Em dose dupla, casal de mulheres amamenta seus dois filhos

quarta-feira, 18 de março de 2020 0 comentários

Casal homoafetivo se olhando enquanto amamentam os filhos gêmeos
Depois de encararem uma fertilização in vitro, Marcela e Melanie compartilharam a amamentação dos bebês graças a indução à lactação  — Foto: Arquivo pessoal/ Igor Dalboni

"Topo. Vamos!” Essas foram duas palavras mágicas usadas pela escritora e educadora Marcela Tiboni, de 37 anos, para aceitar o desafio de compartilhar as dores e as delícias da amamentação com a esposa, a corretora de imóveis Melanie Graille, 30 anos. Juntas, elas amamentaram os gêmeos Bernardo e Iolanda, nascidos em 2018, após uma fertilização in vitro. Assunto pouco divulgado na mídia, a lactação conjunta homoafetiva também foi uma novidade na vida do casal.

O início da relação foi em 2013, durante um curso de pós-graduação, em São Paulo. Desde do começo do relacionamento, o desejo de ter filhos sempre foi latente na vida de ambas.

Em conversa com o Metrópoles, o casal comenta desde do tratamento para a produção de leite até os olhares curiosos na rua e nas redes sociais desde que decidiram pela amamentação homoafetiva.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) é apenas uma entre dezenas de entidades do setor que reforça a importância do leite materno para o desenvolvimento das crianças de até dois anos. Ela deve ser exclusiva durante os seis primeiros meses de vida. A medida reduz em 13% a mortalidade por causas evitáveis em crianças menores de cinco anos.

O processo de fertilização

Apesar de cogitar a adoção, o casal decidiu que queria viver a maternidade por meio da gestação. Elas concretizaram o desejo com a fertilização in vitro, método gestacional em que a fertilização do óvulo é feita em laboratório e, se a evolução for favorável, os pré-embriões são transferidos para o útero da mãe.

No caso de Melanie e Marcela, o doador do sêmen preferiu não se identificar. Antes de realizar o processo, o casal sentiu falta de informação sobre o assunto, sobretudo em um casamento gay.

A cada consulta feita pelo médico, as dúvidas sobre essa nova fase cresciam”, relata Melanie, que gestou as crianças.

Marcela, Melanie e suas crianças

Amamentação em dose dupla

A dupla amamentação veio como uma proposta descompromissada para as duas mães. Apesar de ambas saberem que o método existia, nenhuma delas tinha noção de como aquilo era viável.

Após uma longa pesquisa, o casal seguiu para as consultas com a ginecologista e obstetra Ana Thais Vargas, e a consultora de amamentação Kely Carvalho Torres.

Do quinto ao sétimo mês de gravidez, Marcela tomou anticoncepcional. A medida fazia parte do tratamento e, assim, houve um aumento de estrogênio, progesterona e prolactina. Em seguida, sua menstruação foi interrompida.

Na visão da escritora, o grande diferencial foi utilizar a bomba para ordenha cinco vezes ao dia, durante todos os meses em que Melanie estava grávida.

Hoje, os gêmeos estão com 1 ano e 5 meses e seguem com o aleitamento materno.

As dores e delícias da maternidade

Para Melanie, dividir os sintomas da gravidez com a esposa foi enriquecedor.

As duas viveram o puerpério ao mesmo tempo. Variações de humor que iam de rir muito a chorar “de soluçar” eram sentimentos compartilhados.

A história das duas mães inspirou Marcela a escrever um livro sobre o assunto, batizado de Mama: um relato de maternidade homoafetiva, e lançado no ano passado.
O Mama foi a minha gestação. Colocava nas páginas todos os meus questionamentos em relação a maternidade“, afirma Marcela.

Olhares curiosos

Marcela Tiboni observa os olhares preconceituosos como falta de conhecimento sobre o assunto. A descriminação aconteceu poucas vezes, e é mais comum virtualmente. “Quando saem matérias nas redes sociais, surgem diversos comentários homofóbicos”, garante.

Por amamentar em público, o casal nunca sofreu preconceito, mas, muitas vezes, o ato gera um desentendimento dos indivíduos.
As pessoas veem dois bebês e perguntam que é a mãe, nós respondemos que são as duas. Algumas, se interessam. Outras, viram as costas e vão embora”, conclui.
Clipping Amor sem tabu: juntas, mulheres lésbicas amamentam 2 filhos, Metrópoles, por Fernanda Suassana, 14/03/2020

Casal de mulheres denuncia funcionária do SAC que pediu identificação paterna em RG do filho das duas

segunda-feira, 16 de março de 2020 0 comentários

Casal tenta fazer RG do filho e denuncia homofobia de funcionária do SAC, em Salvador — Foto: Reprodução/TV Bahia

Caso ocorreu em Salvador. Resolução da CNJ prevê, no caso de filhos de casais homoafetivos, que é obrigado constar no documento a nomenclatura 'filiação' sem distinção de paternidade e maternidade.

Um casal de Salvador denunciou uma funcionária do Serviço de Atendimento ao Cidadão (SAC) por homofobia, na capital baiana. As mulheres contam que no momento de emitir o RG do filho, de um ano, a funcionária exigiu que uma delas se identificasse como o pai e a outra como a mãe. Além disso, perguntou a elas quem era o pai da criança.
Chegando lá no guichê, a funcionária de nome Maria de Fátima começou a preencher uns dados quando olhou a certidão de nascimento do nosso filho e viu que tinha duas mães. Ela parou, cruzou os braços e olhou para a nossa cara e falou: quem é o pai?", disse uma das denunciantes.
O caso ocorreu no início do mês fevereiro. Desde março de 2016, uma resolução da Corregedoria Nacional de Justiça (CNJ) sobre a emissão do registro geral prevê, no caso de filhos de casais homoafetivos, que a obrigatoriedade de constar os nomes dos ascendentes não deve haver qualquer distinção quanto paternidade ou maternidade.

Apesar da resolução e da nomenclatura "filiação" na certidão de nascimento, a funcionária não cedeu aos questionamentos do casal.
A gente se assustou um pouco e respondemos:' Não tem pai. Ele é um filho de duas mulheres, inclusive foi feita uma inseminação artificial, como consta na certidão de nascimento, e ele é filho de duas mães'. Ela chegou e disse: 'Alguém vai ter que ser o pai, porque senão não será possível emitir o RG da criança', conta.
O casal disse que se abalou diante da situação e acabou se convencendo com a explicação da funcionária. "A gente ficou meio abalada na hora e falou: 'Então a senhora coloca aí a mãe Flávia e o pai Andréa", revela.

Poucos minutos depois de deixar o SAC, que funciona em um shopping da Avenida Tancredo Neves, a família recebeu uma ligação, pedindo para que retornasse para a correção de um erro.
Chegamos lá no SAC novamente fomos atendidos pelo senhor Gildo. Ele pediu apenas a certidão de nascimento, não justificou qual seria o probleminha. Aí Flávia foi perguntar para ele: 'Ô seu Gildo, é necessário mesmo ter esse nome do pai no documento da criança?' Aí ele disse: Não. Vou corrigir isso mesmo, a questão da filiação, é porque a funcionária é nova e não conhece o procedimento", conta a mãe da criança.
O caso foi registrado na delegacia e uma denúncia também foi feita no Ministério Público do Estado (MP-BA).
Desde que nós assumimos casar, ter filho, a gente sempre lutou pelos nossos direitos. Agora, com o nosso filho, vem mais essa questão de lutar pela nossa família, nossa família existe. Se uma mãe já é algo maravilhoso na vida de uma pessoa, imagina duas?", diz.
Por meio de nota, a Secretaria de Administração do Estado (Saeb) informou que respeita a orientação sexual e a identidade de gênero de todas as pessoas. O SAC lamentou o caso e disse que está apurando a denúncia juntamente com o Instituto de Identificação Pedro Mello, órgão responsável pela emissão de carteiras de identidade. Esclareceu ainda que, na carteira de identidade, não tem distinção entre pai e mãe, consta apenas a filiação.

Clipping Casal denuncia funcionária do SAC por homofobia após mulher pedir identificação paterna em RG do filho: 'Alguém vai ter que ser o pai', 11/03/2020, por TV, Bahia, G1, Bahia

Pesquisa da consultoria PwC afirma que apenas 38% das mulheres lésbicas se assumem no trabalho

segunda-feira, 9 de março de 2020 0 comentários

Glébia (à direita) e Karin, que trabalham no banco Citi, conseguiram licença-maternidade dupla, após nascimento de gêmeas Foto: Filipe Redondo
Glébia (à direita) e Karin, que trabalham no banco Citi, conseguiram licença-maternidade dupla, após nascimento de gêmeas. Foto: Filipe Redondo

Quando Karin Bulcão e Glébia Santos decidiram engravidar, em 2013, acharam melhor não comentar de imediato no trabalho. A relação homoafetiva das duas não era pública, e elas receavam sofrer alguma discriminação. Aos três meses de gestação, feita por inseminação artificial, falaram com o gestor e assumiram seu relacionamento.

O casal foi surpreendido com a reação da equipe do banco em que trabalham, o Citi, que, além de celebrar a gravidez — de gêmeas —, as incentivou a tirar licença-maternidade dupla. Atualmente, elas trabalham em esquema de home office três vezes por semana.
No entanto, Karin e Glébia fazem parte de um universo limitado. Segundo pesquisa da consultoria PwC, apenas 38% das mulheres atraídas pelo mesmo sexo se assumem no ambiente profissional, ainda que 65% se sintam confortáveis com sua sexualidade. Elas acreditam que expor sua orientação sexual pode atrapalhar a carreira, mas julgam importante se assumir para trabalhar melhor.
Melhores resultados

A fim de criar um ambiente mais inclusivo e propício à inovação, empresas de diversos setores, como Citi, Carrefour e Cargill, vêm desenvolvendo políticas de diversidade, atentas às questões do público homossexual e de outras minorias.
Conseguir balancear a vida profissional com a pessoal vale mais do que salário. Poder acompanhar o desenvolvimento das nossas filhas é essencial — diz Glébia.
“Sair do armário” no ambiente corporativo ainda é tabu entre o público feminino, segundo levantamento da PwC, que ouviu 1.270 profissionais dos setores público, privado e de organizações não governamentais (ONGs).
Quanto mais sênior uma mulher, maior seu conforto para se assumir no trabalho, o que, para 70% das entrevistadas, está associado à representatividade e ao respeito a pessoas LGBTQ+.
Para a líder de gestão de talentos da consultoria EY no Brasil e América do Sul, Cristiane Amaral, empresas que investem em diversidade têm melhores resultados:
Não adianta fazer inúmeros programas sem criar um ambiente realmente inclusivo. Não é só uma questão de crença, do que é certo ou errado. É uma questão de negócio, lucro e rentabilidade.
Desafio também racial

A pesquisa da PwC mostra ainda que funcionárias de empresas menores são 72% mais propensas a se assumir. A publicitária Priscylla Barros, de 27 anos, não sentia abertura para falar do assunto quando estava em uma grande consultoria. Agora, como diretora de arte na Agência3, onde as mulheres são 65% da equipe, sente maior abertura para se assumir como bissexual.
Em 2018, 35 empresas e ONGs, que juntas empregam mais de 110 mil pessoas no Brasil, assinaram uma Carta de Apoio à Diversidade, ao Respeito e à Inclusão de Pessoas LGBTQ+. Mas esses esforços estão concentrados em poucas empresas, diz Jacqueline Resch, consultora e sócia-diretora da Resch RH:
 A mulher heterossexual já enfrenta desafios enormes para crescer profissionalmente. O que dizer das que fogem desse padrão?
O estudo da PwC aponta que mulheres que estão em um relacionamento são 21% mais propensas a se assumirem no trabalho. Já para a técnica de enfermagem Laura Castro, o maior desafio está na questão racial:
Sempre tive receio mais por ser negra do que em relação à minha sexualidade. Já sofri preconceito racial. Um paciente alegou que não queria que eu o atendesse por ser negra. Acabou sendo cuidado por um colega gay.
Para a analista sênior de segurança e meio ambiente da Shell, Beatriz Bade, os grupos de diversidade na empresa são um espaço de diálogo e reflexão, além de uma oportunidade para planejar ações de inclusão. Lésbica e deficiente auditiva, ela acredita que o engajamento de novos funcionários ajuda a propagar a cultura do respeito:
O preconceito é o medo e o desconhecimento de não aceitar e não ser diferente. É muito bom ter o feedback de quem está chegando na empresa agora. 
Diversidade como estratégia

O Grupo Carrefour busca empregar e desenvolver lideranças de mulheres. Atualmente, 54% da equipe no Brasil é formada por mulheres, das quais 56% são negras. Entre os cargos mais sêniores, elas são 44%.

Até mesmo segmentos historicamente dominados por homens, como financeiro, óleo e gás e tecnologia, estão se engajando em prol da equidade entre mulheres e homens. No ano passado, a Ocyan (prestadora de serviços para o setor de óleo e gás) estruturou seu programa de diversidade.
A companhia já trabalha com a opção de licenças-maternidade e paternidade estendida, além de opção de carga horária parcial.
A Loft, start-up que compra, reforma e revende imóveis, surgiu no mercado há menos de dois anos e traçou a meta de preencher 50% das vagas abertas no primeiro trimestre com profissionais do sexo feminino.
Em crescimento vertiginoso, o negócio é um dos mais novos unicórnios brasileiros e almeja que 30% da área técnica sejam de mulheres. Para Flora Oliveira, responsável pelo programa de liderança feminina da Loft, equalizar as oportunidades entre os sexos faz parte dos negócios.
A Loft já nasceu com um DNA de diversidade, desde o começo da empresa, quando estruturamos o negócio. Queremos revolucionar o mercado imobiliário de tecnologia, mas também a forma como as pessoas trabalham — explica Flora.
O Instituto Brasileiro de Petróleo, Gás e Biocombustíveis (IBP), em parceria com a consultoria Lee Hecht Harrison (LHH), já estrutura a segunda turma de mentoria de liderança feminina no setor de óleo e gás.
As ações precisam ser cíclicas e contínuas, segundo a gerente de desenvolvimento de talentos, diversidade e inclusão da LHH, Mara Turolla:
Não é algo que se faça uma vez, as políticas precisam de continuidade para derrubar o viés inconsciente. Não adianta ter número e não ter autonomia. Cada empresa está fazendo alguma coisa de acordo com o seu momento e sua maturidade junto ao tema.
Com informações de Apenas 30% das mulheres LGBT se assumem em ambiente de trabalho, diz pesquisa, O Globo, 08/03/2020

Humorista Fafy Siqueira namora assistente de produção 30 anos mais jovem

quarta-feira, 4 de março de 2020 0 comentários

Foto da cantora e assistente Fernanda Lorenzoni com a atriz Fafy Siqueira em foto publicada nas redes sociais
Fernanda Lorenzoni e Fafy Siqueira

Aos 65 anos, Fafy Siqueira revelou que está em um relacionamento amoroso com a cantora e assistente de produção Fernanda Lorenzoni. Após se acidentar em casa e quebrar três costelas, a humorista declarou que está sendo cuidada pela namorada. As duas se conheceram quando trabalharam juntas na peça Forever Young, em 2016.

Em entrevista à coluna de Patrícia Kogut, no jornal O Globo, Fafy revelou que foi a companheira que a levou para o hospital após sofrer uma queda de pressão.
Fernanda, minha namorada, é que estava em casa comigo e me levou para a emergência", relembrou.
Fafy e Fernanda posam juntas nas redes sociais há muito tempo. Em abril de 2019, a assistente de produção de 30 anos surgiu abraçada com a veterana.
Anjinho da guarda que Deus colocou na minha vida", declarou a morena.
Em 2020, Fafy fará uma participação no seriado A Vila, do Multishow, em que interpretará Rita Lina, uma homenagem à Rita Lee. Nos bastidores, a atriz posou ao lado da namorada.

Resultado de imagem para fafy siqueira namorada
Diferença de idade não é empecilho para o amor

Sobre a produção de Paulo Gustavo, a humorista declarou que está ansiosa para se recuperar e voltar ao trabalho.
Foi a atuação que mais me deixou nervosa nos últimos 15 anos da minha carreira. Os amigos do elenco até fizeram brincadeiras comigo. Claro que me transmitiram carinho também, mas achei bem difícil", relatou.
A atriz e cantora está longe da televisão desde sua participação no Popstar, em 2018. Durante a competição da Globo, Fafy chegou a reencontrar seu ex-noivo Elymar Santos, que foi jurado do programa em um dos dias de apresentação. A veterana também já ficou noiva do produtor Cássio Reis, de quem se separou em 2014.

Clipping Humorista Fafy Siqueira revela namoro com cantora 35 anos mais nova, por Daniel Castro, Notícias da TV, 01/03/2020

Estudos mostram que casais de gays e lésbicas são mais felizes do que casais heterossexuais

segunda-feira, 2 de março de 2020 0 comentários

Casais de gays e de lésbicas dividem melhor as tarefas domésticas e o cuidado com os filhos


Há cinco anos legalizado em todos os EUA, o casamento entre pessoas do mesmo sexo ainda não matou a união heterossexual. De fato, parece que muitos desses casais poderiam ter um matrimônio mais feliz e satisfatório se tomassem como exemplo algumas atitudes dos homossexuais.

Não faz muito tempo, um grupo de pesquisadores pediu a três grupos de casais casados legalmente — heterossexuais, gays e lésbicos — que mantivessem registros diários de suas experiências de pressão e dificuldades conjugais. E a conclusão foi que as mulheres em casamentos heterossexuais relataram os maiores níveis de estresse psicológico; os homens em casamentos homoafetivos, os menores. Os homens casados com mulheres e as mulheres casadas com mulheres ficaram no meio, registrando graus semelhantes de ansiedade.

Segundo Michael Garcia, principal autor do projeto, o mais impressionante é que estudos anteriores já tinham concluído que as mulheres em geral mostravam um nível maior de desconforto na relação, mas, na verdade, isso só vale para as que são casadas com homens.

Há fortes razões históricas para os casamentos heterossexuais serem sujeitos a mais tensão, desentendimento e ressentimento que as relações homossexuais: o que os distingue através dos tempos não é quantas vezes já foram realizados, mas as distinções gritantes que ditam em relação aos deveres e à autoridade dos parceiros.

Às vezes, um marido exercia autoridade sobre o trabalho de uma mulher; outras, sobre duas ou mais. Ocasionalmente, como em muitas das 80 e tantas sociedades conhecidas pela prática da poliandria, diversos maridos exerciam poder sobre uma única esposa. Até os anos 70, quando uma norte-americana se casava, seu marido passava a tomar conta de sua sexualidade e da maior parte de suas finanças, propriedades e comportamento.

Entretanto, já nessa época muita gente no país rejeitava o casamento tradicional. Ao longo das décadas de 70 e 80, as esposas ganharam igualdade legal em relação a seus maridos e a justiça redefiniu as responsabilidades da união em relação à neutralidade de gênero. Em 1994, a grande maioria da população dos EUA repudiava a necessidade de papéis específicos de gênero no matrimônio, defendendo em vez disso o compartilhamento de responsabilidades.

De fato, a divisão de tarefas domésticas passou a se tornar um componente cada vez mais importante na estabilidade conjugal, e a falta dela, um indicador mais e mais poderoso de conflito. Nas uniões realizadas antes de 1992, os casais pareciam satisfeitos com a mulher como principal responsável pelo cuidado com a casa e os filhos, mas isso mudou: estudos realizados em 2006 concluíram que os mais felizes e mais realizados sexualmente eram os que dividiam o trabalho caseiro e a educação dos filhos mais equitativamente. Aqueles em que a mulher acumulava a maior parte das obrigações domésticas, como a lavagem da louça, registravam os maiores níveis de discórdia.

Apesar disso, pouco menos de um terço dos casais heterossexuais analisados na época conseguira alcançar a igualdade aproximada na divisão do trabalho doméstico. Para a maioria dos heterossexuais, o casamento continua a reforçar o estereótipo de gêneros. Um estudo de 1999 concluiu que, quando um homem solteiro se casava, reduzia sua rotina de trabalho doméstico, em média, em três horas e meia por semana; no caso da mulher, ela aumentava o tempo de tarefas caseiras, aquelas atividades mecânicas que devem ser feitas diariamente, em um volume proporcional.

Quando chegam os filhos, as velhas tradições conjugais se confirmam ainda mais. Joanna Pepin, pesquisadora da Universidade do Texas, e seus colegas descobriram recentemente que as mães casadas passam mais tempo no serviço doméstico do que as mães solteiras e têm tempo de lazer significativamente menor que aquelas que só moram junto com os companheiros. Segundo a especialista me disse, "as expectativas de gênero tradicionalmente associadas ao papel da esposa parecem encorajar as mães casadas a trabalhar mais do que as que não são, e seus maridos a aceitar isso como algo normal".

É aqui que os casais de pessoas do mesmo sexo podem oferecer dicas bem úteis aos heterossexuais casados: uma vez que não podem usar as diferenças atribuídas às diferenças entre homens e mulheres para definir quem faz o quê, eles se baseiam menos nos estereótipos. A tendência dos pais heterossexuais é a de ver tarefas como cuidar dos filhos, lavar a roupa e a louça como parte do pacote atribuído a um dos parceiros; a probabilidade de os homossexuais assumirem obrigações tanto consideradas "femininas" como "masculinas" indiscriminadamente é muito maior.

Como também a de compartilharem os deveres rotineiros. Uma pesquisa de 2015 concluiu que quase metade dos casais homossexuais em que ambos trabalhavam fora dividia a lavagem de roupa, por exemplo, em contraste com os heterossexuais, cujos números não chegavam a um terço. A proporção chegava a ficar gritante quando se tratava do cuidado com os filhos: 74 por cento, em relação a 38 dos casais heterossexuais.

Como estes, entre os pais gays geralmente um se habilita a parar ou reduzir a carga horária de trabalho. Entre os casais de homens, há a mesma porcentagem de pais que ficam em casa quanto entre os heterossexuais; a diferença é que as chances de especificarem "tarefas femininas" àquele que passa mais tempo em casa são bem menores. E também tendem a discutir as preferências individuais de cada um para quem faz o que em casa. Isso é válido principalmente para os gays e talvez seja por isso que eles demonstrem uma satisfação maior com a divisão de tarefas.

Na questão parental, o fato de os pais do mesmo sexo não poderem se encaixar nos padrões de gênero gera algumas diferenças gritantes. Uma análise da American Time Use Surveys de 2003 a 2013 verificou que os homens que tinham parceiras mulheres passavam menos tempo do tempo total e a menor proporção do tempo livre engajados com os filhos. As mulheres com parceiras passavam mais tempo.

Mas os homens com parceiros do mesmo sexo passavam tanto tempo com os filhos quanto as mulheres médias casadas com homens. O resultado? As crianças que moram com pais do mesmo sexo convivem com os pais, em média, três horas e meia por dia; as que têm pais heterossexuais, duas horas e meia.

O estudo também mostra que pais gays e mães lésbicas têm mais probabilidade de interagir mutuamente com os filhos. Em famílias tradicionais, ao contrário, a mãe é quem toma a iniciativa e o pai fica de coadjuvante ou faz atividades paralelas.

Outra vantagem parental para os homossexuais é que eles raramente têm um filho indesejado ou não planejado, o que representa um risco para a parentalidade deficiente. Em 2011, último ano para o qual existem dados disponíveis, 45 por cento das gestações nos EUA foram acidentais, e 18 por cento, indesejadas. Se os oponentes ao controle de natalidade e ao aborto continuarem a ganhar espaço, os pais de mesmo sexo se verão com cada vez mais vantagens nesse aspecto da vida familiar.

Resultado de imagem para casais heterossexual bonequinhos de casamento
Há fortes razões históricas para os casamentos heterossexuais serem sujeitos a mais tensão,
desentendimento e ressentimento que as relações homossexuais

Uma comparação de doze anos em relação à maneira como os casais dão início e lidam com os desentendimentos identificou outras vantagens dos casais homossexuais. Os pesquisadores John Gottman e Robert Levenson concluíram que, em uma briga com o parceiro, gays e lésbicas se comportavam de forma menos agressiva, dominadora e amedrontada do que os indivíduos de sexos diferentes, talvez por não terem de lidar com a mesma bagagem de desigualdade de poder. Assim, usavam mais afeto e humor durante as discussões, tornavam-se menos agitados e se acalmavam mais rapidamente depois.

Mesmo no dia a dia, gays e lésbicas usam métodos mais positivos para influenciar o parceiro, usando o encorajamento e o elogio em vez de críticas, sermões ou apelos para estimular o remorso e a culpa no outro.

Um aspecto positivo característico dos casais gays é que a tendência de discutir abertamente as respectivas preferências se estende também para a sexualidade, incluindo escolhas que podem espantar alguns heterossexuais. Por exemplo, embora a extensão da não monogamia nos relacionamentos homossexuais masculinos seja quase sempre exagerada, as relações oficialmente abertas são mais comuns entre eles do que entre lésbicas e heterossexuais. Muitos inclusive definem acordos detalhados sobre os tipos de contato sexual permitidos fora da relação, sob que circunstâncias e com que frequência.

Notadamente, porém, embora o namoro entre homens seja menos estável do que o das lésbicas e dos heterossexuais, a união formal deles é tão sólida quanto a destes últimos, e mais que as uniões entre mulheres.

A socióloga Virginia Rutter, coautora de "The Gender of Sexuality", alega que os casais heterossexuais poderiam alcançar um nível maior de intimidade e evitar crises destrutivas em seus relacionamentos se também falassem de seus desejos e ambivalências sexuais com mais franqueza.

Por outro lado, os casamentos homoafetivos também são afetados pelas expectativas de gênero que permeiam nossa sociedade, talvez de formas surpreendentes; gays e lésbicas internalizam muitas dessas atitudes, ainda que tenham rejeitado ou modificado os limites que elas impõem, o que torna mais provável o compartilhamento de suas prioridades e hábitos.

A mulher, por exemplo, há muito é socializada para acreditar que dar e receber apoio emocional é uma obrigação rotineira, algo que, como pôr comida na mesa, deve ser feito todos os dias. Para Debra Umberson, socióloga da Universidade do Texas, a mulher tende a se dedicar integralmente à antecipação, compreensão e reação às necessidades físicas e emocionais do parceiro.
Só que isso funciona de um jeito totalmente diferente quando ela está em um relacionamento com outra mulher. Entre lésbicas, há uma reciprocidade muito maior no que se refere ao nível de cuidado; ambas se mostram atentas às necessidades e preferências da parceira, reagindo ativamente a elas. Já no casamento heterossexual, o marido, além de dar como certo esse tipo de atenção, não reconhece a dedicação da mulher e geralmente não vê a necessidade de apoio emocional da parte dela", explicou a professora em entrevista.
Casais de gays também mostram reciprocidade na questão desse desvelo, embora com menos intensidade que as mulheres. Como os homens heterossexuais, os parceiros geralmente valorizam mais a preservação da autonomia emocional e da independência do que o rompimento de barreiras com o objetivo de conquistar uma maior intimidade.
O gay é mais comedido que a mulher, oferecendo cuidado emocional e instrumental ao parceiro quando a necessidade é clara, sem tratar a questão como uma obrigação rotineira; e justamente por isso a tendência é não esperar esse tipo de comportamento, a menos que peça explicitamente — afirma Umberson.
Mas talvez justamente por não ter uma mulher em casa para "controlar" a temperatura emocional, o gay é muito mais consciente que o homem heterossexual da atenção à necessidade de apoio emocional do parceiro, de modo que possa oferecê-la quando realmente for necessária.

O que não significa dizer que os casais de gays e lésbicas têm todas as respostas para os heterossexuais que querem se livrar dos hábitos do casamento tradicional; uma dose dupla de socialização masculina ou feminina também tem lá seus problemas. A mulher se dedica mais a manter e aprofundar a intimidade do que a maioria dos homens e tem uma expectativa muito maior de empatia e apoio emocional. Também monitora a qualidade da relação mais de perto e tem padrões mais altos para ela.

Essas características podem produzir relacionamentos excepcionalmente íntimos e solidários, mas também consomem muita energia e geram estresse e decepção – o que talvez explique por que as relações lésbicas, apesar da alta qualidade, em média, tenham uma proporção maior de rompimento que as parcerias de casais heterossexuais e/ou gays.

Estes, por sinal, também têm vulnerabilidades relacionadas à socialização de gênero. No estudo de Gottman e Levenson, a única exceção à maior positividade dos casais de mesmo sexo ocorria quando um dos parceiros se tornava particularmente negativo na defesa de seu argumento. Nessas ocasiões, o companheiro achava mais difícil levar a conversa de volta para um nível menos beligerante do que os heterossexuais e as lésbicas. É possível que essa tendência de descambar para a hostilidade esteja relacionada com a socialização masculina que gera raiva quando o homem se sente desrespeitado.

Todos nós — heterossexuais, gays ou lésbicas — temos dificuldades em saber como substituir as regras tradicionais de gênero e casamento que frustram nossos valores mais modernos e adaptar/atualizar as que continuam sendo úteis. E o que funciona em algumas relações nem sempre dá certo em outras.

O que é mais um motivo para se abrir à existência e à visibilidade de outros modelos que ofereçam dicas de como tornar o casamento mais bem-sucedido. Kristi Williams, editora do "The Journal of Marriage and Family", por exemplo, se diz curiosa para ver como os norte-americanos de gênero fluido, cada vez mais comuns, negociarão seus relacionamentos.
Com a evolução e a diversificação das famílias, teremos novas oportunidades de aprender mais uns com os outros — ela aposta.
Clipping Estudos mostram que casais homoafetivos são mais felizes. O que eles podem ensinar aos heterossexuais?, por * Stephanie Coontz, O Globo, 26/02/2020 

* Stephanie Coontz, autora de "Marriage, a History: How Love Conquered Marriage", é diretora de pesquisa e educação pública do Conselho de Famílias Contemporâneas.

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...
 
Um Outro Olhar © 2025 | Designed by RumahDijual, in collaboration with Online Casino, Uncharted 3 and MW3 Forum