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Bissexuais e lésbicas são maioria da população LGBT paulista encarcerada

quarta-feira, 29 de abril de 2020 0 comentários

Bissexuais e lésbicas são maioria da população LGBT encarcerada de São Paulo 
Bissexuais formam a maioria da população LGBT encarcerada do estado de São Paulo. Os números estão em um levantamento inédito feito pela SAP (secretaria de Administração Penitenciária) que ouviu, em outubro de 2019, 232.979 pessoas custodiadas de todas as 175 unidades prisionais existentes. Os números foram divulgados em janeiro.

5.680 ou 2,44% das pessoas presas em São Paulo se identificaram como LGBTs. As definições de cada letra da sigla foram apresentadas aos detentos em entrevistas baseadas em um formulário.

Depois dos bissexuais (2.471 pessoas), vêm as lésbicas na sequência (1375) e depois os gays (953). Diante de todos os números, um asterisco chama atenção para a quantidade de bissexuais. A SAP disse “imaginar” que as vivências homoafetivas são impulsionadas pela privação de liberdade. A secretaria diz que esse fator poderá ser verificado no futuro a partir de outros levantamentos sobre o perfil da população LGBTQI+ encarcerada.

É arriscado teorizar a respeito de orientações afetivo-sexuais, já que não existem marcadores objetivos para isso. No entanto, o psicólogo e terapeuta Klecius Borges esclarece que é cada vez mais aceita a ideia de que a sexualidade humana se situa em um gradiente. “[A sexualidade] pode, portanto, variar de acordo com as circunstâncias nas quais o indivíduo se encontra, assim como com o contexto social”, detalha o psicólogo especializado no atendimento a LGBTs e seus familiares.

Nos anos 50, o biólogo americano Alfred Kinsey criou uma escala para mensurar os movimentos da sexualidade humana. Entre uma pessoa exclusivamente heterossexual e uma exclusivamente homossexual havia, segundo ele, 5 variações. 

Voltando a 2020. Klecius faz, portanto, o uso do termo bissexualidade no plural.
As bissexualidades podem envolver desde apenas o comportamento sexual, isto é, o ato sexual propriamente dito, a diferentes níveis de envolvimento afetivo e emocional”, esclarece.
Natália Corazza, professora de Pós-Graduação em Ciências Sociais e Antropologia Social e pesquisadora do Núcleo de Estudos de Gênero da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) endossa a ideia da sexualidade fluida, e rechaça o argumento comumente usado de que a bissexualidade pode “surgir” provocada pela privação de liberdade aliada à carência sexual.
Eu não diria jamais que a bissexualidade surge. As pessoas vivem relações sexuais, amorosas e prazeirosas em diversas situações sociais. A prisão é uma delas. E frente a estas situações sociais, elas vão viver relações heterossexuais, homossexuais ou bissexuais”, argumenta.
A pesquisadora que atua desde 2001 em estudos baseados em vivências em presídios masculinos e femininos afirma que a novidade no levantamento é identificação dos entrevistados com as letras da sigla LGBT que lhes foram apresentadas.
Essas categorizações identitárias [LGBTQI+] não foram cunhadas e tampouco faziam sentido no cotidiano de vida de pessoas em situação de prisão até bem pouco tempo”.
Por isso, muitas lésbicas masculinizadas, que reproduzem o gênero masculino, através de roupas e nomes masculinos, e são conhecidas, no contexto prisional, como Sapatões, agora se identificam como homens trans.


De fato isso se explica porque os parâmetros da pesquisa, feita com detentos e detentas de São Paulo, seguem uma cartilha formulada pela Secretaria de Justiça e Cidadania e apontamentos de movimentos sociais, usando de uma gramática normativa diferente das nomenclaturas informais usadas nos presídios. Em outras palavras, prisioneiras e prisioneiros foram induzidos a utilizar essa gramática. Ainda assim, esses levantamentos são vistos como meios de se garantir direitos à população LGBT encarcerada, como a visita conjugal homoafetiva.

Com informações de O que as prisões paulistas têm a dizer sobre a sexualidade humana, Todas as Letras, FSP, 23/04/2020

Prisioneiras: 80% das detentas têm comportamento homossexual nos presídios brasileiros

terça-feira, 11 de julho de 2017 0 comentários

Drauzio Varella em seu consultório em São Paulo. 

Drauzio Varella: “O único lugar em que a mulher tem liberdade sexual é na cadeia”
Em novo livro sobre uma penitenciária feminina, oncologista discute as marcas do machismo na trajetória das presas

"A prisão é um experimento sádico da nossa sociedade”, afirma o oncologista e escritor Drauzio Varella. Mas sem ignorar a dor provocada pelo confinamento, abandono e distanciamento dos filhos e familiares, o médico vislumbra no cárcere um espaço onde mulheres conseguem se livrar, ao menos temporariamente, da repressão machista que impera do outro lado do muro. “As mulheres são reprimidas desde que nascem, não existe nenhum outro local na sociedade onde ela é livre assim como na cadeia”, afirma Varella em entrevista ao EL PAÍS. Atrás das grades da Penitenciária Feminina da Capital, no Carandiru, convivem em harmonia diversos tipos de sapatões (homossexuais que assumem aparência masculina), entendidas (homossexuais que mantêm aparência feminina) e mulheríssimas (heterossexuais que ocasionalmente tem relações com mulheres) - os termos foram criados pelas próprias presas. A exceção são as aborteiras, que precisam ficar em celas isoladas.

O escritor relata suas experiências tratando de detentas no livro Prisioneiras(Companhia das Letras). A obra fecha uma trilogia – os outros são Carandiru e Carcereiros ambos publicados pela mesma editora - sobre sua vivência de décadas atendendo de forma voluntária presos e presas paulistas. "Cadeia é um lugar muito sensível de uma sociedade. Se você visitar uma cadeia, um pronto socorro e um estádio de futebol lotado, você consegue fazer uma ideia de como é uma sociedade", afirma.

Pergunta. Existe comportamento homossexual nos presídios femininos?

Resposta. O comportamento homossexual entre as presas é muito mais abrangente do que aparenta no início. Isso leva tempo para perceber. Porque essas relações femininas são mais sutis. Na cadeia de homens você percebe que alguns presos são notadamente homossexuais. Mesmo que não sejam travestis, são homossexuais, andam com outro homem que você sabe que é o marido dele. Na cadeia feminina não. Entre elas as relações adquirem uma outra dinâmica. Um número muito grande de presas tem comportamento homossexual, é a maioria esmagadora! Gira em torno de 80%, talvez até mais.

P. No livro você fala sobre os diferentes perfis de homossexualidade no presídio feminino. O que lhe chamou a atenção?

R. O contato com essas diferenças de sexualidade é imediato. Quando você entra numa cadeia feminina tem uns 15% de mulheres que você olha e são homens. Estas mulheres usam o cabelo bem curto, com aquelas riscas que jogador de futebol faz, elas têm trejeitos de homem. Se você faz uma observação mais cuidadosa percebe que elas não se depilam. Quando eu fui examiná-las, percebi que elas não usam calcinha, usam cueca, e tops bem apertados para esconder o seio.

Essas mulheres que têm aparência masculina são sapatões. Na rua é uma palavra pejorativa. Na cadeia não. Elas falam assim: “Sou casada com um sapatão”, com o maior respeito. As que têm o estereótipo feminino não são sapatões, já entram na categoria das entendidas. E com o tempo percebi que não se pode dividir em duas categorias, porque existem vários subtipos: o sapatão original, que já era lésbica do lado de fora, sapatão sacola, que é hetero nas ruas, mas na cadeia assume outra identidade de gênero, sapatão badarosca, sustentada pela parceira, e a chinelinho, que elas dizem que sai da cadeia e abandona o homossexualismo, calça o chinelinho de cristal e vai atrás do príncipe encantado.

P. Por que você acha que o comportamento homossexual predomina nos presídios femininos?

R. O único lugar em que a mulher tem liberdade sexual é na cadeia. Não existe nenhum outro local na sociedade onde ela é livre assim. As mulheres são reprimidas desde que nascem: a menina de dois anos de idade senta com a perna aberta e a mãe diz “fecha a perna”. Essa repressão ocorre o tempo inteiro. Comportamentos que são aceitos e naturalizados para um homem são execrados para mulheres. E no presídio, sem os homens, não existe essa repressão social. Isso faz com que elas tenham o comportamento social que desejarem ter. A homossexualidade está muito mais próxima do universo feminino do que do masculino, e o que a cadeia faz é criar condições que dão liberdade para que a mulher se comporte do jeito que ela achar melhor, sem repressão. E do outro lado você tem a solidão. Essa mulher vive praticamente sozinha, pouquíssimas recebem visitas íntimas, apenas umas 120 de um total de 2.200.

P. Nenhum comportamento sexual é malvisto na cadeia feminina?

R. Existem comportamentos sexuais que não são bem vistos, mas não são reprimidos. Elas não se diminuem de jeito nenhum por ter essa ou aquela conduta sexual. Uma sapatão original, por exemplo, não pode ficar com outra sapatão original. Elas dizem que é “pederastia”. A lógica interna delas é: se você é sapatão original você é um homem, está vendendo a imagem de um homem. Não pode “rebolar”, como elas dizem. O sapatão original nem se deixa tocar e não tira a roupa de jeito nenhum. Na hora do exame você percebe que tem um certo constrangimento, eu tenho sempre muito cuidado. Eu examino uma mulher com muito mais liberdade do que um sapatão. Eu digo “olha, vou ter que levantar a camiseta para poder te auscultar”. É algo que fui aprendendo na prática.

P. A sexualidade então é muito diferente de um presídio masculino...

R. O homossexual ou a travesti no presídio masculino não pode nada. Não pode distribuir comida, não pode brigar com outro, não pode gritar com malandro... Não pode enfrentar jamais. Na detenção morria gente quando acontecia isso. Já no feminino tudo é visto com naturalidade. “Minha mulher”, elas falam. “Sou casada com fulana”, “meu amor foi para o regime semiaberto, estou sozinha, estou triste”. E as guardas, a diretoria, todo mundo respeita, ninguém cria caso.

P. Que outras diferenças você observa entre um presídio masculino e um feminino?

R. A diferença fundamental é que essas mulheres todas têm filhos. É muito raro encontrar alguma sem filhos. O homem quando está preso pode até estar preocupado com os filhos dele - alguns nem aí, né? Mas ele sabe que tem uma mulher cuidando das crianças: uma irmã, uma tia, a mãe... Mas gravidez indesejada é problema para a mulher, não para os homens, porque eles simplesmente abandonam. A mulher vai pra cadeia e perde o controle da família. Ela sabe que as crianças vão ficar desprotegidas: as pessoas abusam de criança com a mãe presa. E os filhos muitas vezes são espalhados. Imagina três irmãos, acostumados a ficarem juntos, e quando a mãe é presa vai cada um para um lado. Imagina a dor dessas crianças. E a mulher sabe disso, sabe que quem está causando isso é ela, ela foi a responsável pela separação. Ainda que de forma involuntária, foi algo provocado pelo crime que ela cometeu.

Quer machismo mais evidente do que um cara ser preso e condenado a mais de 25 anos de cadeia, e a mulher não pode abandonar ele, tem que fazer visita íntima todo final de semana? E quando a mulher vai presa o cara simplesmente desaparece.

P. Um número grande de mulheres foi presa por tráfico de drogas. Como se aproximam desse universo?

R. Muitas vezes o crime foi a forma de sobrevivência que ela encontrou. Não quer dizer que ela tenha a mentalidade perversa. Ela começou a traficar droga, usava um pouco, conhecia os traficantes... Na periferia o traficante muitas vezes é o seu colega de classe, você brincava com ele no recreio. E de repente ele está no crime. Aí num aperto ou até por vontade de melhorar de vida, a mulher tem ali a pessoa que oferece uma oportunidade de trabalho que ela não teria de outra forma. Sem ter que passar por aquela condição sofrida, com um esforço enorme de deslocamento para ir trabalhar, horas e horas todo dia por um salário ruim. E uma vez que elas começam a ganhar dinheiro traficando, esquece.

P. A população carcerária no Brasil não para de crescer. Estamos enxugando gelo?

R. Como a sociedade age? É preciso ter alguma repressão ao crime. Senão vira uma tragédia social, ninguém sai de casa. Só que precisamos estar conscientes de que a repressão não reduz a criminalidade. É uma guerra perdida. Nos anos 90 tínhamos 90.000 presos no Brasil. Agora temos 675.000. Aumentou 700%. E a criminalidade não caiu, a insegurança é cada vez maior. Então aprisionar não reduz a criminalidade.

É preciso que a sociedade reflita: estamos prendendo pessoas que têm que ser presas? Crimes que não são violentos devem ser punidos com prisão? Isso custa caro, não só a manutenção de um preso lá dentro, mas o fato de que ele vai sair pior. Não é à toa que eles chamam cadeia de faculdade do crime. O cara sai de lá articulado, conhecendo muita gente. A cadeia congrega.

P. Se prender não é a solução, como se resolve esse problema?

R. Quer atacar o problema da violência? Tem que ir lá atrás. Três condições aumentam o risco de violência. Por que ela se dissemina nas classes mais pobres? Porque lá estão os fatores de risco. São as crianças que sofreram abuso na infância ou tiveram uma infância abandonada. Que na adolescência não tiveram imposição de limites ou conviveram com outros mais violentos. É a condição de milhões de brasileiros. É de estranhar que não tenhamos mais gente ainda envolvida com o crime.

P. Por que aumentou o número de mulheres presas?

R. São muitos fatores. Primeiro há uma liberdade maior para a mulher. Antes ela ficava trancada em casa. Só que esses direitos que as mulheres conquistaram não foram distribuídos igualmente. Nas classes mais pobres a situação melhorou, mas elas não se beneficiaram tanto dessa evolução econômica e social. Elas ainda vivem numa sociedade profundamente machista. E isso se reflete na iniciação sexual precoce e na gravidez na adolescência. A menina que tem filho aos 14 anos faz o que? Para de estudar. 75% delas param, porque não tem com quem deixar a criança. E ao parar de estudar ela comprometeu o futuro dela e da criança também.

P. Como as presas lidam com quem fez aborto?

R. Elas reprimem as que fazem aborto. Não podem conviver, são expulsas, vão para o seguro [ala da prisão destinada a estupradores e jurados de morte]. É malvisto quase como um estuprador no presídio masculino, mas com um pouco mais de tolerância, porque elas não matam a que fez aborto. Elas dizem que quem pratica aborto “mata criancinhas”.

P. Quais os maiores problemas de saúde das presas?

R. O problema básico delas é a obesidade. Porque lá elas são sedentárias e tem uma dieta rica em carboidratos. Elas ganham peso e ficam hipertensas e diabéticas. Isso é muito comum, assim como a dor nas costas e problemas ortopédicos provocados pelo excesso de peso.

E elas também têm doenças pulmonares relacionadas ao cigarro. Muitas começaram a fumar com 10 anos. Essas têm os lábios azulados e os olhos cheios de vasinhos de sangue. Quando elas entram para o exame eu tenho uma técnica de aterrorizar mesmo. Eu digo “olha, morte por enfisema não desejo pro meu pior inimigo. Olha bem nos meus olhos. Sou médico, não tenho interesse nenhum em você morrer ou ficar viva, não faz diferença nenhuma na minha vida, mas eu tenho obrigação de dizer o que vai acontecer”. Elas ficam muito assustadas, mas nem todas param.

P. Qual a vantagem para um preso de ser do Primeiro Comando da Capital(PCC)?

R. O PCC é uma ideologia. Muito mais do que uma organização criminosa. Eles se impuseram primeiro com a violência, mas só isso não basta, então desenvolveram uma ideologia. Qual a justificativa? Primeiro, acabar com a repressão no sistema. E segundo, vingar a morte dos 111 do Massacre do Carandiru. O PCC é consequência direta do massacre, isso está no estatuto deles. Extorsão das famílias e roubos das coisas que elas traziam para os presos eram comuns. Aí o PCC fala: “nosso problema é se defender do sistema”. Qual a vantagem de ser do PCC? Você tem a segurança dos irmãos[nome dado aos integrantes] em todo o país. No presídio e na rua. E ninguém mais morre na cadeia. Todo mundo diz que o maior sonho de quem está preso é a liberdade. Não é. É se manter vivo. E o PCC garante isso. As famílias do preso recebem cesta básica todo mês... Em compensação, você obedece ordens. Se mandarem matar, você mata.

P. E o papel das mulheres no PCC?

R. Elas não pagam mensalidade sob a justificativa de que elas são mães, que têm criança para cuidar. Os homens do PCC pagam 600 reais. Quando elas são presas, as famílias têm o mesmo direito a uma cesta básica. Se elas são casadas com alguém do PCC, são chamadas de cunhadas. As do PCC são as irmãs. Cunhadas e irmãs são respeitadíssimas. Elas têm autoridade no presídio, mas recebem ordens de fora, da torre geral [apelido dado à cúpula da organização]. As mulheres ocupam o degrau inferior, a base do PCC. Uma ou outra que se destaca pode fazer parte da torre. Mas o comando é dos homens, é uma organização totalmente machista.

P. É possível que surja uma facção só das mulheres?

R. Não, acho difícil. Porque se existisse iria competir com o PCC, e isso é impossível. Eles são muito violentos com concorrentes e com quem vai contra eles.

P. Quem é mais cruel no presídio, homens ou mulheres?

R. Acho que os homens são mais violentos do que as mulheres. A violência da mulher é de outro tipo, não é tanto física, é mais uma tortura psicológica. As histórias que eu escuto das presas antigas são assustadoras. Chegava uma menina bonitinha na cadeia, a sapatão olha e a mulher dela ficava com ciúmes. Aí metia uma gilete na cara da novata. Eu conheço várias mulheres mais velhas, com 50 anos, com cicatriz no rosto. O diretor da cadeia, Maurício Guarnieri, diz que “o homem quando tem um problema com o outro vai lá e mata. A mulher quer ver sofrer”.

P. O estupro é aceito na cadeia feminina?

R. Hoje não existe mais. Tinha estupro antigamente, uma mulher mais forte obrigava a outra a fazer sexo com ela, apesar do estupro sempre ter sido reprimido na cadeia feminina. É curioso. O homem não aceita o estupro, muito embora o faça. [...] O cara mata um pai de família, comete um latrocínio, e é bem visto na prisão. Estuprador morre. As maiores barbaridades que eu vi na cadeia foram contra estupradores. É inesquecível, nos momentos mais inesperados, volta a imagem daqueles corpos mutilados.

P. A situação dos presídios de São Paulo é péssima. Porque não temos mais rebeliões?

R. Existem dois lados desta questão. São Paulo desenvolveu um sistema de administração penitenciária muito competente, que envolve os funcionários, carcereiros e a administração. Existe um setor de inteligência que fica interceptando chamadas telefônicas, juntando pedaços de um quebra cabeça. E tentam se antecipar: “esse cara está levando informação pra lá, vamos transferir”. É um jogo de gato e rato.

Por outro lado, rebelião atrapalha muito os negócios do crime. Existe um interesse do PCC. Já ouviu falar de fuga em São Paulo? Há muito tempo não se fala de fuga. Em nenhuma cadeia do mundo você tem isso. O próprio PCC sabe que não pode bater de frente, já fizeram isso no passado. Mas ir para o enfrentamento causa problemas que repercutem aqui fora. O PCC amadureceu muito com os anos, surgiu com uma violência absurda, mas foi se moderando.

P. O PCC tirou o pé da luta contra o Estado que apregoavam no estatuto?

R. Eles viram que não dava certo para eles, né? Veja quantos morreram em maio de 2006 [naquele mês a facção desencadeou ataques contra agentes de segurança pública, seguidos por uma retaliação de grupos de extermínio]. Você acha que mataram filho de investigador e não morreu ninguém da família de membros do PCC? Fizeram esse tipo de ação em outros Estados, em São Paulo de jeito nenhum. Existe um interesse econômico muito grande. Eles faturam 500 milhões por ano. Imagina. Sem imposto. Que empresa fatura isso?

P. Como retratar as presas de forma a não vitimizá-las nem retratá-las como monstros?

R. É uma coisa meio natural, que eu faço desde o Carandiru. Pensei muito nisso ao escrever o Carandiru. Não gosto de ler livros quando percebo uma intenção oculta do autor. É lógico que toda história passa pelo filtro de quem escreve, mas não posso tomar partido enquanto estou escrevendo. Eu tento contar a história como um narrador que está vendo de fora. Ninguém é vítima. Elas entraram por esse caminho do crime por alguma lógica delas. E independentemente do que fizeram, elas não perdem sua condição humana.

P. O que mais te comoveu em todos esses anos de trabalhos nos presídios?

R. Acho que as cenas que mais me tocam são as cenas de estupro. No Brasil 100% das mulheres sofreram algum tipo de abuso sexual. É um cara que põe a mão na perna, fala um absurdo, aproveita o aperto do ônibus... E isso independe de classe social. Mas é lógico que é pior nas classes sociais mais baixas. E grande parte dos estupros são cometidos por familiares. É o avô, padrasto, vizinho, namorado da mãe... Estupram crianças de seis anos. Imagina que futuro, o que pode acontecer com uma criança que passou por uma coisa dessas... Essas histórias são tão comuns...

P. Toda essa convivência com presos fez de você alguém melhor?

R. Melhor não sei, acho que mais interessante (risos). Porque você não passa por uma experiência dessas incólume. Isso te molda. Penso que se eu não tivesse essa experiência toda eu não teria a visão social que eu tenho. Cadeia é um lugar muito sensível de uma sociedade. Se você visitar uma cadeia, um pronto socorro e um estádio de futebol lotado, você consegue fazer uma ideia de como é uma sociedade. Confinar pessoas em cadeias é um experimento sádico. Como as pessoas se comportam nessa situação? Que regras se estabelecem? Os primatas se organizam.
Fonte: El País, Gil Alessi, Marina Ross, 09/07/2017

Estreia 4ª temporada de Orange Is The New Black promovida por Inês Brasil

sexta-feira, 17 de junho de 2016 0 comentários



Após longa expectativa, chegou a hora das fãs da série Orange Is The New Black (OITNB) se deleitarem com a estreia de sua nova temporada que acaba de ser lançada pela Netflix nesta sexta-feira (17).

A 4ª temporada da série promete fortes emoções com a chegada de mais de cem detentas na Prisão de Litchfield. O trailer lançado pela Netflix, na terça-feira (10), mostra um clima violento entre as detentas do sistema penitenciário após a chegada das novas prisioneiras.

Orange Is the New Black é uma série do gênero comédia dramática, criada por Jenji Kohan, produzida nos Estados Unidos, baseada no best-seller de Piper Kerman (Orange Is The New Black: My Year in a Women's Prison), que relata sua experiência numa prisão americana.

Piper terá problemas com as latinas na quarta temporada
A primeira temporada da série foi lançada na Netflix no dia 11 de Julho de 2013, ganhando a atenção do público brasileiro. Agora, além da quarta temporada, a Netflix renovou a série para mais três temporadas (a quinta, a sexta e a sétima), ainda sem data de lançamento.

E, como no ano passado, com Valesca Popozuda (reveja o vídeo abaixo), a Netflix levou mais uma detenta brasileira para dentro de Litchfield. Rainha dos memes, Inês Brasil (e não Inês Portugal, fica a dica) é uma das "carnes novas no pedaço", sendo recepcionada por Poussey, Big Bo, Sophia, Daya e Alex (veja o vídeo).

Com informações de NE10, Hugo Gloss, Omelete


Exclusão familiar leva população LGBT a viver nas ruas

sexta-feira, 22 de abril de 2016 0 comentários


Fator de exclusão da população LGBT é a família, diz censo
Ex-detentos são 5 anos mais jovens que a média da população de rua. Levantamento aponta que idosos passaram a viver nas ruas aos 57 anos.

Entre 5,3% e 8,9% do total da população em situação de rua em São Paulo pertencem à comunidade LGBT, como apontou o censo divulgado pela Secretaria de Assistência e Desenvolvimento Social (SMADS) da Prefeitura. Coordenadora do Observatório de Políticas Sociais (Cops), da SMADS, Carolina Teixeira Nakagawa Lanfranchi explica que é a primeira vez que o levantamento inclui essa informação.

O censo já havia sido divulgado em março de 2015, mas, na quarta-feira (20), a Prefeitura publicou o perfil socioeconômico da população de rua no Diário Oficial. De acordo com os dados, a cidade tem 15.905 pessoas na rua, sendo 8.570 nos centros de acolhimento e 7.335 em vias e espaços públicos

De acordo com o levantamento, essa população é estimada entre 4,5% e 10,1% dos que estão nos centros de acolhimento e nas ruas, entre 5,4% e 9,0%. Na amostra, 106 pessoas se identificaram como não sendo heterossexual (51 entre os acolhidos e 55 na rua).
Observamos que entre a comunidade LGBT, a família é fator de exclusão. São vítimas de preconceito e acabam saindo do núcleo familiar. Os índices de violência são superiores nesse grupo, por isso já havia sido criado o Centro de Acolhida LGBT. A violência é sofrida pela população LGBT também no acolhimento, mas entre a população de rua é muito maior”, afirma a coordenadora do Cops. “Precisamos de um olhar mais específico para esse grupo em busca de respostas mais adequadas.”
De acordo com os dados, a população LGBT exerce mais mendicância e atividades marginalizadas, como prostituição, venda de drogas e roubos, do que os heterossexuais em situação de rua. Há indícios de que o número de casos de tuberculose e portadores de HIV é maior nessa comunidade do que entre os heterossexuais em situação de rua, porém essa população procurou os serviços de saúde em maior proporção do que o grupo heterossexual.

O levantamento mostra ainda que no grupo LGBT, há uma maior incidência de pessoas que passaram por instituições, especialmente pelo sistema penitenciário. De um modo geral, tanto entre os acolhidos como entre os moradores de rua, a população LGBT parece sofrer mais agressões do que a heterossexual.

Egressos do sistema prisional

Em geral, os ex-detentos em situação de rua são 5 anos mais jovens e, proporcionalmente, são os que menos possuem documentos, especialmente os que vivem na rua (24%). A idade média dos egressos em centro de acolhimento é de 39,7 enquanto entre os não egressos é de 44,6. Na rua, a média de idade é de 38,1 anos entre ex-presos e 42,8 entre não presos.
O uso de drogas ilícitas também é maior entre os ex-detentos que vivem na rua, além de sofrerem mais discriminação e violência física e verbal do que os moradores de rua que nunca foram presos.

“Egressos do sistema prisional e população LGBT vem representando uma parcela maior a cada censo da população de rua. A maioria não tem documentos básicos para reinserção, como RG, CPF. Como vão acessar os direitos se não têm os documentos básicos? Eles sofrem também muito mais discriminação e violência, agressões verbais e físicas”, afirma a coordenadora.

Idosos

Na população em situação de rua, a proporção de idosos no grupo de acolhidos é 16%. A proporção de idosos entre os que vivem na rua é bem menor (7%). Apesar da proporção de adultos que chegam às ruas a partir dos 50 anos ou mais (20,3% no acolhimento e 12,6% nas ruas) ser menor que a encontrada do grupo entre os 18 e 49 anos (76,6% no acolhimento e 81,1% nas ruas), o censo informa que essas pessoas passaram a viver nos locais públicos com idade já avançada, em média 57 anos, mas a metade dessa população já tinha mais de 60 anos.

Os idosos em situação de rua são principalmente homens, com idade média de 65 anos, sendo que a maioria tem de 60 a 64 anos. Entre os idosos em centros de acolhimento, 41% moravam sozinhos ou com pessoas sem vínculo de parentesco, estando mais vulneráveis a situações de desemprego ou problemas de saúde.

Segundo a coordenadora , os dados revelam que essas pessoas não envelheceram nas ruas. “Essas pessoas já viviam sozinhas antes da situação de rua. A gente imaginava que tinham ido na vida adulta e se tornavam idosas nessa condição, mas não é isso. Agora, precisamos pensar políticas específicas para os idosos”.

Vínculos familiares

O censo verificou também a situação atual dessa população e a anterior à ida para a rua. No confronto dos dois momentos, conforme o levantamento, há um aumento de pessoas sozinhas e uma expressiva redução de pessoas convivendo com membros da família.

Do total da população nos centros de acolhimento, 80% afirmou viver só e 20% convivem com familiares ou alguém sem laço de parentesco. Mesmo antes da perda da última moradia, 26% da população já vivia só, enquanto 68,9% moravam com a família e pouco mais de 5%, com pessoas sem relação de parentesco. 

Entre as pessoas que moram nas ruas, atualmente 69% vivem sós, 16,5% vivem com algum familiar e quase 16% vive com pessoas sem relação de parentesco. Anteriormente, 18% viviam sozinhos, 79,2% moravam com familiares e 3,4% com pessoas sem relação de parentesco.

Fonte: G1, 21/04/2016

Retrospectiva 2015: Na terceira temporada de “Orange is the New Black”, Piper e Alex vão disputar Stella, personagem vivida pela VJ Ruby Rose

segunda-feira, 28 de dezembro de 2015 0 comentários

Stella (à direita) será disputa por Piper e Alex na terceira temporada de OITNB

A história de “Orange is the New Black” já é bem conhecida: Piper Chapman(Taylor Schilling), jovem de classe média alta namorada do candidato a escritor Larry (Biggs), pega um ano e meio de prisão por envolvimento em tráfico de drogas da época em que namorava a traficante Alex Vause (Laura Prepon). Alex de fato a dedurou, como se fica sabendo no decorrer da história.

Ao entrar para a cadeia, Piper vai enfrentar as inúmeras barras de uma vida atrás das grades não só pelo relacionamento nem sempre amistoso com outras detentas como também pelos posicionamentos muitas vezes arbitrários dos agentes penintenciários. Entre um causo e outro, entre o drama e o humor e os flashbacks da vida pregressa de todas as detentas, Piper reata com Alex, revivendo seu tumultuado romance de tempos atrás.

Na terceira temporada de OITNB, estreia prevista para 12 de junho, entrará em cena a modelo e VJ australiana Ruby Rose no papel de Stella (Carlin) a ser disputada por Piper Chapman (Taylor Schilling) e Alex Vause (Laura Prepon). Ruby Rose foi VJ da MTV australiana e faz o estilo “genderqueer”, assumindo características dos gêneros masculino e feminino e questionando os estereótipos sexuais. Uma espécie de revival da androginia.

Abaixo, vídeo com Ruby Rose, e a própria contracenando com Taylor Schilling (Piper).  Enjoy it!



Publicado originalmente em 17/04/2015

Terceira temporada de ‘Orange Is The New Black’ começa no dia 12/06

quinta-feira, 11 de junho de 2015 0 comentários


Série ‘Orange Is The New Black’ retorna com a terceira temporada
Enjauladas, insanas e cheias de compaixão: novo ano do seriado promete

Em 2013, Orange Is The New Black (OITNB) apresentou a penitenciária feminina de Litchfield, no estado norte-americano de Nova York. Dois anos separam o debute do lançamento da terceira temporada, cuja estreia está programada para esta sexta-feira, 12, mas nada é mais como antes. Prisão, detentas, a forma como a sociedade norte-americana encara o sistema carcerário do país e a própria maneira como consumir televisão passaram por grandes transformações em um período curto de tempo. 

Litchfield ganhou ternura conforme a protagonista da série, Piper Chapman (interpretada por Taylor Schilling) deixou de enxergar suas companheiras de cela como ameaça. São mulheres que erraram, assim como ela – Piper vai presa por ter auxiliado no tráfico de drogas anos antes, ao lado de Alex Vause (Laura Prepon), namorada dela na época. 

Depois que o programa criado por Jenji Kohan (Mad About You e Weeds) deixou de direcionar atenções e tempo de tela para a personagem principal, um leque enorme de possibilidades se abriu para OITNB. Personagens de aparições ocasionais ganharam espaço, algumas tornaram-se regulares e donas de momentos de ação e drama ao longo da segunda temporada. 

É o caso do grupo de mulheres latinas encarceradas em Litchfield, lideradas por Gloria Mendoza (Selenis Leyva). De personagem ocasional a responsável pela cozinha do presídio, Gloria ascendeu ao posto de uma das “chefonas” informais de Litchfield, rivalizando com os grupos formados por negras e caucasianas. Latinas enfrentaram ambas e ganharam. 

“Ah, a Jenji (Kohan) é tão boa”, conta Selenis Leyva em um encontro com jornalistas de toda a América Latina, inclusive o Estado, realizado na Cidade do México. Selenis, filha de cubano e criada no Bronx, EUA, chama a criadora da série carinhosamente de “mama” e explica que, a princípio, a personagem não ganharia destaque – os primeiros episódios da terceira temporada já mostram o contrário. “Apareceria em um episódio, depois dez e, enfim, Gloria foi promovida a personagem regular. Jenji me disse certa vez: ‘Você me fez escrever para você’. É interessante como os roteiristas prestam atenção em você”, derrete-se. 

Piper saiu, aos poucos, dos holofotes. Jenji percebeu o material rico que tinha diante de si e encontrou oportunidade de revisitar o passado de cada uma das detentas de Litchfield. Personagens como a divertida Big Boo (Lea DeLaria), a arisca Galina “Red” Reznikov (Kate Mulgrew), as amigas Poussey (Samira Wiley) e Tasha “Taystee” Jefferson (Danielle Brooks), e a amalucada Suzanne “Crazy Eyes” (Uzo Aduba) são tão protagonistas como Piper. 

“A série encontrou sua fórmula”, avalia Selenis. “Mostramos que todas as pessoas chegaram ali por um motivo, por uma sequência de situações que alteraram a vida de cada uma daquelas mulheres. Qualquer um pode se envolver, identificar-se com aquilo que está sendo mostrado no episódio.” 

Ela e Diane Guerrero, intérprete de Maritza Ramos, comemoram o fato de que OITNB tenha iluminado questões sobre o sistema carcerário dos Estados Unidos, assim como auxiliado nas vitórias pelos direitos LGBT. “A série levanta questões e temos que prestar atenção a elas”, diz Diane. “Recebemos mensagens de pessoas que se conectaram com as histórias”, responde Selenis. 

O avanço de Orange is The New Black também enfrentou a resistência da televisão tradicional. E venceu. Atualmente, a série coleciona 31 prêmios dados por público e crítica. E só dois anos se passaram.

Ver também Na terceira temporada de “Orange is the New Black”, Piper e Alex vão disputar Stella, personagem vivida pela VJ Ruby Rose



 E até a Valeska Popuzuda entrou na onda da OITNB

Dupla de matar: Suzane Richthofen se casa na cadeia com a sequestradora Sandra Regina Gomes, condenada a 27 anos de prisão

terça-feira, 28 de outubro de 2014 2 comentários

Suzane casou com ex de Elize Matsunaga (à direita)

Suzane Richthofen se casa dentro da cadeia. Com uma sequestradora

Casal vive em cela especial desde setembro. Antes, parceira de Suzane mantinha relacionamento com Elize Matsunaga

Suzane Von Richtofen se casou. A nova parceira da detenta, que está há 12 anos encarcerada na penitenciária de Tremembé, no interior paulista, é Sandra Regina Gomes, condenada a 27 anos de prisão pelo sequestro de uma empresária em São Paulo. As informações foram divulgadas pelo jornal Folha de S.Paulo nesta terça-feira.

Segundo a revista Marie Claire, está é de fato
Sandra Regina Gomes (Sandrão)

A história de amor entre Suzane e Sandra tem nuances dignos de trama de novela. Antes do enlace entre as duas, Sandra vivia maritalmente com Elize Matsunaga, presa pela morte e esquartejamento do marido Marcos Kitano Matsunaga, em junho de 2012.

O casal se conheceu na fábrica de roupas que funciona dentro do presídio e onde Suzane ocupa um cargo de chefia. Ao perceber o interesse de Suzane por Sandra, o relacionamento com Elize acabou. O triângulo amoroso acabou por romper a amizade entre as presas.

Desde setembro deste ano Suzane e Sandra passaram a dormir em uma cela especial destina a presas casadas. Lá, dividem o espaço com mais oito casais. Antes Suzane ocupava uma ala especial, destinada a presas evangélicas, desde 2002, quando foi presa pelo assassinato dos pais Manfred e Marísia von Richthofen, mortos a pauladas a mando de Suzane.

Para poder dormir com seu novo amor, a ex-estudante teve de assinar um documento de reconhecimento de relacionamento afetivo, exigido para todas as presas que resolvem viver juntas.

Arquivo VEJA: Verdades e mentiras de Suzane von Richtofen

Em Tremembé, esse papel funciona com uma certidão de casamento. Permite o convívio marital, mas também impõe regras de convivência aos casais.
Após assinatura desse compromisso, por exemplo, caso se separe, a presa não poderá voltar à cela especial – única destinada a casais –em um prazo de seis meses.

Por já ter vivido com Elize no espaço, Sandra teve que passar por uma quarentena antes de poder assumir o relacionamento com Suzane. Ela é apontada também como o principal motivo para que Suzane abrisse mão do regime semiaberto. Em agosto passado, a juíza Sueli de Oliveira Armani concedeu a chamada "progressão de regime", mas a moça abriu mão do benefício.

Os advogados tentavam essa decisão desde final de 2008 e começo de 2009. Surpreendentemente, Suzane pediu à magistrada para adiar sua ida para o regime semiaberto epermanecer na cadeia em tempo integral.

Se aceitasse o benefício, seria transferida para outra unidade, já que a unidade feminina de Tremembé onde elas estão só tem autorização para receber presas em regime fechado.

Recentemente, Suzane abriu mão de lutar pela herança dos pais e tenta se reaproximar do irmão, Andreas.

Por outras penitenciárias onde passou Suzane também despertou paixões. Em Rio Claro, por exemplo, duas funcionárias do presídio se apaixonaram por ela. Com isso, recebeu algumas regalias ilegais, como acesso à internet. A história só foi descoberta porque as funcionárias brigaram pelo amor de Suzane.

Em Ribeirão Preto, para onde foi transferida, um promotor teria se apaixonado por Suzane e prometido lutar para tirá-la da "vida do crime". Ela não gostou da proposta e denunciou as investidas.

O promotor foi punido pelo Ministério Público por comportamento inadequado – ele nega o suposto assédio.

Pessoas que conversaram com Suzane recentemente afirmam que ela pretendia fazer uma cerimônia para celebrar o enlace no começo de novembro. Tinha escolhido até padrinhos. O plano, no entanto, foi adiado depois que ela soube que uma TV preparava uma reportagem sobre ela. Com medo de expor a relação, adiou o evento.

Quando foi presa, Suzane namorava Daniel Cravinhos de Paula e Silva. Teria sido em nome desse amor que eles arquitetaram a morte dos pais. O pai da menina não aceitaria o namoro porque Daniel não estudava nem trabalhava. Para concretizar o plano, contaram com a ajuda do irmão de Daniel, Cristian.

Todos foram condenados. Os irmãos cumprem pena no regime semiaberto. O Ministério Público acredita que ela foi a mentora do crime.

Fonte: Veja, 28/10/2014

Casamento entre mulheres atrás das grades

quarta-feira, 21 de maio de 2014 0 comentários

Valéria (esq.) e Vera (dir.) se conheceram na Penitenciária Feminina Madre Pelletier,
 em Porto Alegre. Foto: Marcelo Miranda Becker / Terra

Liberado há um ano, casamento gay ainda é raro em presídios

Primeiras mulheres a se casarem em presídio no RS afirmam que poucas detentas lésbicas sabem que têm o direito ao matrimônio

Valéria Dias de Oliveira e Vera Indiana Castro de Souza entraram para a história do sistema prisional gaúcho ao se tornarem as primeiras detentas a se casar em um presídio do Rio Grande do Sul. A cerimônia, comandada por um sacerdote afroumbandista há uma semana na Penitenciária Feminina Madre Pelletier – curiosamente, um prédio que no passado abrigara um convento católico em Porto Alegre -, simboliza uma série de esforços da sociedade e do poder público para garantir o respeito aos direitos da comunidade LGBT (lésbicas, gays, bissexuais e transexuais) nos presídios brasileiros.

Apesar de a resolução do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) que legalizou o casamento entre pessoas do mesmo sexo já estar vigente há um ano, Valéria e Vera contam que poucas presidiárias sabem que têm esse direito. "Antes do nosso casamento, ninguém achava que podia. Muitos falavam que não podia casar dois homens, duas mulheres, só fora do Brasil. Depois disso, muitas estão querendo casar. Tem gente que fala que a gente abriu a porteira", diz Valéria, 27 anos e mãe de dois filhos, que cumpre sua segunda pena no Madre Pelletier por tráfico de drogas.

As duas se conheceram no próprio presídio em 2010 e se apaixonaram "à primeira vista", como recorda Valéria. "Ela já estava aqui quando eu fui presa de novo. Quando eu vi ela, tremeu tudo. Eu falei: 'essa morena vai ter que ser minha'. A gente começou a se falar, eu mexia bastante com ela, até que a gente ficou", diz a detenta. Segundo Valéria, sua maior preocupação era mostrar para sua amada que não se tratava de um relacionamento baseado na carência imposta pelo cárcere.

"Sentei para conversar com ela e disse: 'eu não quero brincar contigo. Eu quero um relacionamento sério contigo, eu não quero que seja uma aventura de cadeia, ou que seja uma carência. Se você está carente porque não tem visita íntima, eu não quero que leve pra esse lado'", relembra. "Eu disse que lá na rua é diferente. Aqui é uma coisa, é um mundo, quando a gente bota o pé pra fora do portão é outra coisa. Fui conversando com ela antes de seguir em frente com a história de casar, e ela foi me apoiando também. Até que eu pedi ela em casamento e ela disse 'sim'."

Apesar de manifestarem publicamente o desejo de oficializar a união ainda em 2013, o relacionamento de Valéria e Vera inicialmente foi visto com desconfiança pelas outras detentas. "No começo, muitas pessoas criticavam. Até uma das madrinhas, no dia do casamento, comentou. 'Valéria, eu vou ser bem sincera: eu não acreditava nesse casamento. Eu achava que vocês estavam só chamando atenção'. A gente chegou a receber críticas no início. Falavam pra mim: 'mas como você tem filho e gosta de mulher? Vocês duas são menininhas'."

A resistência, porém, se desfez com o casamento, que contou com a presença de familiares e seguiu a tradição do matrimônio, com vestido branco, buquê, terno e alianças douradas. "Depois que viram que era mesmo verdade, que a gente está mesmo feliz, que a gente queria casar, que era o nosso sonho, agora todos nos apoiam. Falam que foi tudo muito lindo, dão parabéns, vêm nos abraçar de verdade", diz Valéria.

Apoio da direção do presídio
Assim que tomou conhecimento da vontade do casal, a direção do presídio trabalhou para organizar a cerimônia. "Nós sentamos com elas e perguntamos se elas realmente queriam se casar, se elas entendiam a importância disso. Teve todo um trabalho com uma equipe de psicólogas, para lembrar elas que uma coisa é um romance aqui dentro do presídio, outra coisa é você estabelecer um laço familiar para toda a vida", diz Marília dos Santos Simões, diretora da penitenciária.

Demorou cerca de um ano, porém, para que a festa saísse do papel. "A gente não sabia se ia conseguir casar. Primeiro, a gente não ia conseguir porque os documentos da Vera ainda não estavam prontos. Depois teve a greve (dos agentes penitenciários). Então era tanto tempo que, se a gente não se amasse mesmo, teria desistido já", conta Valéria.

A cerimônia foi organizada e custeada pela Coordenadoria Penitenciária da Mulher/Assessoria dos Direitos Humanos (ADH) da Superintendência dos Serviços Penitenciários (Susepe), com apoio da Secretaria de Políticas para Mulheres (SPM). "Foi uma festa muito bonita, todas nós nos emocionamos em ver a felicidade delas", diz a diretora do presídio.

"Nossa, foi muita emoção. Porque eu não esperava que todo mundo fosse ajudar. Foi a casa toda, a direção, a chefe de segurança, as funcionárias também, mais a Corregedoria da Mulher. A gente não tirou nada do bolso, foram todos eles que nos ajudaram, roupa, tudo. A casa se empenhou um monte. Para mim, foi uma surpresa imensa, foi bem tocante. Eu pensava que ia ter um bolinho e acabou. Mas não, foi muito lindo", emociona-se Vera, de mãos dadas com a mulher. "Elas apostaram tudo no nosso relacionamento mesmo. Porque tem muitos casais aqui dentro que começam hoje e amanhã já estão com outra. E a gente não. Desde quando a gente falou que ia ficar junto, a gente foi até o final", completa Vera, 33 anos, que cumpre pena por latrocínio no Madre Pelletier.

Lua de mel improvisada e preconceito
Após terem a união abençoada pelo sacerdote, Valéria e Vera puderam até mesmo improvisar uma lua de mel na cela que dividem. "A gente trabalha com o lixo, descendo o lixo das galerias. Mas a chefe de segurança falou no dia: 'não, vocês estão em lua de mel e hoje não vão trabalhar'. Então pudemos curtir bastante aquele nosso momento, sonhar mais um pouco", diz Valéria, que afirma que a cela garante a privacidade do casal. "Se alguém precisa conversar com a gente, batem na porta. Ali a gente tem a nossa privacidade, as nossas coisas. Vamos dizer que ali é a nossa casa provisória, tem televisão, tem ventilador, todas as nossas coisinhas, como se fosse nossa casa. Ali a gente já vai começando a criar aquele ritmo para quando nós sairmos pra rua, para quando nós tivermos a nossa casa."

Fonte: Terra, 17/05/2014

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