Chanacomchana 5: resgate e edição comentada

sexta-feira, 23 de junho de 2023

CCC 5 Maio 84 © Coleção Chanacomchana. Míriam Martinho

Em dezembro de 1982, era lançado o primeiro número do boletim Chanacomchana (ver resgate do CCC 1 aqui, CCC2 aqui, CCC 3 aqui, CCC 4 aqui), seguido de outros 11 números. Neste artigo, abordo o ChanacomChana 5, não sem antes falar do contexto histórico e político de onde o periódico emerge, fundamental para entender sua produção e conteúdo (ver mais informações aqui).

Grupo Ação Lésbica-Feminista (GALF) e sua primeira publicação, o boletim Chanacomchana, nascem durante o primeiro ciclo do MHB (Movimento Homossexual Brasileiro) também chamado de ciclo libertário (78-83/84) porque nele prevaleciam as ideias da Contracultura, aquele grande guarda-chuva de movimentações e movimentos socioculturais e comportamentais que se inicia já nos anos 50, percorre as décadas de 60 e 70, terminando no início dos anos 80. Retomando elementos do anarquismo e do romantismo, a Contracultura vai priorizar a revolução individual, politizando o cotidiano e as inter-relações humanas (o privado é político) e retomando a máxima gandhiana de que as pessoas tinham que se tornar a mudança que queriam ver no mundo. Não havia interesse na tomada de poder do Estado, objetivo dos partidos políticos, mas sim na revolução molecular dos grupos discriminados e oprimidos que unidos superariam a incompetência da América católica e seus ridículos tiranos (Enquanto os homens exercem seus podres poderes, índios e padres e bichas, negros e mulheres e adolescentes fazem o carnaval - Caetano Veloso).

Na prática, os grupos daquele incipiente movimento se preocupavam com a não reprodução da política tradicional, suas hierarquias, disputas de poder, discursos da boca para fora, e tentavam (com pouco sucesso) não reproduzir suas mazelas. Nesse sentido também, pregavam a autonomia dos movimentos sociais em relação aos partidos políticos, uma das bandeiras de maior bom senso daquela época. O GALF era tributário dessas ideias (vide o texto Autonomia), via esquerda libertária, das ideias do feminismo de segunda onda, com seu questionamento dos papéis sexuais, e das correntes do separatismo lésbico do também incipiente movimento lésbico internacional. Nem o GALF nem o ChanacomChana refletem qualquer luta contra a ditadura militar que, aliás, já estava em seus estertores. Tal fato pode ser constatado facilmente pela simples leitora dos Chanas onde não se encontram sequer informes referentes ao regime militar. O GALF e suas publicações foram, de fato, insurgências contra a ditadura da heterossexualidade obrigatória praticamente onipresente do período.

A Revolução DIY
Todo esse amálgama de ideias e inspirações aparecem nas páginas do Chanacomchana do seu período inicial e nele permanecem no período posterior, de 1985 em diante, apesar do afã revolucionário contracultural do MHB ir sendo paulatinamente substituído pelo reformismo pragmático de grupos como o GGB e o Triângulo Rosa.

Também do ponto de vista gráfico, o CCC vai seguir a ética e a estética contracultural do "Do It Yourself - DIY" (Faça você mesmo) matriz, entre outras produções, dos fanzines produzidos artesanalmente, com colagens e mistura de tipos gráficos, e, no conteúdo, com uma miscelânea de textos políticos, tirinhas, desenhos, poesias, depoimentos, notícias e app arcaico de namoro (o Troca-cartas). Nas vendas, o corpo a corpo junto ao público-alvo ou, posteriormente, via correios através do sistema de associação.

Chanacomchana nº Edição comentada

Sumário

GALF: 5 Anos de Opção - p.2
Informes e cartas (início) - p. 2
Ser ou Estar Homossexual - p. 3-5
Amor de Cartas - p. 5
Poesia - p. 6
As lágrimas amargas de Petra Von Kant - p. 7-9
Desarmamento Nuclear - p. 9-13
Amor de Cartas (final) - p. 13-14
Informes e cartas - p. 14 

GALF: 5 anos de opção e informes (Míriam Martinho)

Esse meu texto faz parte do primeiro período do GALF quando o coletivo ainda incorporava o histórico do coletivo lésbico feminista que o precedeu.  No texto Memória Lesbiana: 41 anos do Grupo Ação Lésbica Feminista (GALF) entre fato e ficção discorro longamente sobre o tema. Destaco aqui dois trechos desse texto:
Só a partir de meados de 85, nos cai de vez a ficha de que a suposta continuidade entre os dois coletivos não só nunca existiu de fato como, ao contrário, na verdade, o que houve foi ruptura entre ambos, ruptura e abandono. A maioria das lésbicas que participou do lésbico-feminista ou deixou a militância ou se meteu no armário do heterocêntrico movimento feminista do período, algumas inclusive agindo paradoxalmente como agentes de invisibilização lésbica. Em consequência, já nos ChanascomChana de 9 a 12 (dez. 85- maio 87), cessam os históricos do GALF, onde aparecia incorporada a trajetória do LF (nos números 11 e 12 do Chana desaparece inclusive o logo LF), processo que continua nos boletins Um Outro Olhar, do número 1 ao número 10, também publicados pelo GALF.
No final de 1986, num histórico do ChanacomChana para associadas do GALF, eu já fazia um ajuste de contas com os fatos e separava o GALF do LF (ver mais no tópico sobre a segunda fase do GALF). E, no último histórico do GALF que publiquei no boletim Um Outro Olhar 9, de novembro de 1989, de fato um balanço da primeira década de mobilização lésbica no Brasil, 1979-1989: 10 anos de movimentação lésbica no Brasil (p.8-17), repito essa conscientização aí já para lá de consolidada. Nesse balanço, o histórico do Grupo Lésbico-Feminista é apresentado como realmente se deu, de maio de 1979 até meados de 81 (oficialmente até outubro de 1981), e o do Grupo Ação Lésbica Feminista (GALF), a partir de outubro de 81 até seu término extraoficial no final de 1989. Essa separação não foi, claro, uma negação dos históricos que escrevi nos primeiros números do ChanacomChana, que incluíam as atividades do LF como parte das do GALF, mas sim um ajuste de contas com os acontecimentos e uma depuração da identidade dos dois coletivos que de comum só tiveram mesmo duas ativistas e o termo lésbico-feminista.
Informes e cartas (início)

a) Registro de um dos efêmeros grupos lésbicos da década de 80, Grupo Libertário Homossexual de Salvador (BA). A década de 80, sobretudo depois de 84, vai dar continuidade ao grande refluxo do Movimento Homossexual, iniciado em meados de 1981, com uma diminuição drástica de grupos de gays e lésbicas. A diferença é que os poucos grupos gays se mantiveram por mais tempo enquanto os lésbicos não perduravam.

b) Destaco esse informe porque ele se assemelha em muito aos ataques que os transativistas fazem contra lésbicas atualmente. Inclusive no que se refere a ataques a espaços exclusivamente lésbicos e às mensagens, hoje pelas mídias sociais, com ameaças de estupro e espancamento para lésbicas que rejeitam a misoginia e a lesbofobia (assédio sexual) desse ultrarreacionário movimento de héteros fetichistas.

CCC 5 - p. 2



Ser ou estar homossexual: eis a questão? (Míriam Martinho)

Ser Ou estar Homosssexual, eis a questão? © Míriam Martinho

Este foi o segundo artigo que escrevi sobre o tema da identidade homossexual que predominou no movimento homossexual dos anos 80. Embora o tema tivesse emergido principalmente a partir do artigo, publicado na Folha de São Paulo, em janeiro de 1982, pelo antropólogo Peter Fry, ele continuou reverberando por toda a década, de forma mais intensa até 1985 e mais atenuada no restante do período. Tanto que o abordei nos Chana 2 (clique no link para ver a primeira abordagem) e neste 5. 

Neste artigo, eu aponto que me parecia risível alguém ficar amarrado a uma identidade à própria revelia, pois se argumentava que, por se declarar homossexual, gays e lésbicas traçavam um destino inexorável do qual jamais poderiam escapar. Depois, que não se assumir homossexual não mudava o fato de que a homossexualidade era discriminada e a heterossexualidade não e que, na prática, héteros e homos estavam sim separados pela realidade social. 

CCC5, p. 3-4

Pondero que a solução mais viável, para não se recair em limitações identitárias, era bem mais combater a ideia da homossexualidade como terceiro sexo, ainda bastante presente nos discursos da época, apresentando gays e lésbicas apenas como homens e mulheres de diferentes classes, etnias e individualidades. E questionar os comportamentos femininos e masculinos (os estereótipos de gênero) exigidos de mulheres e homens que tanto restringiam (e restringem até hoje) os potenciais individuais dos dois sexos. Argumentava que: 

CCC5, p.4

Argumentava então que se assumir como lésbica tinha mais a ver, por um lado, com a busca de uma vida de mais prazer, integridade, alegria e sem mentiras e autopunição. E por outro que se tratava de  uma declaração política de autonomia da sexualidade feminina à época ainda tão profundamente heteronormativa. O chamado lesbianismo político era uma das grandes influências do GALF, embora no sentido mais restrito de abordar a questão lésbica como além de uma simples variante da sexualidade humana, uma mera opção sexual. Buscávamos contextualizar a lesbianidade como uma ruptura da heterossexualidade obrigatória e uma possibilidade de realização pessoal e sexual com outras mulheres.

CCC5, p.4

CCC5 - p.4

Vendo em perspectiva, continuo considerando a homossexualidade em geral e a lesbianidade em particular como sapos que o patriarcado não consegue engolir direito. Observa-se isso ao ver como o sistema tem se articulado, no Ocidente, para renaturalizar os estereótipos de gênero de feminino e masculino através da ideia de que um homem que se identifica com o estereótipo de gênero feminino (um monte de convenções sobre o que é ser mulher) está no corpo errado e seu corpo deve ser submetido a cirurgias e hormônios sintéticos para parecer com o corpo certo a fim de representar o gênero feminino, ou seja, simular o corpo do sexo feminino. E uma mulher que se identifica com o gênero masculino (um monte de convenções sociais sobre o que é ser homem) também está no corpo errado e deve consertá-lo para parecer com o corpo de alguém do sexo masculino, o corpo certo para representar o gênero masculino. Sendo tanto gays quanto lésbicas (mais estas) grandes inconformistas de gênero, ambos têm sido particularmente atingidos por essa chamada ideologia de gênero que, para qualquer olhar mais atento, não esconde sua misoginia e homolesbofobia, No Irã, onde até se condena gente à morte por homossexualidade, o estado chegou a pagar as tais cirurgias de mudança de sexo (deixou de pagar recentemente), como se tal coisa fosse possível. Nem que seja através de simulacros de mulher e de homem, as relações têm que ser entre pessoas que interpretam os estereótipos de gênero feminino e masculino e simulam casais heterossexuais. 

O potencial disruptivo da lesbianidade, em particular, continua presente, embora deva ser relativizado por outros elementos que compõem a vida de qualquer indivíduo de qualquer grupo discriminado. E a questão identitária se mostrou realmente problemática, mas penso que por ter passado a ser adotada a partir de uma posição essencialista e não meramente funcional. Como já pontuei no CCC2, "passados 40 anos, o apontamento sobre os perigos dos identitarismos do início dos anos 80 parece fazer mais sentido hoje do que outrora. A meu ver, o problema foi que da criação de sujeitos políticos a fim de se reivindicar direitos, numa perspectiva funcional, passou-se a uma visão essencialista das identidades, a uma redução dos grupos discriminados à condição unidimensional e inescapável de vítimas, ironicamente despindo esses grupos da posição de sujeitos políticos e de indivíduos em toda a sua complexidade. Questão espinhosa, o fato é que, se hoje ela se apresenta como realmente problemática, no início dos anos 80, tinha ares de discussão bizantina."

Amor de Cartas (tradução Míriam Martinho)


Amor de cartas é a tradução que fiz de uma matéria sobre as mulheres na Europa Oriental (lembrar que o Muro de Berlim só iria cair em 1989) publicada originalmente na revista americana Connexions, n. 5. 1982. Na década de 80, havia muita curiosidade a respeito de como gays e lésbicas se viravam sob os regimes totalitários comunistas. De Cuba, os campos de reeducação, para homossexuais que não se encaixavam na concepção de "homem novo" da tirania castrista, já eram conhecidos (ver Che Guevara era homofóbico). De outros países sabíamos bem pouco. Nesta entrevista, uma lésbica da então Alemanha Oriental relata a situação precária das sapatas sob o tacão de um regime onde o Estado definia até o tamanho do apartamento onde você podia viver.
CCC p.5

Ela relata que as lésbicas e os gays se reuniam em bares (sempre eles), onde às vezes podiam alugar quartos para namorar, ou em festas particulares. Que desconhecia haver associações para gays e lésbicas, mesmo de cunho privado, mas, se existissem, eram clandestinas, pois o governo as fecharia se descobertas. Um café, de encontro de homossexuais alemães ocidentais e orientais, havia sido fechado pelo governo pelo receio de que as interações entre eles alimentassem a insatisfação contra o regime comunista.

Relata também que havia um grupo de 8 a 15 lésbicas que se reuniu com psiquiatras por 2 anos, respondeu questionários onde se aventava a possibilidade da lesbianidade como doença, a despeito das lésbicas rejeitarem a ideia de cura. Para os pesquisadores, a lesbianidade era fruto de isolamento, mas eles tentaram buscar outras causas, inclusive físicas, com as mulheres tomando hormônios e fazendo exames de sangue, Segundo ela, o objetivo desse grupo era erradicar a cultura lésbica. 

Quanto a saber de lésbicas que haviam perdido o emprego por sua condição, ela relatou curiosamente que lésbicas não perderiam o emprego, porque todos eram obrigados a trabalhar, mas enfrentariam enorme repressão social se o fizessem (por isso não o faziam). Indagada se conhecia mulheres que viviam juntas, ela afirmou: 
 
CCC 5 - p. 13

Por fim, ela relata que as lésbicas procuravam também se encontrar via anúncios de jornal, a princípio sob o título "Mulher procura mulher para correspondência" e, depois com a proibição desse tipo de chamada, sob o título "Correspondência entre amigos". E que as lésbicas do interior sofriam ainda mais com o isolamento que as da capital.

CCC 5 - p. 14

 

CCC 5 - p.6
Poesia 

Poesia era um espaço que eu definia como "para as lésbicas poderem falar de como era bonito, sensual, gostoso e ótimo amar outra mulher." Nesse sentido, sempre busquei trazer poesias de teor romântico e erótico de autoras conhecidas, como Ana Cristina César e Vange Leonel, e desconhecidas que apreciavam escrever poesias, mais ou menos elaboradas, atividade pela qual lésbicas sempre tiveram predileção.

Nesta edição, portanto, segui novamente essa diretriz trazendo o poema Nada Prático, de Vange Leonel, onde ela traz mais uma vez a temática de suas mulheres fugidias que prometiam, mas escapavam, de gestos com dupla natureza que, a um tempo, esticavam o fio vermelho do desejo e, por outro, cortavam impiedosamente o movimento secreto de um beijo.

Trouxe também duas poesias de Josenilda Duarte de teor erótico (Canto à Mulher e Karina), onde do amor de duas mulheres se formava um só corpo de gozo e para Karina prometia dar um jeito de lhe dar um beijo sabor de queijo do café da manhã e lhe amar, tocando-lhe toda com violência, doce violência!

Ana Cristina C. (1052-1983)
E da Ana Cristina César trouxe:

Ela quis
queria me matar
quererá ainda, querida?
(Poética. p 102)

Na atual reescritura hiperdimensionada do regime militar, já ouvi gente até dizendo que Ana Cristina se referia à ditadura nesses versos, mas nada indica que a poetisa tenha tido problemas políticos no período. A geração mimeógrafo a qual ela pertencia não raro era ambivalente e concisa como um haikai em sua produção. Além disso, Ana Cristina era considerada bissexual e literariamente defendia uma estética partindo do íntimo ao público. Para ela, os escritos íntimos eram a forma mais pura e verdadeira da Literatura. 


CCC 5 - p. 7
As lágrimas amargas de Petra Von Kant (1982-1984) - Célia Miliauskas


De 1982 a 1984, Fernanda Montenegro brilhou na pele da figurinista de alta costura Petra Von Kant, via tradução de Millor Fernandes do roteiro de Rainer Werner Fassbinder para o filme de mesmo nome (também peça). Na história, Petra sofre de paixão não correspondida por uma jovem carreirista e inferior a ela em muitos aspectos. De fato, o roteiro é um tanto autobiográfico, uma transposição das relações de Fassbinder com o seu amante Günther Kaufmann e seu dedicado assistente Peer Raben.

A peça estreou no Rio em 1982 (teatro dos 4), com direção e cenografia de Celso Nunes e elenco inteiramente feminino. Fernanda Montenegro contracenou com Christiane Torlone, Joyce Oliveira, Juliana Carneiro da Cunha, Paula Magalhães, Renata Sorrah e Rosita Thomaz Lopes. Tanto a peça quanto Fernanda ganharam vários prêmios, sendo essa performance da grande atriz considerada um dos ápices de sua carreira.

Célia Miliauskas, então também integrante do GALF, em sua resenha, compara a versão cinematográfica com a da tradução-versão de Millor Fernandes. No caso do filme, ela aborda a história pela ótica das relações de poder e opressão: Petra abandona o marido que a subjugava, após adquirir independência financeira como figurinista, mas leva consigo a mecânica de sua relação heterossexual para as relações com mulheres. Desconsidera sua assistente, Marlene, que a amava, e a ela se submetia e se submete a Karen, jovem modelo ambiciosa que lhe fora apresentada por Sidônia, uma amiga em comum. Petra acolhe a moça e a ajuda na carreira, mas não consegue retribuição à altura de seu desvelo. Desconta sua frustração em Marlene que sofre calada. Já bem-sucedida, Karen abandona Petra rumo a Frankfurt, ao receber telefonema de seu marido. Petra entra num processo autodestrutivo até ter uma explosão emocional diante da mãe, Valéria, revelando amar enlouquecidamente Karen e provocando um choque na senhora que desconhecia a homossexualidade da filha. Após o colapso, Petra se recupera, volta-se para Marlene, tentando uma nova e mais gentil interação, porém a assistente também decide fazer as malas e desaparecer.

Na versão do Millôr, segundo Célia, a história de Petra é a de uma pessoa em busca do amor, um grande amor significando os amantes saberem precisamente o que se passava um com o outro. Como não encontrara tal definição em seu casamento com Frank, Petra decidira abandoná-lo. Para ela: 
CCC 5 - p. 8
Entretanto, ao começar a se relacionar com mulheres, Petra é que não vai conseguir ser duas nem com Marlene, sua assistente dedicada, mas rejeitada, nem com Karen, a jovem modelo por quem se apaixona e que a usa. Depois de superar o sofrimento pela perda de Karen e se recompor, Petra se autoanalisa em conversa com sua mãe, 
CCC 5 - p. 8

Com essa nova consciência, Petra se volta para Marlene em busca de uma nova interação com a assistente dedicada. Pela primeira vez, busca ouvi-la:

CCC 5 - p. 8

Célia termina sua resenha dizendo que preferia a versão do Millôr em vez da original do Fassbinder que via o amor por lentes sombrias. Deste último preferia a frase que considerava melhor morrer do que perder a liberdade.
CCC 5 - p. 9
 


CCC 5 - p. 9

Desarmamento Nuclear - (Rosely Roth)

Desarmamento Nuclear
é o grande offtopic da coleção Chanacomchana, cuja temática era voltada para os direitos homossexuais, das lésbicas em particular, e das mulheres em geral. Os temas de cunho mais macropolítico, como a Constituinte, candidatas a cargos parlamentares etc. giravam de qualquer forma em torno deste mesmo eixo. Não há outros temas macropolíticos nos CCC, algo constatável por sua leitura, ainda que gente desonesta venha tentando atrelá-lo a uma suposta resistência à ditadura militar, em pleno período da redemocratização.

O artigo Desarmamento Nuclear, de Rosely Roth, foi inspirado pela audiência do filme O Dia Seguinte (1983), dirigido por Nicholas Meyer, diretor de várias edições da saga Jornada nas Estrelas. O filme foi lançado nos EUA para a televisão (ABC), mas, no Brasil, passou nos cinemas, causando bastante impacto no período. O enredo trata das consequências de um ataque nuclear à cidade de Lawrence, no estado de Kansas, após a URSS invadir a Alemanha Ocidental, e os EUA revidarem com mísseis nucleares, tornando a guerra fria bem quente (felizmente só na ficção). Como a cidade de Lawrence abrigava várias ogivas nucleares (no filme) foi o alvo preferencial dos soviéticos na troca de bombas. Típico filme catástrofe conta, no entanto, com cenas reais de testes nucleares no meio-ambiente e efeitos especiais compatíveis com as limitações técnicas da época, mas não menos contundentes. Todo o enorme sofrimento da população sobrevivente, após a explosão das bombas nucleares, também é apresentado em detalhes baseados em dados reais. 

Tendo esse filme como gatilho, Rosely Roth, integrante do GALF em 1984, vai escrever um longo texto, baseado, segundo ela, em artigos de revistas e jornais, sobre as possibilidades de uma guerra nuclear. Primeiro, faz um resgate da história da construção da bomba atômica e sua utilização em Hiroxima e Nagasaki. Depois descreve o que ocorreria com o meio-ambiente, a infraestrutura das cidades, os seres humanos, numa guerra nuclear, pintando um verdadeiro cenário de terror. Em seguida, especula o que ocorreria com o Brasil que, embora relativamente distante do epicentro dos ataques (EUA e URSS), não deixaria de receber os impactos catastróficos da destruição do meio-ambiente e da radiação. Isso se não fosse, como aliado dos EUA, atingido diretamente por uma bomba.

Rosely termina seu texto falando obviamente em desarmamento nuclear na base do "vamos acabar com as bombas antes que elas acabem com a gente". Curioso observar que já em 1984, o então presidente Ronald Reagan falava de bombas nucleares localizadas, limitadas, algo que voltamos a escutar agora em função da guerra da Ucrânia. Felizmente, com o decorrer da década de 80, contudo, a Guerra Fria foi esfriando cada vez mais, e, em dezembro de 1987, o presidente americano Ronald Reagan e o secretário-geral do Partido Comunista da URSS, Mikhail Gorbachev, já assinaram o Tratado de Forças Nucleares de Alcance Intermediário, acordo de controle de armas nucleares entre os Estados Unidos e a União Soviética. Logo depois teríamos a queda do Muro de Berlim (09/11/1989), prenunciando o fim da URSS em 26/12/1991, e o início de um período de distensão. 

O mundo respirou aliviado por algumas décadas, mas, em 2018 e 2019, Donald Trump rompeu com o antigo acordo do lado dos americanos e Vladimir Putin pelo lado dos russos. Nesse baile da morte, também se inscreveu recentemente a China, a nova potência a rivalizar com os EUA e a apontar para uma nova Guerra Fria.

No final de seu texto sobre o desarmamento nuclear Rosely afirmava que, até 1994, 30 países teriam condições de ter a bomba. A previsão não se concretizou em termos numéricos, mas a letalidade dos artefatos nucleares de hoje faz os dos da década de 80 parecerem brincadeira. À guisa de curiosidade, vejamos uma tabela com a lista dos países portadores de mísseis nucleares hoje. Vale também a leitura do artigo de onde tirei essa tabela, Arsenais nucleares devem crescer nos próximos anos, diz estudo.




Informes e cartas (final)

Continuidade da página 2, esta página 14, traz alguns anúncios, uma chamada para a assinatura do Chana e cartas de mulheres em busca de correspondência (futuro Troca-Cartas) e uma à procura de um time de futebol onde jogar.


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