Nelson Mandela também defendeu direitos LGBT e o casamento igualitário

segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

Nelson Mandela (1918-2013)

Não dá para canonizar Nelson Mandela, tratá-lo como um santo, imune a erros pessoais e políticos. Impossível, contudo, para qualquer um(a) que tenha sensibilidade política, negar que ele tenha sido uma figura histórica excepcional. Seus acertos superaram em muito seus erros e, entre os acertos, figurou também o apoio aos direitos LGBT e ao casamento igualitário. Destaque para o trecho do artigo abaixo que nos recorda mais esse aspecto positivo das ações do líder sul-africano.
As contribuições de Mandela para a conciliação entre brancos e negros são muito conhecidas, mas talvez o seu incansável trabalho na luta contra a aids, seu empenho para a paz em nações em guerra e a promoção do respeito aos direitos dos homossexuais sejam menos famosos. Num continente que costumava reprimir vigorosamente gays e lésbicas, Mandela foi um vigoroso defensor da igualdade e do casamento gay e foi em razão da sua influência que a África do Sul tornou-se o quinto país no mundo a legalizar a união de pessoas do mesmo sexo.
A marca e o legado de Mandela sobrevivem em todo o mundo

Meu fato favorito sobre Nelson Mandela é que ele convidou a um dos carcereiros brancos que ajudou a mantê-lo preso por 27 anos para assistir à sua posse como presidente da África do Sul. Foi um sinal da magnanimidade, cordialidade e da total falta de ressentimento que marcaram esse homem. A história teve muitos grandes dissidentes e revolucionários, mas poucos se tornaram líderes nacionais. As qualidades que caracterizam um rebelde, ou seja, coragem, obstinação e até a irracionalidade, não tendem a produzir um grande presidente.

Mandela enfrentou muitas pressões para ser mesquinho, humilhar aqueles que o humilharam e até assassinaram seus amigos, mas resistiu a elas. Foi o homem mais notável que conheci. Ele exemplificou o serviço e o sacrifício público mais do que qualquer outra pessoa da sua geração. Era advogado com uma carreira promissora que poderia ter escolhido trabalhar dentro do sistema, mas deixou tudo de lado para lutar pelo povo do seu país. Quando foi levado a julgamento, enfrentando uma possível pena de morte, foi desafiador como sempre.

Depois, durante os 27 anos na prisão, diversas vezes foi lhe oferecida a chance de ser libertado antes do prazo. Na verdade, o governo chegou a implorar para ele aceitar a liberdade condicional, porque atrás das grades ele havia se tornado um empecilho. Mandela recusou-se aceitar propostas que não lhe dessem liberdade totalmente incondicional - o que acabou conseguindo.

Colocar seu país em primeiro lugar também significou problemas familiares, incluindo o divórcio da sua mulher Winnie. Significou confrontar antigos aliados que achavam que ele concordava com as desigualdades econômicas e raciais e cedera demais. E significou assumir apenas um mandato como presidente, para mostrar que a África do Sul seria governada pela lei e não por presidentes perpétuos. Ele deu um exemplo de governança.

Quando especialistas discutem porque a África cambaleou no período pós-independência, um fator comum citado é a frágil governança e a péssima liderança. Houve poucos exemplos brilhantes de grandes líderes na África, com exceção em Botswana. Mandela tornou-se um presidente tão bom quanto o revolucionário que lutou pela liberdade e seu exemplo foi estimulante e contagiante. Por toda a África e em todo o mundo ele foi uma inspiração de liderança e serviço público. Ele superou as expectativas e talvez não seja coincidência o fato de líderes africanos terem sido muito melhores no período pós-Mandela.

Ele também enviou uma mensagem para o resto do mundo. Quando estava na prisão e mais precisava de ajuda, o mundo se calou. Dick Cheney chegou a votar contra uma resolução no Congresso americano, em 1986, que apelava pela libertação de Mandela. Uma atitude tacanha. E somos tacanhos também quando não nos manifestamos a favor de dissidentes em países como a China e o Bahrein. Eventualmente, a liberdade prevalecerá em Pequim e no Bahrein, como ocorreu na África do Sul.

As contribuições de Mandela para a conciliação entre brancos e negros são muito conhecidas, mas talvez o seu incansável trabalho na luta contra a aids, seu empenho para a paz em nações em guerra e a promoção do respeito aos direitos dos homossexuais sejam menos famosos. Num continente que costumava reprimir vigorosamente gays e lésbicas, Mandela foi um vigoroso defensor da igualdade e do casamento gay e foi em razão da sua influência que a África do Sul tornou-se o quinto país no mundo a legalizar a união de pessoas do mesmo sexo.

Nelson Mandela foi um líder não apenas para a África do Sul, mas para o mundo. Uma figura poderosa pode ter falecido aos 95 anos. No entanto, se você viajar pelo mundo, verá sua marca, seu legado, seu espírito. Mandela vive. (Tradução de Terezinha Martino)

Fonte: Nicholas Kristof / NYT* , via O Estado de S.Paulo, 07/12/2013

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