Depois daquela noite, será que ela me liga?

terça-feira, 24 de janeiro de 2012

E eis que, quando você menos espera, - tchantchantchan! - você topa, tropeça, é atropelada por sua princesa encantada, a mulher de seus sonhos, tudo o que você havia pedido à Deusa ou a Deus.

Você finalmente encontrou a sua cara metade. E agora? Agora dependendo de seu temperamento, signo, atividades e projetos de vida, você há de viver por algum tempo horas de maior ou menor ansiedade e angústia. Não sem razão corre a anedota de que, no segundo encontro, as mulheres já vão com o caminhão de mudanças. Infelizmente para as mais ansiosas, a fase da Lusitana demora um pouco mais para acontecer. Antes que o caminhão de mudanças estacione à frente da casa de uma delas, muita água tem de rolar por debaixo da ponte. 

É a fase de as candidatas a namorada se conhecerem e procurarem conhecer quais são as intenções uma da outra. Ainda mais nesses tempos de ficar, o one night stand como dizem as americanas, esse padrão de comportamento de passar apenas uma noite juntas e nunca mais se ver ou se falar. Muita gente já saiu de coração partido, porque foi para a cama sonhando uma vida em comum, enquanto que a outra parte não queria mais do que algumas horas juntas, quanto muito, uma noite.

Eis a angústia que assalta as enamoradas: por que ela não me telefona? Puxa, queria sair com ela hoje também! Será que ela gosta de mim? A gente vai voltar a se ver? Ficou de telefonar e ainda não telefonou! Ou será que quem ficou de telefonar sou eu? Telefono ou não telefono? O que faço?

As mais objetivas ou ansiosas costumam declarar peremptoriamente que não gostam de jogo e não querem participar deste delicado game amoroso que são os primeiros encontros. E será que se trata mesmo de jogo ou apenas de uma dança, leve e sutil, de sedução e descobrimento que acontece com os animais e conosco também, não menos animais que eles, e bem mais complexas? Afinal no reino da Femina Sapiens, existem os complexos de Édipo, de Electra, de inferioridade e de superioridade para citar os mais conhecidos.

Esse jogo, ou momento é difícil mesmo. As mãos suam, perde-se a fome, vive-se à espera de um telefonema ou sente-se palpitar forte o coração quando é a nossa vez de chamar o celular da amada ou da amada-a-vir-a-ser. 

Amada-a-vir-a-ser? Isso mesmo. Quem diz que a princesa encantada que você acabou de topar ou de cruzar seu caminho é a sua amada mesmo e não a de outra pessoa? Princesas encantadas também se enganam, se atrapalham, pensam de um jeito e depois despensam... Por isso, nada melhor do que um período de conhecimento, de fazer a corte, de observar com quem estamos saindo, de quem se trata. É o momento de ouvir. E mais importante de que ouvir, observar. Afinal, falar é fácil. E não são só os portenhos que podem ser comprados pelo que valem e vendidos pelo que pensam que valem. Por isso, aproveite este tempo para verificar se o que ela faz confere com o que ela diz que faz. Depois de juntas, não adianta muito alegar, como nos divórcios, erro de pessoa. Até aí, já se sofreu muito, já se amargou muita tristeza. Use esse tempo de sedução e de jogo para conhecer as intenções de sua amada, para saber se ela é a pessoa que você está procurando para partilhar sua cama e sua vida. Se ela tem a ver com você.

O jogo da sedução é sofrido para ambas as partes. Mas reflita: o Amor, antes de ser um contrato de vida, é emoção. As pessoas ficam juntas porque se querem bem, química, física e sentimentalmente. Não adianta querer colocar o carro na frente dos bois, sentar diante dela e falar e falar, ouvir e ouvir e acreditar que está tudo resolvido. Que tudo foi dito e ouvido. Relacionamentos amorosos acontecem ao longo do tempo e não num instante. Pedem convivência. O love at first sight acontece ao primeiro olhar, mas o relacionamento, o bom entendimento e a alegria de estar juntas, acontece com o passar dos dias. Por isso, administre sua ansiedade e angústia. E lembre: “Nem sempre ganhando, nem sempre perdendo, mas aprendendo a jogar”, como cantava Elis Regina. O jogo amoroso requer tranqüilidade, tudo o que nós, que amamos, não conseguimos ter. 

Stella C. Ferraz é autora dos romances lésbicos Preciso te ver, A Vilas das Meninas e Pássaro Rebelde, publicados pela ed. Brasiliense. 
Originalmente publicado no site Um OUtro Olhar em 20/10/04

1 comentários:

  1. Gostei de tudo que li e tomo pra mim como lição administrar minha ansiedade é algo que busco fazer todos os dias.

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