Casamentos LGBT pelo Brasil

quarta-feira, 19 de março de 2014 0 comentários


A Igreja Cristã Contemporânea realizou durante o final de semana uma cerimônia de casamento coletivo entre casais do mesmo sexo. Cinco casais participaram da cerimônia, realizada no domingo no templo da igreja em São Paulo e que contou com decoração, jantar, festa e orquestra para os participantes.

Criada em 2006 pelo carioca Marcos Gladstone e pelo seu companheiro Fábio Inácio, a Igreja Cristã Contemporânea prega um discurso de tolerância e é voltada predominantemente para o público gay.

Para participar da cerimônia, os casais deveriam estar casados no civil, comprovando a "solidez do relacionamento estável", segundo a igreja. "Este requisito é muito importante porque casamento não é brincadeira e, no entendimento da igreja, o casal firma uma aliança diante de Deus, com o compromisso de permanecer toda a vida juntos até que a morte os separe", afirmou o pastor Fábio.

Fonte: Terra, 18/03/2014

Barreiras realiza o primeiro casamento homoafetivo
Finalmente podemos anunciar que Barreiras, município localizado no Oeste da Bahia, abre as portas aos casais homoafetivos que desejam legalizar a sua união. O fato inédito na cidade ocorreu na tarde de ontem, 17, no Fórum Tarcilo Vieira de Melo, quando o casal Severo Ramos e Giuliano Vilela, com o aval do Juiz de Direito José Luiz Pessoa Cardoso, oficializou definitivamente o convívio que mantinham há mais de dois anos. Natural de Teófilo Otoni/MG, mas radicado em Barreiras, Severo Ramos é designer de interior e acadêmico de Arquitetura e Urbanismo com grande atuação em Barreiras e região e Giuliano Vilela, natural de Jataí/GO, é graduando do curso de Engenharia Civil na Universidade Federal do Oeste da Bahia. 

A cerimônia simples teve a presença das testemunhas Norma Sueli Araújo Ramos, irmã de Severo, Laurita Roza da Silva, proprietária do cartório de Registro Civil 1º Ofício, da advogada Thereza Matos e Michelle Diniz. O casal reconhece que os familiares e amigos mereciam compartilhar desse momento ímpar, mas preferiu uma cerimônia simples e discreta. Na tarde de hoje,o casal parte para o deserto de Atacama, no Chile, onde pretendem, em meio a vulcões e paisagens exuberantes, gozarem da companhia um do outro e juntos compartilharem momentos inesquecíveis, afinal de contas não é isso que todos os recém casados desejam?

Ainda existem inúmeros pontos que devem ser mudados em nosso país e talvez o mais urgente seja a criminalização do preconceito (para que fique claro, todas as formas de discriminação: cor, sexo, religião, filosofia, classe social, orientação sexual, deficiências, dentre outros). O Brasil precisa reconhecer que as diferenças é que constroem o mundo. Se todos fossem iguais, ainda estaríamos vivendo na era da pedra, é a partir do momento que alguém pensa e faz diferente que o mundo se põe em movimento rumo ao futuro. Percebe-se que a sociedade brasileira tem mudado sua forma de ver e até mesmo de agir quando o assunto é homoafetividade, isso mostra que nossa sociedade tem evoluído e buscado um mundo de mais aceitação e tranquilidade.

Fonte: Jornal Nova Fronteira, 18/03/2014

Transmissão do HIV em relação lésbica registrado pelo Centro de Controle e Prevenção de Doenças americano (CDC)

terça-feira, 18 de março de 2014 0 comentários


Imagem de microscópio mostra o HIV deixando uma célula do sistema imunológico: primeiro caso de infecção em relação lésbica
Foto: Latinstock
Imagem de microscópio mostra o HIV deixando uma célula do sistema imunológico:
 primeiro caso de infecção em relação lésbica Latinstock

EUA relatam primeiro caso de transmissão do HIV em relação lésbica
Mulher teria contraído vírus causador da Aids durante relação lésbica monógama de seis meses com parceira infectada

NOVA YORK - O primeiro caso confirmado de transmissão do HIV durante uma relação lésbica foi relatado nesta quinta-feira por autoridades de saúde federais dos EUA, que disseram que o caso é extremamente raro mas aconselharam casais lésbicos a tomar precauções quando um dos parceiros está infectado. Testes genéticos mostraram que os vírus em ambas mulheres eram mais de 98% idênticos, provando que uma infectou a outra, informou o Relatório Semanal de Morbidade e Mortalidade divulgado pelo Centro de Controle e Prevenção de Doenças americano (CDC).

Em numerosos estudos prévios de mulheres que pensaram ter sido infectadas por outras mulheres, ou nenhum teste genético tinha sido feito ou as mulheres recém-infectadas relataram outras atividades que pudessem ter sido a causa, como sexo recentemente com homens, uso de drogas injetáveis ou transfusões de sangue. As mulheres do novo caso, ambas na cada dos 40 anos, moravam em Houston quando a transmissão aconteceu em 2012. A parceira infectada estava sob tratamento contra o HIV desde o começo de 2009 até o fim de 2010, mas então tinha parado de tomar os remédios. As mulheres relataram ter feito sexo durante seus períodos menstruais e usado vibradores, em algumas ocasiões com tamanha brutalidade que ocorreram sangramentos.

A mulher recém-infectada informou não ter tido outros parceiros sexuais durante os seis meses anteriores à infecção. Ela tinha sido testada como negativa para o HIV quando vendeu seu plasma sanguíneo em março de 2012. Os testes de anticorpos podem ter um “período de janela”, normalmente de um a três meses, durante o qual uma pessoa recém-infectada apresenta resultado negativo porque os anticorpos para o vírus ainda não foram fabricados.

Dez dias depois, porém, a mulher foi para na emergência de um hospital com sintomas similares ao de uma gripe que algumas vezes indicam uma infecção pelo HIV. Mas mais uma vez o teste de anticorpos deu negativo e ela recebeu remédios sob suspeita de que tivesse apenas uma gripe ou resfriado. Dezoito dias depois, porém, novamente em um centro de recolhimento de plasma sanguíneo, seu teste deu positivo.

Embora métodos de barreira para sexo sem pênis, como camisinhas bucais, existam, eles não são práticos para uso com vibradores e pouco usados por quem faz sexo oral. Em um editorial, integrantes do CDC aconselharam que todas as pessoas infectadas que façam sexo com não infectados mantenham seu tratamento em dia, o que pode reduzir os níveis de vírus no sangue e fluídos corporais tanto que a transmissão é muito pouco provável.

Fonte: O Globo, Donald G. McNeil Jr., via New York Times, 14/03/2014

Na Alemanha, casais homossexuais poderão adotar filhos biológicos da companheira ou do companheiro

quinta-feira, 13 de março de 2014 0 comentários



Alemanha amplia possibilidades de adoção para casais gays

Governo alemão aprovou projeto de lei que amplia os direitos dos homossexuais, que poderão adotar os filhos já adotados por seu companheiro ou companheira

Berlim - O governo alemão aprovou ontem (quarta-feira) o projeto de lei que amplia os direitos dos homossexuais, que poderão adotar os filhos já adotados por seu companheiro ou companheira, se estiverem registrados em cartório como união estável ou casados.

A medida foi a resposta do Executivo a uma sentença do Tribunal Constitucional de 2013, na qual foi considerada discriminatória a atual regulação que permite a adoção dos filhos biológicos somente em casais heterossexuais.

O órgão pediu ainda a implementação de uma nova lei não discriminatória antes de 30 de junho, por isso espera-se que o projeto entre nas próximas semanas no trâmite parlamentar.

A sentença do TC, com sede em Karlsruhe, segue uma série de ditames dessa Corte a favor dos direitos dos homossexuais, que ainda estão longe de conquistar plena equiparação com os heterossexuais.

Até agora, o chamado casamento homossexual na Alemanha consiste em se inscrever como união estável no registro civil, que envolve uma série de diferenças substanciais em na questão tributária, heranças e adoção de filhos em relação ao casamento entre heterossexuais.

Nos últimos anos avançou-se rumo à equiparação, em boa parte devido a sentenças do Tribunal Constitucional a favor dos direitos dos homossexuais, que até agora só podiam adotar o filho biológico de seu parceiro(a) ou adotar sozinho.

Fonte: Exame, 12/03/2014

Em entrevista ao apresentador americano Larry King, o líder budista Dalai Lama apoia casamento LGBT e condena homofobia

quarta-feira, 12 de março de 2014 0 comentários


Líder espiritual do Tibet e Prêmio Nobel da Paz de 1989, o Dalai Lama, durante entrevista ao  apresentador americano 
Larry King, deu apoio ao casamento gay e condenou a homofobia, dizendo que sexo é bom desde que consensual. 
Afirmou o monge budista, para quem o casamento homossexual é “okay” e uma "questão pessoal”: 
Se duas pessoas (um casal) realmente se gostam e querem se unir,  por também ser mais prático e satisfatório, então tudo bem!”
Perguntado se o casamento entre pessoas de mesmo sexo deveria ser universalmente aceito, respondeu que "isso dependia da lei de cada país.” E acrescentou que as pessoas deveriam seguir as regras de suas religiões sobre espiritualidade:
As pessoas, que têm fé ou alguma tradição em particular, deveriam agir de acordo com sua própria tradição. Por exemplo, no Budismo, há restrições a práticas sexuais que são consideradas más condutas, então, se você é budista, deve segui-las apropriadamente. 
Entretanto, para os não-crentes, depende só deles. Como há diferentes formas de sexo, desde que sejam seguras e consensuais, então são válidas.” 
Afirmou ainda que a homofobia era errada e uma violação dos direitos humanos.

O Dalai Lama visitou os EUA sob risco de aumentar a ira da China que o considera inimigo de estado por querer a independência do Tibete. O líder tibetano, contudo, nega as acusações, afirmando que quer apenas autonomia suficiente para proteger a cultura budista tibetana.

Veja a fala do Dalai Lama no vídeo abaixo.

Direitos homossexuais negados em Moçambique

terça-feira, 11 de março de 2014 0 comentários


Estão a ser negados direitos aos homossexuais em Moçambique

Os direitos dos homossexuais são negados no Código Penal já aprovado na generalidade pelo Parlamento, em Dezembro de 2013. A aprovação na especialidade só se fará na próxima sessão do Parlamento, em Março de 2014. Ainda há tempo para propor alterações e reivindicar direitos.

Todas as cidadãs e todos os cidadãos nascem iguais e devem ter os mesmos direitos e deveres. A orientação sexual de cada uma/um é um assunto de carácter privado e não deve ser usado para retirar direitos a ninguém.

A vida sexual privada de qualquer indivíduo, desde que não envolva actos forçados e decorra entre adultos, não deve ser objecto de regulação. A Constituição de Moçambique e os instrumentos legais internacionais e regionais que o Estado ratificou garantem o princípio de não discriminação.

O princípio da não discriminação tem por objectivo assegurar a igualdade de tratamento entre todas as pessoas, e está na base da construção das sociedades democráticas.

Quais são os artigos do Código Penal que dizem respeito aos homossexuais?

Artigo 82 - Aplicação de medidas de segurança
A previsão da aplicação de medidas de segurança contra homossexuais constitui uma violação dos direitos humanos e dos princípios democráticos. As pessoas não devem ser discriminadas em função da sua orientação sexual. Equiparar os homossexuais a criminosos ou outras pessoas de má conduta é tratá-los de forma discriminatória e atentar também contra os seus direitos à liberdade, dignidade e privacidade. A intolerância contra os homossexuais não poderá acontecer numa sociedade que se quer democrática." Cristina Hunguana, Jurista.
Devemos rejeitar as normas sociais prejudiciais de controlo sobre a sexualidade humana – incluindo aquelas relacionadas com a orientação sexual e identidade de género. Muitos dos nossos irmãos e irmãs enfrentam actos horríveis de violência e discriminação nesta base. Esta não é a África que queremos.”Ex-Presidente Joaquim Chissano em Addis Abeba, 2013
Fonte: A Verdade (Moçambique), 10/03/2014
 

8 de Março: A origem revisitada do Dia Internacional da Mulher

sábado, 8 de março de 2014 5 comentários

Autor(a): Míriam Martinho

Testemunha ocular de como movimentos sociais, altamente ideologizados, são capazes de forjar datas de celebração e eventos “históricos”, fiquei obviamente com dois pés atrás no que se refere a todas as datas de comemoração, entre outros, do movimento feminista ou de mulheres. Quem me garante que outras datas não foram também fabricadas como uma que eu vi “nascer”?

Nessas, resolvi revisitar o dia 8 de março, o bem conhecido Dia Internacional da Mulher, data que já foi de luta e hoje se parece mais com o dia das mães, quando as mulheres recebem flores e presentes, por supostas características intrínsecas a todas as mulheres, e descontos em muitos produtos.

E, como desconfiava, fui logo encontrando outra história mal-contada. Essa pelo menos parece ter sido fabricada mais pela simples imaginação, embora não falte igualmente a conotação ideológica, do que por má-fé deliberada como outras. Não esquecendo, contudo, que seu resgate atual já não anda também cheirando muito bem.

A história que sempre me contaram e que inclusive repassei como verídica, nos meus tempos de Jardim do Éden, para a origem do 8 de março, era aquela das operárias que haviam sido queimadas vivas, quando resolveram fazer greve por melhores condições de trabalho, na fábrica onde ralavam, porque seus patrões, burgueses malvados, as trancaram no local e botaram fogo em tudo. Esse trágico evento teria acontecido, em Nova Iorque, no dia 8 de março de 1857. Posteriormente, na II Conferência Internacional das Mulheres Trabalhadoras (ou II Congresso Internacional de Mulheres Socialistas), em Copenhague, em 1910, a social-democrata Clara Zetkin, em homenagem às pobres costureiras mortas no incêndio, decidiu definir a data da tragédia como Dia Internacional da Mulher. E daí por diante o dia teria tomado o imaginário popular.

Entretanto, tal história não corresponde aos fatos. Na década de 60, durante a chamada segunda onda do feminismo, quando as mulheres lograram produzir um grande movimento de reivindicações várias pela igualdade das mulheres, diferentes correntes do movimento feminista e de mulheres decidiram trazer de volta a ideia antiga, do início do século passado, de um dia internacional das mulheres. Parece que ninguém se deu ao trabalho, porém, de fazer uma pesquisa mais séria sobre as origens do dia referido, e o resultado foi uma espécie de “samba da crioula doida feminista” que misturou datas e eventos desconexos no tempo para produzir a história que ganhou às ruas e acabou até institucionalizada.

Corpos das mulheres que se atiraram do prédio em chamas em 25/03/1911

Recentemente, algumas pesquisadoras andaram se debruçando sobre a história, aquela com H maiúsculo geralmente tão vilipendiada, e descobriram, primeiro, que não houve um incêndio, em 8 de março de 1857, em um protesto de mulheres contra os donos da fábrica que reagiram de forma criminosa. O incêndio de fato ocorreu em 25 de março de 1911, numa fábrica de vestuário, em Nova Iorque, chamada Triangle Shirtwaist Factory (Companhia de Blusas Triângulo), em razão das péssimas condições de segurança do local. Nele morreram 146 pessoas (125 mulheres e 21 homens), a maioria das moças, imigrantes judias e italianas, que trabalhavam horas a fio em troca de salários de fome. Após a tragédia, que chocou a cidade, houve passeatas de protesto, velórios emocionados, etc. e tal, mas não foi esse o fato que levou ao surgimento da ideia de um dia das mulheres.

Greve de trabalhadoras têxteis que durou de novembro de 1909 a fevereiro de 1910.
20.000 aderiram à greve, que também teve muitas passeatas de protesto, formadas
por uma maioria de mulheres judias.

Essa ideia já havia surgido antes, quando trabalhadoras tomaram às ruas de Nova Iorque, em 1908, 1909 e 1910, para exigir jornadas mais curtas de trabalho, melhores salários e direito ao voto. Em razão dessas manifestações, as norte-americanas estabeleceram o dia 28 de fevereiro de 1909, nos EUA, como Dia Nacional das Mulheres (alguns autores dizem que essa data já foi chamada de Dia Internacional das Mulheres). E foram também as norte-americanas que levaram à II Conferência Internacional das Mulheres Trabalhadoras, em Copenhague, Dinamarca, em 1910, a idéia de se estabelecer o último domingo do mês de fevereiro como  um dia internacional de luta das mulheres. Clara Zetkin, de fato, apenas encaminhou a proposta das americanas, que foi aprovada pela conferência, mas sem uma data unificada de celebração.

Nos anos subsequentes, em diferentes países, como os EUA, a Alemanha, a Áustria, a Suécia e a Rússia, houve manifestações do dia internacional da mulher, variando a data do fim de fevereiro a meados de março, incluindo aí um 23 de fevereiro de 1917 (pelo calendário russo), quando tecelãs fizeram uma greve de protesto, em São Petersburgo, na Rússia, que alguns autores e autoras consideram o estopim do levante que derrubou o Czar do poder.  Em 1921, durante uma Conferência de Mulheres Comunistas, as mesmas também definiram o 23 de fevereiro (que corresponde ao 8 de março de nosso calendário), em referência à greve das tecelãs, como Dia Internacional Comunista das Mulheres, data que passou a ser comemorada localmente.

Depois desses primeiros anos do século XX, com a implantação dos regimes totalitários comunistas nos países do Leste Europeu, com o surgimento também do totalitarismo nazifascista e de todos os conflitos que levaram à Segunda Guerra Mundial, as comemorações de um dia internacional das mulheres desapareceram quase por completo. Somente em meados da década de 50, volta-se a falar em um dia internacional da mulher, em âmbito mundial, aí já misturando as datas e eventos citados acima e acabando por gerar o mito da origem do atual dia internacional a partir da “história” da homenagem às costureiras mortas, no incêndio da fábrica de vestuário (Triangle Factory), “ocorrido” em 8 de março de 1857.

Como citei anteriormente, foi, contudo, apenas na década de 60, novamente nos EUA, com o surgimento da segunda onda do movimento feminista, que o mito da origem do dia internacional da mulher se consagra naquela base da mentira que repetida mil vezes ganha foro de verdade.  Com o crescimento do movimento feminista e a inclusão das reivindicações das mulheres na pauta das sociedades em geral, na década de 70, o mito da origem do dia 8 de março foi inclusive progressivamente se institucionalizando, sendo encampado pelas Nações Unidas, em 1975, e pela UNESCO em 1977. De qualquer forma, apesar dos verdadeiros fatos virem sendo divulgados só recentemente, permanece, como referência do Dia Internacional da Mulher, para algumas, a conferência de 1910, quando o dia foi proposto e, para outras, o dia 19 de março de 1911, quando ocorreu efetivamente a primeira celebração do dia na Alemanha. Ou quem sabe não fosse mais correto tomar, como referência, o dia 28 de fevereiro de 1909 nos EUA?

Forçoso dizer que, para um levantamento mais consistente das datas e eventos que levaram a formulação do mito da origem do dia internacional das mulheres, faz-se necessário um número maior de pesquisas realizadas por pesquisadores idôneos e mais imparciais do ponto de vista ideológico. Hoje, no Brasil, como estamos vivendo uma recidiva de idéias “socialistas”, com as correntes do feminismo na ativa praticamente restritas às vertentes socialistas e radicais (estas também de base marxista), as socialistas deram para dizer que a origem do 8 de março vem das mulheres socialistas, esquecendo das outras contribuidoras. Estão se arrogando esse direito, claro, pelo simples fato de se identificarem como socialistas e estarem puxando a brasa para sua sardinha, como se diz popularmente. Esse sectarismo, aliás, parece ser de raiz, pois, seguindo os ditames da conferência de Copenhague, segundo pesquisei, as socialistas decidiram formar grupos, para a organização do dia internacional das mulheres, só entre si mesmas, sem aliança com as feministas, consideradas burguesas, que, na época, eram representadas pelas sufragistas.

Sufragistas fazem manifestação pelo voto feminino

De fato, embora não se possa deixar de reconhecer a importante participação das mulheres trabalhadoras, nos distintos eventos que acabaram configurando o mito de origem do 8 de março, cumpre salientar que o Dia Internacional da Mulher, que se consagrou internacionalmente, não partiu estritamente da conferência de 1910 nem do evento ocorrido no dia 23 de fevereiro de 1917 (pelo calendário Juliano e 8 de março pelo gregoriano),  na Rússia, durante o levante que derrubou a monarquia e acabaria culminando na revolução bolchevique, mas sim da fabricação de um ”8 de março de 1857” referente a um trágico acidente, supostamente ocorrido em Nova Iorque, que vitimou um centenar de pobres costureiras.  E essa fabricação, que conquistou corações e mentes, é fruto sobretudo dos movimentos feministas oriundos das democracias liberais norte-americanas e europeias, principalmente a norte-americana, a partir da década de sessenta, onde havia liberdade  (e há) para as mulheres não só reivindicarem direitos mas também criar ideologias e mitos feministas (para o bem ou para mal). O 8 de março que se comemora hoje é fruto de um movimento multiclassista, multi-étnico, de diferentes orientações sexuais e multi-ideológico  e não pode ser reduzido a apenas uma de suas facetas. É forçar a barra demais - agora que tantas mulheres de visões ideologicamente distintas já contribuíram para compor o recheio da historinha do “8 de março” - querer separar o joio do trigo e fabricar uma nova “verdadeira” origem da data.

Como praticamente todos os demais movimentos sociais, no Brasil, o movimento feminista ou de mulheres se esqueceu completamente das lutas pela autonomia do movimento e das reivindicações específicas das mulheres, frente às organizações da esquerda autoritária e seu ideário, que consideravam as lutas da mulher uma causa menor, burguesa, nas décadas de 70 e 80, deixando-se hoje cooptar e aparelhar por partidos e ideologias que, como sobejamente provado pela história da humanidade no século XX, somente produziram ruína econômica e ditaduras sangrentas, com milhões de mortos, nos países onde se estabeleceram. A tão propalada justiça social a que levariam nunca aconteceu.

Por isso, embora as comemorações do Dia Internacional da Mulher sejam de todas as mulheres e não de algumas mulheres de uma seita ideológica particular, os 8 de março dos últimos anos vêm também com um travo amargo por se ver um movimento que sempre precisou tanto da liberdade, para existir e se fazer valer, estar aí flertando com o sinistro charme das ditaduras.

Que as mulheres do início do século XX se deixassem encantar pelas promessas falsamente igualitárias do “socialismo-comunismo” é perfeitamente compreensível, pois elas não sabiam o resultado dessas ideologias na prática. Que mulheres do século XXI, com a experiência de todos os regimes totalitários que o comunismo estabeleceu, em todos os lugares onde se instalou, continuem acreditando nessa perigosa quimera – ainda que reeditada com nova roupagem - é realmente incompreensível. Nem preciso dizer que este movimento nem representa a mim, que tenho décadas de luta pelos direitos das mulheres, nem a maioria das mulheres brasileiras que seguramente já se acostumou com os confortos da independência e da democracia e nunca teria como representantes – se pudesse elegê-las – promotoras de projetos autoritários cinicamente chamados de de “direitos humanos”. Aliás, o cinismo parece ser mesmo um apanágio dos totalitários: no dístico do pórtico de entrada do campo de concentração de Auschwitz, preservado em memória das vítimas do nazismo, lê-se, até hoje, “O trabalho liberta.”

Então, neste Dia Internacional da Mulher, precisamos brindar principalmente a nós, mulheres realmente democráticas, que, tantas vezes, lutamos sob a bandeira de nossa maior líder, a Liberdade! Das lutas, na tempestade. Dá que (sempre) ouçamos tua voz!

1.Kandel, Liliane e Picq, Françoise. Le mythe des origines, à propos de la journée internationale des femmes. La Revue d’En face, n° 12, automne 1982

2.A primeira onda feminista se caracteriza sobretudo pela reivindicação do direito ao voto feminino, embora não se resuma a ela, e foi uma luta de fins do século XIX até o pós-guerra (II Guerra Mundial). A segunda onda, a grosso modo, se inicia na década de 60 e vai até a década de 80, caracterizando-se sobretudo pelas demandas por igualdade, em todos os níveis, e a politização das relações pessoais entre homens e mulheres.

3.Mulheres que lutaram pelo voto feminino nos séculos XIX e XX.

Texto reeditado a partir de publicação original postada no site Um Outro Olhar em 8 de março de 2010
Para outros textos sobre direitos e conquistas das mulheres em geral, acesse aqui

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...
 
Um Outro Olhar © 2025 | Designed by RumahDijual, in collaboration with Online Casino, Uncharted 3 and MW3 Forum