A segunda geração (de lesbianas)

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

Relação de nova geração de lesbianas com mundo é bem mais tranquila do que a anterior

Por Beth Andrade

Há algum tempo, escrevi um texto sobre a sobrinha Jú. Naquela época, a sobrinha era uma adolescente lésbica com sofrer típico da idade. Anos depois, ao recebê-la com sua namorada aqui em casa, dou conta de que além de velha, contemplo a segunda geração assumidamente lésbica da família. E como é bom ver os avanços dessa garotada através da Jú.

Olhando a Jú, agora do alto dos seus 20 anos e com um monte de sonhos e objetivos (entre eles, obviamente, morar com a sua garota, como toda menina apaixonada), ela em nada lembra aquela adolescente que, em meio ao turbilhão de hormônios, sofria sem ter motivos aparentes. E como os anos a fizeram bem. Vejo um ser sem grilos com sua sexualidade. Sem medo de andar de mãos dadas com sua namorada onde quer que seja. Confesso que rola até uma pontinha de inveja. 

Ouvir as duas contarem como foi a primeira noite dormida na casa da Jú, os papos da namorada com a sogra e dividir gargalhadas com as histórias de quem tentou causar boa impressão é simplesmente uma experiência maravilhosa. Os 15 anos que nos separam me fazem acreditar que a sociedade está se transformando.

Com mais ou menos idade que a Jú, dormir com a minha namorada na casa da minha mãe nem passava pela minha cabeça. Ou melhor, passava e até aconteceu algumas poucas vezes, mas meus pais não estavam por lá, então acho que não conta, certo? O fato é que vejo que a relação da Jú com o mundo é bem melhor que a minha. Há uma espécie de evolução. Com a família, os amigos, a faculdade e por aí vai.

Eu precisei sair de casa e morar com minha namorada para conquistar o respeito da minha relação homoafetiva. E olhem que ainda assim levou tempo. Quem vê meus pais convivendo com a minha mulher não imagina quanto tempo levou para que isso fosse possível. Arrisco dizer que levou pelo menos um ano para receber a visita da minha mãe na minha casa. E, acreditem, foi estranho para nós duas. Mas com a Jú é diferente. Ela leva a namorada para dormir na casa dela. Conquistaram seu espaço no sofá da mãe/sogra sem grandes crises (é claro que sempre há a crise de se assumir para os pais e dessa ela não escapou, mas até nisso ela se deu bem). E isso é ótimo.

Não dá para saber se haverá uma terceira geração ainda mais livre, mas essa, com seu frescor e sem dar muita bola para as votações do casamento gay na França ou as discussões acaloradas sobre as convicções do pastor Malafaia, me enche de orgulho e esperança em um futuro com menos questionamentos e mais entendimentos.

Ver também da autora O café na cama nosso de cada dia 

2 comentários:

  1. Que lindo. Eu nasci em 1984 e minha geração fez 18 anos sem ter a participação da internet nas vidas, ao contrário da turminha dez anos mais nova. Cito isso pelo fato de que acho que o que marcou muito a diferença dessa geração paras as anteriores é o acesso que dá a internet na pré-adolescência ao mais variado tipo de informação sobre sexualidade e de pessoas glbts. Me percebi lesbica aos 17 anos.Hoje as meninas com internet que tem a acesso a material de sexo com uma abrangência bem melhor do que a mostrada nos livros da biblioteca ou da TV, como era o meu caso, se percebem as vezes com 12 anos. Isso faz essa geraçãozinha se preparar melhor pra essa situação, não acham?

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    1. Penso que o acesso à informação certamente contribui muito para a mudança que vejo ao meu redor. O tema homossexualidade, apesar de quase sempre ser tratado com estardalhaço apenas para vender, deve ficar nas manchetes até que a naturalidade do tema seja tão irrelevante quanto grande seja o respeito às pessoas e suas orientações.

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