatriz sorriu e se aproximou devagar de Clara. Pensou em tocá-la, queria sentir aquela que agora lhe pertencia, queria poder dizer o quanto a amava, mas aquela mulher forte também tinha seus medos e Beatriz achou que aquele não era o momento. Então, apenas correu a mão pelos cabelos de Clara, empurrou-os para o lado e beijou seu pescoço, sussurrando ao seu ouvido: Confie e entregue-se”. Clara sentiu uma venda cobrindo seus olhos. Beatriz queria que aquela noite fosse inesquecível. Quando entrou no prédio no dia em que se mudou para lá, depois daquele olhar intenso trocado com Clara, já sabia que Clara viria até ela, e então começou a preparar tudo. 

Beatriz foi guiando Clara até o ofurô, tirou sua roupa e a levou para dentro d’água. Clara, vendada, sentia o perfume da água e pétalas em sua pele. Onde estaria Beatriz? Mas sentia-se tranqüila, as palavras que ouvira não saíam de sua mente, “Confie e entregue-se”. 

Alguns minutos depois, Beatriz entrou no ofurô, sentou-se em frente a Clara, porém afastada dela, e sem dizer uma palavra ficou ali olhando e admirando sua agora escrava. Elas nunca tinham feito amor, Beatriz nunca havia permitido porque queria que fosse assim, exatamente como acontecia agora. Queria tê-la por completo.
Clara, calada, tentando entender o que estava acontecendo, era envolvida pelo enorme silêncio ao redor, e sua mente fervilhava. Beatriz aproximou-se dela, abriu suas pernas, passou os dedos em seu sexo, ajoelhou-se entre suas pernas, aproximou seu corpo do corpo de Clara e a beijou. Ah, como ela havia desejado aquele beijo! Enquanto se beijavam, Beatriz retirou a venda de Clara, olhou bem nos olhos dela e disse: “Eu te amo e agora que você me pertence te amo ainda mais...”. Então Clara chorou. E naquela hora o que aconteceu entre as duas foi troca, uma troca dos sentimentos mais puros que uma pessoa pode ter por outra.

Beatriz amava Clara, adorava lhe dar carinho e vê-la se sentindo totalmente segura, porque aí é que podia desmontá-la em questão de segundos. Então em meio àquele romantismo todo, com Clara se sentindo nas nuvens e depois de muitos gozos, Beatriz repentinamente se levantou, saiu do ofurô e disse: “Agora venha, cadela, junto...”.

Clara levou um susto, mas rapidamente se recompôs, saiu do ofurô e se colocou de quatro ao lado de sua Dona, que já estava com a coleira e a guia nas mãos. Beatriz colocou a coleira em Clara, pegou uma toalha e foi secando sua escrava, dando mais atenção às partes íntimas e dizendo: “Minha cadelinha está toda molhada, não pode entrar em casa assim, não”. Depois saiu puxando Clara pela guia para dentro de casa.

E, exaustas, as duas dormiram...

No dia seguinte, um domingo, Clara acordou cedo e saiu da cama devagarinho para não acordar Beatriz. Preparou um café-da-manhã com tudo que sabia que sua Dona gostava, levou para o quarto, colocou a bandeja na cama e ficou ajoelhada no chão, com o queixo apoiado nos braços cruzados sobre a cama, olhando Beatriz dormir e pensando em tudo que havia acontecido na noite anterior. Estava se sentindo extremamente feliz. Beatriz acordou algum tempo depois e logo viu Clara ali velando seu sono e a bandeja na cama. Ela também estava muito feliz. Mandou Clara subir na cama e as duas tomaram aquele belo café-da-manhã, conversando sobre a noite que haviam tido.

O telefone tocou, Beatriz atendeu e, após desligar, disse que precisava sair. Clara pensou em perguntar se podia ir com ela, mas não disse nada. Beatriz mandou Clara preparar sua roupa enquanto ela tomava um banho. Clara conhecia bem o jeito de sua Dona se vestir e logo separou a roupa certa. Beatriz se arrumou, mandou Clara acertar seu relógio pelo dela, deu um beijo em Clara, disse para ela aguardá-la e saiu sem dizer para onde ia. Sozinha ali, Clara arrumou o quarto e resolveu preparar um almoço mesmo sem saber se sua Dona viria.
O tempo foi passando e cada vez que o telefone tocava o coração de Clara disparava, pensando que fosse Beatriz. Mas eram só recados para ela, que Clara ia anotando para sua Dona. Como já era quase noite e Beatriz não ligava, Clara resolveu dar um pulo ao seu apartamento para molhar suas plantas. Quando voltou, encontrou um recado na secretária: “Cadê você, cadela? Não mandei me esperar? Por que não me obedeceu?”. Clic. Clara ficou desesperada e pensou: “Ai, a famosa lei de Murphy... E agora o que eu faço? Ligo de volta? Ela parece que está uma fera...”. Quando resolveu ligar, o interfone tocou. Era uma entrega para ela. Um vestido lindo, acompanhado de um bilhete: “Esteja pronta na porta do prédio, exatamente às nove da noite”. Clara tentou ligar para Beatriz, a fim de explicar o que havia acontecido, mas como só dava caixa postal acabou deixando um recado. Explicou que havia ficado o dia todo esperando por ela e que só havia saído um pouquinho, naquele minuto, para molhar as plantas em seu apartamento. Pediu perdão por seu erro, desligou e foi tomar banho. Quando faltava um minuto para as nove, Clara desceu. E exatamente às nove horas ela saiu do prédio.

Beatriz estava num restaurante próximo, de onde podia ver perfeitamente a portaria de seu prédio. Olhou o relógio, nove horas em ponto. Continuou tomando sua taça de vinho com calma, o lugar era estratégico e dali podia ver perfeitamente sua submissa andando inquieta de lá para cá, olhando toda hora para o relógio. Beatriz pensou: “Nossa, como ela está linda!”.

Quinze minutos depois, Clara viu surgir o carro de Beatriz. Deu um sorriso imenso e, quando abriu a porta, não foi Beatriz quem encontrou ao volante. O sorriso sumiu imediatamente do rosto de Clara, ela ficou sem ação, não sabia o que fazer, o que dizer. Quem dirigia era Deca, a quem Clara não conhecia. Deca lhe disse: “Vai ficar parada aí? Entra logo”. Clara não sabia o que fazer, o carro era de sua Dona, mas quem era aquela mulher? Continuou parada ali, sem ação. Então Deca insistiu: “Acho melhor você entrar logo, senão a coisa vai ficar feia pro seu lado”. Clara então entrou no carro. Beatriz, dirigindo o carro de Deca, seguiu logo atrás delas.

Capítulo 3 

Deca quebrou o silêncio e disse: “Vamos a uma festa, sua Dona está muito brava com você e por isso acha que você não merece a companhia dela hoje. Mas como sou muito amiga dela, sabendo que eu precisava de uma escrava para essa festa, resolveu deixá-la aos meus cuidados. Quem sabe você fazendo tudo direitinho como eu gosto ela não te perdoa?”. 

“Sim, Senhora”, respondeu Clara toda encolhida no banco e olhando para a frente sem nem piscar.

Chegaram à festa...

Era uma chácara, logo na entrada percebia-se que se tratava de um baile de máscaras, alguns carros estacionados, pessoas andando mascaradas conversavam. Deca pôs uma máscara e entregou outra à Clara. Depois colocou uma coleira no pescoço dela e saiu puxando-a pela guia, percorrendo um caminho iluminado por tochas que levava direto a uma escadaria. Era uma casa muito bonita, toda de pedra e madeira. Passaram por dois homens enormes parados em cada lado da escadaria e vestidos com roupas de carrasco. As pernas de Clara estavam bambas e ela subiu as escadas apoiando-se no corrimão.

Lá dentro, foi apresentada a algumas pessoas, que a olharam da cabeça aos pés. Deca a levou até uma Senhora sentada em uma espécie de trono. Vestia um manto lindo, todo vermelho, sobre uma roupa colada ao corpo, uma bota preta maravilhosa com um salto superfino e grande. Deca puxou a guia para baixo e Clara ficou de joelhos diante daquela mulher e, quando percebeu, estava de cabeça baixa.

“Esta é a escrava de Beatriz, caríssima Senhora”, disse Deca. 

A Senhora jogou o corpo para a frente, colocou as mãos no queixo de Clara e levantou sua cabeça. Olhando bem nos olhos dela, disse: “Já ouvi falar muito de você. Tinha muita curiosidade de conhecê-la, pequena menina”. A voz daquela mulher era suave mas segura, seu olhar firme, e de repente todo o medo que Clara estava sentindo passou. A Rainha continuou: “Tenho certeza de que amanhã você sairá daqui uma nova mulher, percorrerá caminhos nunca vistos, e se Beatriz a escolheu você sem dúvida não a decepcionará”. Em seguida dirigiu-se a Deca: “Vá, leve-a e divirta-se”.

Clara sentiu a guia sendo puxada e levantou-se. As duas entraram em um salão onde havia várias cadeiras, muitos tapetes e almofadas espalhadas pelo chão. Nos cantos, alguns sofás, velas por todos os lugares e, nas paredes de pedra, janelas enormes, dando ao ambiente um ar medieval. Correntes pendiam das paredes e descansavam no chão. Vários aparelhos estavam espalhados pelo salão, entre eles cavaletes, X, jaulas, chicotes pendurados nas paredes, algemas, cordas, uma infinidade de instrumentos, inclusive alguns que Clara nunca tinha visto. Lá fora, uma lua cheia, linda, clareava tudo. Uma música suave tocava, alguns homens e mulheres estavam acomodados nos sofás, outros em pé, todos os homens vestiam terno, alguns tendo por cima um manto com capuz, e usavam máscaras cobrindo o rosto. A maioria das mulheres, belíssimas, estavam vestidas de preto. Todos fumavam, conversavam, riam. Clara não conseguiu identificar nenhum submisso ou submissa na sala.

De repente, surgiram duas mulheres, usando apenas uma veste branca e transparente sobre o corpo. Elas ladearam Clara, pegaram-na pela mão e a levaram dali sem nada dizer. Clara lançou um olhar desamparado para Deca, mas ela lhe fez um sinal para que fosse com elas, e a última coisa que Clara viu quando olhou para trás foi Deca sentando-se ao lado de um homem com um manto roxo. Clara e as duas mulheres desceram uma escadaria. O local era úmido e frio. Numa espécie de porão, estavam os subs e as subs, todos vestidos com o mesmo tipo de roupa das escravas que tinham ido buscá-la, as mulheres de amarelo e os homens de um azul meio escuro, mas todas as roupas tinham alguma transparência, o que deixava o corpo todo à mostra. Devia haver cerca de trinta submissos, homens e mulheres, espalhados naquela sala onde a única claridade eram as luzes das velas. Ninguém falava nada, o silêncio era enorme. As duas escravas tiraram o vestido de Clara, a máscara, os sapatos, suas jóias e colocaram sobre ela uma veste amarela, deixando-a igual às demais mulheres. Empurraram Clara em direção à parede e agora ela era ali apenas mais uma submissa entre aquela multidão de submissos uniformizados.

A seguir, surgiu um dos homens de terno. Ele andou pela sala, observou todas as submissas, parou em frente de uma delas e a escolheu. Colocou uma guia em seu pescoço, apontou para o chão e ela saiu dali andando de quatro. Durante mais ou menos trinta minutos, essa cena se repetiu: um homem ou uma mulher entrava, escolhia uma submissa ou um submisso e saía levando seu troféu; ao mesmo tempo, outras subs iam chegando, tendo suas roupas trocadas e ficando ali encostadas na parede, à espera da sua vez. Quando um dos subs era escolhido e resistia, recebia imediatamente algumas chicotadas e era levado à força.

Em dado momento, entrou o homem do manto roxo, com a máscara que cobria todo o seu rosto. Ele levava um chicote na mão e andava pela sala bem devagar. Clara sentiu que sua hora havia chegado. De repente ele parou na frente dela, bateu com o cabo do chicote de leve em seu ombro e, sem nada dizer, saiu. Clara o seguiu. Ela só pensava no que havia feito de tão grave para merecer aquilo, primeiro sua Dona a entregara para uma amiga que ela nunca tinha visto e agora via-se nas mãos de um homem. Estava com medo, com muito medo, tinha vontade de chorar, mas só uma frase vinha a sua cabeça: “Confie e entregue-se”. E assim ela fez.

Quando voltou ao salão, viu Deca levantando-se para ir escolher seu submisso. Ao passar por Clara, disse ao seu ouvido: “Você está em boas mãos, chame-o de Senhor Mysterius, seja obediente e tudo dará certo. Nenhuma outra mulher irá tocá-la, você está sob os meus cuidados e ele sabe disso. Então, sempre que sentir uma mão feminina, saiba que é a minha”. Deca olhou para aquele homem que agora estava no comando, acenou com a cabeça e desceu as escadas.

Senhor Mysterius, que realmente era um mistério, porque até então não tinha dito uma palavra, continuou andando, com Clara atrás dele. Apontou com o chicote para uma almofada e Clara se sentou ali. Caminhou então em volta de Clara e, na segunda volta, parou atrás dela. Colocou uma venda em seus olhos e disse: “Sei que vendas te deixam meio atordoada, mas é assim que você vai ficar por um tempo”. Sua voz era grave, muito bonita. “Muito prazer, meu nome é Mysterius. Como já deu para notar, adoro um mistério e falo pouco, mas costumo agir muito, então esta noite você irá trabalhar bastante. Vou dizer agora tudo o que é importante e depois você praticamente não escutará mais a minha voz.” E ele falou por mais ou menos dez minutos. Ao término, perguntou: “Alguma dúvida?”.

“Não, Senhor”, respondeu Clara. A seguir, sentiu uma mão usando luvas tocar suas mãos e assim ele a levantou e a guiou pela sala. Colocou-a de joelhos num local onde o chão era muito áspero, os joelhos de Clara doeram demais. Retirou as vestes dela, sua coleira e colocou outra mais grossa e pesada e com uma argola. Passou uma corrente pela argola e foi puxando. Clara sentiu sua cabeça ir de encontro ao chão gelado, num trecho do piso que não era áspero, o que a deixava de bunda para cima. Era uma posição incômoda e seus joelhos ardiam. Sentiu caneleiras sendo colocadas em seus tornozelos e suas pernas sendo forçadas a abrir. Ficou totalmente exposta. Não sabia se tinha muita gente olhando, sentia vergonha. Onde estava sua Dona, por que ela não a tirava dali? Mas ela tinha que se acalmar, não dava para fugir, a noite estava só começando e parece que ia ser longa... Confie e entregue-se, confie e entregue-se, não se esqueça nunca disso, ela pensava o tempo todo.

Sentiu de novo a mão de luvas tocá-la, agora em seu corpo. A mão percorria suas costas, sua bunda, seu sexo. Clara tentou se encolher, mas recebeu um tapa tão forte na bunda que voltou à posição. Por um tempo nada aconteceu, e era exatamente quando nada acontecia, de venda nos olhos, que Clara começava a ficar sem rumo, porque várias coisas passavam pela sua cabeça. Por que estava tudo tão parado? As músicas que tocavam agora eram mais agitadas do que as que ela ouvira quando chegaram à festa, e com o som assim alto ela não conseguia ouvir se havia alguém falando por perto. Ficou ali naquela posição, aguardando o que estava por vir. Sentiu uma mão suave passando em sua bunda, parecia a mão de uma mulher, e depois unhas sendo cravadas em sua pele, o que ardia muito. Era Deca, só podia ser, o que a deixou um pouco mais aliviada, pois, mesmo não a conhecendo bem, Clara sabia que ela era amiga de sua Dona e isso a deixava mais tranqüila. As unhas corriam por suas costas, eram cravadas com força na pele e desciam arranhando. E então novamente tudo ficou quieto. De repente, Clara sentiu um pingo de vela nas costas, outro, outro, e mais outro, até sentir que suas costas estavam cobertas de cera. A cera escorria pela cintura, pelas pernas, pelos pés, ela já nem sentia mais arder, e então... slapt, slapt, slapt, e o chicote começou a cantar sobre ela e só parou depois que toda a cera saiu. Sentiu uma mão mais pesada acariciando-lhe as costas e ouviu a voz masculina perguntar: “Está tudo bem, escrava? Estou gostando muito de você, sabia?”.

“Obrigada”, Senhor Mysterius”, respondeu Clara.

A noite foi transcorrendo, e muitas coisas aconteceram. Clara passou por instrumentos que nunca tinha visto, foi obrigada a ficar um bom tempo sobre um cavalete, na ponta dos pés, com as mãos amarradas para cima presas a uma corrente que pendia do teto e passava por uma roldana. O mecanismo estava ajustado para dar folga suficiente para ela poder se sentar no cavalete quando seus pés se cansavam, mas seus órgãos sexuais não suportavam por muito tempo aquele contato, aquela pressão, e Clara ficava nesse revezamento insuportável, ora aliviando os pés, ora aliviando os lábios vaginais, enquanto o Senhor Mysterius descansava e conversava um pouco com os amigos.

Um dos acontecimentos mais concorridos da festa foi quando o Senhor Mysterius e Deca resolveram fazer um shibari com ela e outra submissa. As duas tiveram seus corpos amarrados um em frente ao outro e ficaram bem coladas e abraçadas. Elas tiveram que andar pelo salão assim grudadas por uns vinte minutos e só foram soltas depois que foram obrigadas a gozar ali, na frente de todo mundo, usando o corpo uma da outra. Clara já estava esgotada, às vezes o Senhor Mysterius lhe dava água numa tijela e a colocava sentada a seus pés para que ela pudesse descansar um pouco. Ao término da noite, já com poucas pessoas presentes, veio o auge para Clara. O Senhor Mysterius a colocou no X e Deca por trás dela disse: “Ele quer que você conte até vinte e ao término diga que pertence a ele”.

E então ela começou a contar, 1, 2, 3 ... 20. “Eu pertenço à minha única Dona, Senhora Beatriz, aquela a quem dei a minha vida”.

Deca voltou e disse: “Você está maluca? Ele está uma fera, disse que não vai parar de chicoteá-la enquanto você não disser que pertence a ele”.

E Clara respondeu: “Ele pode até me matar, mas não vou falar isso nunca”.

“Você é quem sabe, mas acho que não vai agüentar, está sabendo, né? A cada vinte chicotadas ele quer ouvir você dizer a quem pertence e não vai parar enquanto você não disser que pertence a ele.”

E vieram mais vinte chicotadas, e Clara insistia: “Eu pertenço à Senhora Beatriz, minha única e amada Dona...”. Outras vinte chicotadas foram ouvidas. Vin...te... “Eu... per... tenço a... Beatriz...” Clara já estava perdendo as forças e, quando sua perna bambeou, não sentiu mais o chicote nas costas, e sim uma mão suave, um abraço em volta de seu corpo, um beijo no rosto e uma voz que para ela era a voz mais linda que já tinha ouvido na vida:

“Eu sei que você me pertence, meu amor.”

Clara achou que estivesse delirando, ouvindo a voz de Beatriz. Clara foi solta do X, virada de frente e levada até uma cadeira próxima. O Senhor Mysterius tirou o capuz, a máscara, tirou também o manto roxo, e lá estava ela a sua frente, sua única e amada Senhora. Clara estivera o tempo todo nas mãos daquela a quem tanto amava, e Beatriz estava radiante por ver que em nenhum momento Clara havia cedido. Seria capaz de morrer dizendo que pertencia a ela, e aquilo foi a maior prova de sua entrega e amor. Levou Clara para tomar um banho, passou curativo em suas feridas e depois foram para um dos quartos da casa conversar um pouco, quando então Beatriz aproveitou para explicar tudo o que havia acontecido:

“Quando o Senhor Mysterius precisava falar com você, um amigo meu falava em meu lugar. As mãos com luvas, assim como as mãos femininas, sempre foram as minhas e as masculinas a do meu amigo, que só tocava em pontos que eu permitia.”

Clara estava muito cansada, seu corpo doía e só teve forças para dizer com uma voz muito fraca, quase sumindo: “Eu te amo muito, minha Senhora”, e depois disso dormiu. Beatriz a abraçou e, já com Clara adormecida, respondeu: “Eu também te amo muito, meu bichinho. E assim, abraçada a ela, Beatriz também dormiu. 

Capítulo 4 

Um ano se passou...

Clara olhou o calendário e pensou: Nossa, como o tempo passa rápido! Há um ano eu estava colocando aquela chave na fechadura e mudando totalmente a minha vida”.

Nesse período, Beatriz muitas vezes levou Clara das lágrimas ao sorriso, ou do sorriso às lágrimas, em fração de segundos, e Beatriz, por sua vez, recebeu de Clara toda a devoção e amor, compreensão e confiança. A cumplicidade entre elas era perfeita tanto como namoradas, quando tinham que ser namoradas, quanto como Domme e submissa. Muitas vezes ficavam só namorando, deitadas na rede, com Beatriz lendo para Clara partes de seu livro e pedindo sua opinião. Muitas vezes também saíam juntas à procura de temas que pudessem servir de inspiração para o livro. Iam para a rua olhar as pessoas, iam visitar orfanatos, asilos, e lá ficavam conversando com todos. Viajavam, saíam com os amigos, enfim, levavam um vida normal. Beatriz estava terminando de escrever seu livro, em pouco tempo ele seria publicado. Era um romance, mas na história não havia menção nenhuma à prática do BDSM. Outras vezes, as duas tinham sessões maravilhosas pela casa toda ou então na casa de amigos, ou na chácara esplêndida daquela Senhora.

Clara pensou: O que será que vai acontecer hoje? É nosso aniversário de um ano, será que Beatriz vai lembrar? Beatriz é meio desligada com datas... Será que devo lembrá-la? Não, não, melhor não.

Mesmo assim, depois do trabalho comprou flores e um presente para Beatriz. Ela adorava dar flores a Beatriz, então não ia parecer que estava tentando lembrá-la de alguma coisa. Ao chegar da rua, foi direto à casa de Beatriz, como sempre fazia. Elas ainda não moravam juntas, mas Clara praticamente já morava no andar de cima, porque não saía de lá. Ajoelhou-se diante de sua Dona, como sempre fazia ao se encontrarem, beijou seus pés e entregou-lhe as flores e o presente. Beatriz adorou, eram dois cordões de prata, um com um pequeno cadeado e o outro com sua respectiva chave, também de prata. Eram bem delicados e bonitos. Beatriz imediatamente colocou o cordão com a chave em seu pescoço e o cordão com o cadeado no pescoço de Clara, levantou-a e lhe deu um longo abraço e um beijo demorado. Então disse: “Quero que vá para casa agora, se arrume e volte às oito horas”. Clara pensou: Ela lembrou...

“Sim, Senhora”, respondeu Clara e saiu.

Na hora marcada, voltou ao apartamento de Beatriz. Uma mesa de jantar linda estava preparada. O rosto de Clara não escondia a felicidade. Beatriz apareceu, linda, num vestido maravilhoso, trazendo ao pescoço a chave que abria o cadeado que pendia do cordão de Clara. Beatriz deu-lhe um belo sorriso e disse: “Você está linda, meu amor”. Pegou um vinho, abriu e, quando estavam tomando o vinho e conversando, a campainha tocou. Beatriz mandou Clara abrir a porta. Uma mulher que ela nunca tinha visto estava parada na porta. Clara olhou para Beatriz, que se levantou e foi receber a mulher. Clara foi apresentada à estranha. O nome dela era Victória. Beatriz olhou para Clara e disse: “Vá até o quarto. Tem um presente pra você lá, quero que o use agora”.

Depois de um tempo, Clara voltou para a sala meio constrangida, vestindo um uniforme de empregada. Enormes saltos sobre os quais ela mal conseguia andar e duas tornozeleiras completavam o traje. Victória e Beatriz saboreavam o vinho que era de Clara e Beatriz, sentadas no sofá da sala. Beatriz disse a Victória: “Até que enfim minha empregada chegou, que demora!”. E dirigindo-se a Clara: “Anda, venha nos servir, não vê que nossos copos estão quase vazios? E depois traga uns canapés”. Clara serviu o vinho e saiu em direção à cozinha. Quando voltou, encontrou Beatriz e Victória aos beijos. Clara praticamente congelou, ali, diante daquela cena. Quando o beijo terminou, Beatriz olhou para Clara e disse: “O que você está fazendo parada aí? Traga logo esses canapés e volte para a cozinha. Quando precisar eu chamo”. Quando Clara estava voltando para a cozinha, Beatriz completou: “E não vá tentar nos espiar. Eu te conheço muito bem, sei como você é curiosa”. Clara foi para a cozinha e começou a chorar compulsivamente. Tentou se acalmar, lavou o rosto e ficou ali sentada e angustiada por não saber o que estava acontecendo na sala. 

Um sino tocou e a ordem para servir o jantar foi dada. Correntes foram colocadas, prendendo as duas tornozeleiras de Clara. Ela serviu as duas andando com dificuldade, mas fez tudo certinho. Quando estava saindo da sala, recebeu a ordem de voltar e se sentar no chão ao pés de sua Dona, com a cabeça em suas coxas. Betriz e Victória jantavam e conversavam animadamente. Depois do jantar, as amigas foram para a parte externa do apartamento. Beatriz morava em uma cobertura, e lá havia uma área grande, onde ficavam o ofurô, a churrasqueira e muitas plantas. Clara foi buscar outra garrafa de vinho e, depois de encher o copo das duas, recebeu uma nova ordem de Beatriz, para que se pusesse mais uma vez a seus pés, com a cabeça apoiada em sua coxa. E ali ela presenciou mais beijos, risadas, carícias e uma conversa bem animada entre as duas. Para ela, sobrava apenas um carinho na cabeça de vez em quando — e olhe lá! — e continuar servindo vinho. Algum tempo depois, Beatriz disse: “Cadela, não vou mais precisar de você hoje. Pode ir para casa”. E entregou-lhe a chave da corrente da tornozeleira. Clara libertou seus tornozelos, levantou-se, deu boa-noite para a visitante, beijou os pés de sua Dona e disse: “Boa noite, minha amada Senhora”. Mas quando virou as costas, começou a chorar novamente. 

Clara não conseguia dormir. A certa altura da madrugada, escutou vozes embaixo do prédio, olhou o relógio, eram 2h25. Sem acender as luzes, olhou por trás da cortina e viu sua Dona e Victória saindo do prédio, entrando no carro e sumindo pela noite. Voltou para cama e chorou tanto que acabou dormindo.

No dia seguinte, uma sexta-feira, Clara saiu arrasada para trabalhar. Como fazia todos os dias, foi até a casa de sua Dona antes de deixar o prédio, mas não a encontrou. O dia passou e nem um telefonema de Beatriz. Ela também resolveu não ligar, não tinha forças. Estava muito triste e mergulhou no trabalho para esquecer tudo. Quase na hora de ir embora, seu celular tocou... Ela atendeu sem olhar quem estava ligando. “Alô”, disse. “Isso é jeito de atender a sua Dona?”, reclamou Beatriz. Clara rapidamente pediu perdão, disse que estava com um problema no trabalho, mas logo foi interrompida. “Quero que você venha agora para a chácara de Rainha Elizabeth. Traga seu uniforme, vai precisar dele hoje de novo. Não demore. Beijo.” E desligou. Clara pensou: “Nem me recuperei de ontem e já vou ter que virar empregada outra vez? Será que aquela mulher estará lá de novo?”. Naquele um ano de relacionamento delas, Beatriz nunca tinha ficado com outra mulher. Será que não gostava mais dela?

Clara passou em casa, tomou um banho, se arrumou, pegou o uniforme e foi para a chácara. Como sempre, havia alguns carros estacionados, mas não se via ninguém do lado de fora da casa. A casa estava toda iluminada, com certeza mais uma festa ia acontecer ali. As festas na chácara da Rainha Elizabeth ocorriam raramente, mas se prolongavam pelo fim de semana todo. Clara sempre saía dali supercansada, mas adorava aquelas festas. Hoje, porém, ela estava diferente, se sentia triste. O fato de Beatriz não se lembrar do aniversário de um ano delas e ainda ficar com outra mulher na sua frente havia mexido demais com ela. As portas da chácara em dias de festas permaneciam sempre abertas. Apenas pessoas convidadas entravam. Os convites eram entregues sempre pessoalmente, portanto quem estava ali era porque ou havia sido convidado ou estava acompanhando algum convidado, sendo de confiança também.

Clara já ia entrando na casa quando as duas escravas da Rainha Elizabeth não a deixaram passar. Uma delas disse: “Oi, Clara. Por favor, nos acompanhe”. E as três desceram uma escadaria. Clara foi levada para outra casa bem menor ali perto, onde só havia subs. Uma das escravas disse: “Hoje não participaremos da festa na casa principal, dormiremos todos aqui”. Uma outra escrava ofereceu suco a Clara. Ela nem se importou ao saber que ia dormir ali, estava muito desanimada e ia tirar a noite para tentar dormir. Tomou o suco, e minutos depois estava dormindo, desmaiada, em um colchonete.

As escravas da Rainha Elizabeth acordaram Clara no dia seguinte. Não havia mais nenhum sub lá, apenas ela e as outras duas. Em todas as festas, os subs recebiam uma veste apropriada, sempre transparente, o que não havia acontecido na noite anterior. Clara ainda vestia suas roupas. As escravas, sem nada dizer, trocaram sua roupa, só que desta vez por trajes de cor branca. Saíram da casa, colocaram-na numa charrete e foram até uma cachoeira. Não havia outros subs lá, nem Dommes, nem Dons, apenas as três. As submissas eram proibidas de conversar entre si, quando falavam alguma coisa era porque haviam recebido ordens para isso, então o normal era trabalharem em total silêncio.

Mais uma vez Clara se viu completamente nua e levada para um banho naquelas águas supergeladas. Após o banho, voltaram a vesti-la e seus cabelos foram penteados com cuidado. Uma coroa de rosas brancas muito bonita foi colocada em sua cabeça. As três voltaram a subir na charrete e então percorreram uma estrada de chão linda, com ipês roxos e amarelos dos dois lados do caminho. Aquele banho revigorante e aquele lugar tiraram, num sopro, toda a tristeza que havia dentro de Clara. Ela se sentia bem mais leve agora. Chegaram a um lugar maravilhoso, uma planície verdinha. Um pouco mais distante, viam-se muitas árvores. Um riacho com águas cristalinas fazia seu caminho suavemente por aquele lugar paradisíaco, provavelmente continuação da cachoeira onde havia se banhado. O barulho da água era delicioso. Outras charretes e cavalos encontravam-se ali. Clara olhou em direção às árvores e viu uma tenda branca e um grupo de pessoas. As três desceram da charrete e as subs lhe indicaram o caminho, posicionando-se ao lado dela.

O dia estava lindo, o céu super-azul, o sol aquecia a pele, mas não estava muito quente, uma brisa suave fazia sua roupa branca e as roupas azuis de suas acompanhantes balançarem com leveza. Andaram em direção à tenda. Clara estava amando sentir a terra e a grama sob os pés. Quando se aproximaram, logo viu Beatriz em pé ao lado da Rainha Elizabeth, sentada em seu famoso trono dentro da tenda. Viu também, entre as muitas pessoas que ali estavam, Victória, que abraçava pela cintura uma escrava portando uma coleira com as iniciais RV. O local estava todo florido. As pessoas que estavam conversando se calaram para observar a chegada das três. Vários subs vestidos de azul estavam sentados sobre o calcanhar, com as mãos apoiadas nas coxas, formando o corredor por onde Clara passou. As duas escravas seguraram suas mãos e colocaram Clara de joelhos à frente de Beatriz e da Rainha Elizabeth. 

Então a Rainha Elizabeth levantou-se e disse: “Inicia-se agora a cerimônia de encoleiramento de Clara, propriedade e única mulher de nossa querida amiga Beatriz”.

E mais uma vez as lágrimas correram pelo rosto de Clara.

Capítulo 5 

CERIMÔNIA DE ENCOLEIRAMENTO 

Beatriz ficou diante de Clara (que permanecia de joelhos), um degrau acima. Tinha nas mãos uma coleira muito diferente. Era mais fina e de ferro polido e, embora fosse de ferro, era muito bonita. No centro, havia a letra A, também de ferro e bem visível, por ultrapassar a largura da coleira.

“Clara”, disse Beatriz levantando o rosto de Clara, para que ela olhasse nos olhos de sua Dona. “Você sabe como é difícil conquistar a minha coleira. Mas você fez por merecer. Hoje lhe dou esta sua primeira coleira, de ferro, tendo certeza de que um dia colocarei em seu pescoço uma coleira de ouro.” Olhou para as pessoas em volta e disse: “Até hoje eu nunca pensei em adotar um nome exclusivo para o BDSM, sempre fui chamada por meu nome verdadeiro, mas hoje está sendo um dia realmente muito especial na minha vida. Então hoje...”, e voltou a olhar para Clara, que não tirava os olhos marejados de sua Dona, “... não só te batizarei como batizarei a mim também. Passo a me chamar Domme Agnes e você, minha fiel escrava, passa a se chamar susan d’Agnes.” Beatriz colocou a coleira no pescoço de Clara, que a partir de então passou a se chamar susan d’Agnes, e a fechou com um pequeno cadeado. susan disse algumas palavras de agradecimento, jurando sua fidelidade e devoção. Dando continuidade à cerimônia, a Rainha Elizabeth leu o contrato de escravidão consentida, onde as partes assinaram. 

Beatriz, agora Agnes, pediu a palavra. Primeiro agradeceu a Deca, Victória e à Rainha Elizabeth por ajudá-la nos vários dias de organização daquele evento, inclusive em toda a madrugada de sexta-feira. Agradeceu ainda a Victória, por também tê-la ajudado a despistar susan. “Foi melhor deixá-la triste do que desconfiada do que estava para acontecer”, disse Agnes, rindo muito. Depois, agradeceu a todos os presentes, disse que estava se sentindo muito feliz e que tinha certeza de que sua escrava também se sentia assim. 

“Hoje é um dia muito especial para nós duas. Há exatamente um ano susan d’Agnes resolveu se entregar a mim. Foram muitas as provações pelas quais eu a fiz passar, mas jamais precisei chamar sua atenção, nunca brigamos. Ela cresceu dia após dia e jamais desistiu. Não tenho medo de dizer o quanto a amo não só como escrava mas também como amiga, como parceira, como amante, como minha mulher. A partir de hoje começamos uma nova etapa de nossa vida, nem mais leve nem mais pesada; apenas mais prazerosa. Se estamos aqui hoje é porque sempre existiu cumplicidade entre nós, consideração, e sempre soubemos respeitar a posição que temos na relação, não deixando jamais que ela caísse na monotonia. Tenho certeza que daqui para a frente novos aprendizados virão e que sempre cresceremos juntas. Para finalizar, e antes de voltarmos para a nossa festa na chácara, gostaria, diante de todos vocês, de oferecer um presente para a minha escrava, pelo nosso aniversário.”

Agnes chamou um rapaz que portava uma malinha. Virou-se para susan d’Agnes e tirou sua veste, deixando-a apenas de coleira. As escravas que a haviam acompanhado em toda a cerimônia trouxeram uma maca e Agnes mandou que susan se deitasse de bruços. E um A começou a ser tatuado bem acima de seu rego. 

Ao término da cerimônia de tatuagem, alguns convidados ainda ficaram por ali curtindo aquele dia lindo, tomando banho no riacho, outros se embrenharam no bosque com seus subs e outros pegaram cavalos e charretes e regressaram à chácara. Agnes e susan voltaram para a cachoeira de charrete, para comemorarem a sós, e ali susan d’Agnes recebeu outro presente: diante de seus olhos, viu um par de alianças, acompanhado da pergunta: “Você quer morar comigo?”.

E a festa rolou solta até a noite de domingo. 

Agnes chegou em casa correndo, radiante, gritando por susan (depois da cerimônia de encoleiramento, elas combinaram nunca mais se chamar por seus verdadeiros nomes, para que pudessem acostumar com a mudança com mais facilidade). susan saiu da cozinha correndo, doida para saber o que tinha acontecido. Escondendo as mãos atrás do corpo, Agnes disse: “Adivinha o que eu tenho aqui?”. susan fez cara de quem não fazia idéia. Agnes mostrou uma garrafa de champanhe numa mão e na outra... seu livro recém-publicado! susan arregalou os olhos e as duas saíram pulando pela sala abraçadas. susan pegou o livro, folheou e disse: “Ele ficou lindo!”. Em uma semana seria a noite de autógrafos. susan viu sua Dona tão feliz que na hora resolveu presenteá-la com algo que Agnes sempre desejou fazer, mas que até então era um limite intransponível para sua escrava. susan d’Agnes foi até o quarto e pegou todo o material necessário para uma sessão com agulhas. Agnes, que naquele dia achava ser impossível ficar mais feliz, viu como susan ainda tinha a enorme capacidade de surpreendê-la sempre. 

O lançamento do livro foi um sucesso. A sala de eventos preparada para a noite de autógrafos estava lotada. Foi uma noite incrível. O livro recebeu uma crítica muito boa, o que logo levou Agnes a ser convidada para escrever um novo livro. Mas ela queria tocar um projeto diferente: escrever um livro com temática BDSM.
Susan d’Agnes era publicitária e sua agência havia havia ganho a concorrência de uma campanha enorme. O novo projeto estava ocupando muito de seu tempo, todas as noites ela chegava tarde em casa e no dia seguinte saía cedo. A princípio, Agnes mostrou-se compreensiva, mas, passados seis meses dessa correria, Agnes começou a reclamar. Ela também andava meio estressada, porque seu editor fizera uma pressão tão grande sobre ela que Agnes viu-se obrigada a largar seu projeto de um livro BDSMista para iniciar um novo livro encomendado pela editora. Estava desanimada com tudo que estava acontecendo e acabava descontando em sua escrava. susan, por sua vez, com toda a paciência do mundo, se desdobrava para agradá-la e atendê-la mesmo quando estava supercansada. Entendia sua Dona e, como em poucos dias a campanha publicitária ficaria pronta, pensou em fazer uma surpresa para ela.

Uma noite, susan d’Agnes chegou em casa querendo contar algo para Agnes, mas como ela estava de saída para uma reunião com o editor, não quis parar para ouvir. Quando voltou, susan já estava dormindo. Agnes tomou um banho e também foi para a cama.

Quando Agnes acordou na manhã seguinte, susan não estava a seu lado na cama. Agnes se levantou, procurou pela casa toda, mas não a encontrou. De repente, viu um bilhete na mesa: “Minha amada Senhora, recebi um telefonema de meu pai avisando que minha mãe foi internada. Achei por bem não acordá-la, mas ligo assim que eu chegar lá. Te amo. Um beijo”.

Agnes ficou preocupada. De repente se tocou que não estava dando a atenção que sua escrava precisava e merecia, que estava sendo egoísta, pensando só nos seus próprios problemas. Amava susan e não havia se dado conta de que, mesmo com tanta ingratidão, susan sempre havia sido compreensiva, nunca reclamando de nada. Ligou para o celular de susan, para avisar que ia se encontrar com ela, para dizer que queria estar com ela nessa hora, mas ele parecia estar deligado. Tentou outras vezes, e nada. Pelo tempo que havia passado, susan já devia ter chegado lá. De repente, o telefone tocou. Um homem do outro lado da linha dizia: “Um acidente na serra ... um caminhão tombou ... Sinto muito...”. Agnes viu tudo rodar.

Agnes deu um pulo na cama. Estava suando e chorando copiosamente. Olhou para o lado e susan não estava ali. Teve medo de não ter sido só um sonho. Levantou, procurou susan pela casa... nada. Olhou na mesa, mas não viu nenhum bilhete ali. Um barulho! Agnes correu em direção à porta e viu susan entrando em casa com um buquê de flores em uma das mãos, pães na outra e um sorriso maravilhoso no rosto. 

Agnes começou a chorar de novo, correu e abraçou susan como havia muito tempo não fazia. Pediu perdão, pediu desculpas, disse que a amava muito e que nunca mais iria tratá-la com tanta indiferença. susan não entendeu nada, mas, sempre atenciosa, abraçou sua Dona com força, pedindo que ela se acalmasse e contasse o que havia acontecido. Agnes contou seu sonho. susan tentou acalmá-la: “Foi só um sonho...”. Entregou-lhe as flores e perguntou se sua Dona não queria tomar um banho, Agnes disse que sim, e susan foi até o quarto preparar a banheira com uma água bem morninha. Enquanto Agnes se banhava, susan fez o café-da-manhã de sua Dona. Arrumou a bandeja, colocou nela o presente que tinha para Agnes e deixou a bandeja na cama. Mais relaxada após o banho, Agnes estava começando a chamar susan para tomar o café com ela, quando viu na bandeja as duas passagens aéreas e um convite para uma temporada no OWK, um grande território turístico de dominação feminina situado em Praga que Agnes sempre teve a maior vontade de conhecer. Ela foi ao delírio ao ver aquilo, seu sonho era conhecer aquele lugar! Começou a pular sobre a cama como uma criança, até que de repente parou, desceu, foi buscar seu laptop, levou-o até a cama, ligou-o e chamou susan d’Agnes para ficar a seu lado. E então começou a escrever...

Era um prédio de três andares, estava quente e Clara resolveu ir até a varanda tomar um ar. Beatriz, por sua vez, estava em frente à entrada do prédio. Estava se mudando para lá e pensando em como seria sua nova vida. Era escritora e havia escolhido aquele bairro porque...

Libertango: Aquilo só podia ser amor

terça-feira, 3 de abril de 2012 5 comentários

Azuis como safiras.
Duramente lapidados.
Autora: Diedra Roiz

O farol alto do carro desceu sobre o asfalto ainda úmido de chuva, as gotículas minúsculas brilhando como pequenas estrelas sob os pneus de borracha.

Lara apoiou o queixo no volante enquanto observava em silêncio as grades entre ela e a casa.

Na verdade um prédio de dois andares protegido por um muro extraordinariamente alto e seu portão de ferro hermeticamente fechado. Parecia ainda mais cinzento à noite. Tudo nele parecia escuro, frio, cimentado. Até mesmo as poucas janelas iluminadas como entidades distantes atrás do muro intransponível. Inatingível.

Inalcançável. Exatamente como Lara.

Os olhos de Lara, assim como as janelas, eram estranhamente parecidos com pedras. Azuis como safiras. Duramente lapidados.
Ela tocou a buzina três vezes, como sempre fazia. Seus olhos se deixaram abater por um momento. O cansaço os amenizando um pouco, ameaçando ficar ali à mostra. Nada que não soubesse fingir, camuflar, esconder.

Rapidamente, as pedras azuis voltaram a ficar inexpressivas como sempre. Anos e anos de prática lhe davam vantagem. Ela mesma já não sabia dizer como fazia. Era quase automático. Como um dom ou super poder. Ou talvez, a falta de algo. Quem olhasse de fora não saberia dizer.

O segurança que abriu o portão disse um:

- Boa noite, doutora.

Quase incompreensível. Não fazia diferença, porque de qualquer forma, Lara não ia perder tempo em responder.

Não se abalou nem estremeceu ao ouvir o portão batendo atrás dela como masmorra que fecha, trancando-a com um guincho-rangido. Um barulho e mais nada.

Saiu do carro, atirou a chave para o manobrista. Os passos ecoaram com um som de castanholas. Lara sorriu com a comparação absurda. Nada nela se aproximava de algo que pudesse lembrar uma dançarina flamenca. Fazia bastante questão disso. Preferia mil vezes uma distante e confortável impessoalidade.

Entrou em casa e a empregada a recebeu como sempre. Tirando a pasta e a bolsa das mãos dela, absolutamente eficiente.

- Boa noite, doutora.

Lara se limitou a um aceno impaciente de cabeça.

- Quer alguma coisa?

Levantou a mão, num gesto que a outra já sabia que queria dizer: “Pode se recolher.” – antes de entrar no longo corredor.

Dora estava no escritório, sentada atrás da escrivaninha dela e da habitual pilha gigantesca de papéis.

O fundo musical era muito mais do que um simples CD. Eram recordações que bailavam, impossíveis para Lara esquecer...

***

- Quero ser seu braço direito.

Lara tinha dito a Dora há alguns anos atrás.

Numa das muitas noites em que tinha ficado sozinha com ela no escritório, trabalhando até mais tarde. Quando ainda não passava de uma estagiariazinha ambiciosa cansada de se insinuar sem resultado.

- Quero uma coisa em troca.

Tinha sido a resposta de Dora. Lara a tinha olhado de uma forma absurdamente firme ao perguntar:

- O quê?

Dora respondeu sem hesitar:

- Você.

Lara não recuou. Sequer se surpreendeu. Os olhos azuis de uma frieza incisiva ao dizer:

- Tudo bem.

Na verdade, fazia tempo que Lara tinha desistido de dar importância aos próprios sentimentos. E mesmo se o fizesse, a exigência de Dora não teria outro efeito. Acostumada que estava em usar os atributos físicos em troca de vantagens, favorecimentos e outros incontáveis pequenos favores.

Não considerava isso como prostituição. Para Lara sexo era uma questão de lógica. Não tinha problemas em fazer. Tirava prazer de quem quer que fosse. Não acreditava em sexo com amor pelo simples fato de jamais ter se apaixonado.

Aos 25 anos, achava que o amor era uma espécie de dogma. Todos aceitam sem questionar se existe mesmo. E não ia perder tempo nem oportunidades por causa de algo que considerava, no mínimo, idiota.

Verdade que Lara nunca tinha feito sexo com uma mulher, mas isso era o que menos importava. Não tinha sido por preconceito ou algo do gênero. Mas simplesmente porque ainda não tinha surgido a ocasião conveniente para que isso acontecesse. Aquele parecia ser o momento perfeito.

***

Lara olhou em volta. Para o quarto impecavelmente arrumado de Dora. Em tudo ele parecia um frigorífico. Um frigorífico onde ela era o pedaço de carne crua pendurado no gancho. Quase podia sentir o sangue pingando no caríssimo – só podia ser caríssimo – e elegantíssimo tapete em frente à cama.

Dora diminuiu a luz. Mergulhando as duas na penumbra, dois vultos indistintos. Colocou uma música. Num volume comedido. O instrumental causando em Lara uma sensação estranha, algo que ela nunca tinha sentido.

Não era bem um incômodo, nem angústia... até parecido, só que... totalmente desconhecido. Mas o que realmente a deixou assustada foi o fato de estar sentindo.

Uma forte impressão de irrealidade a atingiu...
Dora não se aproximou. Ficou alguns passos dela, observando como uma felina. Perguntou:

- Gosta de Piazzolla?

Lara a olhou deixando claro que não tinha compreendido. Dora explicou sem desviar os olhos dos dela um instante, com um tom de voz baixo e rouco, que causou arrepios:

- Astor Piazzolla é um dos compositores de tango mais importantes da Argentina. Essa música é dele. Uma das minhas preferidas. Se chama “Libertango”.


Era a música que rodava? Ou algo dentro dela? Os olhos de Dora pareciam cintilar, como duas pequenas janelas, como se nada mais existisse sobre a terra. Nada além de Lara e ela.

Surpresa, assustada e estranhamente seduzida...

O instinto de Lara foi preciso: precisava sair dali. Mas Dora pegou o rosto dela entre as mãos e se tornou impossível. Encostou os lábios – macios, tão macios – nos dela e aí a idéia de fugir se tornou ridícula.

A suavidade do beijo a fez fechar os olhos e corresponder. A respiração se tornando difícil. Entreabriu os lábios e a língua de Dora a invadiu com uma voracidade suave e sutil.

Lara estremeceu, passou os braços ao redor da cintura dela e a puxou para si.

***

Quando terminou, Lara demorou muito para conseguir sair do estado em que estava e abrir os olhos. Afundada não na extrema maciez do colchão, lençol e travesseiros de pena de ganso e sabe-se lá quantos fios, mas na dolorosa consciência de ter se entregado inteira.

Deitada de lado, o corpo grudado no dela, a mão intimamente pousada na barriga de Lara, Dora a espreitava. Com o olhar satisfeito de predadora que acaba de se banquetear com sua presa.

Os olhos azuis resvalaram nos dela. Pela primeira vez na vida desarmados e sem saber o que fazer. Se Dora percebeu não disse nada. Nem nada fez. Ficou ali parada, olhando enigmaticamente para Lara, durante um longo tempo.

Foram as safiras que se desviaram. Dos olhos para a boca de Dora. Para os lábios que tinham percorrido o corpo dela inteiro. Num reconhecimento de quem sabe muito bem o que está fazendo. Se unindo às mãos e aos dedos para provocar e causar uma inacreditável sensação de... de que? Como definir o delicioso sufocar, queimar, arder, derreter e depois expandir sem barreiras? Completo e total esquecimento do eu, de toda e qualquer outra coisa que não fosse o doce ronronar do prazer. Obrigando Lara a suplicar, implorar, antes de a tomar realmente.

Nunca tinha cogitado a idéia de que sexo poderia ser daquele jeito. E sentiu medo.

Não só pelo fato de não conseguir entender. Nem pelo fato de detestar perder o controle da situação. Mas porque... Nada de bom poderia vir de algo tão... intenso.
Sentou na cama com uma pressa evidente. As mãos tateando em busca das roupas espalhadas. Em vão. Dora a segurou pelo braço, dizendo:

- Ainda é cedo.

A boca de Lara se abriu, mas ela nada falou. Um desespero irracional a dominou. Como num pesadelo em que se quer gritar mas não sai a voz. Ainda mais quando Dora completou num tom abusivamente macio e sedutor:

- Quero mais, muito mais de você.

Lenta, muito lentamente. O coração palpitando ao compasso de Piazzolla no peito, Lara se deitou. E deixou que Dora tivesse irrestrito controle do corpo dela novamente.

***

Com uma rapidez incrível, os dias se transformaram em semanas, e as semanas em meses. E apesar de Lara já ter feito sexo com Dora inúmeras e incontáveis vezes, sempre era surpreendente. Como se o tempo e a quantidade apenas aumentasse o clímax do desfecho.
O acordo entre elas parecia perfeito. Se Lara não se questionasse sobre o verdadeiro preço. Constantemente repassava – ou melhor: ficava remoendo:

- Quero ser seu braço direito.

- Quero uma coisa em troca.

- O quê?

- Você.

E ainda assim continuava sem ter certeza do que aquilo queria dizer.
Se se tratasse apenas de corpo e carne seria fácil, muito fácil de se lidar. Sem problemas. Mas não era. Impossível negar o quanto Dora tinha se tornado dona de Lara por inteiro. Como se naquele contrato verbalmente acertado tivesse vendido o espírito, a alma, o ser.

Não queria pensar, não queria saber. Tentava se dominar, esconder a loucura dos próprios... sentimentos. Sim, eram sentimentos. Por mais que não desejasse tê-los.

Se tornou constante Lara ficar parada, olhando para o nada distraidamente. Sorrindo sem saber porquê.

Nesses momentos de ausência Dora sempre se aproximava. A tocava de leve, carinhosamente. Lara se assustava, saltando ao toque como que mordida por uma serpente. Dora então a olhava daquele jeito enigmático e dizia:

- Você ainda tem muito que aprender.

Deixando Lara sem compreender.

***

- Lara?

A voz de Dora imediatamente a fez parar o que estava fazendo. Levantou os olhos dos papéis, gaguejando como uma garotinha assustada ao responder:

- Q...quê?

Dora sorriu. Enigmaticamente. Antes de dizer:

- Quero que você se mude para cá.

Não tinha escutado direito. Foi disso que Lara tentou se convencer. Não teve jeito. Dora completou:

- Amanhã mesmo.

A reação de recusa que teve foi tão forte que balançou a cabeça em negação sem nem perceber. Perguntou, com uma fraqueza na voz evidente:

- Por quê?

O que Dora estava pensando? O que queria realmente? Lara não conseguia saber. O rosto dela, os olhos, o jeito, eram inexpressivamente impassíveis. Como chamas de gelo.

Observava Lara com a segurança de quem numa sala de interrogatório fica protegida atrás do espelho. Inalcançável, inatingível, intransponível.

De repente, Dora abriu um sorriso. Enigmático e incompreensível, mas um sorriso. Fez Lara se levantar da cadeira. A puxou pela cintura, mergulhou a boca no pescoço que imediatamente se ofereceu. Sussurrou sem parar o que estava fazendo:

- Decifra-me ou te devoro.

- Ah?

A perplexidade de Lara fez Dora sorrir mais ainda. Fez Lara se sentar em cima da mesa. Se encaixou entre as pernas dela, os olhos fixos nos dela:

- Foi o que a esfinge falou para Édipo, minha querida.

Ainda tentou fazer com que ela explicasse. Apesar das mãos de Dora já estarem provocando tremores, passeando no corpo dela com a habilidade de sempre:

- O que você quer dizer?

A resposta de Dora foi colar os lábios nos de Lara vorazmente.

***

O que Lara mais temia não aconteceu. Ganhou um quarto só dela. Em frente ao de Dora, mas só dela. Não que dormisse sozinha.
Às vezes Dora a levava para o quarto dela depois do jantar. Às vezes batia na porta de Lara três vezes, como quem pede consentimento. Lara então dizia, com um sorriso imenso:

- Entra.

Até o dia em que Dora não veio. Lara passou a noite toda sem conseguir dormir direito. Esperando, desejando, querendo que as três batidas na porta acontecessem. Mas o dia amanheceu sem que Dora aparecesse.

Disfarçou como pode as olheiras. Desceu para o café da manhã com uma tristeza inexplicável, inaceitável, incoerente.

Se Dora percebeu não disse nada. Nem nada fez. Ficou ali parada, olhando enigmaticamente para Lara, durante um longo tempo.

Foram as safiras que se desviaram. E não voltaram a encontrar os olhos de Dora enquanto Lara se obrigava a comer.

O dia inteiro foi aquele sofrimento. Mal se falaram. Dora parecia distante, fria, indiferente. Alimentando o terremoto que Lara tinha por dentro.

Quando percebeu que Dora ia se retirar, perdeu o controle completamente. A segurou pelo braço. Perguntou num tom de profundo desespero:

- O que está acontecendo?

Dora a olhou surpresa. Não respondeu. Perguntou também:

- O que você quer dizer?

Lara não pensou, nem maquinou, muito menos planejou o que dizer. Foi sincera:

- Porque você não foi no meu quarto ontem?

Dora sorriu ao responder:

- Porque fiquei esperando você no meu.

A primeira reação de Lara foi franzir a testa. Ainda sem entender. A dúvida se transformou em perplexidade. Depois em alívio. E então, finalmente, em ardor.

Passou os braços ao redor do pescoço de Dora e a beijou. Sem nem perceber que pela primeira vez tomava a iniciativa.

Dominada por algo incontrolável. Algo que a assustava, mas que por outro lado a deixava surpreendentemente liberta.

Parou de se conter como quem faz uma curva e pisa no freio. O instinto a levando a aproveitar tudo que Dora oferecesse. Bebeu dela como de um oásis no meio do deserto. A tocou como um náufrago ao chegar a terra.

Se Dora percebeu não disse nada. Nem fez nada diferente. Continuou do mesmo jeito.

Só que dessa vez Lara compreendeu. O quanto Dora era - sempre tinha sido – apaixonada e intensa. Desde a primeira vez.

***

Horas depois, se deixaram ficar deitadas nuas na cama de Dora - uma nos braços da outra - absolutamente satisfeitas.

Lara com a cabeça encostada no ombro de Dora, que acariciava as costas de Lara carinhosamente.

Lara ergueu os olhos, mergulhando os de Dora num azul profundo e ardente. Sussurrou com uma segurança que as surpreendeu:

- Quero me mudar para cá.

Dora sorriu. Enigmaticamente. A beijou suavemente nos lábios e respondeu:

- Esse quarto sempre foi seu.

Voltaram a se beijar. Dessa vez apaixonadamente.

***

....Lara ficou parada na porta do escritório. Olhando para Dora, as lembranças bailando nos lábios dela sob a forma de um sorriso intenso.

Dora finalmente ergueu os olhos e a viu.

O sorriso de Lara aumentou mais e mais quando Dora correspondeu. A música ainda tocava, rodopiando incessantemente pelo ambiente.
Lara se aproximou. Antes de comentar:

- Piazzolla...

Dora sorriu quando escutou. Lara sorriu de volta. Dessa vez sedutora, envolvente, demonstrando suas intenções claramente. Completou:

- “Libertango”... Essa música me traz ótimas recordações.

Dora afastou a cadeira da mesa, bateu com a mão na coxa, e chamou:

- Vem cá, vem...

Sem hesitação nenhuma, Lara a atendeu. Sentou no colo de Dora e a beijou. Os braços ao redor do pescoço dela, completamente entregue. Sussurrou:

- Quero você.

E Dora a satisfez. Ali mesmo com a porta aberta, pouco se importando com um dos empregados poder entrar e as surpreender.

Infindável tremular de se buscar, se guiar, se perder. Indo e voltando incessantemente.

As mãos provocando tremores, passeando pelos corpos com a habilidade de sempre.

Causando uma sensação conhecida, constante e urgente.

Música que rodava fora e dentro delas. Os olhos cintilando, num
doce e sufocado tormento. Como se nada, nada além das duas existisse sobre a terra.

Os lábios macios, a suavidade dos beijos exigentes, as mãos, dedos e línguas de uma voracidade suave, mas persistente.

Respirações se tornando sutilmente difíceis e trêmulas.

Suave sufocar. Queimando, ardendo, derretendo...

Passionalmente. Antes da explosão certeira.

Completo e total esquecimento de toda e qualquer outra coisa que não fosse a entrega misteriosa, deliciosa e intensa. As unindo num único momento.

Tomadas por algo incontrolável, impossível de se descrever. Fora do espaço e tempo. Irracional e irresistível resfolegar do ardor.

Não se perguntavam, questionavam nem formulavam teorias. Simplesmente aproveitavam e viviam o que sentiam. Sem que para isso fosse necessário algum tipo de tese ou monografia.

E apesar de nunca terem se dito nada – nem precisavam, os meses e anos de atos, cumplicidade e convivência entre as duas falavam mais do que qualquer outro fator - dentro das duas uma firme certeza existia: que aquilo era – só podia ser - amor.

Título original: A Dança das Raposas

Publicado originalmente, em dezembro de 2010, no site Um Outro Olhar

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