Memória: Caminhada Lésbica: Devagar, devagar... foi indo!

segunda-feira, 27 de agosto de 2012


Por Míriam Martinho

Ocorreu, dia 05/06/2010, em São Paulo, a 8a Caminhada de Lésbicas, Bissexuais e Simpatizantes da cidade. Esvaziada, só saiu para a avenida por volta das 16:00, dada à falta de público. Mesmo assim, conseguiu ao longo do trajeto reunir cerca de 1000 pessoas, segundo opinião geral. Consultada, a polícia militar chutou umas 600 pessoas, mas exagerou na diminuição. De qualquer forma, houve um claro decréscimo de outros anos para esta edição.

O evento foi uma grande novidade quando surgiu em 2003 e continuou com pique nos 3 primeiros anos, nos moldes das dykes marches dos EUA. Depois, foi tomada de assalto pelo movimento feminista, que a transformou em palco de proselitismo deslavado, tanto que a temática do aborto (que não é lésbica) passou a figurar nas faixas e falas, a avenida Paulista virou avenida feminista e outras tantas do gênero. 

Desde o ano passado, a pretexto da caminhada, temos também a jornada feminista, onde busca-se fazer a cabeça da meninada para ideias um tanto quanto defasadas não tanto por serem feministas (dependendo, de qualquer forma, pode ser algo anacrônico em si mesmo), mas principalmente por serem oriundas de algumas das correntes do feminismo mais discutíveis como o feminismo socialista. Este último, aliás, ostensivamente abre a caminhada, logo após a faixa de abertura, com slogans pela revolução socialista e congêneres, entremeados de algumas chamadas lésbicas para “colar” nas jovens participantes da marcha que – felizmente – não estão nem aí para nada disso. 


Este ano, o proselitismo barato sumiu da faixa de abertura, mas esteve presente nas socialistas citadas acima, nas bandeirinhas e adesivos do PT, e nos folhetos tanto relativos à caminhada (onde a chamada da jornada lésbica-feminista aparece em primeiro e em maior destaque que a da caminhada), quanto relativos à organizadora do evento, a Liga Brasileira de Lésbicas (LBL) que se define, entre outras coisas, como anticapitalista (embora viva do dinheiro do setor produtivo da sociedade, exatamente o setor capitalista).

Fora isso, ou por causa disso, a estrutura mesma da caminhada precisava ser repensada. Não há faixas intermediárias, com bandeiras lésbicas (lésbicas apenas) ao longo da marcha, que possam mobilizar mais as pessoas, dar mais visibilidade à lesbianidade em geral. Encabeçada pela fuzarca feminista (marcha das mulheres, sei lá), com animadíssimas chamadas pela revolução feminista socialista, e um grande vácuo até o trio elétrico, que encerra a caminhada, o evento fica dependente do pique da moçada, que tem que se virar sozinha, e que está carregando a caminhada nas costas e no pé.

Aliás, é essa moçada, aparentemente desengajada, a verdadeira caminhada lésbica que carrega a bandeira do arco-íris com um labrys estrelado, que anda de mãos-dadas e troca selinhos, que se diz cansada de vitimismos e quer apenas demonstrar que vive hoje com mais naturalidade o amor entre mulheres. Essa moçada, mesmo as de cabelos já grisalhos, se parece com suas contrapartes americanas, criadoras das marchas lésbicas, que já reuniram mais de vinte mil lésbicas (e só lésbicas) liberadas e libertárias, nos EUA, dando um real sentido à visibilidade lésbica que não pode ser, da forma como está aqui, subserviente a cooptações ideológicas e partidárias.

Publicada originalmente no site Um Outro Olhar em 06 de junho de 2010. Editada em 27 de agosto de 2012

3 comentários:

  1. Oi Miriam,
     
    Muito bom o texto ... dois anos atrás eu fui e senti a mesma coisa que vc descreveu ... a ideia é fantástica ... mas a execução é discutivel e o partidarismo realmente atrapalha ... Beijo, Tati

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  2. Não entendi porque tanta fúria contra o feminismo, com se este fosse um movimento puramente ideológico e anacrônico. As lésbicas sofrem um duplo preconceito, homofobia-machismo, tanto que têm muito menos visibilidade que os gays e se não começarmos a reparar isso desde já correremos o risco de vermos o fim da homofobia somente para os homens.

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  3. muito apropriado o artigo,Mirian é preciso resgatar o verdadeiro significado da caminhada das mulheres lesbicas: A NOSSA VISIBILIDADE! vamos nos preparar melhor a LUTA continua!

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