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Lésbicas ainda enfrentam despreparo de ginecologistas em suas consultas de saúde sexual

sexta-feira, 8 de julho de 2022 0 comentários

Perguntar sobre práticas sexuais antes de questionar sobre contracepção
A primeira vez que fui sozinha ao ginecologista eu tinha uns 20 anos. Minha ex-parceira tinha me contado que estava com HPV e fui pedir exames. Foi muito constrangedor".
Foi assim que a arquiteta Laura de Souza, 33, narrou sua primeira experiência como uma mulher homossexual com a ginecologista. Ela, que vem de uma família conservadora e evangélica, pouco ouvia falar sobre a saúde da mulher em casa. E no consultório também não foi acolhida.

São experiências como essas que fazem com que as mulheres lésbicas ebissexuais fiquem com receio de procurar a assistência médica adequada.
A principal queixa dessas mulheres é o medo. A maioria fica sem ir em uma ginecologista 15, 20 anos", diz Patrícia Carvalho, ginecologista e obstetra que atende no Núcleo de Medicina Afetiva, em São Paulo, voltado para o acolhimento da população de mulheres que fazem sexo com mulheres.
A diferença do atendimento tem que estar na estratégia de acolhimento", diz a ginecologista Mariana Vizza, fundadora da Casa Irene, centro de cuidado ginecológico com autonomia e respeito, em São Paulo.
O que eu preciso saber é como é a vida sexual de cada um, independente de sua sexualidade. O médico precisa ser neutro, não importa o tipo de penetração", completa. Segundo ela, seja isso feito com um pênis, mão, língua, vibrador, o exame de papanicolau sempre será necessário.
Para Carla Cristina Marques, especialista em medicina de família e médica no ambulatório de saúde da mulher do Coletivo Feminista Sexualidade e Saúde de São Paulo, é sempre importante fazer questionamentos a paciente sem que haja julgamentos frente às suas escolhas. 
Para poder proporcionar um cuidado integral à saúde da pessoa, avaliar questões de saúde mental relacionadas à lesbofobia e orientar adequadamente quanto à necessidade de exames", diz.
Um estudo feito pelo Women's Health Issues Jornal comparou as chances de irmãs, uma lésbica e outra heterossexual de ter câncer no seio. Foram entrevistadas mulheres de mais de 40 anos no estado da Califórnia e concluiu que mulheres bissexuais e lésbicas têm mais chances de desenvolver diversos tipos de cânceres, entre eles nos seios e o ovário, provavelmente por irem menos ao médico. Outro estudo recente da Sociedade Americana de Câncer concluiu o mesmo.
Isso provavelmente está relacionado às barreiras que enfrentam para acessar os serviços de saúde", explica Carla.
Sexualidade ainda é um tabu

Laura deixou de ir aos médicos porque chegou a ouvir em um consultório que ela tinha que "dar uma chance para os meninos", já que, na época, nunca tinha experimentado relações sexuais com homens.
Lembro de ter contato com a médica que era por causa da minha parceira que tinha a procurado e ela fez um discurso sobre como eu precisava ter filhos, como se minha sexualidade fosse me distanciar da maternidade. E que eu precisava dar uma chance para os meninos", disse Laura.
Na hora de pedir ajuda sobre como se proteger, ela afirma que a médica disse qualquer coisa, como se o que ela fizesse nem fosse relação sexual.

Isso fez com que Laura se afastasse dos consultórios por muitos anos. 
Fiquei muito tempo sem ir por ser constrangedor. As perguntas iniciais eram sempre do mesmo jeito, presumindo que eu era heterossexual", conta. A essa altura, Laura já tinha tido relação com alguns homens, mas se relacionava majoritariamente com mulheres.
Até que encontrei um coletivo feminista e tive a primeira consulta na minha vida com alguém que não me desqualificou. Pelo contrário, foi acolhedora como outros médicos nunca foram", conta. Não à toa, ainda há muitas mulheres com vergonha de se abrir para suas relações, mesmo dentro do consultório médico.
Ainda falta capacitação para profissionais de saúde abordarem adequadamente questões de sexualidade. Escuto muitos relatos sobre indicação de pílula anticoncepcional sem que se questione quais relações aquela pessoa tem, por exemplo", diz Carla. Ela é uma das médicas que atende no coletivo onde Laura se sentiu acolhida.
A OMS recomenda que todas as consultas de rotina tenham perguntas sobre a vida sexual. E na faculdade já somos instruídos a perguntar sobre práticas sexuais antes de questionar sobre contracepção. Assim, a pergunta fica aberta e dá espaço para a mulher responder", diz Mariana.
Mesa de exames e doenças

Assim como Laura relatou em sua história no começo dessa reportagem, mulheres lésbicas e bissexuais também podem ter ISTs. Por isso, é importante a realização de exames no consultório médico. Eles não estão relacionados ao tipo de penetração, e sim, a doenças mais comum de serem desenvolvidas em mulheres. "Não tem diferença na questão do exame físico", diz Patrícia.

O cuidado só muda, mas ainda com exame, é caso a mulher nunca tenha tido nenhum tipo de penetração - não só aquela que envolve um pênis.
Tanto a mão quanto brinquedos sexuais compartilhados durante o sexo pode levar o vírus para dentro do organismo, por isso é necessário fazer sempre o Papanicolau", diz Mariana.
Carla afirma que a transmissão de HPV, clamídia, trichomonas, sífilis, gonorreia, herpes e HIV pode acontecer do contato com os fluidos, como sangue menstrual e secreção vaginal, e acessórios e também da própria mucosa vaginal ou anal quando em contato com boca, mãos e vagina da parceria. Isso sem contar que não há métodos de prevenção a doenças tão eficazes apenas para mulheres como há em uma relação heterossexual.
A orientação é fazer exames de ISTS regularmente, usar preservativo em acessórios e trocar quando outra pessoa for utilizar. É bom também manter unhas curtas, evitar contato com sangue menstrual", diz Carla.
Ela também indica a vacinação para hepatite B e HPV.
Um cuidado é não estigmatizar a relação lésbica, pois faltam estudos adequados sobre esses métodos, e colocar ainda mais barreiras para que se tenha prazer", concluí.
Clipping 'Lésbicas ficam até 20 anos sem ir ao ginecologista por medo', diz médica, por Rafaela Polo, Universa, São Paulo, 07/07/2022

Métodos de reprodução assistida para casais de mulheres que querem engravidar

sexta-feira, 21 de fevereiro de 2020 0 comentários

FIV, método ROPA, inseminação: como casais de mulheres podem engravidar

Lésbicas podem recorrer a tratamentos de reprodução assistida para ter um filho biológico. Conheça as opções disponíveis e o que dizem os médicos.

Desde 2015, o Conselho Federal de Medicina autoriza procedimentos de reprodução assistida para casais de mulheres, e os ginecologistas notam o aumento da procura delas nos consultórios e clínicas dedicados ao assunto. 

Mesmo assim, lésbicas ainda têm dificuldade para encontrar informações confiáveis sobre o assunto na internet. Pensando nisso, fomos atrás dos principais métodos disponíveis hoje no Brasil. Confira!
  
As possibilidades da fertilização in vitro (FIV) 

É considerada a técnica com maior taxa de sucesso. “Os índices de gravidez são maiores do que os dos casais heterossexuais que buscam tratamento, pois estamos falando de duas pessoas potencialmente férteis”, comenta Caio Parente Barbosa, ginecologista do Instituto Ideia Fértil de Saúde Reprodutiva. 

Na FIV, a ovulação da mulher é estimulada durante um período específico com injeções de hormônio. Quando os óvulos atingem o tamanho adequado, são extraídos e inseminados artificialmente por espermatozoides de um doador anônimo. Depois de alguns dias numa incubadora artificial, os óvulos fertilizados são transferidos para o útero da mulher.

Para as lésbicas, há algumas opções a partir daí. Na mais simples, uma das parceiras pode gestar seu próprio óvulo. Outra possibilidade é implementar o óvulo de uma no útero da outra. Este processo é chamado de gestação compartilhada ou método ROPA.

Gestação compartilhada 

Neste cenário, as duas mulheres passam por uma bateria de exames que avaliam a capacidade reprodutiva, anatomia uterina e decidem quem será a doadora do óvulo e quem irá gestar. Além das questões reprodutivas, fatores como idade e doenças crônicas como diabetes ajudam na escolha. 
Podemos ainda estimular a ovulação das duas e fertilizar os óvulos de ambas com o sêmen do mesmo doador, assim as duas engravidam simultaneamente”, comenta Gustavo Teles, ginecologista e obstetra especializado em reprodução humana da Huntington Medicina Reprodutiva.
Só não dá para gerar um bebê com o material genético das duas mães. Contudo, uma técnica permite retirar o óvulo das duas e fazer o processo sem saber quem é a dona, desde que ambas estejam aptas fisiologicamente tanto para fornecer quanto para gestar. 
O único inconveniente é que, se a criança ficar doente, a informação genética pode ser importante, aí será preciso fazer exames mais tarde, depois que ela nascer”, explica Parente.
Inseminação artificial

Nesta técnica não se retira os óvulos, pois a inseminação é feita diretamente no útero de uma das mulheres. Primeiro, ela passa por um processo semelhante de estimulação, com uma dosagem menor de hormônios — é possível esperar o ciclo natural da mulher, mas as taxas de sucesso são maiores com a intervenção, que é segura para a saúde. 


No período adequado, é feita a introdução do sêmen doado diretamente no útero da mulher. “É indolor e não necessita de ambiente cirúrgico, pode ser feito no ambulatório”, comenta Arnaldo Cambiaghi, ginecologista-obstetra diretor do Centro de Reprodução Humana do Instituto Paulista de Ginecologia e Obstetrícia. 

Como é mais simples que a FIV, seu custo também é menor, na faixa dos três mil reais. O contraponto é a taxa de sucesso menor, já que é preciso esperar a natureza agir naturalmente. Se não der certo, será preciso pagar pelo processo todo de novo. 

A escolha do doador

Pela lei, o doador deve ser anônimo, mas as futuras mães podem escolher traços físicos e comportamentais, como cor dos olhos, cabelos, estatura, profissão e hobbies. Há bancos de sêmen nacionais — mais acessíveis, mas com poucas opções disponíveis, o que pode dificultar a escolha por um doador com as características desejadas.

Clipping FIV, método ROPA, inseminação: como casais de mulheres podem engravidar, por Chloé Pinheiro, Bebê.com.br, 22/01/2020. Crédito imagem: Reproducción asistida en mujeres homosexuales: ser madres lesbianas

Lésbicas e bissexuais ainda têm problemas com ginecologistas

quarta-feira, 5 de fevereiro de 2020 0 comentários

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Medo de preconceito não deve impedir visitas à ginecologista


Aos 22 anos, Monica precisou de um atendimento ginecológico e foi em uma situação de emergência no pronto-socorro da rede pública da capital paulista. "Eu estava com muitas dores na barriga, com enjoo e tontura. Um ginecologista me atendeu e falei já que era lésbica (várias vezes) e que não tinha chance alguma de eu estar grávida. Ele insistiu muito, chegou a ser desrespeitoso".

Monica conta que todas as vezes que passou por um atendimento ginecológico, a experiência foi péssima.
Os médicos são despreparados para lidar com mulheres lésbicas. Na primeira consulta eu tinha 15 anos e o médico me passou anticoncepcional. No exame, senti muitas dores, foi um incômodo terrível. O aparelho podia ser menor ou apropriado", desabafa.
Ela está há muito tempo sem ir a uma consulta ginecológica pois está traumatizada.

Vida sexual ativa

E o mesmo aconteceu com a recepcionista Tatiana Silva, 26, em um dia que estava com dores na barriga.
Em todas as consultas, os médicos só perguntam se tem vida sexual ativa e se toma contraceptivo. Nesse dia foi feito exame da vulva, que consiste em avaliar as estruturas, pele e mucosas do órgão genital externo feminino, e eu sentia muita dor, pois não era algo habitual para mim. A médica me tratou com rispidez e agressividade, pedia para eu ficar quieta. Fiquei com dor o restante do dia".
Tatiana conta que nas primeiras vezes que se consultou com ginecologista — sendo homem ou mulher, não se sentia à vontade para falar sobre sua sexualidade.
Eu tinha vergonha, medo de como o médico iria reagir. Na outra vez, pediram exame de gravidez, mas eu já tinha dito que não havia chance alguma de estar grávida. Na última consulta, comentei que era lésbica, e ele disse: metade dos problemas está resolvido. Achei que ele reagiu de forma positiva. Mas só comecei na me abrir com a maturidade mesmo".
Sexualidade parece doença

Daniela Romanenko, 26, manicure de publicidade, conta que sempre teve problemas em consultas no ginecologista.
As perguntas eram as mesmas, mas eu não falava que era lésbica - não me sentia à vontade-. Só perguntavam se eu me prevenia e se estava tomando anticoncepcional, as perguntas sempre são direcionadas para quem é hétero. Cheguei a achar que minha sexualidade era doença".
Mas Daniela viu a diferença no atendimento quando se consultou em uma clínica particular.
A médica me perguntou se eu tinha parceiro ou parceira, nesse momento eu já senti a diferença. Fui acolhida e a conversa foi ótima, ela abriu a minha mente. Fiquei sabendo sobre camisinha feminina e outros detalhes. Fiz até ultrassom. Acho que atendimento deveria ser sobre vida sexual e não sobre parceiro sexual".
A assessoria de imprensa da Secretaria Municipal da Saúde de São Paulo esclarece que disponibiliza informações sobre prevenção às ISTs (Infecções Sexualmente Transmissíveis) através do aconselhamento singular de acordo com as práticas sexuais de cada mulher, tanto nas Unidades Básicas de Saúde (UBSs) quanto nos 26 serviços da Rede Municipal Especializada (RME) em DST/Aids. Essas unidades também ofertam tecnologias diversas de prevenção, como preservativos masculino (externo) e feminino (interno), gel lubrificante e testagem.

Assunto vira livro

Quais os aparelhos são utilizados para exames ginecológicos para mulheres lésbicas? São as mesmas para todas as mulheres? E os métodos para prevenção de doenças? Essas foram as questões que fizeram a jornalista Larissa Darc, de 22 anos, escrever um livro sobre o assunto: "Vem cá: vamos conversar sobre a saúde sexual de lésbicas e bissexuais".
Fiz o livro sobre o que tinha acontecido comigo e foi impactante para mim e para outras meninas. Existe um sistema que exclui mulheres que procuram assistência médica", desabafa. Após várias pesquisas e entrevistas com especialistas, Larissa concluiu que mulheres lésbicas e bissexuais não recebem atendimento adequado porque elas não têm acesso a dispositivos para proteção. Existe um sistema que historicamente negligenciou a saúde das mulheres e um sistema heteronormartivo e invalida todas as relações que não são hetero".
Para esclarecer

A Secretaria Municipal de Saúde informa que os métodos de barreiras tradicionais às ISTs também devem ser utilizados por mulheres que fazem sexo com outras mulheres. São sugeridas adaptações nas camisinhas externas e internas para proteção no contato com a vulva, e a utilização do preservativo também nos acessórios usados durante a relação sexual, trocando no caso de compartilhamento entre as parceiras. É importante ressaltar que o contato com o sangue da menstruação oferece grandes riscos de infecção pelo HIV e hepatites.

Após pesquisas para produção do livro, Larissa questiona a posição da Secretaria.
Esse discurso que existem métodos de barreiras de doenças - feito para mulheres que fazem sexo com mulheres -, onde orientam para recortar a camisinha, etc.. essas adaptações e "gambiarras" não são eficazes, não tem estudos que comprovem isso, pois não cobrem a vulva toda. São desconfortáveis".
Larissa acrescenta ainda que quando médicos e médicas informam que existem essas adaptações há um grande problema.
Estamos silenciando algo que está errado, pois precisam ter estudos e são focados nos métodos heteronormativos e são feitos para mulheres que fazem sexo com mulheres", afirma.
Após a publicação do livro, Larissa conta a repercussão sobre o tema.
Comecei a ser chamada para falar nos lugares em diferentes espaços para promover conversas sobre o tema. Trocar informação é uma coisa tão importante porque na escola a gente só recebe a informação da relação que é heteronomativa, só aprende sobre sexto hétero, e depois a gente não tem mais espaço para conversar sobre isso".
A Secretaria informa ainda que as mulheres lésbicas e bissexuais devem realizar, regularmente, o exame de Papanicolau. E que os aparelhos utilizados nos exames ginecológicos e proctológicos pela rede são os mesmos para todas as mulheres. As UBSs e as RME DST/Aids realizam ainda exames para HIV, sífilis e hepatites B e C. A SMS possui um Comitê Municipal LGBTI (portaria nº 499/2019), que tem por objetivo implementar a Política Nacional de Saúde Integral de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais nas unidades de saúde.

E em relação ao exame Papanicolau, existem tamanhos diferentes de espéculos e em todos os postos de saúde deveriam oferecer.
Esses exames devem ser feitos por mulheres que nunca tiveram relação sexual e precisam fazer preventivo e mulheres que fazem relação com a penetração de um pênis também. E em relação ao HIV a troca de sangue aumenta o risco realmente, mas existem outras doenças tão importantes quanto, estamos expostas a diversas infecções".
Com relação às pesquisas sobre o tema, a SMS disponibilizou pesquisa sobre sexo seguro relacionadas à saúde da mulher lésbica ou bissexual:

> Uso de preservativo em todas as relações com homens - 45,5%;
> Uso de preservativo em todas as relações com mulheres - 2,1%;
> Motivo do não uso do preservativo:
> não viu necessidade (42,4%)
> confiança na parceira (17,3%)
> desconhecimento (16,5%)

Cuidados com a Saúde:

- 46,9% realizam consulta ginecológica anualmente;
- 53,1% não realizam consulta ginecológica anualmente;
- 62,8% realizaram teste anti-HIV

Clipping Mulheres bi e lésbicas contam o que viveram em consultas no ginecologista, Priscila Gomes, Universa, 30/01/2020

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