Funcionários heterossexistas do extra constrangem namorados que deram "selinho"

terça-feira, 15 de julho de 2014

Funcionários do extra constrangem
namorados que deram "selinho"

Jovens são vítimas de homofobia após ‘selinho’ em supermercado de São Paulo
‘Aqui não é lugar para vocês se beijarem nem se abraçarem’, diz em vídeo um funcionário do hipermercado Extra

Jovens que faziam compras no supermercado Extra do Shopping Aricanduva, na Zona Leste de São Paulo, na última segunda-feira, dizem ter sofrido discriminação no estabelecimento depois que dois meninos do grupo trocaram um “selinho”. Em nota, a rede de supermercados diz que o funcionário que teria repreendido o casal gay será mantido afastado até que o caso seja apurado.

Tiago Freire Galharde, de 27 anos, filmou a discussão de seus amigos com um funcionário do hipermercado que teria abordado os jovens logo após a troca de carinhos.

“Aqui não é lugar para vocês se beijarem nem se abraçarem não”, afirma, no vídeo, o funcionário.

“Vocês podem ficar à vontade desde que não façam nada obsceno”, completa ele, em outro momento do registro.

Já quando uma amiga das vítimas pergunta se o beijo seria bem aceito se tivesse sido dado por “um homem e uma mulher casados há anos com um filho do lado”, o profissional, que não foi identificado, responde: “Isso, exatamente”.

Por telefone, o autor do vídeo já foi compartilhado mais de 1.300 vezes no Facebook conta que o casal de amigos apenas “se abraçou e deu um beijo rápido”, antes de alguns membros da equipe do mercado se aproximarem e dizerem, em voz alta, que ali “não era lugar para fazer baixaria”.

— Expliquei que não estávamos fazendo nenhuma baixaria, que era só uma demonstração de carinho normal, então peguei o celular e comecei a gravar — lembra Tiago, que trabalha em um pet shop em Higienópolis. — O funcionário que aparece no vídeo disse que um casal hétero poderia se beijar sem problemas, mas que ali não era lugar para gays se beijarem.

Segundo o rapaz, diversos seguranças começaram a se reunir em volta do grupo quando a discussão ficou mais intensa.

— Nos sentimos acuados e resolvemos ir embora — conta o esteticista veterinário.

Desde que o vídeo com a denúncia começou a circular pela internet, advogados de organizações LGBT entraram em contato com Tiago para oferecer orientação legal e informá-lo de que seus amigos poderiam registrar um boletim de ocorrência na Decradi, a Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância, próxima à estação da Luz.

— Moramos perto do supermercado e temos medo de retaliação. Por isso, ainda estamos decidindo quais providências tomar — comenta Tiago, que também prefere manter em sigilo os nomes dos dois amigos envolvidos no incidente. — No vídeo, o funcionário diz que, depois de bater o cartão, ia dar sua opinião do lado de fora. Nos sentimos ameaçados.

A lei 10.948/01, do Estado de São Paulo, pune a prática de discriminação em razão de orientação sexual. Segundo o texto, “proibir a livre expressão e manifestação de afetividade” de homossexuais pode gerar multa de até R$ 3 mil, suspensão da licença estadual para funcionamento por 30 dias e até cassação da licença estadual para funcionamento.

Em nota, a rede de supermercados informa que o assunto está sendo avaliado para que sejam tomadas as medidas devidas e que o funcionário envolvido no caso será mantido afastado até que se apurem as responsabilidades.

“O Extra esclarece que repudia qualquer ato discriminatório e pauta suas ações no respeito à diversidade. A rede ressalta que qualquer ação contrária a essa política, se realizada, está em total desacordo com o Código de Conduta da Companhia”, diz o comunicado.


Fonte: O Globo, por Marina Cohen, 11/07/2014

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