Condenado por ser homossexual, Alan Turing, gênio da computação, agora será perdoado por seu "crime"

sexta-feira, 26 de julho de 2013


Pai da computação será perdoado por ser gay
Bruno Calzavara

Nos idos de 1952, o matemático e cientista da computação Alan Turing foi condenado por “indecência pesada”, a acusação criminal padrão da época para a homossexualidade. Depois de sua castração química (!), ele se matou comendo uma maçã envenenada com cianeto, assim como na história da Branca de Neve, de quem era fã. Agora, mais de 60 anos depois, ele está prestes a ser perdoado.

É difícil avaliar o legado de Alan Turing. Sua contribuição começou com a tese Church-Turing, cujo pensamento central é o de que nossa noção de algoritmo pode ser formalizada sob a forma de funções computáveis e que computadores podem executar esses algoritmos.

Além disso, qualquer computador pode, teoricamente, executar qualquer algoritmo, isto é, o poder computacional teórico de cada computador é o mesmo e não é possível construir um artefato de cálculo mais poderoso que um computador. Todos os computadores são “iguais”, variando apenas a capacidade de processamento – isso formulado na década de 1930.

Na realidade, não foi utilizada a palavra “computador” na época, e sim “máquina de Turing”, mas trata-se de um modelo abstrato e anterior ao nosso computador, que se restringe apenas aos aspectos lógicos do seu funcionamento, como memória, estados e transições, e não à sua implementação física.

Outra importante contribuição foi o chamado Teste de Turing, de 1950, cujo objetivo era determinar se máquinas podem exibir comportamento inteligente. No exemplo original de Turing, um juiz humano conversa em linguagem natural com um humano e uma máquina criada para ter desempenho indistinguível do ser humano, sem saber qual é máquina e qual é humano. Se o juiz não pode diferenciar com segurança a máquina do humano, então é dito que a máquina passou no teste.

E tudo isso sem falar no papel importantíssimo de Turing na Segunda Guerra Mundial, ao decifrar o código criptográfico usado pelos nazistas. À medida que o texto era digitado na máquina Enigma (nome bem adequado), os rotores embaralhavam as letras de modo que o conteúdo ficasse incompreensível. A encriptação de mensagens funcionava de maneira similar ao que se usa hoje para transmitir dados bancários pela internet.

A única maneira de entender a mensagem recebida era utilizar a mesma chave da encriptação original. Os rotores permitiam milhões de combinações, e as chaves eram trocadas mensalmente. Mesmo assim, Turing conseguiu descobrir o segredo usando uma técnica eletromecânica conhecida como bomba. As tais bombas permitiam várias análises dos textos, em velocidade muito parecida à dos humanos.

Em 1942, os ingleses já conseguiam ler 50 mil mensagens por mês, uma por minuto. Foi assim que ficaram sabendo de informações cruciais sobre os ataques planejados pelos alemães, principalmente no Atlântico Norte. Quando a guerra acabou, Turing foi trabalhar no Laboratório Nacional de Física. Ninguém ficou sabendo da importância da sua participação na quebra dos códigos da máquina Enigma.

No entanto, mesmo após todas essas incríveis e essenciais contribuições ao país e ao mundo da tecnologia, o Reino Unido decidiu não consagrá-lo e sim aterrorizá-lo simplesmente porque era gay.

Dois anos atrás, o governo britânico pediu desculpas oficialmente por sua homofobia, mas a sua condenação permaneceu nos livros. Agora, o governo disse que não impediria um completo perdão parlamentar a Alan Turing.

De acordo com o jornal inglês “The Telegraph”, em dezembro passado, Stephen Hawking e outros cientistas escreveram para o periódico britânico pedindo o perdão de Turing e citando que o trabalho dele ajudou a apressar o fim da Segunda Guerra Mundial.

Discursando na Câmara dos Lordes, na sexta-feira (19), o Lorde Ahmad de Wimbledon declarou que o governo não iria ficar no caminho de um projeto de lei trazido pelo Liberal Democrata que oferece a Alan Turing o completo perdão parlamentar póstumo.

Falando na Câmara dos Lordes, pouco antes do projeto de lei Alan Turing (Perdão Estatutário) receber uma segunda leitura, sem oposição, Lorde Ahmad declarou que o próprio Alan Turing acreditava que a atividade homossexual seria considerada legal por uma Comissão Real. “Na verdade, de forma adequada, foi o Parlamento que descriminalizou a atividade pela qual Turing foi condenado”, declarou. “O Governo, portanto, está muito consciente da causa para perdoar Turing dado o seu excelente desempenho e, portanto, tem grande simpatia com o objetivo do projeto de lei”.

Claro que isso pouco serve de consolo para Turing ou para os outros 49 mil homens homossexuais que foram condenados pela Emenda Criminal de 1885 – numa lista que incluía o escritor irlandês Oscar Wilde. Talvez o ato mais ousado fosse reconhecer o erro cometido contra esses indivíduos também. [io9, The Telegraph e Aventuras na História]

Fonte: Hypescience

N.E. [Ver aquí a tramitação do projeto de "perdão" de Turing].

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