Concurso contra a homofobia no futebol premia artista mineiro

quarta-feira, 18 de junho de 2014


Artista mineiro ganha prêmio de concurso contra a homofobia no futebol

Desenhista Arthur Camargos superou 152 concorrentes com ilustração de jogador usando maquiagem e salto alto

Quando o estudante de artes plásticas Arthur Camargos era criança, sofria com as brincadeiras dos coleguinhas por não gostar de futebol e preferir desenhar a jogar bola. Por isso, é curioso que o esporte tenha lhe rendido um prêmio. O mineiro foi o vencedor da terceira edição do concurso Homofobia Fora de Moda, realizado pela Casa de Criadores de São Paulo e que tinha como objetivo a criação de uma estampa com o tema “Cartão vermelho para a homofobia”. O resultado foi anunciado na primeira semana de junho e o ilustrador de 21 anos superou outros 152 candidatos de todos os estados brasileiros. Com a vitória, ele levou para a casa o prêmio de 2 500 reais e terá sua estampa reproduzida em camisetas, que terão sua renda revertida para o Centro de Cultura, Memória e Estudos da Diversidade Sexual de São Paulo.

Confira a entrevista com o artista:

O que te inspirou a participar do concurso?
Era um concurso que eu já conhecia e gostava da causa, além de achar as imagens enviadas sempre muito bonitas e provocantes. Nesse tema, “cartão vermelho para a homofobia”, eu vi uma brecha, pois estamos nos preparando para a Copa eu queria uma imagem que sintetizasse as duas coisas, mesclando essa atmosfera de futebol que contagia o país à atmosfera de militância contra o preconceito.

Sua ilustração mostra um jogador de futebol maquiado e vestindo sapatos femininos. Que mensagem você quis passar?
Mais do que mostrar um jogador de futebol, eu quis ilustrar a simbologia que é o chute de bicicleta, consagrado pelo Pelé, representa para o futebol brasileiro, pois acho que desconstruir a partir de um ícone tão forte é mais confortável. Acredito que a maquiagem e o salto alto podem passar quase despercebidos diante da grandeza de um lance como esse.

Como você avalia a homofobia no futebol?
Eu vejo que o preconceito no futebol, como em qualquer outro espaço, está se dissipando com o tempo. Hoje você tem até a ala das torcidas organizadas gays. Mas ainda não é um assunto de interesse do público em geral e, muitas vezes, a forma de ofender no esporte é associar à homossexualidade. O futebol é um símbolo de masculinidade e uma forma do homem se afirmar. Às vezes, isso beira o machismo , quando defendem, por exemplo, que a identidade masculina é a certa ou a melhor. Eu percebo que o salto alto e o batom podem ser motivos de descrédito para uma figura, seja ela qual for.

Você já viu ou viveu algum tipo de preconceito ligado ao futebol?
Eu sou gay e meu pai trabalhou como secretário executivo de um time de futebol por muitos anos, então já sofri um pouco com isso. Na escola, era vítima de bullying porque era mais sensível e não gostava de jogar bola. O futebol pra mim nunca foi um lugar de expressão.

Para você, a homofobia no futebol acabará um dia?
Eu acho que a homofobia é inerente ao universo do futebol, mas acredito que as expressões livres e artísticas tendem a afrouxar cada vez mais essas barreiras de resistência histórica, podendo chegar a dissolvê-las.

Veja também as outras imagens no site da Casa de Criadores de São Paulo

Fonte: Veja BH, por Rafaela Matias | 18 de Junho de 2014

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