Um Outro Olhar
quarta-feira, 13 de abril de 2022
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Autora de romance lésbico juvenil: 'Falta de representatividade me cansou
Desestimulada por sempre encontrar casais hetero nos romances, Elayne Baeta resolveu escrever sua própria história. "O Amor Não É Óbvio" (Galera Record), primeiro romance lésbico juvenil a integrar a lista de mais vendidos da revista Veja, chegou primeiro nas plataformas digitais antes de ganhar espaço em uma grande editora.
Me sentia frustrada demais por não achar livros sobre mim, então fiz esse romance lésbico clichê. Mas não imaginava que me tornaria escritora depois disso", contou Elayne em entrevista a Universa.
Segundo a autora, durante o seu período de descoberta de orientação sexual, fez falta conseguir achar um livro que narrasse histórias sobre ela, por isso fez a escolha de ajudar adolescentes a ter o que ela não teve: referências. "Eu adorava ler mas só tinham histórias de casais héteros. Eu fui parando de ler por causa disso. Até tentava, na minha cabeça, trocar a sexualidade dos personagens, mas a falta de representatividade me cansou. Comecei a escrever por isso. Talvez fosse tarde demais para mim, mas não era para muitas meninas", diz Elayne.
Como o sucesso de vendas do livro, ficou claro que ela está dialogando com muita gente além do público jovem. E pela experiência da Elayne com o público é bem isso que acontece: para o bem e para o mal. Enquanto há pais que proíbem a leitura, rasgam e jogam fora o livro, outros a agradecem por existir um caminho para que consigam entender melhor os filhos.
De mães, avós a leitoras com a idade da minha mãe me mandam mensagem. Algumas me agradecem por ajudá-las a abrir a cabeça. Na sessão de autógrafos que fiz na Bienal do Livro do Rio de Janeiro a fila era bem diversa. Tinham meninos gays, mãe de leitora, pai de leitora. Claro que também recebo muitas histórias tristes, de pais que proibiram ou rasgaram o livro", conta.
Muitos pais alegam não querer que os filhos tenham a sexualidade afetada pela história - um dos grandes absurdos da homofobia.
Elayne Baeta, autora de romance juvenil lésbico
O clichê que faltava
Quantos beijos lésbicos você já viu em livros de romance? Se pesquisar, consegue encontrar livros digitais com protagonistas gays, mas até eles priorizam os homens. E, quando se encontra, a pegada é mais erótica do que romântica. Entre os livros impressos em grandes editoras é quase impossível de localizar algo sobre o tema.
Não temos conteúdos com essa vibe de colégio como em 'O Amor não é Óbvio'. Livros com homens gays já conquistaram mais espaço, mas falta muito para as outras siglas. Espero que mais livros lésbicos surjam e que a gente consiga alcançar mais espaço na literatura atual. Não conheço nenhum além do meu. Eu pretendo publicar muitos livros sobre o assunto. Minha meta é que estejamos em todos os gêneros literários. Quero ver lésbicas na fantasia, por exemplo", diz Elayne.
E foi essa ausência nas livrarias que a fez escolher escrever uma história água com a açúcar e clichê: é para ser fofinho como vários livros com outros personagens que encontramos por aí.
Além disso, a autora tinha como foco conseguir dialogar com o público que mais precisa se sentir acolhido em um momento de descoberta, as adolescentes.
Só conseguia pensar que se eu tivesse encontrado esse refúgio quando jovem, meu processo de descoberta teria sido diferente e eu não teria me sentido tão sozinha nesse momento que é muito solitário. Todos precisamos de apoio e representatividade. A nossa trajetória, traumas, inseguranças e até a coragem interna se definem a partir disto. Por isso, minha história fala de uma personagem jovem, saindo do armário e passando por situações semelhantes a algumas que eu vivenciei", diz Elayne.
Apesar do sucesso, essa não é a única obra da autora. Ela também está lançando "Oxe, baby", um livro de poemas.
Ele já pré existia. Eu fiz uma seleção do que eu já tinha escrito para a publicação. Foi para a editora depois, mas na minha vida de escritora veio antes do romance", conta.
N.E. Elayne deve se referir aos romances lésbicos para o público juvenil porque, literatura lésbica de fato, existe no Brasil desde Cassandra Rios há uns 50 anos.
Clipping "Autora de romance lésbico juvenil: 'Falta de representatividade me cansou, por Rafaela Polo, Universa (UOL),07/04/2022
Um Outro Olhar
segunda-feira, 17 de junho de 2019
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Pam Mariano, 33, Foto: Gilvan de Souza
Jovens lésbicas fogem da intolerância familiar e aumentam estatística de desaparecidos Desde 2015, 3.084 adolescentes desapareceram de casa. Entre as meninas, titular da DDPA aponta que a recusa dos pais em aceitar a sexualidade é o principal motivo Aos 14 anos de idade, Pam Mariano foi avisada que um cartaz com o seu rosto estava colado em um poste de Copacabana, com uma única palavra: 'Desaparecida'. O telefone de contato era o de sua mãe, que um ano antes havia sentenciado que não queria uma filha homossexual em casa. Expulsa após uma surra, virou moradora de rua e encontrou na prostituição a única maneira de sobreviver.
Sua história não é exceção. A recusa de pais em aceitar a sexualidade dos filhos tem repercutido nas estatísticas de jovens desaparecidos. É o que indica levantamento da Delegacia de Descoberta de Paradeiros (DDPA) obtido por O DIA. Desde 2015, 3.084 adolescentes, entre 12 e 17 anos,
desapareceram de casa no Município do Rio, sendo que 2.817 foram encontrados.
Entre as meninas dessa faixa etária que localizamos, a maioria disse que saiu de casa porque os pais não aceitavam a sua opção sexual, seja a bissexualidade ou o lesbianismo. Os adolescentes estão conscientes do que querem e, quando decidem fugir ou são expulsos, raramente querem voltar", afirmou a titular da especializada, delegada Ellen Souto.
Passados 20 anos, Pam faz terapia para sanar as marcas deixadas na alma.
Ainda criança, sentia atração por meninas. Me sentia suja ao ter que deitar com homens por dinheiro. Aos 30 anos, entrei em depressão profunda. Ao sair de casa, passei todos esses anos somente sobrevivendo. Não tinha como estudar. Sinto que minha adolescência foi toda perdida, simplesmente pelo preconceito, pois quando você não tem casa, perde a base principal para conseguir evoluir", afirmou.
Para se reerguer, ela contou com a ajuda de grupos de apoio LGBT. Atualmente, trabalha como massoterapeuta, é percussionista e tem grupos musicais voltados para o público homossexual, como o Sapagode (trocadilho entre sapatão e pagode), que faz eventos de pagode somente para o público lésbico. É fã da percussionista Lan Lan, noiva da atriz Nanda Costa.
Pam conta que largou a prostituição ao conseguir seu primeiro emprego fixo, aos 18 anos. Desde então, já vendeu pastel, fez mudanças, foi auxiliar de secretaria e cuidou de gatos e plantas.
Há uma luz no fim do túnel. Ainda sofro, mas encontrei na música uma forma de me reerguer. Digo para todas que estão nessa situação: busquem apoio em redes do movimento, muitas anjinhas vão te ajudar".
Seu contato com a mãe é esporádico.
Eu a perdoei. Vejo que ela somente reproduziu o que aprendeu. É um ciclo, que precisa ser quebrado. Por isso, mostro meu rosto. A gente não tem que se esconder, não temos que ter vergonha", disse.
A Prefeitura do Rio ajuda, através da Coordenadoria Especial da Diversidade Sexual (CEDs), a todo o público gay que se encontra vulnerável. "Oferecemos abrigo, encaminhamento para emprego. Mas antes disso, buscamos apoio com amigos, outros familiares. Os abrigos não são hotéis", contou Nélio Georgini, coordenador da CEDs.
A assessora representante da Pauta L (Lésbicas) na CEDs, Caroline Caldas, não se surpreendeu com o resultado da estatística feito pela delegacia.
Elas não fogem de casa: o ambiente se torna tão hostil que é impossível viver naquele local. Muitas vezes sofrem, além da violência psicológica e física, a violência sexual, com estupros que os agressores chamam de corretivos", relatou.
Com receio de expor a família, N.N, de 25 anos, conversou com a reportagem sem se identificar. Contou que foi expulsa de casa aos 21 anos, após revelar para a mãe, evangélica, que era lésbica.
Havia descoberto que minha namorada tinha me traído. Estava chorando e minha mãe perguntou o motivo. Contei e ela disse 'você está louca, você é da igreja'".
"Existe uma luz no fim do túnel", diz Pam Mariano, para quem sofre com preconceito por ser lésbica - Gilvan de Souza / Agencia O Dia
Na mesma noite, seu padrasto ordenou que ela fizesse as malas e saísse de casa.
Ele me criava como filha desde os seis anos. Mas mostrou um cabo de vassoura, ameaçou me bater e disse que era para ir embora. Saí somente com uma mala, sem dinheiro algum", relembrou, lacrimejando.
Após ficar sem paradeiro certo por dois anos, recebeu a notícia de que uma tia havia sido assassinada e resolveu ir ao enterro.
Fiquei dois anos afastada de casa e, apesar de ter contato com minha minha mãe e irmão, tive que trancar a faculdade, tinha a vida desestruturada. Resolvi ir ao enterro para me despedir da minha tia. Meu padrasto, então, me abraçou. Choramos juntos. Acredito que isso fez com que ele percebesse que poderia me perder em definitivo. Ele me aceitou de volta em casa", contou. Atualmente, ela está casada com outra mulher em sua casa própria, retomou a faculdade e tem um emprego fixo.
Para reatar os laços entre os familiares e os jovens, a delegacia criou uma parceria com a Cruz Vermelha. Um núcleo de psicologia e psiquiatria foi criado para tratar somente casos de desaparecidos.
São pais que querem melhorar a sua relação com os jovens, parentes de idosos com doenças mentais que fogem, além do tratamento do luto. Todos os pacientes para esse núcleo foram encaminhados pela delegacia", contou a delegada.
Perfil dos Desaparecidos: raptos, fuga com amantes e doenças estão entre os motivos
Nos primeiros cinco meses deste ano, 815 casos de registros de desaparecidos, de todas as faixas etárias, foram feitos na DDPA. Desse total, 610 foram localizados; outros 21 estavam mortos.
Gráfico mostra porcentagem de desaparecidos por faixa etária - Infografia O DIA
Desde 2015, o perfil dos desaparecidos registrados na delegacia é separado por faixa etária. Os das crianças entre 0 e 4 anos (93 casos) ocorreram devido a questões de guarda compartilhada, em que um dos pais não aceitava a decisão da Justiça e houve rapto. As de 5 a 11 anos (706 casos) foram solucionados como resultados ou de abuso sexual ou de não aceitação da guarda. Entre os jovens de 12 a 17 anos, além da fuga para exercer sua sexualidade, estão casos em que jovens fogem após abusos serem cometidos.
Já entre os adultos de 18 a 60 anos (5.191 casos), os desaparecimentos ocorreram para o uso de drogas ou por saída espontânea. "São comuns os casos em que mulheres ou homens desapareceram para ficar com amantes e depois voltaram dizendo que foram vítimas de algum crime. Entre os homens, há casos em que fogem para não pagar pensão alimentícia. E, há os casos em que os adultos não querem mais contato com outros familiares. Os encontramos, mas não podemos dizer o paradeiro, pois a pessoa tem esse direito de cortar os vínculos", explicou a delegada.
Entre os idosos, que somente este ano foram 96 casos, todos ocorreram por perda de memória ocasionada ou por depressão ou outros tipos de doenças, como Alzheimer. Para quem convive com idosos, a delegada frisa que uma solução simples pode ajudar na localização de um desaparecido: uma pulseira ou colar com o nome e número de identidade. "É importante não colocar o número de telefone. Aliás, isso serve para qualquer desaparecido, quando um familiar confecciona cartazes com números pessoais. Isso é um chamariz para trotes e até casos de extorsão. Somente com o número do RG, qualquer unidade de saúde ou da polícia vai conseguir localizar os familiares", afirmou.
Núcleo trabalha 24 horas para localizar desaparecidos
Caso uma pessoa sem documentação ou contato de familiares seja internada em qualquer unidade de saúde do estado, há um plantão na DDPA para tentar localizar seus familiares. Chamado de Núcleo de Comunicação, a unidade funciona 24h em contato com a rede de saúde para identificar anônimos internados.
Isso ajuda de duas formas: a primeira é localizar o parente e evitar, assim, que ele faça o registro de ocorrência de desaparecido ou uma possível peregrinação desse familiar pelos hospitais. A outra, é ajudar a rede pública a liberar leitos hospitalares. Isso porque uma pessoa internada, que tenha perdido suas referências de lar, não pode receber alta mesmo sadia", explicou a delegada Ellen Souto.
O núcleo identificou, por exemplo, um homem que foi internado no Hospital Municipal Souza Aguiar, após um atropelamento no Centro, através de suas tatuagens. A mãe foi localizada e conseguiu se despedir. Uma semana após sua internação, ele faleceu.
Também no Souza Aguiar, uma história de reencontro, mas com final feliz: uma idosa de 81 anos que havia perdido a memória e estava como moradora de rua foi internada. Ela lembrava somente do primeiro nome da irmã. Foi através de cruzamento de dados que a polícia conseguiu localizar a irmã, que a procurava desde 2014. Após ela receber alta, voltou ao convívio de seus familiares.
Um Outro Olhar
segunda-feira, 22 de abril de 2019
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Filme sobre 'cura gay' sem maniqueísmos estreia nos cinemas brasileiros
Dois meses atrás, "Boy Erased", filme crítico sobre a chamada "cura gay", passou reto pelos cinemas brasileiros e foi direto para o DVD, apesar de seu elenco hollywoodiano e indicação ao Globo de Ouro. Razões comerciais, segundo a sua distribuidora.
Por ironia, outro longa com a mesma abordagem sobre o assunto, mas sem nomes estrelados, estreiou no país na quinta (18) até mesmo em sala de shopping center.
A cineasta Desiree Akhavan se surpreende ao saber.
Tivemos que lutar muito para que o nosso filme estreasse nos cinemas aqui nos Estados Unidos, enquanto Boy Erased' teve um lançamento grande."
Nem mesmo o fato de ter sido o grande premiado do Festival Sundance, a meca da produção independente, ajudou.
Acho que tem a ver com o fato de lidarmos com sexualidade feminina, com a história de uma garota que se masturba e tem desejos", crê.
Ambas as produções partem de livros. Em Boy Erased (ed. Intrínseca), o americano Garrard Conley narra as memórias de quando foi levado pelo pai, um pastor batista, a um desses locais que se propõem a reorientar gays. Narra como um psicólogo dali aplicava jogos mentais nos frequentadores e incentivava exorcismos.
Cameron Post (ed. HarperCollins) é o romance juvenil escrito por Emily M. Danforth, inspirado em uma experiência do mesmo tipo, só que com uma adolescente lésbica.
Ambos os filmes abordam a inspiração religiosa que guia esses centros, evocam suas normas peculiares, como a revista de pertences para proibir a entrada de itens profanos, e o senso de inadequação dos protagonistas diante das arbitrariedades de seus líderes.
Enveredam, assim, por esse quase gênero cinematográfico que é o do filme de internação. São praticamente versões LGBT teens de Um Estranho no Ninho.
Mas as semelhanças terminam aí.
Boy Erased está mais para uma (mal sucedida) tentativa de fazer bom-mocismo com pautas identitárias e chamar a atenção ao escalar atores como Nicole Kidman e Russell Crowe para papéis centrais. Vem também de um diretor, Joel Edgerton, com pouca ligação com a causa.
Já O Mau Exemplo de Cameron Post faz jus ao pedigree indie, que lhe rendeu prêmio em Sundance, com produção mais modesta, mais sutileza e menos atores famosos. Sua diretora também é um nome conhecido em produções que resvalam na temática gay e lésbica.
O filme também deixa de lado o maniqueísmo que marca Boy Erased e opta por não tratar religiosos como vilões nem os frequentadores desses centros como incautos vítimas de lavagem cerebral.
Não queria transformá-los numa piada", explica Akhavan. "A esquerda liberal não gosta muito da ideia, mas eu queria falar da humanidade que existe mesmo nos que defendem essas formas de terapias."
Chloë Grace Moretz (Deixe-me Entrar) interpreta a personagem-título, uma adolescente órfã que é flagrada pelo namorado aos beijos com uma outra menina. A tia a obriga a frequentar o Promessa de Deus, programa mantido por psicólogos evangélicos em algum lugar não especificado dos rincões americanos.
Ali, Cameron aprende que o desejo homossexual é a ponta do iceberg de uma série de questões que só a religião irá sanar. O ano é 1993. Sem internet para conhecer histórias de outras lésbicas, a sensação de inadequação e solidão da garota é maior. É naquele centro, contudo, que encontrará mais gente como ela.
Nova-iorquina filha de iranianos, a diretora usou no filme parte de suas experiências num retiro destinado a pessoas com sobrepeso.
Para mim, foi bom. Cheguei odiando todas as pessoas que também estavam ali e aos poucos passei a ver traços meus em cada uma delas."
Isso ajuda a explicar o seu olhar um pouco mais generoso aos demais personagens que, assim como Cameron, são submetidos às regras do Promessa de Deus, incluindo aí os que as respeitam cegamente, seja lá por que razão.
Durante as filmagens do longa, no segundo semestre de 2016, Donald Trump acabou eleito, levando a tiracolo o seu vice, Mike Pence, religioso e entusiasta fervoroso desse tipo de terapia de reorientação sexual.
Não mudou a nossa abordagem, mas trouxe um senso de urgência para o filme", explica Akhavan.
Antes, nos preocupávamos se seria relevante tratar do assunto naquele momento. Aquilo, então, deixou de ser apenas retórico."
Fonte: GaúchaZH, 17/04/2019
O Mau Exemplo de Cameron Post: Diretora explica como equilibrar drama e humor em filme sobre a "cura gay"
Chegou aos cinemas, na quinta passada, o vencedor do prêmio do júri no Festival de Sundance: O Mau Exemplo de Cameron Post, drama sobre as terapias de "cura gay" nos Estados Unidos. Chloë Moretz interpreta uma garota levada a um acampamento cristão após ser flagrada fazendo sexo com uma amiga.
Desiree Akhavan
O drama demonstra a violência psicológica destes procedimentos, que levam os jovens a "odiarem a si mesmos", nas palavras de Cameron. Ao mesmo tempo, o filme permite abordar o tema com leveza e humor, destacando as amizades formadas dentro do acampamento God's Promise ("Promessa de Deus").
O site AdoroCinema conversou com a diretora Desiree Akhavan sobre o projeto, adaptado do livro de Emily M. Danforth:
Como você conheceu o livro e o que te fez acreditar que renderia uma boa adaptação para o cinema?
Desiree Akhavan: O livro foi presente de uma amiga. Eu amei e dei para a minha namorada imediatamente. Na verdade, não foi minha ideia transformar em um filme, minha namorada na época amou também e disse: “Isso vai dar um ótimo filme”. Eu estava muito intimidada porque eu era uma grande fã do livro, eu não queria arruinar ele. Eu não sentia que era digna de readaptar esse livro, mas era uma coisa que eu pensava constantemente.
Quando eu lancei meu primeiro filme e estava viajando com ele, minha produtora disse: “Eu acho que a gente tem que transformar esse livro em um filme” e quando ela me disse que tinha amado, eu confiei nas pessoas ao meu redor porque eu não tinha confiança para fazer sozinha. Foram essas pessoas ao meu redor que disseram: “Você deve ir em frente”.
Quais foram as principais mudanças e concessões que você teve que fazer para adaptar o livro?
Desiree Akhavan: O livro tem 500 páginas, é muito longo. Além disso, ele começa quando Cameron tem 11 anos e vai até os 17 anos. A primeira coisa que eu sabia é que queria restringir as ações somente ao que aconteceu no acampamento God’s Promise. Então, nós nos ativemos principalmente a essa locação e a um pouco da vida dela antes. Esse era o meu foco: eu me ative à personagem.
Filme e literatura são meios muito diferentes. O filme é muito simplista, ele não fornece muito espaço para se aprofundar. Você pode fazer, mas não vai ser tão detalhado quanto o livro. Então, grande parte do trabalho consistiu em transportar a essência e manter a história o mais simples possível. Eu e minha co-escritora, Cecilia Frugiuele, demoramos um ano para conseguir isso.
Como você preparou o elenco? Fizeram pesquisas sobre outros grupos de conversão ou você queria que os atores se ativessem ao roteiro?
Desiree Akhavan: Eu queria que eles fossem verdadeiros com o roteiro. Chloe [Grace Moretz] e eu nos encontramos com vítimas da terapia de conversão gay, então ela conversou com pessoas que sofreram traumas. Mas eu, minha co-escritora e a escritora do livro pesquisamos muito, porque nós três sabíamos que se tratava de algo muito íntimo.
Para os jovens atores, preferia que eles sentissem como se estivessem em uma dessas comédias passadas na escola. Não queria que reforçassem a gravidade do tema. Para muitas pessoas que passaram por essas terapias, esta foi a primeira vez que conheceram outras pessoas gays na vida. Apesar de estarem em uma época terrível, eles também estavam se conectando com indivíduos LGBT pela primeira vez, então não deixa de existir algo carinhoso.
Como você decidiu que formas de violência mostrar ou apenas sugerir no filme?
Desiree Akhavan: Bom, isso foi um reflexo do livro. Nós vemos o mundo pelos olhos de Cameron e a personagem não está em todos os lugares. Ela não está junto de Mark (Owen Campbell) quando ele se mutila, por exemplo. Enquanto cineasta, eu queria que o espectador acompanhasse o mundo dela e foi por isso que optamos pela coerência com este único ponto de vista. Não precisamos ver o horror. Ele está presente quando Mark tem um colapso, durante a sessão em grupo, e se nós fizemos nosso trabalho direito, o espectador vai sentir a violência deste colapso na terapia.
Você diria que se trata de um político, ou que tenha uma mensagem a transmitir?
Desiree Akhavan: Qualquer filme que tenha algo novo a dizer é político. Eu só não quero que as pessoas assistam a isso e sintam que que estão tomando uma dose de remédio, que estão recebendo uma prescrição. Desde a infância, a maioria dos filmes nos diz o que é certo e o que é errado, seguindo um tipo de narrativa moralista.
Eu sempre fico animada quando assisto a algo que desafia minhas crenças, que desafia minhas expectativas. Então, sim, eu acredito que seja um filme político, mas, ao mesmo tempo, eu não acredito que tenha uma mensagem única a passar, nem que esteja julgando os jovens ou os líderes dessa terapia de conversão gay.
Os líderes da "cura gay" poderia soar como vilões, inclusive, mas você evita este caminho.
Desiree Akhavan: Sim, eu pensei que se fizesse meu trabalho direito, os espectadores sentiriam empatia por Lydia (Jennifer Ehle) e Rick (John Gallagher Jr.), entenderiam de onde eles vêm e porque chegaram onde estão. Para mim, como diretora, este era um desafio muito maior que representá-los como vilões. Seria mais interessante como espectador e muito mais desafiador realmente ter empatia por alguém nessa posição.
Mesmo assim, existe uma violência psicológica evidente neste acampamento. Quem você culparia pelos maus tratos: os líderes do acampamento? Os pais que internaram os jovens? Uma ideologia maior?
Desiree Akhavan: Acredito que todos estes sejam responsáveis. Quem você culpa por alguém como Donald Trump no poder, por exemplo? É o medo. Nós vivemos em um mundo de medo, onde as pessoas têm medo de qualquer coisa diferente do que elas estão habituadas. Quando seu filho é gay mas você é hétero, para algumas pessoas esse é um território desconhecido que eles não desejam enfrentar. Então, eles tentam fazer com que você seja com os outros. Então, sim, você culpa o medo, você culpa o governo, você culpa a cultura em que vivemos, você culpa os pais destes jovens.
Mas o que era difícil e interessante para mim era pensar: “Eu sempre quis fazer um filme sobre abuso infantil, mas eu não queria que fosse do mesmo jeito que sempre vi nas telas, de modo pesado e trágico. Enquanto crescia, eu descobri que o abuso sempre vem das pessoas que mais te amam e têm as melhores intenções. Elas estão munidas de discursos carinhosos do tipo: “Eu quero o que é melhor para você”. Isso era muito mais doloroso e muito mais interessante para mim como artista do que sugerir que existem pessoas boas e outras más.
Que reações o filme despertou desde o Festival de Sundance?
Desiree Akhavan: Eu fico muito grata que as pessoas tenham se identificado com Cameron e sua história. Fiquei surpresa com a quantidade de heterossexuais que se identificaram e enxergaram a sua própria adolescência no filme. Eu fiquei preocupada que o filme pudesse dialogar apenas com homossexuais, mas percebi que esta é uma história muito mais universal, e tenho muito orgulho disso. O senso de humor torna essa história muito mais universal.
Que experiências deste filme você vai levar para seus próximos projetos?
Desiree Akhavan: Esse filme foi uma verdadeira colaboração entre muitas mulheres inteligentes da minha vida. Minha co-escritora e produtora Cecilia Frugiuele, minha fotógrafa Ashley Connor, minha editora Sara Shaw. Eu estava muito calma, este era o meu segundo filme e eu queria aproveitar a experiência, para falar a verdade.
No meu primeiro filme eu estava tão nervosa, com medo de ser julgada, que não senti nenhum prazer em filmar. Neste filme eu deixei fluir, deixei as pessoas discordarem e foi prazeroso por causa disso. Esse filme foi melhor porque eu deixei acontecer e tive minhas colaboradoras na mesa comigo. Cada uma delas trouxe isso, então meu trabalho foi possível pela confiança nas pessoas.
Fonte: Adoro Cinema, por Bruno Carmelo, com a colaboração de Maria Clara Guedes, 19/04/2019
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segunda-feira, 20 de agosto de 2018
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Pai rejeita a filha lésbica ao descobrir que ela vai se casar com outra mulher Crédito: Reprodução/whatsApp
Pai expulsa filha de casa e culpa a mãe por ela ser lésbicaA jovem atualmente está morando com a família da namorada
Uma jovem de 24 anos, natural de Rio das Ostras, no Rio de Janeiro, fez um desabafo nas redes sociais, após ter sido expulsa de casa pelo seu pai, após o mesmo descobrir que ela vai se casar com a namorada. Ainda, o homem acusa a esposa por “não saber a criar os filhos” e, por esse motivo, a jovem teria se “tornado” lésbica.
Em entrevista à Catraca Livre, a mulher, que pediu para não ter a identidade revelada, relatou que já é assumida “há alguns anos, mas meus pais são daqueles que preferem fingir que não existe isso e nem comentam”.
Tudo estava bem enquanto ninguém sabia do relacionamento, mas quando falei do casamento, meio que surtaram e já não estavam falando direito comigo. A história todo ocorreu no dia que mandei os convites [do casamento]”, contou.
Ao saber da notícia do noivado e de que sua filha está prestes a oficializar união homoafetiva, o pai dela “surtou” e, através de mensagens via WhatsApp, ele pediu para que ela saísse de sua residência e deixasse o carro que ela costumava usar para trabalhar como motorista da Uber.
“Vou escrever porque a minha decepção é tanta que nem consigo falar. Não, em momento algum, jamais, nunca, nem nessa nem em outra vida sua avó ficaria feliz com isso [o casamento]. Ainda bem que ela morreu!, pois seria muita decepção para ela”, iniciou o pai.
“Bom, vou falar de mim, eu não concordo, jamais em toda minha vida até aqui pelo menos, nunca tive uma decepção tão grande. Não diga que me ama, pois não machucamos jamais a quem realmente amamos”, continuou.
“Você lembre-se que nesse momento você está fazendo uma escolha entre mim e a ‘sapatão’ que eu nem sei nem quero saber quem é, nunca traga ela na minha casa, pois a mesma não será recebida. Minha casa minha lei”, afirma.
"Você matou seu pai perante toda a família [porque ela anunciou o casamento em um grupo do aplicativo de mensagens instantâneas com membros da família], não se dirija mais a mim, se ainda tiver um pouquinho de vergonha nessa sua cara, não frequente também minha casa”, disse ela à filha.
“Espero que apesar disso, seja feliz com a nova família que você escolheu. Apesar de estar muito triste, como se tivesse sido apunhalado, não desejo mal, infelizmente você e seus irmãos não tiveram uma mãe de verdade, uma mãe que desse a vocês educação o suficiente para não se misturar com o que não presta, e a única culpada por isso [é a mãe e consequentemente esposa do mesmo]”, completou o homem, ressaltando que, se um dia a filha se “arrepender”, ele a receberá de “braços abertos”. Do contrário, prefere “a morte”.
Atualmente, a jovem está morando na casa da sogra e deve casar em breve com a namorada que conheceu este ano. Ela disse que após o incidente sua mãe entrou em contato, e afirmou que ela pode voltar para casa quando quiser. No entanto, segundo contou, ela não pretende voltar a dividir teto com o pai.
Um Outro Olhar
sexta-feira, 29 de dezembro de 2017
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Atual temporada do folhetim juvenil foi marcada por alguns beijos entre pessoas do mesmo sexo. Foto: Globo/Reprodução
Lica (Manoela Aliperti) e Samantha (Giovanna Grigio) começarão a namorar nos próximos capítulos de Malhação Viva a Diferença. O selinho foi na quinta (21), e o início do namoro será nesta sexta (29/12)
A novela promete tratar o assunto com muito cuidado e delicadeza para não chocar o público. Primeiro, elas se aproximaram e flertaram, igual qualquer casal. Quem tomou a iniciativa e deu um beijão na outra foi Samantha.
Eu andei pensando no que a gente conversou e… Acabei de descobrir que sou mais corajosa do que eu pensava. Não sei onde isso vai dar, mas não tô nem aí!”, dirá Samantha, antes de dar um beijo na boca de Lica.
Garota! Você é louca mesmo!”, declarará ela, sorrindo.
Após o beijo, Lica dialogou com Tina (Ana Hikari), que questionou o que a amiga achou da atitude de Samantha.
Eu? Eu adorei! Achei bem louco e bem sexy!”, ela disparou.
Cês duas são bem doidinhas mesmo, né?”, falará Tina.
Pode ser, mas acho que isso é bom, sabia? A gente se entende”, responderá Lica.
Tô vendo que essa história tá só começando. Eu tenho que desligar agora, mas depois eu quero saber todos os detalhes!”, comentará Tina.
Só não demora muito porque aqui o ritmo é acelerado, os capítulos voam… Depois vai ficar difícil te atualizar”, brincará Lica.
O início da paquera entre as meninas começou na quinta-feira (21), quando trocaram um selinho. Mas o beijo e o início do namoro entre elas acontece nesta sexta (29).