Casal de senhoras de “Babilônia” não sofre rejeição do público e "Loucura a homofobia não ser considerada crime"

segunda-feira, 6 de abril de 2015 0 comentários


Casal lésbico de “Babilônia” não sofre rejeição do público, segundo pesquisa

Após queda brusca de audiência na faixa das 21h, a Globo antecipou os grupos de discussão sobre Babilônia. A medida acontece, normalmente, após o capítulo 30 de cada novela e serve para que possíveis erros e acertos da história sejam detectados, a tempo de reverter a situação. Segundo os participantes, a trama peca por ter excesso de sexo e pouco espaço para o lado afetivo.

Entre os personagens mais populares estão Regina (Camila Pitanga), Vinícius (Thiago Fragoso) e Teresa (Fernanda Montenegro), admirados pelo caráter ético. Ao contrário das especulações, o casal lésbico entre Fernanda e Nathalia Timberg não foi apontado como pivô da queda dos números, apesar dos líderes evangélicos tentarem boicote. O público mais conservador também se pronunciou, em massa, nas redes sociais para defender a “família tradicional”.

Como medidas de urgência, a emissora incluiu tons claros no logotipo e deixou a fotografia mais vibrante após reclamações pelo tom escuro, típico de produções cinematográficas. Babilônia tem oscilado entre 24 e 30 pontos de audiência em São Paulo, índice bem abaixo da meta para o horário.

Fonte: TV Foco, 04/04/2015

Fernanda Torres fala sobre beijo gay da mãe, Fernanda Montenegro, na TV

Fernanda Torres participou, na quarta-feira, 1 de abril, da coletiva de imprensa da nova temporada da série "Tapas e Beijos".

Mas, como não poderia deixar de ser, a atriz também falou sobre a polêmica do beijo gay, protagonizado por sua mãe, Fernanda Montenegro , e pela atriz Nathalia Timberg na novela "Babilônia".
A mamãe é incrível, e eu falo pra ela: 'Mãe, você é o homem dessa relação'. Não sei se a questão é o beijo das duas, ou o fato de ter acontecido no primeiro capítulo... Não sei se a polêmica foi o beijo, mas acho que a sociedade está mudando e se revelando conservadora, mas isso também merece ser ouvido e visto'".
A atriz completou falando sobre a discussão em torno da criminalização da homofobia no Brasil.
Hoje em dia estamos numa desilusão democrática. 'Babilônia' veio com uma carga onde as pessoas veem uma esperança, uma saída. Envolve a questão da sociedade conservadora, a questão da homofobia não ser considerada crime, o que também é uma loucura. O Brasil está assustado com ele mesmo."
Fonte: Ego, 01/04/2015

Repúdio e manifestações contra lei de Indiana (EUA) que permite a empresários negarem-se a servir casais gays

sábado, 4 de abril de 2015 0 comentários

Imagem publicada pelo governador Pence no Twitter após
assinar a lei na presença de líderes religiosas de Indiana.

Repúdio a uma lei de Indiana acusada de discriminar homossexuais

Norma permite a empresários negarem-se a servir casais gays se considerarem que isso viola sua liberdade religiosa

Uma lei de liberdade religiosa aprovada pelo Estado de Indiana que facilita a discriminação contra gays e lésbicas por parte de empresários que aleguem que, no caso de proporcionar-lhes seus serviços, estariam atentando contra suas crenças, se transformou na mais nova batalha na luta pelo avanço dos direitos dos homossexuais nos Estados Unidos.

O Supremo Tribunal estudará dentro de quatro semanas um caso que pode desembocar no reconhecimento do direito ao casamento dos homossexuais. A sentença sairá daqui há alguns meses, mas foi antecipada como o cruzamento definitivo da última fronteira na batalha pelos direitos civis, e os conservadores estão esgotando seus últimos recursos para impedi-lo.

Hillary Clinton rejeita o passo dado pelo governador Pence e lamenta que essa lei “possa ser aprovada na América de hoje”

É o caso do governador Mike Pence, de Indiana, um político republicano que está pensando em candidatar-se à presidência em 2016, o que pode transformar esse assunto em um dos espinhos da campanha. Nesta semana, Pence assinou em seu gabinete uma lei que protege “as liberdades religiosas que muitos sentem que estão sendo atacadas pelo Governo”.

A lei já havia sido rejeitada por um grande número de organizações e personalidades por sua semelhança com as leis que décadas atrás permitiram a negação de acesso e serviços por motivos raciais. O governador defendeu, entretanto, que a lei não é discriminatória. “Se soubesse que iria legalizar a discriminação, a teria vetado”, assegurou Pence.

A norma estabelece que a partir de 1 de julho, os donos de restaurantes de Indiana poderão negar-se a servir banquetes de casamento a casais do mesmo sexo, por exemplo. Floristas, cozinheiros ou fotógrafos também poderão negar seus serviços a clientes gays se considerarem que isto atenta contra sua liberdade religiosa e serão defendidos pelo Estado se forem acusados de discriminação, tal como assegura o grupo Advance America, que atuou a favor da legislação.

O caso é um exemplo da constante medição de forças na sociedade norte-americana entre os direitos dos cidadãos, frente às regulamentações federais que, segundo os conservadores consideram neste caso, interferem nas liberdades de outros. A lei de Indiana, entretanto, pode ser rejeitada nas cortes, mas os juízes deverão demonstrar que uma pessoa é obrigada a agir contra a religião quando existir um “interesse premente” em impedir a discriminação.

O difícil equilíbrio deste interesse é o que levou o Supremo no ano passado a dar razão a um grupo de empresários religiosos que se negavam a dar determinados seguros médicos as suas empregadas porque cobriam o gasto de anticoncepcionais. Aquele caso ficou conhecido como Hooby Lobby e o fato da Corte reconhecer que a liberdade religiosa dos empresários estava acima do direito das trabalhadoras a esse seguro médico, inspirou essa nova estratégia de Indiana.

A ex-secretária de Estado e possível candidata à presidência Hillary Clinton rejeitou no Twitter o passo dado pelo governador Pence e lamentou que essa lei “possa ser aprovada na América de hoje”. Outra das vozes contrárias à legislação foi Tim Cook, presidente da Apple, que a chamou de “decepcionante”. E o prefeito de San Francisco anunciou o primeiro boicote à lei: a cidade não pagará com dinheiro público nenhuma viagem de seus funcionários à Indiana.

A assinatura dessa lei coincide também com a chegada da final da liga universitária de basquete à Indiana, cujo impacto econômico pode ser reduzido se os protestos continuarem. O ex-jogador Jason Collins, o primeiro atleta do basquete a revelar sua homossexualidade enquanto profissional em 2013, perguntou ao governador em sua conta no Twitter se ele estava “legalizando a discriminação” contra ele quando viajar para assistir à final.

A controversa lei de Indiana coincide também com a advertência da juíza do Supremo Ruth Ginsburg após a sentença do caso Hooby Lobby, ao assegurar que apesar deste caso abordar somente uma pergunta sobre cobertura de anticoncepcionais, a sentença “convidava as empresas a buscar desculpas” para não cumprir normas baseando-se em questões religiosas. “O que acontece se um empresário sentir-se ofendido pelas obrigações de vacinação ou porque não acredita que deva pagar o mesmo para homens e mulheres?”. Segundo a juíza, o Supremo acabou entrando “em um campo minado”.


Fonte: El País, por Cristina F. Pereda, 28/03/2015

Nova lei permite que lojas barrem a entrada
 de casais homossexuais (Foto: Nate Chute / Reuters)

Milhares protestam em Indiana contra lei que discrimina gays
Washington - Aproximadamente, 3 mil pessoas se manifestaram no sábado (dia 27/03) no centro de Indianápolis, capital de Indiana, nos Estados Unidos, para expressar aversão pela aprovação na semana passada de uma lei estadual que permite a discriminação de homossexuais e lésbicas.

Com cartazes, os manifestantes gritaram frases como 'Nenhum ódio em nosso estado' e 'Reparem essa lei', informou a imprensa local. O grupo dirigiu as palavras ao governador de Indiana, o republicano Mike Pence, que aprovou na quinta-feira passada uma lei que dá carta branca aos estabelecimentos comerciais do estado a proibir a entrada de casais de homossexuais em nome da 'liberdade religiosa'.

'Este projeto de lei não é discriminatório. Se eu achasse que legaliza a discriminação de alguma forma teria vetado', defendeu Pence, que disse que a lei garante que 'a liberdade religiosa esteja totalmente protegida sob a legislação de Indiana'.

A medida não provocou apenas críticas das organizações defensoras dos direitos dos homossexuais, mas de líderes empresariais que acreditam que a iniciativa prejudica a imagem de Indiana e dificulta a captação de novos talento.

Contrário à lei, o executivo-chefe da empresa Angie's List, Bill Oesterle, anunciou hoje o cancelamento de seus planos de expansão em Indiana, avaliados em US$ 40 milhões.

Na mesma linha, o prefeito de Seattle (estado de Washington), Ed Murray, informou que proibirá o uso de fundos para viagens de negócios de funcionários públicos da prefeitura a Indiana.

'Os moradores de Seattle sabem que a discriminação não tem lugar em nossa cidade', ressaltou Murray, ao dizer que a cidade 'foi líder na luta para proteger os direitos civis e garantir igualdade para todas as pessoas'.

Fonte: G1, 28/03/2015

Casais de mulheres recorrem à reprodução assistida

quinta-feira, 2 de abril de 2015 0 comentários

Natalie Drew e Ashling Phillips, idealizadoras da clínica
"The Gay Family Web Fertility Centre". Foto/Reprodução 

MÃES HOMOSSEXUAIS RECORREM À REPRODUÇÃO ASSISTIDA
Antes mesmo da aprovação da união civil de casais homoafetivos no Brasil, o Conselho Federal de Medicina já havia aprovado no início do ano o texto que garante a todos os cidadãos o acesso à reprodução assistida, ou seja, casais homoafetivos também podem ser pais e mães não só de coração, mas também biológicos.
Hoje há maior aceitação nesses casos. Antes, casais homoafetivos sofriam muito com questões emocionais, muito mais que casais heteroafetivos", afirma Dr. Arnaldo Cambiaghi, médico especialista em reprodução humana da clínica IPGO - Instituto Paulista de Ginecologia e Obstetrícia. Segundo o especialista, muitos profissionais ainda se recusam a atender casos como esses.
O casal Natalie Drew e Ashling Phillips, 36 e 32 anos respectivamente, Natalie e Ashling disseram terem sentido na pele o descaso e o preconceito quando decidiram ter um bebê, há cinco anos.

Hoje elas têm dois filhos, Gianna, de cinco anos, e Kai, de dois. Natalie gerou Gianna e Ashling engravidou de Kai. O casal afirma que o desgaste emocional e financeiro foi muito grande. Segundo as inglesas, elas foram orientadas a fazer procedimentos muito caros e desnecessários. E depois disso decidiram abrir em março deste ano a própria clinica de reprodução (The Gay Family Web) especializada em atendimento a casais do mesmo sexo.

Aqui no Brasil, a principal mudança diz respeito à permissão da utilização de útero temporário.
O casal pode solicitar que uma mulher da família, até segundo grau, ceda o ventre temporariamente", afirma o Dr. Arnaldo. Em casos como esses, mães, irmãs e primas podem gerar os bebês. "É importante lembrar que obrigatoriamente o óvulo deve ser de uma doadora anônima. A parenta somente irá gerar o feto", esclarece o especialista.
O mesmo vale para casais de mulheres. O espermatozóide deve vir do banco de sêmen. A fecundação é feita in vitro, depois o óvulo fecundado é introduzido no útero da parceira que irá gerar.
Há um caso em que a mãe de um dos rapazes aceitou muito bem a relação do filho. Ela cedeu seu útero para gerar o neto", revela Dr. Arnaldo.
Utilizar o sêmen do irmão de uma das parceiras para fecundar o óvulo da outra também é um pedido comum, já que a intenção do casal é que a criança traga a carga genética das duas mulheres. Entretanto, isso é proibido. Os doares, em todos os casos, devem ser desconhecidos.

Em Portugal, por exemplo, procedimentos como esses são permitidos desde 2006. Com a legalização de casamento entre pessoas do mesmo sexo, a reprodução assistida também passou a ser permitida. Antes somente casais heteroafetivos legalmente casados podiam recorrer a esses tratamentos.

Homoafetivos podem enfrentar mais uma dificuldade após o nascimento do filho. Para registrar a criança no nome do casal é preciso autorização legal. Segundo o especialista não é comum que esta autorização seja negada nestes casos, mas é importante ressaltar mais esta diferenciação entre casais homos e heteros.
O direito da família e o da procriação pertence a todos e é reconhecido na Declaração dos Direitos Humanos, que destaca que, além da igualdade e dignidade, o ser humano tem direito a fundar uma família. O que deve ser feito? O que é certo ou errado? Isso não cabe a mim dizer. É tempo de reflexão", finaliza o especialista.
Fonte:  VillaMulher, por Bianca de Souza (MBPress)

Distrito de Shibuya, em Tóquio, primeiro a reconhecer a união de casais homossexuais

quarta-feira, 1 de abril de 2015 0 comentários

O casal Hiroko Masuhara e Koyuki Higashi exibe faixa agradecendo ao distrito de Shibuya, em Tóquio,
 por ser o primeiro a reconhecer a união de casais homossexuais no país nesta terça-feira (31)
(Foto: Yoshikazu Tsuno/AFP)

Distrito de Tóquio se torna o primeiro a reconhecer uniões gay no Japão

O distrito de Shibuya, em Tóquio, aprovou nesta terça-feira o reconhecimento dos casais do mesmo sexo, com o que se transformou no primeiro município do Japão que dá um passo rumo à equiparação legal das uniões homossexuais.

A iniciativa entrará em vigor amanhã e permitirá a expedição de certificados de união civil a casais homossexuais, o que assenta um importante precedente em um país onde a legislação civil não reconhece direito algum para os casais homossexuais.

Segundo a ordenança aprovada hoje pelo consistório local, estes certificados reconhecerão os casais do mesmo sexo como uniões diferentes ao casamento e não serão legalmente vinculativos.

No entanto, a ordenança inclui medidas para garantir que as uniões homossexuais recebam um status similar ao dos casamentos no momento de receber benefícios fiscais, serviços sociais ou contratos a título partilhado.

Deste modo, o consistório local evitou o empecilho da Constituição japonesa que define o casamento como "união baseada só no consentimento mútuo de pessoas de diferente sexo".

A decisão desse distrito de Tóquio foi recebida com satisfação pelos defensores dos direitos dos homossexuais e por políticos envolvidos na causa, embora também tenha sido criticada por setores mais conservadores e inclusive pelo governo central.

O prefeito de Shibuya, Toshikate Kuwahara, declarou que corresponde agora ao Estado central "atuar para evitar a discriminação dos homossexuais", em entrevista coletiva organizada na semana passada.

Por outro lado, o secretário-geral do governante Partido Liberal-Democrata (PLD), Sadakazu Tanigaki, destacou hoje que a iniciativa de Shibuya "poderia afetar os alicerces do sistema social" do país.

O primeiro-ministro do Japão, Shinzo Abe, também se mostrou reticente a legalizar o casamento homossexual e pediu "cautela" para tratar a questão, já que, segundo sua opinião, "afeta à noção de como devem ser as famílias", segundo disse em um debate parlamentar no último dia 19.

Outros municípios de Tóquio, como o de Setagaya, começaram também a tramitar o reconhecimento das uniões homossexuais.

Fonte: Terra, 31/03/2015

Casais de mulheres e de homens e seus filhos constituem as "novas famílias"

terça-feira, 31 de março de 2015 0 comentários

Família Motta Machado

As novas famílias
Conheça as histórias, repletas de alegrias e conflitos, que representam algumas das configurações familiares cada vez mais comuns no Brasil

Por Roberta Salomone

Marcos amava Fabio que sonhava em ter um filho. Sem planejar, o casal acabou adotando dois. Carol queria ser mãe, e Kika também. Lilian não tinha namorado ou marido, mas resolveu engravidar. A mãe foi a companhia em todas as consultas médicas. Com Adriano, não conhecer pessoalmente os sogros e ter tido uma educação bem diferente da mulher, a canadense Eve, não foram motivos para impedir o casamento deles. Fabiana tinha dois filhos; Gian, outros dois. Foram morar juntos com os quatro, a mãe dela, e ainda tiveram mais dois meninos. Estas histórias, que você conhece aqui embaixo, talvez até sejam difíceis de serem entendidas logo de primeira, mas representam algumas das configurações familiares cada vez mais comuns no Brasil, que já ultrapassam, segundo o último Censo do IBGE, o tradicional núcleo mãe, pai e filho.

— São arranjos que, de uma forma ou de outra, já existiam, mas não eram expostos ou as pessoas preferiam não comentar — analisa a psicanalista Mônica Donetto Guedes, autora do livro “Em nome do pai, da mãe e do filho’’, que destaca a importância do debate dentro e fora do contexto familiar. — Acho que só assim é possível amenizar os problemas, que serão inevitáveis em formações tão diversas e complexas.

Se antes eram assunto tabu, as novas famílias servem de inspiração para novelas como “Babilônia”. Em contrapartida aos fatos reais e da ficção, um polêmico projeto de lei, denominado Estatuto da Família e “ressuscitado” na Câmara dos Deputados, determina que somente a união entre um homem e uma mulher pode constituir uma família, proibindo a adoção por casais homoafetivos. O resultado de uma enquete do portal da Câmara, no ar desde o mês passado, mostra que 53% dos que responderam concordam com a definição de família proposta pelo projeto.

— Os desafios tendem a ser minimizados ao longo do tempo, mas o preconceito existe e é preciso um cuidado especial com as crianças que têm famílias fora do convencional — diz Junia Vilhena, professora de Psicologia Clínica da PUC-Rio.

Enquanto isso, internautas se mobilizam contra o estatuto usando hashtags como #emdefesadetodasasfamílias e #nossafamiliaexiste.

— O casamento não deve ser encarado como uma questão de gênero. O elo do afeto é que caracteriza uma família — opina Carlos Tufvesson, coordenador especial da Diversidade Sexual da Prefeitura do Rio, casado há 20 anos com o arquiteto André Piva.

— Não dá para fechar os olhos para a realidade. Estas famílias existem, estão solidificadas e merecem respeito — afirma a advogada Patrícia Gorisch, presidente da Comissão Nacional de Direito Homoafetivo do Instituto Brasileiro de Direito de Família.

Carol e Kika com a filha Tereza

Família Motta Machado

A chegada de Tereza foi exatamente como o planejado: em casa, no bairro de Laranjeiras, numa tarde de agosto. Sob a supervisão da enfermeira obstétrica Heloísa Lessa e ao som de Frédéric Chopin, Carol sentiu as primeiras contrações durante a manhã. Ao longo de três horas, andou de um lado para o outro, se acalmou sentada na cadeira de balanço e achou conforto em cima de uma bola de pilates. Ao lado dela durante todo o trabalho de parto, sem anestesia, estava Kika, também mãe de Tereza.

— Era tanta expectativa e emoção que não dá nem pra descrever o que sentimos — conta a atriz e artista visual Kika Motta, de 33 anos, mãe de primeira viagem, como a mulher, a atriz e bailarina Carol Machado.

Carol é facilmente reconhecida. Fez sucesso em novelas como “Top Model” e “Vamp”, exibidas pela TV Globo entre o fim dos anos 80 e início dos 90, quando ainda era uma adolescente. Na novela que tinha Malu Mader como protagonista, ela era Jane Fonda, uma das filhas do surfista Gaspar, divertido personagem do ator Nuno Leal Maia.

Carol e Kika se conheceram tempos depois, quando eram vizinhas, mas só começaram a namorar após um reencontro, entre uma e outra postura nova aprendida numa aula de ioga. Há oito anos, dividem o mesmo teto.

— Sempre pensamos em ser mães e ficar grávidas. Por uma questão de idade, a escolhida para engravidar primeiro fui eu — explica Carol, de 39 anos, que se submeteu a três inseminações com esperma de doador anônimo.

O tratamento teve início três anos atrás numa clínica em São Paulo. Na primeira tentativa, Carol engravidou, mas perdeu o bebê aos quatro meses de gestação. A segunda não deu certo e, na terceira, veio Tereza, uma linda e sorridente menina de olhos azuis, que nasceu com três quilos e 49 centímetros.

— Como não conhecíamos outro casal que tivesse passado pelo mesmo processo, o caminho foi bem mais difícil— lembra Kika.

As duas revelam que têm forte ligação com seus respectivos pais e que pensavam muito em como seria criar uma criança sem a figura paterna. Estudaram muito, consultaram especialistas e fizeram novas amigas e amigos com histórias semelhantes.

Antes do nascimento da filha, prepararam um verdadeiro dossiê, organizado com a ajuda do pai de Kika, que é advogado. Na mesma pasta, reuniram a união estável das duas e relatórios dos profissionais que acompanharam o tratamento e o parto, além de menções aos casos de famílias formadas por casais gays que, em outros estados do Brasil, conseguiram, sem qualquer dificuldade, a certidão de nascimento dos filhos no nome deles.

— Fomos o primeiro casal homoafetivo do Rio a conseguir o registro de nascimento direto no cartório, sem precisar recorrer à Justiça. Foi uma conquista e tanto — comemora Carol, que deu à Tereza os sobrenomes menos conhecidos das mães: Rezende Eichler.

Aos 7 meses, Tereza Rezende Eichler começa a engatinhar e descobrir novos cantos da casa onde a família mora com os gatos Café, Cuca e Gaia. Tereza dorme num futton no chão do quarto, que foi decorado pelas mães com diferentes peças de artesanato, como os planetas comprados em Londres que estão pendurados no teto e personagens do Circo Nacional da China, presente de um amigo, que enfeitam a parede. Em cima de uma cômoda ficam várias fotos das três.

Enquanto Carol amamenta e curte a licença-maternidade bem pertinho da filha, Kika, que adora cozinhar, faz o último ano do curso de Escultura na UFRJ. As duas têm uma companhia de teatro e dança, a Finis Cinis, e planejam trabalhos juntas.

Com Tereza, elas vibram com cada novidade, como a chegada do primeiro dentinho e a estreia na aula de natação, na semana passada. Mas também não escondem que ainda ficam desconfortáveis ao falar da vida pessoal.

— A gente não tem obrigação de ficar o tempo todo dando satisfação pra todo mundo. Dependendo da abordagem, pode incomodar, sim — conta Carol, lembrando do dia em que pensaram que Kika era babá de Tereza ou quando ela mesma foi questionada sobre “quem era o que da menina’’.

— As pessoas precisam entender que a família tem um significado muito mais amplo e que envolve um sentimento lindo: o amor — resume Kika, que já se prepara para engravidar no ano que vem. — Agora vai ser a minha vez.

Família Gladstone Canuto


Família Gladstone Canuto

Já era noite de uma quarta-feira quando Fabio Inácio Canuto saiu do trabalho, na Cinelândia, rumo à Lapa. Não demorou a encontrar o lugar que procurava, no terceiro andar de um antigo sobrado da Rua Mem de Sá. Um tanto desconfortável, sentou-se numa das últimas filas. A pregação já tinha começado e ele ouviu com atenção cada frase dita pelo pastor. Era a primeira vez que pisava numa igreja em que, segundo ele, era recebido sem qualquer questionamento ou recriminação.

— Foi uma sensação de alívio e acolhimento que nunca tinha sentido antes — lembra o administrador de 35 anos sobre a primeira vez na Igreja Cristã Contemporânea. — Tinha uma noiva e nasci numa família evangélica. Fiz tudo que você pode imaginar para achar uma “cura” e, durante muito tempo, fui obrigado a esconder a minha homossexualidade.

Na igreja da Lapa, gays eram muito bem-vindos, e as visitas de Fabio se tornaram cada vez mais frequentes nos meses seguintes. Ele fez novos amigos e acabou também arrumando um namorado: o pastor.

— Não foi exatamente amor à primeira vista, mas um encontro especial que virou um compromisso de um ano e meio, noivado e casamento — diz Marcos Gladstone, de 39 anos, que fundou a igreja em 2006 e hoje tem a ajuda do marido nos cultos e na administração dos nove templos, no Rio, em Belo Horizonte e em São Paulo.

O casório dos dois, o primeiro entre pastores homossexuais do país, aconteceu em novembro de 2009. Os dois reuniram 300 convidados numa casa de festas no Alto da Boa Vista, com direito a decoração com flores, bolo de dois andares e lua de mel na Costa do Sauípe, na Bahia. No ano seguinte, Fabio convenceu Marcos de que já era hora de dar continuação à família, e entraram juntos com um processo de adoção. Na primeira reunião, eram os únicos declaradamente homossexuais entre outros 30 casais. Eles dizem que “chegou a bater um desânimo”, mas, apenas duas reuniões depois, receberam uma ligação falando de Felipe.

Quando definiu o perfil da criança que estava disposto a adotar, o casal não fez restrição de sexo e cor, mas teria que ter até 7 anos — idade que o menino completaria em 15 dias. Correram para conseguir a autorização para visitá-lo num abrigo em Santa Teresa, que fecharia em breve, e onde também estavam quatro outros garotos. A aproximação foi lenta e cercada de desconfiança por parte de Felipe, que fora abandonado pela mãe anos antes.

— Ele falava pouco e era muito observador. No primeiro fim de semana que ficamos juntos, perguntei se ele tinha reparado que a nossa família seria diferente, sem uma mãe. Ele respondeu que sim e que não se importava. Foi o dia mais feliz da minha vida — conta Fabio.

Um mês depois, um telefonema de um funcionário da Vara da Infância, Juventude e Idoso avisava que outro garoto do abrigo estava entrando em processo de depressão desde a saída de Felipe. Não era plano de Marcos e Fabio, mas não é que Davidson também foi adotado?

Hoje, os quatro e o buldogue francês Hugo, de 8 meses, moram num apartamento alugado num condomínio na Barra, onde cada um dos meninos, de 11 e 12 anos, tem seu quarto. Felipe e Davidson estudam em escolas particulares, fazem aulas de futebol três vezes por semana, amam jogos eletrônicos e são cercados de mimos pelas duas avós, que se revezam nos fins de semana na ajuda com os netos. No dia a dia, nem tudo é só alegria. Pai Fabio e pai Marcos (como os dois são chamados) são alvo de crítica e preconceito.

— A gente sempre é a atração do aeroporto. É um tal de chamar supervisor e mostrar documento que você não acredita. É um parto para embarcar — diz Marcos, também advogado e integrante da Comissão de Direito Homoafetivo da OAB/RJ.

Para os patriarcas da família Gladstone Canuto, uma rotina com regras bem definidas é fundamental.

— Não dá para negar que nossos filhos têm histórias de muita dor e sofrimento. Por isso, fazemos terapia em família uma vez por semana. Falaram para a gente que a ordem tinha que ser instaurada já no início, porque senão os dois dominariam a casa. Viramos dois sargentos, mas no fim de semana a brincadeira é liberada — garante Fabio, que agora sonha em adotar uma menina. — Só falta uma bebê para a família ficar completa. Mas se vierem mais, tudo bem também.

Fonte: O Globo, 29/03/2015 (Para ler o restante da matéria e ver o vídeo clique aqui)

Centenas em praça do Rio contra a homofobia

segunda-feira, 30 de março de 2015 0 comentários

Ato contra a homofobia contou com batucada, teatro, projeção de frases
 contra a homofobia e beijaço de casais homoafetivos
Fernando Frazão/Agência Brasil

Ato contra homofobia reúne centenas em praça do Rio
Centenas de pessoas se reuniram na noite de 27/03, na Praça São Salvador, em Laranjeiras, zona sul do Rio de Janeiro, para um ato contra a homofobia, que contou com batucada, teatro, projeção de frases contra a homofobia e beijaço de casais homoafetivos. Eles jogavam muita purpurina, com gritos de "olê, olê, olê, olá, se a violência não acabar, na praça eu vou beijar".

A manifestação foi marcada após uma agressão ocorrida na madrugada do dia 1º de março, quando dois jovens jogaram uma garrafa em um casal homoafetivo que se beijava no local e direcionaram xingamentos. Outros casais que estavam dentro do Bar Casa Brasil reagiram com um beijaço e começou grande confusão, na qual foram atirados copos e garrafas.

Membro do Grupo de Advogados pela Diversidade Sexual, Victor Comeira explica que o protesto desta sexta foi direcionado ao bar, porque o estabelecimento, na avaliação dos manifestantes, falhou em garantir a segurança dos frequentadores. "O protesto é contra a LGBTfobia e também contra o estabelecimento, porque a postura deles foi irresponsável por continuar o serviço de bar com os instrumentos de vidro que eram usados como arma".

O representante jurídico do bar, Marcos Fontenele, nega que o estabelecimento tenha tido alguma responsabilidade no episódio. "Não procede, é inimaginável que a gente desse copo para agredir outras pessoas. Algumas vezes as pessoas saem da mesa e vão fumar um cigarro lá fora, porque aqui dentro é proibido, e levam os copos".

Frente de Combate à LGBTfobia promove ato em repúdio a toda e qualquer agressão e violência à comunidade LGBT na Praça São Salvador, em Laranjeiras (Fernando Frazão/Agência Brasil)
Na manifestação também foi lançada a plataforma online Tem LocalFernando Frazão/Agência Brasil

Ele explica que a casa mudou o procedimento depois da confusão. "A partir de agora está vedado, se sair vai levar copo de plástico. Os dois grupos estavam aqui dentro, mas a confusão se deu lá na praça. O nosso posicionamento é contra qualquer tipo de discriminação. Colocamos aqui uma faixa de apoio à manifestação, coloquei uma nota na página da manifestação".

O psicólogo Eliseu de Oliveira Neto citou dados do Grupo Gay da Bahia, segundo os quais em 2014 foram registrados 326 assassinatos de lésbicas, gays, bissexuais e transgêneros no país, dos quais 22 no Rio de Janeiro.

"É muito importante ver a sociedade civil se mobilizando, protestando, participando de um evento como este, dizendo que chega, que a gente não aguenta mais ficar escondido, que a gente agora tem coragem de vir para a rua, de enfrentar, mostrar, tem toda uma população relegada ao preconceito, ao crime, à humilhação. Não é só morte, mas uma humilhação simbólica de não poder se beijar, se tocar, estar próximo do outro, e isso tem que ser combatido", ressaltou.

Na manifestação também foi lançada a plataforma online Tem Local, que pretende mapear os locais onde ocorrem atos de agressão e homofobia. "A gente está em contato com São Paulo, para estabelecer o mapa da homofobia, onde as agressões têm se concentrado, para poder fornecer essas informações tanto para que as autoridades combatam quanto para que a comunidade LGBT [lésbicas, gays, bissexuais e transgêneros] saiba onde estão, para poder garantir a sua segurança, já que a segurança do Estado está tão precária", destacou Victor Comeira.

Fonte: Agência Brasil, 27/03/2015

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