Daniela Mercury recria com Malu Verçosa a célebre capa de John Lennon e Yoko Ono para a Rolling Stone

terça-feira, 17 de novembro de 2015

Daniela Mercury resolveu parodiar a célebre capa de John Lennon e Yoko Ono para a Rolling Stone

Daniela Mercury copia foto clássica e fica nua com a mulher na capa de CD
Cantora recria, ao lado de Malu Verçosa, icônica imagem de John Lennon e Yoko Ono
Para quem mandou eu me esconder, eu me mostro nua. Não tenho vergonha de amar. Teria vergonha de odiar.”
O recado de Daniela Mercury é curto, direto, e vai para quem patrulha seu casamento com a jornalista Malu Verçosa Mercury. A nudez à que se refere a cantora e compositora baiana está exposta na capa de Vinil Virtual, 15º álbum da discografia solo da artista. O clique elegante de Célia Santos mostra Daniela deitada, nua, ao lado da esposa. A foto estampa a capa do primeiro disco inteiramente autoral da artista e a imagem pode ser vista em primeira mão nesta segunda, 16, no site da Rolling Stone Brasil.
Já fui convidada diversas vezes para posar nua para a [revista] Playboy e nunca quis. Agora, uso meu corpo, minha nudez, para fazer um manifesto pacifista e político na luta contra a homofobia. O intuito não é chocar”, garante a cantora. 
No mercado a partir de 27 de novembro, com distribuição da gravadora Biscoito Fino, Vinil Virtual tem capa inspirada na icônica foto de John Lennon e Yoko Ono para a edição número 335, de 22 de janeiro de 1981, da Rolling Stone EUA (em janeiro de 2011, a capa também estampou uma versão de colecionador da Rolling Stone Brasil, veja a imagem na galeria acima). O ensaio da publicação norte-americana foi realizado pela renomada Annie Leibovitz no dia em que Lennon foi assassinado.
O meu intuito com essa capa é me posicionar de uma forma bela. É usar essa imagem como uma expressão da minha vida, da minha arte, do meu amor. O amor é o grande elemento da transformação. Fiz uma capa linda que representa um manifesto feminista num momento em que as mulheres ainda precisam se afirmar. Através dessa capa, eu me conecto com John e Yoko em suas manifestações de paz e amor, contra qualquer tipo de violência. Cabe a nós, artistas, sermos os pacificadores, quebrando fronteiras e preconceitos”, explica a artista, que conheceu Yoko em 2014 em evento pela paz mundial realizado pela ONU, em entrevista exclusiva à Rolling Stone Brasil.
Aos 50 anos de idade, completados em julho passado, Daniela quebrou preconceitos em 3 de abril de 2013 quando postou uma foto com Malu Verçosa nas redes sociais e assumiu publicamente o relacionamento homoafetivo. "Malu agora é minha esposa, minha família, minha inspiração pra cantar", dizia a legenda da foto. A coragem de expor socialmente a relação com Malu mobilizou o Brasil, país onde há muitas cantoras homossexuais com posturas discretas sobre a própria sexualidade. A exposição do amor de Daniela chegou a ser pauta no Jornal Nacional daquele dia, rendeu entrevista no programa Fantástico e virou capa de duas das três principais revistas semanais do Brasil. De lá para cá, Daniela virou uma porta-voz da defesa das causas das minorias representadas pela sigla LGBT, que abarca lésbicas, gays, bissexuais e transgêneros. Daniela e Malu são embaixadoras da campanha Livres & Iguais, da ONU.
A luta LGBT não é diferente da luta dos negros, das mulheres e dos seres humanos que não se sentem devidamente respeitados e representados na nossa sociedade machista. Eu sou uma humanista, uma artista do mundo que dialoga com as minorias desse mundo. E a violência que vem do coração de algumas pessoas mais duras não é o que vai me deter”, avisa a “Iansã Guerreira”, conforme foi definida em um artigo de Nelson Motta, em 1992, quando Daniela explodiu com seu canto solar, trazendo axé para um Brasil na época dominado por sertanejos românticos e pagode sem raízes no samba.
Daniela Mercury também marca posição com Vinil Virtual, o álbum de 15 músicas inéditas e autorais que produziu com Yacoce Simões. “O disco é um manifesto”, conceitua Malu Verçosa. No primeiro disco solo de estúdio da cantora desde Canibália (2009), Daniela declara seu amor por Malu ao musicar dois poemas escritos para sua esposa, “Maria Casaria” e “Sem Argumento”. Mas a manifestação de amor é global. Se “América do Amor” acena para a irmandade pacífica da América Latina, “Antropofágicos São Paulistanos” celebra no ritmo do axé a geleia geral de São Paulo, cidade decisiva na trajetória profissional de Daniela. Afinal, foi na tropicalista Sampa que a cantora literalmente parou o trânsito da Avenida Paulista, no início da tarde de 5 junho de 1992, ao reunir cerca de 20 mil pessoas em show apresentado no vão livre do Masp, o Museu de Arte de São Paulo. A proeza chamou atenção da gravadora Sony Music, que contratou Daniela para gravar o disco O Canto da Cidade, trabalho que fez a voz dela ecoar em todo o Brasil.

O canto de várias cidades está representado no repertório de Vinil Virtual. Daniela cai até no suingue do black Rio de Janeiro para saudar a cidade maravilhosa em “O Riso de Deus”, faixa que dialoga com o pancadão funk dos bailes cariocas. Mas são os sons da Salvador natal que mais estão entranhados nos sulcos de Vinil Virtual. “Senhora do Terreiro (Mãe Carmem)” manda um axé para a ialorixá Carmem Oliveira da Silva, filha e espécie de sucessora da ialorixá conhecida como Mãe Menininha do Gantois na hierarquia do Candomblé da Bahia. “De Deus, de Alah, de Gilberto Gil” pede a benção ao cantor e compositor baiano, de cuja banda Daniela foi vocalista na década de 1980, antes de começar sua carreira fonográfica. Gil cai no suingue da faixa com Daniela. Já o samba-reggae “Alegria e Lamento” concilia a percussão de Márcio Victor com takes inéditos da percussão do falecido Neguinho do Samba, um dos fundadores do bloco Olodum e músico que sintetizou a batida do samba-reggae, à qual já recorreu ídolos de alcance mundial como Michael Jackson. Cidadã do mundo, Daniela também canta em inglês em “Frogs in the Sky”, composta com seu filho, Gabriel Póvoas.

Vinil Virtual chega ao mundo com a esperança de dias melhores. Todas as 15 músicas têm a assinatura de Daniela, sendo que dez foram compostas sem parceiros. Há duas com Marcelo Quintanilha, duas com Gabriel e uma com Yacoce Simões. “Os compositores que mandaram canções para mim não traduziram o que eu queria dizer nesse momento”. Está dado o recado, mais uma vez de forma direta. Daniela Mercury não se esconde dentro de nenhum armário.

Fonte: Rolling Stone, 16/11/10 e Época (Bruno Astuto)


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