Haddad diz que vetou kit gay junto com Dilma!! E tem "ativista" indicando voto nele!

sexta-feira, 14 de setembro de 2012

Que dilema: enrolar os evanjas ou os gays?
Por Míriam Martinho 

O deputado Jair Boçalnaro apelidou o projeto Escola sem Homofobia de kit gay, e o nome pegou. Elaborado por um punhado de ativistas, ligados ao petismo e ao governo, que nunca se dignou a esclarecer do que se tratava o material mesmo para a população homossexual, o malfadado kit gay teve como elemento de visibilidade sobretudo vídeos que "vazaram" para a Internet. Os vídeos ruinzinhos não tinham nada demais, mas foram considerados, por conservadores, em particular católicos e evangélicos, como propaganda homossexualista destinada a perverter a mente das crianças.

Pressionada pelos aliados evangélicos que inclusive a chantagearam, em mais um caso de corrupção do governo envolvendo o então Ministro da Casa Civil,  Antonio Palocci, a presidente Dilma vetou o material, e o então Ministro da Educação e Cultura, Fernando Haddad, iniciou um processo de desmentidos sob a participação de sua pasta na elaboração do projeto, contradizendo-se o tempo inteiro.

Em um primeiro momento, 18 maio de 2011, afirmou que o material não era do MEC (sic). No dia seguinte, declarou: "Não há nada programado nesse sentido [de alterações no material]. Na terça-feira houve a entrega do material encomendado que visa combater a violência contra homossexuais nas escolas públicas do país". 

No dia 22 de maio de 2011, reportagem do programa Domingo Espetacular registrou a fala do ativista Beto Jesus, da ABGLT, contestando outra declaração de Haddad, onde este afirmava que o projeto nem tinha sido aprovado. Beto Jesus diz com todas as letras que o ministro mentiu porque tinha amarelado.  Que havia falado pessoalmente com Haddad sobre o kit, obviamente ele estava a par do assunto, e que era uma vergonha negar então que o projeto fora aprovado. Assista a partir dos 05:30 até os 07:06.


Agora, candidato petista à prefeitura de São Paulo, Haddad volta a se contradizer sobre o kit anti-homofobia. Ontem (13/09), sabatinado pelo UOL, Haddad declarou que vetou, junto com Dilma, o material porque este não estaria afinado com o combate à violência. E que ele teria tido conhecimento sobre o material na véspera do veto

"Haddad disse que o MEC barrou o kit contra a homofobia nas escolas porque o material não estaria afinado com o combate à violência.

O repórter Mauricio Stycer lembrou que foi a presidente Dilma quem vetou a distribuição, após reação das igrejas. "Eu e ela. Nós conversamos", interrompeu Haddad. "A bem da verdade, conversei com o [ministro] Gilberto Carvalho. Tinha tomado conhecimento do material na véspera." 

Agora compare essa declaração com o que ele disse acima, sobre o mesmo assunto, e constate a incrível cara de pau do sujeito.

O lulopetismo e seu papel na ascensão do evangelhismo

Edir Macedo na posse de Dilma
Circula, pelas redes sociais, uma cartilha de indicação para o voto LGBT baseada em um único critério: o de não votar em partidos de pastores evangélicos ou ligados a eles ou que tenham feito alianças políticas com eles. Dada à estrutura da política brasileira e o crescimento dos neopentecostais como força política, tal critério é quase impraticável, para cargos maiores, e parece ter sido estabelecido somente a fim de afirmar partidos nanicos pelos quais os autores da cartilha têm simpatia ideológica. Isso sem falar que a população LGBT, como todos os outros segmentos da população, tem que  avaliar candidatos a cargos parlamentares por vários critérios não apenas por um, ressaltando-se, entre os vários, a ficha limpa do pretendente à vereança ou à prefeitura.

De qualquer forma, com base no "critério" citado, os autores indicaram a princípio, para prefeito de São Paulo, um candidato do PSOL, com apenas 1% das intenções de voto. Depois, contradizendo-se tanto quanto o próprio Haddad, passaram a indicar o próprio como merecedor do voto LGBT, apesar do histórico do petista no causo do kit gay, como acima descrito, agora complementado pela declaração do candidato de que ele vetou o tal projeto junto com Dilma.

Além disso, assumindo o "critério" filho único de voto dos autores da cartilha, o PT seria o último partido a merecer o voto LGBT já que tem sido o grande alavancador do evangelhismo no país devido a sua política de alianças em busca do poder eterno e absoluto. Reproduzo três trechos de mensagens de um participante da lista gaylawyers, assinatura Abel, que resgatou o histórico do lulopetismo com o evangelhismo, em especial sua relação com o "bispo" Edir Macedo. Veja também o bispo exorcisando um gay e seu currículo de corrupto dos mais extensos. 

Três mensagens elucidativas

É bom que se lembre que a aliança do PT com a Igreja Universal vem desde a campanha da eleição presidencial de 2002. Para atrair os evangélicos, o lulismo escolheu a dedo a Universal como aliada porque Edir Macedo e os dirigentes da Universal vinham sofrendo forte pressão da Receita Federal e da Polícia Federal no governo Fernando Henrique. Muito embora o PT e a Universal tivessem sido inimigos desde os anos 80, os interesses eleitorais do PT e o confronto do governo Fernando Henrique com a Universal viabilizaram a bizarra aliança entre o lulismo e Edir Macedo. 

De fato, no mandato de Fernando Henrique Edir Macedo e seus bispos vinham sofrendo vários inquéritos e processos movidos pela Polícia Federal e pela Procuradoria da Receita Federal. Para escapar de possível prisão, Edir Macedo saiu do país e se refugiou em sua mansão em Miami. Até o final do governo FHC, Edir Macedo não voltou ao Brasil. Seus sermões eram transmitidos de Miami para a sede da Universal em São Paulo, via satélite. 

Depois que Lula assumiu a Presidência, Edir Macedo voltou ao Brasil e ninguém mais teve notícias dos inquéritos na Polícia Federal contra a Universal, inclusive o processo contra a compra da TV Record por intermédio de duas empresas sediadas em paraísos fiscais. Também ninguém mais sabe o que aconteceu com o processo movido em 1998 pela Procuradoria da República, para cassação da licença da rede Record por ter sido comprada com dinheiro de uma religião, portanto com dinheiro isento de tributação.

Para os pentecostais em geral e para a Universal em particular, os benefícios da aliança com o petismo foram imensos. Seus resultados estão ai para todos verem. Para o país, o resultado foi, e continuará sendo, catastrófico.
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Dilma com Macedo nas Olimpíadas de Londres
Lá nos anos 80 fiz um estudo de campo para melhor conhecer e avaliar as crenças e o comportamento dos pentecostais e neo-pentecostais. Sempre me interessei pela história do cristianismo cuja doutrina protagonizou as mais negras pagínas da História da Civilização Ocidental. 


Fiquei abismado com o que vi: o obscurantismo das crenças, a capacidade de controle dos fiéis pelos pregadores, as farsas grosseiras dos milagres, a venda de carnês de promessas, a roubalheira do dinheiro dos mais pobres e a inabalável crença de que são os portadores da verdade transcedental. 

Posteriormente, nos anos 90, o que mais me impressionou foi a progressiva obsessão dos pentecostais em impor ao conjunto da sociedade seus dogmas, por meio da ação política institucionalizada. 

À luz do constante crescimento dessas seitas, desde aquela época passei a temer o dia em que os pentecostais se tornariam parte expressiva da população brasileira. Vaticinei que esse grupo evangélico assumiria o controle do legislativo e dos aparelhos do Estado, mudaria as leis e dividiria a sociedade brasileira no que diz respeito à tolerância nacional com comportamentos e com outras expressões religiosas. Atacaria violentamente o sincretismo religioso nacional que, embora ridicularizado por uma certa intelectualidade, tem sido uma vantagem estratégica brasileira. 

Com a confluência de interesses entre os pentecostais e o PT, na campanha presidencial de 1998 e de 2002 cheguei a chamar a atenção dos petistas, em especial os do Rio de Janeiro, onde essa confluência de interesses era mais forte (Benedita da Silva, Anthony Garotinho e Crivela), sobre o perigo para o futuro do país dessa junção política do PT com seus antigos inimigos e novos aliados. 

Como se viu na última campanha presidencial o atraso religioso instigado pelo pentecostalismo e seguido pelo catolicismo conservador deu o tom na campanha de ambos os candidatos. Se não bastasse a impressionante pobreza das propostas dos dois candidatos, ambos guiaram-se pelas teses desse fundamentalismo cristão medieval.

Parece-me que a roda da História já favoreceu o obscurantismo religioso. Não consigo ver saída. O pentecostalismo continua crescendo em ritmo alucinante e o medo dos políticos à hostilidade evangélica é indiscutível.

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O perigo evangélico e de sua clara ideologia obscurantista vêm se avolumando desde a constituinte. A aliança entre o PT e os evangélicos se deu já na campanha presidencial do primeiro mandato de Lula. Quem se preocupa com o perigo evangélico como eu, que observo esse fenômeno desde os tempos que estava na faculdade, já denunciava essa bizarra aliança desde os arranjos que Lula fez com os pentecostais, principalmente com Edir Macedo na campanha presidencial de 2001.

Chamei a atenção dos petistas para as alianças do lulismo com os evangélicos do Rio de Janeiro, que chegou a rifar candidaturas petistas históricas como a de Wladimir Palmeira, permitindo a eleição sucessiva de 3 evangélicos pentecostais, inclusive o homofóbico Anthony Garotinho.

Denunciei o perigo da aliança lulo-pentecostal durante todos os dois mandatos do governo Lula, inclusive nesta lista. Muitos listeiros defenderam os evangélicos por conta de sua aliança com Lula. Li, aqui mesmo neste lista, coisas escabrosas acerca das virtudes angelicais dos evangélicos do bem, aqueles aliados do petismo, é claro. A defesa dos evangélicos aliados muitas vezes fez-me lembrar a vigorosa defesa que os trotskystas da LIBELU faziam de Khomeini e seus ayatolás.

Em suma, não vote em Haddad nem em Russomano. São Paulo não merece destino tão trágico.

6 comentários:

  1. É que está cheio de petista nesses ditos movimentos sociais. Por isso ainda falam para votar no partido do mensalão. Gente sem-vergonha, santo Deus!

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  2. Tenho outra proposta, Miriam: que tal votar em partidos pró-LGBT, como o PSTU, no primeiro turno, e no segundo turno escolher o menos pior? no meu caso, no segundo turno, voto nulo.

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    1. PSTU, meu caro? A Guerra Fria acabou há 21 anos anos. Socialismo é coisa de maluco, como bem disse o Ferreira Gullar. Não deu certo, em lugar algum, e nunca dará. O voto LGBT tem quer ser democrático ou nulo! Partidos socialistas não são nada democráticos! Míriam

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  3. Cara Miriam: agora, no segundo turno, entre Serra e Haddad, seguindo o seu conselho do primeiro turno, não podemos votar em Haddad, então votaremos em Serra. Serra recebeu em reunião e aceitou o apoio do pastor Malafaia, que considero o mais destacado líder dos homofóbicos, pela sua atuação midiática e nas audiências públicas no Congresso Nacional. Agora disse que vai arrebentar Haddad, o "candidato do kit gay", segundo ele. Ah, foram eleitos em SP oito vereadores evangélicos, dos partidos
    PRB (3), PSD (2), PSDB, PP e PSB. Detalhe: quem votou em algum candidato ou legenda do PSDB, PSD ou DEM ajudou a eleger os três vereadores evangélicos desta coligação. Não foi eleita a candidata do deputado e pastor Marco Feliciano, que disputa com Malafaia o título de mais homofóbico do Brasil e disputa com o deputado federal do PSDB, João Campos, o título de mais homofóbico da Câmara Federal. A candidata de Feliciano é do PSDB.

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    1. O candidato Serra tem expressivo conjunto de ações em prol da comunidade LGBT. Haddad não tem nenhum. E o PSDB não tem projetos autoritários de liquidar a oposição, instalar ditadura de partido único no país nem é tão corruPTo quanto o PT.

      Por outro lado, os evangélicos, graças à força que o PT lhes deu, tornaram-se um problema suprapartidário. De fato, um problema da sociedade brasileira. O PT criou a cobra, ela cresceu e agora está dando cria em todos os partidos.

      Infelizmente, a essas alturas do campeonato, se alguém votar pensando em partido onde não tenha evangélico, vai acabar sem votar em nenhuma sigla. O que se deve fazer é começar a debater essa perigosa ligação entre política e religião nos meios de comunicação. Tenho visto algumas matérias sobre o assunto na Veja e no Estadão, o que mostra que o fenômeno já chamou a atenção da grande imprensa. O jeito é ampliar o debate!

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  4. Prezada Miriam! Este post não é novo mas merece muita atenção. Recentemente tenho acompanhado este excelente blog. Estou também muito preocupado com essa questão. A referência ao Irã diz e resume tudo. Exagero? O que LGBTs conseguiram efetivamente do executivo e legislativo desde a posse de Lula? Só vejo derrotas. Não sou militante mas estou muito ligado na questão ultimamente e pretendo fazer minha parte como cidadão. Vou escrever um e-mail para Toni Reis abordando essas e outras questões. Não entendi...No site da ABGLT à direita há um link: "Partidos Políticos" (!?). Eu também não estou entendo como o "Estatuto da Diversidade Sexual" não está sendo divulgado e apoiado como deveria por essas entidades na internet. Abraço!

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