Fantástico aborda a discriminação familiar, a mais dolorosa das homofobias

segunda-feira, 6 de agosto de 2012

Homofobia familiar, a mais dolorosa
Por Míriam Martinho

O programa Fantástico deste último domingo apresentou um quadro sobre a homofobia familiar, sem dúvida a mais dolorosa das homofobias. E a mais indiscutível.

São poucas as pessoas homossexuais que passaram incólumes a essa triste experiência que marca, às vezes de forma indelével, toda uma vida. Diferente do preconceito e da discriminação que vem de estranhos, a homofobia familiar vem de quem deveria nos amar e proteger e em relação a quem somos mais vulneráveis emocionalmente.

Mesmo considerando que os pais de homossexuais também são vítimas da homofobia, já que introjetam os preconceitos sociais, a relação entre país e filhos é vertical, os pais são a autoridade da casa e, não raro, chegam a expulsar os filhos do lar por conta desses preconceitos, cegos quanto ao destino da jovem ou do jovem rejeitados. Quando não chegam a esses extremos, vários passam a destratar os adolescentes dentro de casa, tornando a situação dos jovens muito difícil.

Por isso, pode-se dizer que a Globo deu mais uma bola dentro, em prol dos direitos LGBT, como já vem se tornando rotina por meio de seus programas e novelas. Discutir o tema da homofobia familiar, num dos programas de maior audiência da televisão brasileira, é um grande passo para que o tema comece a ser debatido de forma mais ampla pela sociedade e ideias surjam de como pelo menos amenizar esse tipo de conflito tão amargo.

Abaixo o vídeo com o quadro do programa sobre o assunto e o texto referente.

Principais agressores de homossexuais são da própria família

Estudo analisou quase sete mil denúncias de violência física e psicológica. Os casos foram registrados principalmente pelo Disque 100, um serviço de denúncias contra violações dos direitos humanos.

Uma pesquisa sobre homofobia no Brasil revela: os principais agressores dos homossexuais são da própria família. O Fantástico abriu uma linha especial pra ouvir essas histórias.

“Violência física, discriminação, humilhação e ameaça. tudo isso eu já passei e passo na minha casa. O tempo todo ele ficava falando que eu tinha que sair de casa, que ia me dar um sumiço. Meus dois irmãos também não aceitam, não falam comigo. Eles falam que eu tenho uma doença”.
O relato é de um jovem, que tem medo e prefere não mostrar o rosto. Ele descreve o tipo mais comum de agressões a homossexuais no Brasil. Segundo um relatório pioneiro da Secretaria Nacional dos Direitos Humanos, os principais agressores são da própria família.

“É como se eu morasse em casa, mas fosse um estranho. Eu me sinto um estranho hoje. Eu não me sinto um membro da família”, diz.

A amostra é grande: o estudo analisou quase sete mil denúncias de violência física e psicológica. Os casos foram registrados principalmente pelo Disque 100, um serviço de denúncias contra violações dos direitos humanos.

“Justamente para que no momento em que a pessoa faz a denúncia, ela seja recebida com todo o respeito e exista uma investigação. Nós identificamos também que as circunstâncias de impunidade também no caso dos crimes de caráter homofóbico contribuem para a continuidade dessa violência”, diz a ministra da Secretaria de Direitos Humanos Maria do Rosário.

A maior parte das agressões aconteceu dentro de casa. E mais: são as mães quem mais agridem os filhos por serem gays. Uma professora universitária sabe há 20 anos que seu caçula é homossexual. E há 15 comanda uma instituição para reaproximar pais e mães de seus filhos gays.
“Para uma mãe é muito difícil. Falou homossexual hoje em dia a maioria das pessoas já aceita, como filho do vizinho. Mas filho da própria pessoa ainda é difícil”, diz Edith Modesto, presidente do Grupo de Pais de Homossexuais.

Ela diz que muitos filhos têm medo de como os pais vão reagir.

“Uma vez, um deles me falou e eu nunca mais me esqueci. Ele falou ‘Edith, para o meu maior amigo eu já contei, porque se eu perder o meu amigo, eu posso arrumar outro. Mas se a mãe não me quiser mais, como eu vou fazer?’”, conta Edith.

Para Felipe, que trabalha no grupo como voluntário, o mais difícil foi contar para a mãe.
“Eu tinha medo de falar, mas ‘eu acho que ela vai agir diferente, acho que não vai ser assim’”, conta o estudante Felipe Santos Mário. Mas foi.

“Tivemos um desentendimento, ela me bateu e aí dois dias ou um dia depois eu saí de casa. Ela falou ‘olha, eu não quero mais você aqui porque não dá, você não muda e eu não aceito. Meu filho pra mim morreu quando você falou que era homossexual’", lembra Felipe.

O Fantástico abriu um canal exclusivo para ouvir histórias de homofobia. Foram 50 relatos em apenas 24 horas. São casos de humilhações, ameaças e agressões contra filhos, netos e irmãos.

“Durante três ou quatro anos foram violências constantes. Surras, meu pai me jogava no chão e batia com os dois pés em cima de mim. Meu pai falava que ia orar para Deus para Deus me matar, para Deus me levar porque ele não queria ter filho homossexual”, relata um homossexual.

“Ele chegou em casa e começou a me agredir. Disse que eu pagarei tudo que eu faço, ele me ameaçou, ele disse que eu morrerei de câncer pelas coisas que faço”, diz outro.

A violência não é sempre física. Mas o sofrimento é indisfarçável.

“Eu vejo meus primos crescendo, meus primos levando as suas respectivas namoradas pra um encontro de família e eu não poder levar a minha. Isso é muito triste pra mim porque é uma discriminação na minha família”, reclama mais um.

A jovem que gravou esse depoimento também não quis mostrar o rosto.

“Eu queria ter amigos na minha casa, é uma coisa que eu não tenho. Eu convivo com os meus avós desde que eu nasci e hoje, depois que eles descobriram que eu sou homossexual, não existe mais paz na minha casa, não existe mais diálogo. Eu vivo com dois estranhos. Eu não escolhi ser assim, eu simplesmente sou assim. A única coisa que eu queria pedir para eles é que eles me respeitassem”.

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