Agosto com orgulho: Repercussão do 19 de agosto na Imprensa

segunda-feira, 27 de agosto de 2012

"Invasão" do Ferro's Bar pelo GALF em 19/08/1983

O dia 19 de agosto, Dia do Orgulho das Lesbianas do Brasil, foi amplamente divulgado pela grande e pequena imprensa, quando de seu lançamento, possibilitando uma visibilidade para a questão lésbica nunca vista anteriormente em nosso país.

Abaixo, reproduzimos algumas das matérias que tiveram versões on-line.

Ver também:
Orgulho Lésbico: o happening do Ferro's Bar 
Agosto com orgulho: os primórdios da organização lésbica no Brasil

Índice das matérias

  1. ONGs lançam "dia do orgulho lésbico" em SP
  2. Data de comemoração foi inspirada em protesto
  3. Bar das lésbicas entra na história
  4. Intolerância religiosa - Revista da Folha
  5. Ministério pode adotar atendimento diferenciado para as mulheres lésbicas
  6. Mulheres que amam mulheres participam da Parada
  7. O orgulho lésbico comemorado dia a dia
  8. Muito além de Claras e Rafaelas
  9. Dia Nacional do Orgulho Lésbico
Grande Imprensa

CIDADANIA
A iluminadora Neusa Maria de Jesus e a economista Luiza Granado, coordenadoras de ONGs que defendem os direitos das lésbicas.
Marlene Bergamo/Folha Imagem
AURELIANO BIANCARELLI
DA REPORTAGEM LOCAL
Pesquisa mostra que 60% das homossexuais não se assumem quando vão ao ginecologista por temer discriminação  
  
Cerca de 60% das lésbicas não revelam ao seu ginecologista sua orientação sexual. São tratadas por seus médicos como mulheres que fazem sexo com homens, porque essa é a regra estabelecida. Os médicos perguntam sobre contraceptivos, sugerem preservativos ou pílulas, e as mulheres fazem de conta que concordam.

Esconder a "orientação" sexual tem seus motivos. Cerca de 60% das mulheres que revelaram ser lésbicas dizem que sofreram algum tipo de discriminação. Uma entrevistada afirmou que a médica pediu a presença de sua enfermeira, com medo de ser assediada. Vários médicos sugeriram que a paciente procurasse ajuda de um psiquiatra, outros se "interessaram" em saber como era a relação com suas parceiras.

Esse quadro de preconceito e desinformação médica aparece em pesquisa feita com 150 mulheres de 17 a 57 anos pela Rede de Informação Um Outro Olhar, ONG que tem uma publicação própria, com o mesmo nome. As entrevistadas eram leitoras da revista. Do grupo de mulheres ouvidas, 32% são mães e 23% fizeram pelo menos um aborto. A primeira pesquisa foi concluída três anos atrás. Uma mais ampla está em andamento.

O cenário revelado nessa pesquisa é uma das razões para o lançamento, nesta quarta-feira, dia 11, do Dia Nacional do Orgulho Lésbico. A data será comemorada no dia 19 de agosto, dia em que, 20 anos atrás, o Grupo de Ação Lésbica Feminista (Galf) invadiu o Ferros Bar. O local era o ponto de encontro das lésbicas de São Paulo, mas os proprietários decidiram proibir a venda ali do boletim da associação, o "ChanacomChana". A invasão do bar, que contou com o apoio de políticos e advogados, marcou uma espécie de "revolução" lésbica, que está sendo retomada agora.

"Assumir a identidade de lésbica é difícil na família, no trabalho, na igreja. É difícil também quando se trata de saúde", diz a economista Luiza Granado, 42, coordenadora da Rede de Informação Um Outro Olhar. Uma das líderes do movimento disse que não revela sua orientação sexual aos médicos com medo de que eles não cuidarão de sua saúde.

Não deveria ser assim. Pelos cálculos que elas mesmas fazem, 10% das mulheres são lésbicas ou bissexuais. Na região metropolitana de São Paulo, há 15 milhões de habitantes. Considerando-se que as mulheres são metade da população, seriam 750 mil mulheres fazendo parte desse grupo.

Em São Paulo, os grupos organizados não chegam a cinco. Na Parada Gay deste ano, que acontece no próximo dia 22, quando desfilarão 30 carros alegóricos, apenas três são de lésbicas. No ano passado, motociclistas do grupo Mulheres que Amam Mulheres abriram a parada. "O primeiro grupo de mulheres desfilou há três anos, numa picape. Agora já somos três trios elétricos, mas ainda é quase nada", diz Luiza Granado.

A iluminadora de teatro Neusa Maria de Jesus, 45, da Coordenadoria Especial de Lésbicas (CEL), da Associação da Parada GLBT (Gays, Lésbicas, Bissexuais e Transgêneros), diz que a criação de um dia do "orgulho lésbico" é uma identificação para as mulheres. "Nós queríamos um dia específico para nós", afirma. Luiza Granado diz que a nova data será incluída no calendário de eventos da cidade.

Um Outro Olhar, tel. 0/xx/11/3735-1035, Associação da Parada Gay de São Paulo, tel. 0/xx/11/3362-2361

Data de comemoração foi inspirada em protesto
DA REPORTAGEM LOCAL
O Ferro's Bar, na região central da cidade, permaneceu por décadas como ponto de referência para a comunidade lésbica, quando os proprietários do bar não permitiam a venda no seu interior de uma publicação lésbica da época.

Em um dos incidentes, a bar chegou a chamar a polícia. Como reação, integrantes do Galf convocaram políticos, militantes homossexuais e invadiram o local. O ato foi acompanhado pela mídia. Os fatos aconteceram em 19 de agosto de 1983 e a data agora, 20 anos depois, está se transformando no Dia Nacional do Orgulho Lésbico.

Na época, o jornal "Lampião da Esquina", considerada a primeira publicação homossexual do Brasil, chamou a invasão do Ferros Bar de "nosso pequeno Stonewall Inn", referência à resistência da comunidade homossexual americana à repressão policial. A data, 28 de junho, transformou-se no Dia do Orgulho LGBT, hoje comemorado em todo o mundo.

Luiza Granado disse que a semana do "19 de agosto" será comemorada por um ciclo de palestras e uma série de atividades em São Paulo e outras cidades.

Folha de S. Paulo - 25.06.03

Bar das lésbicas entra na história

Gilberto Dimenstein
Colunista da Folha
Na geografia da marginalidade paulistana, há um lugar reservado para o Ferro's Bar, bar do centro da cidade que, durante muito tempo, foi o principal ponto de encontro das lésbicas. Não raro, mulheres movidas a ciúmes e álcool produziam, naquele ambiente enfumaçado e de comida duvidosa, madrugadas memoráveis de pancadaria. De manhã, porém, tudo deveria estar arrumado para receber a clientela familiar. Até que viesse a noite e as mulheres ocupassem, com seus olhares caçadores, as mesas.

Encravado numa região de cantinas italianas freqüentadas por artistas e boêmios, o bar desapareceu, mas está prestes a virar história. Depois de participarem da organização da Parada Gay, realizada no domingo passado, movimentos de defesa de lésbicas preparam seu próprio dia de orgulho, que será comemorado no próximo 19 de agosto. "Há questões específicas, que devem ser discutidas", diz Miriam Martinho, coordenadora do grupo Um Outro Olhar.

O marco é a resistência no Ferro's Bar, onde, em 19 de agosto de 1983, foi lançado um manifesto pelos direitos das lésbicas. Dias antes do manifesto, o dono do estabelecimento chamou a polícia e proibiu as mulheres de vender ali uma publicação chamada "ChanacomChana", considerada um atentado aos bons costumes. "A proibição era um absurdo. Éramos, afinal, as principais clientes", comenta Miriam.

Desafiaram a proibição, forçaram a entrada e leram, em meio a aplausos e assovios, o manifesto. O ambiente, recorda-se Miriam, estava tenso. Muita gente tinha pavor de ser identificada, havia imprensa registrando o protesto. Desde aquele dia, o Ferro's ganhou uma clientela lésbica mais intelectualizada e politizada. E mais rica. Mas não resistiu.

Embora permaneça a discriminação, os tempos mudaram para os homossexuais da cidade de São Paulo, como mostraram os números da passeata de domingo. Excesso de bebidas, uso demasiado de drogas e prática de sexo inseguro, comportamentos tão louvados no passado pela marginalidade, são hoje condenados pelos padrões do politicamente correto. A entidade Um Outro Olhar, coordenada por Miriam, é um exemplo: sua missão é cuidar da saúde das lésbicas, a maioria delas, segundo descobriram, nem sequer fala com os médicos sobre suas preferências sexuais.

O Ferro's, onde agora funciona o bar Xingu, ganhou concorrência de lugares nos bairros de elite, com uma cozinha mais confiável e garçons respeitosos, acompanhando o movimento de abandono do centro -eram tempos em que apenas um bar atendia à clientela de mulheres homossexuais e, se alguém dissesse que 800 mil pessoas iriam a uma parada gay na aristocrática av. Paulista, seria tido por maluco.

E-mail - gdimen@uol.com.br

Intolerância religiosa - Revista da Folha

[por Vange Leonel]22.jun.1633 Galileu Galilei, temendo morrer, ajoelha-se perante um tribunal eclesiástico e renega suas convicções para escapar da morte. Seu pecado foi ter afirmado que a Terra se movia em torno do Sol e não o contrário, como pregava a Igreja. Galileu foi condenado somente à prisão domiciliar.

31.out.1992 O papa João Paulo 2º encerra os trabalhos da comissão que admite o erro cometido por seus antecessores e reabilita Galileu.
24.ago.1572 O rei Carlos 2º, da França, com a anuência do papa Gregório 13, inicia a matança de protestantes (os huguenotes). Cerca de 70 mil "hereges" são mortos. A perseguição aos seguidores de outras religiões já estava se tornando praxe: um século antes, Tomás de Torquemada, que dirigia o Tribunal de Inquisição da Espanha, havia condenado 10.220 judeus à fogueira e outros 100 mil à prisão e ao exílio, confiscando seus bens.

13.mar.2000 No documento "Purificação da Memória", João Paulo 2º pede perdão a Deus e aos homens "pelo uso da violência que alguns cometeram a serviço da verdade e pelas atitudes de desconfiança e hostilidade assumidas contra os seguidores de outras religiões". Deixa claro, porém, que o erro não foi cometido pela Igreja, mas pelos filhos que a integravam.

30.mai.1431 Joana D'Arc é condenada por um tribunal eclesiástico e queimada na fogueira como apóstata, herege e bruxa.

16.mai.1920 Joana D'Arc é santificada pelo papa Benedito 15.

31.jul.2003 O papa João Paulo 2º lança uma campanha mundial contra a legalização das uniões homossexuais.

Eu me pergunto: já que a campanha foi lançada por alguns de seus filhos, quanto tempo vai demorar para a Igreja pedir perdão por mais esta perseguição?

Dia 19 de agosto é o Dia Nacional do Orgulho Lésbico, marcando 20 anos de nosso "Stonewall", quando um grupo de lésbicas foi retirado de um bar, à força, pela polícia.

e-mail: vangeleonel@uol.com.br

FOLHA DE SÃO PAULO
19/08/03
COTIDIANO
SAÚDE
O Dia Nacional do Orgulho Lésbico, comemorado hoje pela primeira vez no país, começa com uma perspectiva importante: o Ministério da Saúde está acenando com uma política pública de atendimento diferenciado para a mulher lésbica.

"Assim como há atenção para homem e mulher, a lésbica precisa de cuidado diferenciado", diz Luiza Granado, 42, da Rede de Informação Um Outro Olhar.

Segundo uma pesquisa da ONG, 60% das lésbicas disseram não revelar aos ginecologistas sua orientação sexual. Um número igualmente grande delas também não informava sua prática sexual ao terapeuta.

O Dia Nacional do Orgulho Lésbico começa hoje com a história do movimento, um sarau literário e a benção da Wicca, deusa que dá força à mulher.

No dia 23, às 16h, haverá a oficina Um Toque de Orgulho, estratégias de auto-aceitação, com a psicóloga Graciela Barbero. No dia 30, às 19h30, um debate com as especialistas Sílvia Pimentel, sobre direitos na união lésbica, a teóloga Yury Puello e Iza Paula Hamouche, do Ministério da Saúde. Os eventos serão na Ação Educativa, r. Gen. Jardim, 660, centro de São Paulo.

O dia 19 lembra a data, 20 anos atrás, em que o Grupo de Ação Lésbica Feminista invadiu o Ferros Bar em protesto pela proibição da venda, no local, do boletim da associação. (AURELIANO BIANCARELLI, DA REPORTAGEM LOCAL)  

PEQUENA IMPRENSA (FEMINISTA E LGBT)
Boletim das Católicas pelo Direito de Decidir - 24/06/03

Mulheres que amam mulheres participam da Parada

O que mais emocionou Luiza Granado, coordenadora da Rede de Informação Um Outro Olhar, foi olhar para baixo do trio elétrico e ver os policiais militares fazendo a escolta dos carros, entre as Avenidas do Estado (local onde ficam estacionados os trios elétricos) e Paulista (início de percurso da Parada Gay). “Eles não nos prendem mais como há 20 anos, agora nos protegem”, afirma Luiza. A coordenadora da ONG lésbica, que atua na capital paulista, se referia ao dia 19 de agosto de 1983 quando policiais e pessoas do movimento lésbico entraram em confronto no Ferro’s Bar, local de encontro GLS no centro de São Paulo.

“As coisas mudaram nesse tempo, nós fomos à luta”, afirma Luiza. Quase 20 anos depois, as mulheres que amam mulheres estavam lá na Avenida Paulista na Parada do Orgulho Gay participando de uma festa juntamente com quase um milhão de pessoas.

Mas, o movimento lésbico ainda é tímido, ele contou apenas com apenas três dos 21 trios. De acordo com Luiza, as mulheres ainda são muito escondidas, tímidas. “Elas têm medo do preconceito, medo da imprensa.”

Para reverter esse quadro, a coordenadora destaca a importância de Instituições e ONGs lésbicas, que promovem seminários, palestras para conscientizar as pessoas a respeito do tema. “Precisamos discutir, saber quem somos nós”.

Em 19 de agosto será comemorado o “dia do orgulho lésbico” e a Rede Um Outro Olhar vai promover uma série de atividades na cidade de São Paulo.

Mais informações pelo telefone 11 3735 1035 ou e-mail uoo@umoutroolhar.com.br

Entrevista - Site Resolvido GLBT

O orgulho lésbico comemorado dia a dia

06/10/2003 Este é o principal recado com que a ativista Míriam Martinho, encerrou entrevista concedida ao Resolvido, na qual destacou a importância dos eventos homossexuais que, este ano, tomaram as agendas, não só da própria comunidade GLBT brasileira, como da mídia nacional. Referência obrigatória quando o tema são as lutas pelos direitos homossexuais no Brasil, a tradutora e editora da revista Um Outro Olhar coleciona atuações no movimento lésbico desde 1979, quando integrou o pioneiro grupo homossexual SOMOS-SP.

De lá para cá, Míriam Martinho fundou três organizações de mulheres homossexuais nas décadas de 70,80 e 90 - o Grupo Lésbico-Feminista, a Ação Lésbica-Feminista e a atual Rede de Informação Um Outro Olhar - organizou eventos nacionais sobre o tema e representou o Brasil em encontros e paradas na Europa e América Latina. Nesta entrevista ao Resolvido, ela ressaltou a crescente visibilidade que as questões sobre a homossexualidade das mulheres vêm adquirindo nos dias atuais, mas alertou para a necessidade de "canalizar melhor as reinvidicações" pelos direitos lésbicos. Leia a íntegra abaixo:

Resolvido - Agosto deste ano, foi o mês escolhido para celebrar o Orgulho Lésbico. Em sua avaliação, os objetivos destas comemorações foram alcançados?

Miriam Martinho - O dia 19 de agosto - Dia Nacional do Orgulho Lésbico colocou as lésbicas na pauta da grande, da média e da pequena imprensa (incluindo a mídia LGBT). Nunca se teve tanta visibilidade. As comemorações que incluíram o próprio dia 19, o dia 23 e o dia 30 de agosto foram bem sucedidas, embora modestas, porque tivemos apenas um mês para organizar tudo. Houve um consenso entre quem organizou e quem participou sobre a importância de eventos como esse. Foi um marco político, inclusive trazendo a reboque uma outra data de celebração lésbica que mofava no calendário do descaso há sete anos.

Resolvido - Em junho o movimento GLBT ganhou muita visibilidade no Brasil, com a Parada do Orgulho Gay, onde aparentemente os homossexuais masculinos eram maioria. Como anda em sua avaliação o movimento ativista voltado às mulheres homossexuais?

Miriam Martinho - Bom, a Parada não é um evento da militância LGBT e sim um evento da população LGBT. A maioria das pessoas que vai a esse evento não é ativista, mas se sente atraída por ele. Muita gente diz que a Parada é apenas um Carnaval fora de hora, mas eu não vejo assim. É uma das maiores manifestações populares que temos e, apesar do caráter festivo, tem um aspecto político sim que precisa apenas ser melhor canalizado para as reivindicações dos direitos homossexuais. Para as mulheres, têm sido particularmente positiva, pois permite os primeiros passos na arte de assumir-se sem maiores traumas. Aliás, a presença feminina tem sido cada vez maior.

Resolvido - Estes eventos colaboram de fato para eliminar discriminação no dia a dia dos homossexuais? Existe, mesmo entre a comunidade GLBT, quem questione ou classifique tais acontecimentos como oba-oba para a mídia - no cotidiano quem participa dos eventos volta pra dentro do armário e continua enfrentando dificuldades. O que voce diria sobre esta visão?

Miriam Martinho - Bom, o Dia Internacional do Orgulho LGBT, o dia 28 de junho, e o Dia Nacional do Orgulho Lésbico, o dia 19 de agosto, aparentados em essência, por seu caráter de luta contra o preconceito e sua repercussão na mídia, têm um poder simbólico que vai além das páginas dos jornais. Na verdade, a mídia funciona como multiplicadora dessas histórias de luta que são importantes como alento, inclusive no embate cotidiano que as mulheres lésbicas têm que travar contra o preconceito e a discriminação. Estamos na era da informação: considerar a visibilidade dos eventos comemorativos LGBT como simples oba-oba é cegueira política. Agora, evidentemente, são as mulheres que têm que ir à luta, sob a inspiração desses eventos. Eles sozinhos não vão produzir milagres.

Resolvido - Quais são hoje os principais pontos na batalha pelo fim da discriminação das lésbicas brasileiras?

Miriam Martinho - Interessa às lésbicas tanto as reivindicações de igualdade de direitos entre os sexos, entre homens e mulheres, quanto as reivindicações de igualdade entre héteros e homossexuais (união estável, adoção e custódia de crianças, pensões, direito à inseminação artificial). De bem específico, poderíamos citar as questões relativas à saúde lésbica, onde há a necessidade de um treinamento dos agentes de saúde (médicos, enfermeiras, hospitais...) para um atendimento minimamente satisfatório dessa população.

Resolvido - Como está a interação entre o movimento lésbico e o movimento feminista por conquistas para as mulheres em geral?

Miriam Martinho - O Movimento Feminista continua existindo sim, em todo o mundo, apenas se tornou mais institucionalizado, mais formal. Sua relação com a questão lésbica sempre foi espinhosa e mesmo contraditória, mas hoje em dia está bem melhor. Hoje o Movimento Feminista politiza a questão lésbica publicamente, tem dado mais espaço para as lésbicas em suas plataformas e publicações, mas ainda há bastante o que fazer.

Resolvido - Lesbianismo abordado em novelas das oito; Vaticano condenando homossexualidade; Estados Unidos (onde homossexuais obtiveram suas maiores conquistas) governado por conservadores. Um passo à frente, outro para trás? É isso mesmo?

Miriam Martinho - Quanto maior a visibilidade da questão homossexual na imprensa, quanto maiores os avanços dos direitos homossexuais em geral, mais os setores conservadores se sentem alarmados e partem para ofensivas mais pesadas. O documento do Vaticano é um exemplo disso, mas é bom lembrar que nem mesmo na própria Igreja Católica ele é consensual. Muitos católicos o consideram um absurdo. Então, creio que essa guerra de valores vai continuar e pode mesmo se acirrar, porém, mesmo com revezes, com idas e vindas, acredito que devem continuar ocorrendo vitórias pelos direitos LGBT. Gostaria de dizer a suas leitoras e seus leitores que nós agora temos um dia específico para comemorar o nosso orgulho, que é o dia 19 de agosto, mas que todos os dias são dias para se sentir orgulho de ser quem se é, de amar outra mulher.

MUITO ALÉM DE CLARAS E RAFAELAS

Oi Gente,
Hoje é 19 de agosto, DIA NACIONAL DO ORGULHO LÉSBICO.

Não dava pra deixar passar essa data em branco.
O dia, aqui na Serra, tá meio frio, mas o céu está lindo, há sol e eu vi Marte imperando na madrugada. Será que tudo isso é pra comemorar o dia de hoje?

Não sei, pode ser. Mas, estou fazendo a minha comemoração de forma especial: envio pras meninas do meu catálogo essa foto que tem muito a ver com esse dia.
A foto é de uma mulher (Cássia Eller) que tem muito peito pra mostrar – em todos os sentidos!

Ela sintetiza pra mim todas as outras mulheres, que estão muito além de Claras e Rafaelas; que não moram no Leblon, mas muitas vezes escondem-se nas quebradas das periferias das cidades e até do país.

São tantas outras mulheres que pegam ônibus, trem, andam a pé, brigam, choram, amam, criam seus filhos, são expulsas de casa, trabalham, fazem biscates, bebem e cheiram, apanham, batem, sofrem, amam.
A todas as mulheres que – por milhões de motivos – não podem dizer que amam outras mulheres; a todas essas mulheres que dizem em alto e bom som que amam outras mulheres; a todas essas mulheres que são mães; a todas essas mulheres que são filhas; a todas essas mulheres que AMAM OUTRAS MULHERES este é o NOSSO DIA, como todos os outros também são.

Um beijo, Graca

Graça - Rio de Janeiro – Brasil (Graça Portela faz o clipping Planeta Arco-Íris)       

Dia Nacional do Orgulho Lésbico15/08/03 GLSPLANET.COM

Entrevista com Míriam Martinho, uma das pioneiras do manifesto do Ferro´s Bar, que aconteceu no dia 19 de agosto, há 20 anos, data que inspirou a criação do Dia Nacional do Orgulho Lésbico.

- Você estava lá na manifestação contra a discriminação do Ferro´s bar. Como tudo aconteceu?
Míriam Martinho: O Ferro's foi durante décadas um ponto de encontro das mulheres lésbicas de todo o pais, não só de São Paulo. Todo mundo que vinha visitar a paulicéia desvairada, passava por lá. Apesar de sustentado pelas lésbicas, contudo, os donos do bar faziam restrições em relação às demonstrações de afeto entre as mulheres, por mais simples que fossem, e não queriam que vendêssemos o boletim do grupo, ao qual eu pertencia na época, o Grupo Ação Lésbica Feminista, no interior do estabelecimento. Outras coisas, contudo, eram vendidas livremente.

Quando tentávamos vender o boletim, vinha sempre alguém nos "convidar" para sair. Como insistíssemos, o clima foi ficando mais pesado. Primeiro, foi um segurança e um dos donos do bar que nos mandaram sair, já ameaçando partir para a agressão física. Houve empurra-empurra, puxões... Depois, a polícia foi chamada, e, numa primeira vez, apenas conversou conosco, aceitou nossos argumentos, e nos deixou em paz. Da segunda vez, acho que insuflados pelos donos do bar, não foram tão diplomáticos: nos escoltaram até à rua como se fôssemos criminosas. Então, organizamos uma manifestação em frente ao Ferro's, em articulação com outros grupos, abrimos a porta do bar, que estava guardada por um segurança, após muita conversa, fizemos um discurso contra o preconceito e a discriminação, já dentro do recinto, e obtivemos a promessa dos donos de não mais nos reprimirem. Foi uma grande vitória sobretudo para a época.

- Dia Nacional da Visibilidade Lésbica, Dia Nacional do Orgulho Lésbico, você não acha que seria melhor unir as datas para ampliar o movimento?
Míriam Martinho: Primeiro vamos aclarar as denominações. O 19 de agosto é o Dia Nacional do Orgulho Lésbico em comemoração aos 20 anos da manifestação do Ferro's bar. O dia da visibilidade a que você se refere nunca foi chamado de nacional antes de termos lançado o dia nacional do orgulho lésbico. Parece que a gente lançou moda. Segundo, acho que datas nascem sobretudo de coerência política e ideológica. A primeira manifestação de visibilidade lésbica ocorrida no Brasil, e visibilidade significa dar-se a conhecer à sociedade heterossexual em algum nível, foi a manifestação do dia 19 de agosto. Foi uma manifestação de coragem, orgulho e visibilidade semelhante a de Stonewall, guardadas às devidas proporções. Portanto, o 19 de agosto congrega tanto o orgulho quanto à visibilidade das lésbicas. É uma data histórica.

- Na época, "partidos de fora" como as feministas e os grupos gays aderiram ao movimento. Hoje ainda existe esta divisão entre lésbicas, gays e feministas?
Míriam Martinho: Bem, a organização lésbica brasileira nasceu no bojo do Movimento LGBT (na época chamado apenas de Homossexual) e depois é que entrou em contato com o Movimento Feminista. O Movimento Feminista, ao contrário do que ocorre hoje, era totalmente refratário à politização da questão lésbica na década de 80.

O apoio de feministas à manifestação do Ferro's foi uma exceção à regra. Os gays apoiaram a manifestação do 19 de agosto como já haviam apoiado outras atividades lésbicas daquele período. Nós inclusive dividíamos uma sede com um grupo gay muito legal. Hoje, acho que os gays são mais voltados para suas questões, e as feministas estão mais abertas à questão lésbica.

Mas não creio que exista uma divisão propriamente. Acho que feministas e gays estão em movimentos que não abordam só a questão lésbica, mas várias questões. Então, cabe às lésbicas ampliarem seus espaços dentro desses movimentos ou conseguirem "caixas de ressonância" para suas reivindicações dentro dos mesmos.

- Como uma das pioneiras do movimento lésbico em Sampa como vê hoje a evolução da sociedade brasileira em relação à lésbica?
Míriam Martinho: Bom, apenas nos situando, sou uma das fundadoras do movimento lésbico no Brasil. De fato, sou carioca de nascimento, paulistana de coração e filha de nordestinos. Bairrismos, portanto, não são comigo. Iniciei minha militância em 1979, quando entrei no Somos (a primeira organização homossexual do país) e fui a única ativista a permanecer trabalhando ininterruptamente com a questão daquela época até hoje. Quanto à sociedade brasileira, esta vem se tornando mais aberta em relação à questão homossexual em geral, e isso se reflete numa maior tolerância quanto às relações entre mulheres também, embora ainda de forma incipiente. O casal de adolescentes da novela das 8:00 da Globo reflete bem isso. Observa-se uma tendência a mantê-las juntas (por enquanto não foram implodidas, como as parceiras de Torre de Babel), mas ainda não se tem certeza se haverá final feliz. As últimas declarações do Vaticano, tão anacrônicas, podem se refletir negativamente no trato da questão homossexual no Brasil, pois somos um país católico, mas não acredito em retrocesso, pois a tendência é de aceitação dos direitos homossexuais em todo o mundo.

- Em que o Dia da Lésbica pode acrescentar às conquistas, mesmo sendo um dia somente no ano?
Míriam Martinho: Bom, o dia nacional do orgulho lésbico é emblemático da situação que a maioria das lésbicas enfrenta em seu cotidiano ainda hoje, onde sustentamos tantas coisas e até pessoas e temos direito a tão pouco ou nada. E o 19 de agosto também é um símbolo da solução para esse problema. Naquela data, enfrentamos os nossos medos, não deixamos mais que nos humilhassem e nos explorassem, exigimos nossos direitos e saímos vitoriosas. O 19 de agosto, portanto, é uma inspiração para todos os dias do ano, pois constantemente enfrentamos situações que nos exigem coragem e ousadia contra o preconceito e a discriminação.

- O que você acha que falta às lésbicas para poderem se impor na sociedade?
Míriam Martinho: Exatamente orgulho. Não há porque envergonhar-se de amar outra mulher. Construímos esta nação como todas as demais pessoas, e temos direito aos direitos mínimos de cidadania que todos têm. Direito a amar, a constituir uma família, um patrimônio, a ter filhos e ter tudo isso garantido como as pessoas heterossexuais têm. Agora, ninguém dá nada de mão beijada: é preciso auto-aceitar-se e ir à luta.

- O que acha da visibilidade lésbica nas matérias divulgadas nos veículos de comunicação?
Míriam Martinho: Vem crescendo continuamente, e isso é bom porque permite uma identificação das mulheres lésbicas com personagens positivas, muitas vezes mulheres como elas que, com naturalidade, falam de suas vidas com outras mulheres, também identificação com artistas e mesmo personagens fictícias que servem como exemplos a seguir. O poder dos símbolos é muito grande. Felizmente, cada vez mais a grande imprensa aborda as questões lésbicas de forma positiva, ficando mais por conta da imprensa marrom a manutenção do enfoque baixaria. De qualquer forma, é preciso estar de olho na imprensa e não permitir abusos

As comemorações do Dia Nacional do Orgulho Lésbico começam dia 19, terça-feira,com palestras, sarau musical e coquetel em São Paulo. Participem

Local: Ação Educativa, Rua General Jardim, 660

0 comentários:

Postar um comentário

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...
 
Um Outro Olhar © 2024 | Designed by RumahDijual, in collaboration with Online Casino, Uncharted 3 and MW3 Forum