Programa Justiça Seja Feita: As novas famílias

sexta-feira, 31 de agosto de 2012 0 comentários

No programa Justiça Seja Feita - As novas famílias, exibido pela TV Justiça, em 06 de agosto de 2012, os obstáculos enfrentados por casais de homens e mulheres homossexuais na luta por seus direitos ao  casamento e à adoção de crianças.

E as decisões positivas de juízes de cabeça aberta no sentido de fazer valer um dos pilares da democracia que é a igualdade de todos perante à lei. Vamos divulgar!

Clipping: Pai adotivo gay ganha direito a licença-maternidade

quinta-feira, 30 de agosto de 2012 0 comentários

Decisão obriga INSS a pagar salário e empregador a conceder benefício

Débora Bergamasco - O Estado de S.Paulo

Brasília - Depois de dois anos cuidando do filho adotivo, o bancário Lucimar Quadros da Silva finalmente conseguiu o direito de tirar os quatro meses de licença-maternidade. 

É a primeira vez na história previdenciária do Brasil que o INSS pagará o benefício a um pai adotivo que vive em união estável homossexual. Decisões semelhantes anteriores só foram concedidas para pai solteiro e casal gay do sexo feminino. 

A briga começou assim que ele e seu companheiro, o consultor Rafael Gerhardt, saíram do conselho tutelar de Gravataí, na Grande Porto Alegre, com João Vitor no colo.

Quando entrou com o pedido do benefício no INSS, Lucimar pensou que não teria dificuldades para obtê-lo e repetiria o feito das amigas, um casal de lésbicas que também havia adotado um bebê na mesma época, conseguindo a licença sem atrasos. Para Rafael, companheiro de Lucimar, a espera foi surpreendente: "Não imaginava passar três anos na fila de adoção e dois na do INSS". 

Mas o órgão previdenciário recusou o pedido, alegando que a lei é específica ao dizer que o benefício é somente para mulheres. Os pais então recorreram e venceram por unanimidade em uma junta do Conselho de Recursos, ligado ao Ministério da Previdência. O caso foi parar em Brasília, onde o casal ganhou novamente ao alegar, durante julgamento por videoconferência, que o benefício era para a criança e não para pai ou mãe. Sem advogados, porque se trata de recurso administrativo, Lucimar citou o Estatuto da Criança e do Adolescente e a Constituição Federal. 

A decisão final e unânime saiu na terça-feira passada, obrigando o INSS a pagar quatro meses de salário e a acionar, em até dez dias, o banco Banrisul, empresa onde trabalha Lucimar, que terá de conceder a licença de quatro meses para seu funcionário. 

O casal está junto há 17 anos e resolveu oficializar a relação como união estável para que Rafael tivesse direito ao plano de saúde de Lucimar. Deu certo. Juntos, abriram um restaurante, que frequentemente promovia ações beneficentes em prol de orfanatos. Surgiu aí a ideia de aumentar a família. Entraram na fila da adoção. 

Enquanto isso, com João Vitor ainda na barriga, a mãe biológica do bebê procurou o Conselho Tutelar da cidade gaúcha para avisar que não tinha condições psicológicas de criá-lo. Quando o garoto completou 3 meses, ela o entregou para adoção. O casal, que já tinha passado por todos os trâmites necessários, foi chamado para conhecer o bebê. "Foi amor à primeira vista", lembra-se Rafael. "Saímos de lá com o João. Foi a surpresa mais feliz das nossas vidas e também dos familiares, que nem sabiam da nossa intenção de adotar."

Lucimar lamenta ter conseguido juntar dias remanescentes de férias e folgas que somaram apenas 15 dias para ficar em casa com o filho. Ao voltar ao trabalho, o casal teve de colocar o bebê na creche. Agora, Lucimar espera ficar ao lado de João Vitor por quatro meses.

Fonte: ESP

Tributo a Rosely Roth, pioneira da visibilidade lésbica no Brasil

terça-feira, 28 de agosto de 2012 1 comentários

Rosely Roth (21/08/59- 28/08/1990)

Por Míriam Martinho

Rosely Roth nasceu de família judia, em 21 de agosto de 1959, tendo cursado escolas judaicas e não-judaicas durante a infância e a adolescência e, posteriormente, formado-se em Filosofia (1981) pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, onde também pós-graduava-se em Antropologia (85/86) com os trabalhos Vivências Lésbicas - Investigação acerca das vivências e dos estilos de vida das mulheres lésbicas a partir da análise dos bares freqüentados predominante por elas e Mulheres e Sexualidades.

Iniciou seu contato com o movimento de mulheres, no primeiro semestre de 1981, quando começou a participar simultaneamente dos grupos Lésbico-Feminista/LF (1979-1981), este a partir de 1981,  e SOS Mulher (1980-1983). Em outubro de 1981, fundou, com Miriam Martinho, o Grupo Ação Lésbica-Feminista/GALF (1981-1990), um grupo a princípio de continuidade do grupo lésbico-feminista, cujo coletivo original se dispersara, mas que viria, no decorrer de sua existência, a desenvolver características próprias tanto em termos políticos quanto de atividades.

A partir de 1982, deixou de atuar no coletivo SOS Mulher, vindo a dedicar-se exclusivamente ao Grupo Ação Lésbica-Feminista (GALF) do qual foi figura de destaque seja por seus artigos, nas duas publicações da entidade – os boletins ChanacomChana (12/82 a 05/87) e Um Outro Olhar (12/87 a 1995) - e pela organização de debates, com outros grupos dos Movimentos Feminista, Homossexual e Negro, além de com parlamentares da época, seja por sua participação em atividades externas (manifestações, encontros, simpósios, congressos) ou por sua presença constante, publicamente lésbica, na mídia brasileira.

Entre as inúmeras atividades que realizou, por seu impacto político, destacam-se:
1) a organização de uma manifestação de protesto (19/08/83), junto aos proprietários do Ferro’s Bar (o mais antigo e tradicional bar lésbico do Brasil) que não permitiam a venda do boletim Chanacomchana em seu recinto, apesar de este ser sustentado fundamentalmente por lésbicas, e que reuniu ativistas do movimento homossexual e feminista, parlamentares e representantes da OAB, com bastante destaque na mídia, e

2) duas participações (25/05/85-20/04/86) em programas da apresentadora Hebe Camargo (uma das mais populares do Brasil), em cadeia nacional, falando aberta e tranqüilamente sobre lesbianidade, com grande repercussão na imprensa e junto à própria comunidade lésbica e gay.
Rosely Roth foi pioneira no que se convencionou chamar de “política da visibilidade” em uma época (década de 80) em que, com raras exceções, ninguém mais o fazia, aliando aparições públicas, geralmente marcantes, a uma fundamentação teórica que lhe permitiu ir além do ramerrão vitimista e reformista que muitas vezes caracteriza o discurso e as atividades dos grupos sociais discriminados. As profundas crises emocionais que a levaram ao suicídio, em agosto de 1990, em nada empanam o brilho de sua trajetória política que se destacou pela coragem, pelo dinamismo e pela coerência discursiva. 

Na década de 90, a visibilidade ganhou as páginas dos jornais, os programas de TV e até as ruas, em manifestações de orgulho cada vez maiores e com várias pessoas dando as caras, mas até hoje, não surgiu quem superasse em excelência, Rosely Roth como a ativista lésbica do Brasil. O trabalho da Rede de Informação Um Outro Olhar, em suas atuações pela saúde e os direitos humanos das mulheres (em particular das lésbicas) e das minorias sexuais é dedicado à sua memória. Da mesma forma, em sua homenagem, decidimos marcar o dia 19 de agosto, dia da manifestação no Ferro’s Bar, chamada pelos ativistas da época de nosso pequeno Stonewall Inn, como Dia do Orgulho Lésbico Brasileiro. Assim também, prestamos nosso tributo ao Ferro’s, fechado no começo de setembro (2000) que, por 38 anos, foi palco de tantas histórias de amor, de tantas histórias políticas e culturais das lésbicas não só paulistanas como de todo o país.

Fonte: Revista Um Outro Olhar, n. 33, Ano 14, Outubro-Dezembro de 2001. Foto: Rosely em reunião lésbica durante o III Encontro Feminista Latino-Americano e do Caribe


Ver também:


Clipping: Mãe avisou jovens sobre riscos de crimes homofóbicos em Camaçari

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Namoradas receberam ameaças por SMS
Uma semana antes de ser assassinada a tiros ao lado na namorada, Maiara de Jesus, 22 anos, enviou para o celular do pai, o soldador Jorge de Jesus, uma mensagem de despedida

Uma semana antes de ser assassinada a tiros ao lado na namorada, Maiara de Jesus, 22 anos, enviou para o celular do pai, o soldador Jorge de Jesus, uma mensagem incomum. “Às vezes, por coisas sem sentido, acabamos perdendo pessoas importantes. Às vezes erramos, às vezes arriscamos e somos felizes. (...) O destino reserva para todos os humanos uma certeza: a morte. No dia em que eu deixar de existir, lembre-se de que parti feliz, porque tive a oportunidade de ter tido uma pessoa como você”, afirmou ela, via celular.

Para Jorge, o texto hoje soa como uma premenitória despedida. “É como se ela soubesse que algo ia acontecer”, interpreta.

Maiara foi assassinada em Camaçari, no final da noite de sexta-feira, quando voltava do camelódromo onde trabalha com a namorada Laís Fernanda dos Santos, 25 anos. Dois homens passaram em uma moto atiraram três vezes contra Laís - atingida no tórax e na cabeça - e uma vez contra Maiara, na cabeça.

Saudade Sem encontrar uma explicação para a morte da filha, a mãe de Laís, Josefa Pereira dos Santos, conhecida como Dete, deixa transparecer toda a tristeza ao entrar no quarto onde o jovem casal vivia, nos fundos da casa de uma vizinha.

Ontem, encontrou sobre a cama roupas ainda por passar e, nas estantes, retratos com imagens de bons momentos de Laís e Maiara. “Elas eram o meu pé e a minha mão. As duas muito carinhosas, viviam me abraçando. Maiara me conquistou e eu tinha um amor de mãe por ela. Laís tem dois irmãos homens e era minha única filha. Não consigo parar de pensar nem em uma, nem na outra. Mas sei que nada vai trazer elas de volta”, lamenta Dete.

Ela trabalha junto com a filha e a nora no camelódromo. Todos os dias, às 7h30, acordava as duas. Laís e Maiara cuidavam da barraca pela manhã e Dete fazia o almoço. Levava a comida ao meio-dia e ficava por lá. Enquanto Maiara era a melhor vendedora, Laís ajudava com o controle do estoque. No final do dia, eram as jovens que fechavam o caixa.

Sonhos
Antes do crime, Maiara aguardava a resposta de uma entrevista de emprego numa loja em Camaçari. Laís queria concluir o supletivo noturno para “vencer na vida”. Preferia trabalhar do que estudar e já acompanhava a mãe no camelódromo desde os 7 anos.

“Ela ia fazer uma tatuagem no tornozelo com a frase ‘Dete, eu te amo’. Escrevia isso nos relógios, nos diários, nas pulseiras, em todos os lugares. Ela era muito próxima de minha mãe, gostava muito dela”, conta o irmão de Laís, Luiz Fernando Santos, 23 anos.

Família
Assim como entre os familiares de Laís, o casal tinha boa relação com a família de Maiara, que saiu de Dias D`ávila aos 18 anos. No última Dia dos Pais, 12 de agosto, Jorge de Jesus conheceu a mulher com quem a filha vivia há cerca de dois meses e assim soube que a filha era gay.

“Eu gostei da garota. Disse a Maiara que a amava acima de tudo e que a aceitava”, lembra. Maiara não contou para a mãe, evangélica, por medo da reação. “Ela disse que ia falar, mas não teve tempo pra isso”, lamenta Jorge.

Faltou tempo também para as famílias se conhecerem. Jorge já tinha combinado um encontro, por telefone, com o empilhador Enedil Nunes dos Santos, pai de Laís. Eles falaram sobre a relação das filhas e chegaram a marcar uma reunião familiar para setembro. “Todos em minha casa estão muito chocados. Tenho mais dois filhos e tenho que dar suporte a eles”, conclui.

Mãe avisou filha sobre possíveis ataques homofóbicos
A delegada titular de Homicídios da Região Metropolitana, Maria Tereza dos Santos, reafirmou ontem que a investigação segue por duas linhas, sem, no entanto, sivulgar quais linhas seriam estas. Ela não acredita na homofobia como motivação do crime, mas a família não descarta.

“As pessoas têm preconceito aqui. Desde que os gêmeos foram agredidos por serem confundidos com gays que eu falava para Laís tomar cuidado”, lembra Josefa dos Santos, mãe de Laís Fernanda. A agressão a que ela se refere ocorreu em junho, contra os irmãos José Leonardo e José Leandro da Silva, de 22 anos. Leonardo morreu.

Josefa não acredita que o ex-namorado da filha, Luciano Pereira, o Bubu, de 24 anos, tenha participação no crime, que poderia ter sido motivado por ciúme. “O namoro acabou numa boa. Ele foi para o enterro, me apoiou. Não faria isso”, afirma.

Outros familiares e amigos das vítimas também defendem o rapaz. “Não sei o que aconteceu. As duas eram muito queridas. Mas o Bubu está sendo acusado sem provas”, disse Ana Cláudia Fernandes, amiga e vizinha das vítimas.

Fonte: Correio24horas

Agosto com orgulho: Repercussão do 19 de agosto na Imprensa

segunda-feira, 27 de agosto de 2012 0 comentários

"Invasão" do Ferro's Bar pelo GALF em 19/08/1983

O dia 19 de agosto, Dia do Orgulho das Lesbianas do Brasil, foi amplamente divulgado pela grande e pequena imprensa, quando de seu lançamento, possibilitando uma visibilidade para a questão lésbica nunca vista anteriormente em nosso país.

Abaixo, reproduzimos algumas das matérias que tiveram versões on-line.

Ver também:
Orgulho Lésbico: o happening do Ferro's Bar 
Agosto com orgulho: os primórdios da organização lésbica no Brasil

Índice das matérias

  1. ONGs lançam "dia do orgulho lésbico" em SP
  2. Data de comemoração foi inspirada em protesto
  3. Bar das lésbicas entra na história
  4. Intolerância religiosa - Revista da Folha
  5. Ministério pode adotar atendimento diferenciado para as mulheres lésbicas
  6. Mulheres que amam mulheres participam da Parada
  7. O orgulho lésbico comemorado dia a dia
  8. Muito além de Claras e Rafaelas
  9. Dia Nacional do Orgulho Lésbico
Grande Imprensa

CIDADANIA
A iluminadora Neusa Maria de Jesus e a economista Luiza Granado, coordenadoras de ONGs que defendem os direitos das lésbicas.
Marlene Bergamo/Folha Imagem
AURELIANO BIANCARELLI
DA REPORTAGEM LOCAL
Pesquisa mostra que 60% das homossexuais não se assumem quando vão ao ginecologista por temer discriminação  
  
Cerca de 60% das lésbicas não revelam ao seu ginecologista sua orientação sexual. São tratadas por seus médicos como mulheres que fazem sexo com homens, porque essa é a regra estabelecida. Os médicos perguntam sobre contraceptivos, sugerem preservativos ou pílulas, e as mulheres fazem de conta que concordam.

Esconder a "orientação" sexual tem seus motivos. Cerca de 60% das mulheres que revelaram ser lésbicas dizem que sofreram algum tipo de discriminação. Uma entrevistada afirmou que a médica pediu a presença de sua enfermeira, com medo de ser assediada. Vários médicos sugeriram que a paciente procurasse ajuda de um psiquiatra, outros se "interessaram" em saber como era a relação com suas parceiras.

Esse quadro de preconceito e desinformação médica aparece em pesquisa feita com 150 mulheres de 17 a 57 anos pela Rede de Informação Um Outro Olhar, ONG que tem uma publicação própria, com o mesmo nome. As entrevistadas eram leitoras da revista. Do grupo de mulheres ouvidas, 32% são mães e 23% fizeram pelo menos um aborto. A primeira pesquisa foi concluída três anos atrás. Uma mais ampla está em andamento.

O cenário revelado nessa pesquisa é uma das razões para o lançamento, nesta quarta-feira, dia 11, do Dia Nacional do Orgulho Lésbico. A data será comemorada no dia 19 de agosto, dia em que, 20 anos atrás, o Grupo de Ação Lésbica Feminista (Galf) invadiu o Ferros Bar. O local era o ponto de encontro das lésbicas de São Paulo, mas os proprietários decidiram proibir a venda ali do boletim da associação, o "ChanacomChana". A invasão do bar, que contou com o apoio de políticos e advogados, marcou uma espécie de "revolução" lésbica, que está sendo retomada agora.

"Assumir a identidade de lésbica é difícil na família, no trabalho, na igreja. É difícil também quando se trata de saúde", diz a economista Luiza Granado, 42, coordenadora da Rede de Informação Um Outro Olhar. Uma das líderes do movimento disse que não revela sua orientação sexual aos médicos com medo de que eles não cuidarão de sua saúde.

Não deveria ser assim. Pelos cálculos que elas mesmas fazem, 10% das mulheres são lésbicas ou bissexuais. Na região metropolitana de São Paulo, há 15 milhões de habitantes. Considerando-se que as mulheres são metade da população, seriam 750 mil mulheres fazendo parte desse grupo.

Em São Paulo, os grupos organizados não chegam a cinco. Na Parada Gay deste ano, que acontece no próximo dia 22, quando desfilarão 30 carros alegóricos, apenas três são de lésbicas. No ano passado, motociclistas do grupo Mulheres que Amam Mulheres abriram a parada. "O primeiro grupo de mulheres desfilou há três anos, numa picape. Agora já somos três trios elétricos, mas ainda é quase nada", diz Luiza Granado.

A iluminadora de teatro Neusa Maria de Jesus, 45, da Coordenadoria Especial de Lésbicas (CEL), da Associação da Parada GLBT (Gays, Lésbicas, Bissexuais e Transgêneros), diz que a criação de um dia do "orgulho lésbico" é uma identificação para as mulheres. "Nós queríamos um dia específico para nós", afirma. Luiza Granado diz que a nova data será incluída no calendário de eventos da cidade.

Um Outro Olhar, tel. 0/xx/11/3735-1035, Associação da Parada Gay de São Paulo, tel. 0/xx/11/3362-2361

Data de comemoração foi inspirada em protesto
DA REPORTAGEM LOCAL
O Ferro's Bar, na região central da cidade, permaneceu por décadas como ponto de referência para a comunidade lésbica, quando os proprietários do bar não permitiam a venda no seu interior de uma publicação lésbica da época.

Em um dos incidentes, a bar chegou a chamar a polícia. Como reação, integrantes do Galf convocaram políticos, militantes homossexuais e invadiram o local. O ato foi acompanhado pela mídia. Os fatos aconteceram em 19 de agosto de 1983 e a data agora, 20 anos depois, está se transformando no Dia Nacional do Orgulho Lésbico.

Na época, o jornal "Lampião da Esquina", considerada a primeira publicação homossexual do Brasil, chamou a invasão do Ferros Bar de "nosso pequeno Stonewall Inn", referência à resistência da comunidade homossexual americana à repressão policial. A data, 28 de junho, transformou-se no Dia do Orgulho LGBT, hoje comemorado em todo o mundo.

Luiza Granado disse que a semana do "19 de agosto" será comemorada por um ciclo de palestras e uma série de atividades em São Paulo e outras cidades.

Folha de S. Paulo - 25.06.03

Bar das lésbicas entra na história

Gilberto Dimenstein
Colunista da Folha
Na geografia da marginalidade paulistana, há um lugar reservado para o Ferro's Bar, bar do centro da cidade que, durante muito tempo, foi o principal ponto de encontro das lésbicas. Não raro, mulheres movidas a ciúmes e álcool produziam, naquele ambiente enfumaçado e de comida duvidosa, madrugadas memoráveis de pancadaria. De manhã, porém, tudo deveria estar arrumado para receber a clientela familiar. Até que viesse a noite e as mulheres ocupassem, com seus olhares caçadores, as mesas.

Encravado numa região de cantinas italianas freqüentadas por artistas e boêmios, o bar desapareceu, mas está prestes a virar história. Depois de participarem da organização da Parada Gay, realizada no domingo passado, movimentos de defesa de lésbicas preparam seu próprio dia de orgulho, que será comemorado no próximo 19 de agosto. "Há questões específicas, que devem ser discutidas", diz Miriam Martinho, coordenadora do grupo Um Outro Olhar.

O marco é a resistência no Ferro's Bar, onde, em 19 de agosto de 1983, foi lançado um manifesto pelos direitos das lésbicas. Dias antes do manifesto, o dono do estabelecimento chamou a polícia e proibiu as mulheres de vender ali uma publicação chamada "ChanacomChana", considerada um atentado aos bons costumes. "A proibição era um absurdo. Éramos, afinal, as principais clientes", comenta Miriam.

Desafiaram a proibição, forçaram a entrada e leram, em meio a aplausos e assovios, o manifesto. O ambiente, recorda-se Miriam, estava tenso. Muita gente tinha pavor de ser identificada, havia imprensa registrando o protesto. Desde aquele dia, o Ferro's ganhou uma clientela lésbica mais intelectualizada e politizada. E mais rica. Mas não resistiu.

Embora permaneça a discriminação, os tempos mudaram para os homossexuais da cidade de São Paulo, como mostraram os números da passeata de domingo. Excesso de bebidas, uso demasiado de drogas e prática de sexo inseguro, comportamentos tão louvados no passado pela marginalidade, são hoje condenados pelos padrões do politicamente correto. A entidade Um Outro Olhar, coordenada por Miriam, é um exemplo: sua missão é cuidar da saúde das lésbicas, a maioria delas, segundo descobriram, nem sequer fala com os médicos sobre suas preferências sexuais.

O Ferro's, onde agora funciona o bar Xingu, ganhou concorrência de lugares nos bairros de elite, com uma cozinha mais confiável e garçons respeitosos, acompanhando o movimento de abandono do centro -eram tempos em que apenas um bar atendia à clientela de mulheres homossexuais e, se alguém dissesse que 800 mil pessoas iriam a uma parada gay na aristocrática av. Paulista, seria tido por maluco.

E-mail - gdimen@uol.com.br

Intolerância religiosa - Revista da Folha

[por Vange Leonel]22.jun.1633 Galileu Galilei, temendo morrer, ajoelha-se perante um tribunal eclesiástico e renega suas convicções para escapar da morte. Seu pecado foi ter afirmado que a Terra se movia em torno do Sol e não o contrário, como pregava a Igreja. Galileu foi condenado somente à prisão domiciliar.

31.out.1992 O papa João Paulo 2º encerra os trabalhos da comissão que admite o erro cometido por seus antecessores e reabilita Galileu.
24.ago.1572 O rei Carlos 2º, da França, com a anuência do papa Gregório 13, inicia a matança de protestantes (os huguenotes). Cerca de 70 mil "hereges" são mortos. A perseguição aos seguidores de outras religiões já estava se tornando praxe: um século antes, Tomás de Torquemada, que dirigia o Tribunal de Inquisição da Espanha, havia condenado 10.220 judeus à fogueira e outros 100 mil à prisão e ao exílio, confiscando seus bens.

13.mar.2000 No documento "Purificação da Memória", João Paulo 2º pede perdão a Deus e aos homens "pelo uso da violência que alguns cometeram a serviço da verdade e pelas atitudes de desconfiança e hostilidade assumidas contra os seguidores de outras religiões". Deixa claro, porém, que o erro não foi cometido pela Igreja, mas pelos filhos que a integravam.

30.mai.1431 Joana D'Arc é condenada por um tribunal eclesiástico e queimada na fogueira como apóstata, herege e bruxa.

16.mai.1920 Joana D'Arc é santificada pelo papa Benedito 15.

31.jul.2003 O papa João Paulo 2º lança uma campanha mundial contra a legalização das uniões homossexuais.

Eu me pergunto: já que a campanha foi lançada por alguns de seus filhos, quanto tempo vai demorar para a Igreja pedir perdão por mais esta perseguição?

Dia 19 de agosto é o Dia Nacional do Orgulho Lésbico, marcando 20 anos de nosso "Stonewall", quando um grupo de lésbicas foi retirado de um bar, à força, pela polícia.

e-mail: vangeleonel@uol.com.br

FOLHA DE SÃO PAULO
19/08/03
COTIDIANO
SAÚDE
O Dia Nacional do Orgulho Lésbico, comemorado hoje pela primeira vez no país, começa com uma perspectiva importante: o Ministério da Saúde está acenando com uma política pública de atendimento diferenciado para a mulher lésbica.

"Assim como há atenção para homem e mulher, a lésbica precisa de cuidado diferenciado", diz Luiza Granado, 42, da Rede de Informação Um Outro Olhar.

Segundo uma pesquisa da ONG, 60% das lésbicas disseram não revelar aos ginecologistas sua orientação sexual. Um número igualmente grande delas também não informava sua prática sexual ao terapeuta.

O Dia Nacional do Orgulho Lésbico começa hoje com a história do movimento, um sarau literário e a benção da Wicca, deusa que dá força à mulher.

No dia 23, às 16h, haverá a oficina Um Toque de Orgulho, estratégias de auto-aceitação, com a psicóloga Graciela Barbero. No dia 30, às 19h30, um debate com as especialistas Sílvia Pimentel, sobre direitos na união lésbica, a teóloga Yury Puello e Iza Paula Hamouche, do Ministério da Saúde. Os eventos serão na Ação Educativa, r. Gen. Jardim, 660, centro de São Paulo.

O dia 19 lembra a data, 20 anos atrás, em que o Grupo de Ação Lésbica Feminista invadiu o Ferros Bar em protesto pela proibição da venda, no local, do boletim da associação. (AURELIANO BIANCARELLI, DA REPORTAGEM LOCAL)  

PEQUENA IMPRENSA (FEMINISTA E LGBT)
Boletim das Católicas pelo Direito de Decidir - 24/06/03

Mulheres que amam mulheres participam da Parada

O que mais emocionou Luiza Granado, coordenadora da Rede de Informação Um Outro Olhar, foi olhar para baixo do trio elétrico e ver os policiais militares fazendo a escolta dos carros, entre as Avenidas do Estado (local onde ficam estacionados os trios elétricos) e Paulista (início de percurso da Parada Gay). “Eles não nos prendem mais como há 20 anos, agora nos protegem”, afirma Luiza. A coordenadora da ONG lésbica, que atua na capital paulista, se referia ao dia 19 de agosto de 1983 quando policiais e pessoas do movimento lésbico entraram em confronto no Ferro’s Bar, local de encontro GLS no centro de São Paulo.

“As coisas mudaram nesse tempo, nós fomos à luta”, afirma Luiza. Quase 20 anos depois, as mulheres que amam mulheres estavam lá na Avenida Paulista na Parada do Orgulho Gay participando de uma festa juntamente com quase um milhão de pessoas.

Mas, o movimento lésbico ainda é tímido, ele contou apenas com apenas três dos 21 trios. De acordo com Luiza, as mulheres ainda são muito escondidas, tímidas. “Elas têm medo do preconceito, medo da imprensa.”

Para reverter esse quadro, a coordenadora destaca a importância de Instituições e ONGs lésbicas, que promovem seminários, palestras para conscientizar as pessoas a respeito do tema. “Precisamos discutir, saber quem somos nós”.

Em 19 de agosto será comemorado o “dia do orgulho lésbico” e a Rede Um Outro Olhar vai promover uma série de atividades na cidade de São Paulo.

Mais informações pelo telefone 11 3735 1035 ou e-mail uoo@umoutroolhar.com.br

Entrevista - Site Resolvido GLBT

O orgulho lésbico comemorado dia a dia

06/10/2003 Este é o principal recado com que a ativista Míriam Martinho, encerrou entrevista concedida ao Resolvido, na qual destacou a importância dos eventos homossexuais que, este ano, tomaram as agendas, não só da própria comunidade GLBT brasileira, como da mídia nacional. Referência obrigatória quando o tema são as lutas pelos direitos homossexuais no Brasil, a tradutora e editora da revista Um Outro Olhar coleciona atuações no movimento lésbico desde 1979, quando integrou o pioneiro grupo homossexual SOMOS-SP.

De lá para cá, Míriam Martinho fundou três organizações de mulheres homossexuais nas décadas de 70,80 e 90 - o Grupo Lésbico-Feminista, a Ação Lésbica-Feminista e a atual Rede de Informação Um Outro Olhar - organizou eventos nacionais sobre o tema e representou o Brasil em encontros e paradas na Europa e América Latina. Nesta entrevista ao Resolvido, ela ressaltou a crescente visibilidade que as questões sobre a homossexualidade das mulheres vêm adquirindo nos dias atuais, mas alertou para a necessidade de "canalizar melhor as reinvidicações" pelos direitos lésbicos. Leia a íntegra abaixo:

Resolvido - Agosto deste ano, foi o mês escolhido para celebrar o Orgulho Lésbico. Em sua avaliação, os objetivos destas comemorações foram alcançados?

Miriam Martinho - O dia 19 de agosto - Dia Nacional do Orgulho Lésbico colocou as lésbicas na pauta da grande, da média e da pequena imprensa (incluindo a mídia LGBT). Nunca se teve tanta visibilidade. As comemorações que incluíram o próprio dia 19, o dia 23 e o dia 30 de agosto foram bem sucedidas, embora modestas, porque tivemos apenas um mês para organizar tudo. Houve um consenso entre quem organizou e quem participou sobre a importância de eventos como esse. Foi um marco político, inclusive trazendo a reboque uma outra data de celebração lésbica que mofava no calendário do descaso há sete anos.

Resolvido - Em junho o movimento GLBT ganhou muita visibilidade no Brasil, com a Parada do Orgulho Gay, onde aparentemente os homossexuais masculinos eram maioria. Como anda em sua avaliação o movimento ativista voltado às mulheres homossexuais?

Miriam Martinho - Bom, a Parada não é um evento da militância LGBT e sim um evento da população LGBT. A maioria das pessoas que vai a esse evento não é ativista, mas se sente atraída por ele. Muita gente diz que a Parada é apenas um Carnaval fora de hora, mas eu não vejo assim. É uma das maiores manifestações populares que temos e, apesar do caráter festivo, tem um aspecto político sim que precisa apenas ser melhor canalizado para as reivindicações dos direitos homossexuais. Para as mulheres, têm sido particularmente positiva, pois permite os primeiros passos na arte de assumir-se sem maiores traumas. Aliás, a presença feminina tem sido cada vez maior.

Resolvido - Estes eventos colaboram de fato para eliminar discriminação no dia a dia dos homossexuais? Existe, mesmo entre a comunidade GLBT, quem questione ou classifique tais acontecimentos como oba-oba para a mídia - no cotidiano quem participa dos eventos volta pra dentro do armário e continua enfrentando dificuldades. O que voce diria sobre esta visão?

Miriam Martinho - Bom, o Dia Internacional do Orgulho LGBT, o dia 28 de junho, e o Dia Nacional do Orgulho Lésbico, o dia 19 de agosto, aparentados em essência, por seu caráter de luta contra o preconceito e sua repercussão na mídia, têm um poder simbólico que vai além das páginas dos jornais. Na verdade, a mídia funciona como multiplicadora dessas histórias de luta que são importantes como alento, inclusive no embate cotidiano que as mulheres lésbicas têm que travar contra o preconceito e a discriminação. Estamos na era da informação: considerar a visibilidade dos eventos comemorativos LGBT como simples oba-oba é cegueira política. Agora, evidentemente, são as mulheres que têm que ir à luta, sob a inspiração desses eventos. Eles sozinhos não vão produzir milagres.

Resolvido - Quais são hoje os principais pontos na batalha pelo fim da discriminação das lésbicas brasileiras?

Miriam Martinho - Interessa às lésbicas tanto as reivindicações de igualdade de direitos entre os sexos, entre homens e mulheres, quanto as reivindicações de igualdade entre héteros e homossexuais (união estável, adoção e custódia de crianças, pensões, direito à inseminação artificial). De bem específico, poderíamos citar as questões relativas à saúde lésbica, onde há a necessidade de um treinamento dos agentes de saúde (médicos, enfermeiras, hospitais...) para um atendimento minimamente satisfatório dessa população.

Resolvido - Como está a interação entre o movimento lésbico e o movimento feminista por conquistas para as mulheres em geral?

Miriam Martinho - O Movimento Feminista continua existindo sim, em todo o mundo, apenas se tornou mais institucionalizado, mais formal. Sua relação com a questão lésbica sempre foi espinhosa e mesmo contraditória, mas hoje em dia está bem melhor. Hoje o Movimento Feminista politiza a questão lésbica publicamente, tem dado mais espaço para as lésbicas em suas plataformas e publicações, mas ainda há bastante o que fazer.

Resolvido - Lesbianismo abordado em novelas das oito; Vaticano condenando homossexualidade; Estados Unidos (onde homossexuais obtiveram suas maiores conquistas) governado por conservadores. Um passo à frente, outro para trás? É isso mesmo?

Miriam Martinho - Quanto maior a visibilidade da questão homossexual na imprensa, quanto maiores os avanços dos direitos homossexuais em geral, mais os setores conservadores se sentem alarmados e partem para ofensivas mais pesadas. O documento do Vaticano é um exemplo disso, mas é bom lembrar que nem mesmo na própria Igreja Católica ele é consensual. Muitos católicos o consideram um absurdo. Então, creio que essa guerra de valores vai continuar e pode mesmo se acirrar, porém, mesmo com revezes, com idas e vindas, acredito que devem continuar ocorrendo vitórias pelos direitos LGBT. Gostaria de dizer a suas leitoras e seus leitores que nós agora temos um dia específico para comemorar o nosso orgulho, que é o dia 19 de agosto, mas que todos os dias são dias para se sentir orgulho de ser quem se é, de amar outra mulher.

MUITO ALÉM DE CLARAS E RAFAELAS

Oi Gente,
Hoje é 19 de agosto, DIA NACIONAL DO ORGULHO LÉSBICO.

Não dava pra deixar passar essa data em branco.
O dia, aqui na Serra, tá meio frio, mas o céu está lindo, há sol e eu vi Marte imperando na madrugada. Será que tudo isso é pra comemorar o dia de hoje?

Não sei, pode ser. Mas, estou fazendo a minha comemoração de forma especial: envio pras meninas do meu catálogo essa foto que tem muito a ver com esse dia.
A foto é de uma mulher (Cássia Eller) que tem muito peito pra mostrar – em todos os sentidos!

Ela sintetiza pra mim todas as outras mulheres, que estão muito além de Claras e Rafaelas; que não moram no Leblon, mas muitas vezes escondem-se nas quebradas das periferias das cidades e até do país.

São tantas outras mulheres que pegam ônibus, trem, andam a pé, brigam, choram, amam, criam seus filhos, são expulsas de casa, trabalham, fazem biscates, bebem e cheiram, apanham, batem, sofrem, amam.
A todas as mulheres que – por milhões de motivos – não podem dizer que amam outras mulheres; a todas essas mulheres que dizem em alto e bom som que amam outras mulheres; a todas essas mulheres que são mães; a todas essas mulheres que são filhas; a todas essas mulheres que AMAM OUTRAS MULHERES este é o NOSSO DIA, como todos os outros também são.

Um beijo, Graca

Graça - Rio de Janeiro – Brasil (Graça Portela faz o clipping Planeta Arco-Íris)       

Dia Nacional do Orgulho Lésbico15/08/03 GLSPLANET.COM

Entrevista com Míriam Martinho, uma das pioneiras do manifesto do Ferro´s Bar, que aconteceu no dia 19 de agosto, há 20 anos, data que inspirou a criação do Dia Nacional do Orgulho Lésbico.

- Você estava lá na manifestação contra a discriminação do Ferro´s bar. Como tudo aconteceu?
Míriam Martinho: O Ferro's foi durante décadas um ponto de encontro das mulheres lésbicas de todo o pais, não só de São Paulo. Todo mundo que vinha visitar a paulicéia desvairada, passava por lá. Apesar de sustentado pelas lésbicas, contudo, os donos do bar faziam restrições em relação às demonstrações de afeto entre as mulheres, por mais simples que fossem, e não queriam que vendêssemos o boletim do grupo, ao qual eu pertencia na época, o Grupo Ação Lésbica Feminista, no interior do estabelecimento. Outras coisas, contudo, eram vendidas livremente.

Quando tentávamos vender o boletim, vinha sempre alguém nos "convidar" para sair. Como insistíssemos, o clima foi ficando mais pesado. Primeiro, foi um segurança e um dos donos do bar que nos mandaram sair, já ameaçando partir para a agressão física. Houve empurra-empurra, puxões... Depois, a polícia foi chamada, e, numa primeira vez, apenas conversou conosco, aceitou nossos argumentos, e nos deixou em paz. Da segunda vez, acho que insuflados pelos donos do bar, não foram tão diplomáticos: nos escoltaram até à rua como se fôssemos criminosas. Então, organizamos uma manifestação em frente ao Ferro's, em articulação com outros grupos, abrimos a porta do bar, que estava guardada por um segurança, após muita conversa, fizemos um discurso contra o preconceito e a discriminação, já dentro do recinto, e obtivemos a promessa dos donos de não mais nos reprimirem. Foi uma grande vitória sobretudo para a época.

- Dia Nacional da Visibilidade Lésbica, Dia Nacional do Orgulho Lésbico, você não acha que seria melhor unir as datas para ampliar o movimento?
Míriam Martinho: Primeiro vamos aclarar as denominações. O 19 de agosto é o Dia Nacional do Orgulho Lésbico em comemoração aos 20 anos da manifestação do Ferro's bar. O dia da visibilidade a que você se refere nunca foi chamado de nacional antes de termos lançado o dia nacional do orgulho lésbico. Parece que a gente lançou moda. Segundo, acho que datas nascem sobretudo de coerência política e ideológica. A primeira manifestação de visibilidade lésbica ocorrida no Brasil, e visibilidade significa dar-se a conhecer à sociedade heterossexual em algum nível, foi a manifestação do dia 19 de agosto. Foi uma manifestação de coragem, orgulho e visibilidade semelhante a de Stonewall, guardadas às devidas proporções. Portanto, o 19 de agosto congrega tanto o orgulho quanto à visibilidade das lésbicas. É uma data histórica.

- Na época, "partidos de fora" como as feministas e os grupos gays aderiram ao movimento. Hoje ainda existe esta divisão entre lésbicas, gays e feministas?
Míriam Martinho: Bem, a organização lésbica brasileira nasceu no bojo do Movimento LGBT (na época chamado apenas de Homossexual) e depois é que entrou em contato com o Movimento Feminista. O Movimento Feminista, ao contrário do que ocorre hoje, era totalmente refratário à politização da questão lésbica na década de 80.

O apoio de feministas à manifestação do Ferro's foi uma exceção à regra. Os gays apoiaram a manifestação do 19 de agosto como já haviam apoiado outras atividades lésbicas daquele período. Nós inclusive dividíamos uma sede com um grupo gay muito legal. Hoje, acho que os gays são mais voltados para suas questões, e as feministas estão mais abertas à questão lésbica.

Mas não creio que exista uma divisão propriamente. Acho que feministas e gays estão em movimentos que não abordam só a questão lésbica, mas várias questões. Então, cabe às lésbicas ampliarem seus espaços dentro desses movimentos ou conseguirem "caixas de ressonância" para suas reivindicações dentro dos mesmos.

- Como uma das pioneiras do movimento lésbico em Sampa como vê hoje a evolução da sociedade brasileira em relação à lésbica?
Míriam Martinho: Bom, apenas nos situando, sou uma das fundadoras do movimento lésbico no Brasil. De fato, sou carioca de nascimento, paulistana de coração e filha de nordestinos. Bairrismos, portanto, não são comigo. Iniciei minha militância em 1979, quando entrei no Somos (a primeira organização homossexual do país) e fui a única ativista a permanecer trabalhando ininterruptamente com a questão daquela época até hoje. Quanto à sociedade brasileira, esta vem se tornando mais aberta em relação à questão homossexual em geral, e isso se reflete numa maior tolerância quanto às relações entre mulheres também, embora ainda de forma incipiente. O casal de adolescentes da novela das 8:00 da Globo reflete bem isso. Observa-se uma tendência a mantê-las juntas (por enquanto não foram implodidas, como as parceiras de Torre de Babel), mas ainda não se tem certeza se haverá final feliz. As últimas declarações do Vaticano, tão anacrônicas, podem se refletir negativamente no trato da questão homossexual no Brasil, pois somos um país católico, mas não acredito em retrocesso, pois a tendência é de aceitação dos direitos homossexuais em todo o mundo.

- Em que o Dia da Lésbica pode acrescentar às conquistas, mesmo sendo um dia somente no ano?
Míriam Martinho: Bom, o dia nacional do orgulho lésbico é emblemático da situação que a maioria das lésbicas enfrenta em seu cotidiano ainda hoje, onde sustentamos tantas coisas e até pessoas e temos direito a tão pouco ou nada. E o 19 de agosto também é um símbolo da solução para esse problema. Naquela data, enfrentamos os nossos medos, não deixamos mais que nos humilhassem e nos explorassem, exigimos nossos direitos e saímos vitoriosas. O 19 de agosto, portanto, é uma inspiração para todos os dias do ano, pois constantemente enfrentamos situações que nos exigem coragem e ousadia contra o preconceito e a discriminação.

- O que você acha que falta às lésbicas para poderem se impor na sociedade?
Míriam Martinho: Exatamente orgulho. Não há porque envergonhar-se de amar outra mulher. Construímos esta nação como todas as demais pessoas, e temos direito aos direitos mínimos de cidadania que todos têm. Direito a amar, a constituir uma família, um patrimônio, a ter filhos e ter tudo isso garantido como as pessoas heterossexuais têm. Agora, ninguém dá nada de mão beijada: é preciso auto-aceitar-se e ir à luta.

- O que acha da visibilidade lésbica nas matérias divulgadas nos veículos de comunicação?
Míriam Martinho: Vem crescendo continuamente, e isso é bom porque permite uma identificação das mulheres lésbicas com personagens positivas, muitas vezes mulheres como elas que, com naturalidade, falam de suas vidas com outras mulheres, também identificação com artistas e mesmo personagens fictícias que servem como exemplos a seguir. O poder dos símbolos é muito grande. Felizmente, cada vez mais a grande imprensa aborda as questões lésbicas de forma positiva, ficando mais por conta da imprensa marrom a manutenção do enfoque baixaria. De qualquer forma, é preciso estar de olho na imprensa e não permitir abusos

As comemorações do Dia Nacional do Orgulho Lésbico começam dia 19, terça-feira,com palestras, sarau musical e coquetel em São Paulo. Participem

Local: Ação Educativa, Rua General Jardim, 660

Memória: Caminhada Lésbica: Devagar, devagar... foi indo!

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Por Míriam Martinho

Ocorreu, dia 05/06/2010, em São Paulo, a 8a Caminhada de Lésbicas, Bissexuais e Simpatizantes da cidade. Esvaziada, só saiu para a avenida por volta das 16:00, dada à falta de público. Mesmo assim, conseguiu ao longo do trajeto reunir cerca de 1000 pessoas, segundo opinião geral. Consultada, a polícia militar chutou umas 600 pessoas, mas exagerou na diminuição. De qualquer forma, houve um claro decréscimo de outros anos para esta edição.

O evento foi uma grande novidade quando surgiu em 2003 e continuou com pique nos 3 primeiros anos, nos moldes das dykes marches dos EUA. Depois, foi tomada de assalto pelo movimento feminista, que a transformou em palco de proselitismo deslavado, tanto que a temática do aborto (que não é lésbica) passou a figurar nas faixas e falas, a avenida Paulista virou avenida feminista e outras tantas do gênero. 

Desde o ano passado, a pretexto da caminhada, temos também a jornada feminista, onde busca-se fazer a cabeça da meninada para ideias um tanto quanto defasadas não tanto por serem feministas (dependendo, de qualquer forma, pode ser algo anacrônico em si mesmo), mas principalmente por serem oriundas de algumas das correntes do feminismo mais discutíveis como o feminismo socialista. Este último, aliás, ostensivamente abre a caminhada, logo após a faixa de abertura, com slogans pela revolução socialista e congêneres, entremeados de algumas chamadas lésbicas para “colar” nas jovens participantes da marcha que – felizmente – não estão nem aí para nada disso. 


Este ano, o proselitismo barato sumiu da faixa de abertura, mas esteve presente nas socialistas citadas acima, nas bandeirinhas e adesivos do PT, e nos folhetos tanto relativos à caminhada (onde a chamada da jornada lésbica-feminista aparece em primeiro e em maior destaque que a da caminhada), quanto relativos à organizadora do evento, a Liga Brasileira de Lésbicas (LBL) que se define, entre outras coisas, como anticapitalista (embora viva do dinheiro do setor produtivo da sociedade, exatamente o setor capitalista).

Fora isso, ou por causa disso, a estrutura mesma da caminhada precisava ser repensada. Não há faixas intermediárias, com bandeiras lésbicas (lésbicas apenas) ao longo da marcha, que possam mobilizar mais as pessoas, dar mais visibilidade à lesbianidade em geral. Encabeçada pela fuzarca feminista (marcha das mulheres, sei lá), com animadíssimas chamadas pela revolução feminista socialista, e um grande vácuo até o trio elétrico, que encerra a caminhada, o evento fica dependente do pique da moçada, que tem que se virar sozinha, e que está carregando a caminhada nas costas e no pé.

Aliás, é essa moçada, aparentemente desengajada, a verdadeira caminhada lésbica que carrega a bandeira do arco-íris com um labrys estrelado, que anda de mãos-dadas e troca selinhos, que se diz cansada de vitimismos e quer apenas demonstrar que vive hoje com mais naturalidade o amor entre mulheres. Essa moçada, mesmo as de cabelos já grisalhos, se parece com suas contrapartes americanas, criadoras das marchas lésbicas, que já reuniram mais de vinte mil lésbicas (e só lésbicas) liberadas e libertárias, nos EUA, dando um real sentido à visibilidade lésbica que não pode ser, da forma como está aqui, subserviente a cooptações ideológicas e partidárias.

Publicada originalmente no site Um Outro Olhar em 06 de junho de 2010. Editada em 27 de agosto de 2012

A origem das caminhadas lésbicas

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Por Míriam Martinho

As caminhadas lésbicas foram criadas, em 1993, em Washington D.C (EUA), por um grupo de ativistas lésbicas chamado Lesbian Avengers (Vingadoras Lésbicas/1922), grupo que conclamava as lésbicas, as dykes, as mulheres gays e todas as mulheres homoafetivas a irem à luta por seus direitos. Organização de intervenção direta, com base em técnicas teatrais, sempre buscou ações que criassem imagens fortes e originais para atrair a cobertura da imprensa e conquistar novas integrantes. Uma de suas performances mais conhecida foi a técnica circense de engolir fogo.

Fonte: Lesbian Avengers

As Avengers surgiram, segundo a repórter Eloise Salholz da Newsweek que cobriu a Parada LGBT de Washington, em 1993, e se popularizam, não só nos Estados Unidos (até hoje há grupos espalhados pelo país) como no exterior, porque as lésbicas estavam cansadas de trabalhar por questões que não as afetavam diretamente, como a AIDS e o aborto, enquanto suas próprias questões permaneciam sem solução. Estavam cansadas sobretudo da invisibilidade e do androcentrismo ou heterocentrismo dos movimentos LGBT e feminista. O lema das Avengers sempre foi o das lésbicas em primeiro lugar.

No Brasil, em 2003, os grupos Umas e Outras (SP) e MOLECA (Campinas/SP) lançaram a versão brasileira das dykes marches que ficou conhecida como Caminhada de Lésbicas, Bissexuais e Simpatizantes (também já existem outras Brasil afora) no mesmo espírito das originais. Como nos países em desenvolvimento, a caminhada antecede as Paradas mistas LGBT, mas tem alguns diferenciais. No exterior, os gays às vezes não caminham junto com a marcha. Ficam nas calçadas incentivando as colegas que passam, fazendo festa. Aqui os gays sempre acompanham a caminhada, mas salvo um boato, surgido em uma das primeiras versões do evento, de que estariam encabeçando o passeio, boato depois desmentido por fonte fidedigna, têm participado de forma discreta, em apoio, sem interferências.

Agora, no dia 13 de junho, em São Paulo, teremos mais uma edição da caminhada brasileira, que é uma tradição do ativismo lésbico internacional a ser resgatada em seu espírito de origem, mantida e ampliada. Aproveitaremos para comemorar os 30 anos da organização lésbica brasileira que se completaram neste último mês de maio.

Abaixo, vídeo da dyke march de 2010 em San Francisco (EUA). Na maior algazarra, lésbicas de todas as tribos (dykes, butches e femmes, feministas, lesbian chics, lipsticks, etcetera...) de todas as etnias, gerações e tipos. Lésbicas em primeiro lugar.

Publicado originalmente no site Um Outro Olhar em junho de 2009. Atualização dos vídeos em 27 de agosto de 2012




Recomendação de que gays não doem esperma pode dificultar gravidez lesbiana

sábado, 25 de agosto de 2012 2 comentários

Somente os funcionários do FDA podem proteger as mulheres da América do ataque do esperma gay!

Nos Estados Unidos, casais de mulheres que querem engravidar recorrem a amigos gays ou a clínicas que aceitam doadores de esperma homosssexuais. Segundo a doutora  Deborah Cohan, instrutora de obstetrícia e ginecologia na Universidade da California, San Francisco, algumas lésbicas preferem doadores gays  por acreditarem que são mais receptivos ao conceito de famílias de mesmo sexo.

Entretanto essa possibilidade pode ser dificultada pela decisão da Food and Drug Administration (FDA) de recomendar que qualquer homem que tenha mantido relacionamentos homossexuais, nos últimos cinco anos antes da doação, seja barrado como doador anônimo de esperma. A FDA adotou essa postura por considerar que homens homossexuais coletivamente têm uma possibilidade maior do que a média da população masculina de serem portadores do vírus da AIDS. 

Organizações de direitos LGBT e especialistas da área de reprodução assistida acusam a FDA de simplesmente estigmatizar todos os homens gays em vez de adotar um processo de triagem que enfoque o comportamento sexual de alto risco de qualquer doador, hétero ou homo.

Ainda que a FDA não proíba homens homossexuais de servir como doadores "diretos", permitindo que uma mulher utilize esperma de um gay para inseminação artificial, independente de seu histórico sexual, via uma clínica especializada, suas novas recomendações tornarão todo o processo legalmente mais difícil.  

O diretor de uma clínica, na Califórnia, que aceita doadores gays, resumiu bem a pertinência da nova resolução da FDA: “De acordo com essas regras, um homem heterossexual que faça sexo com prostitutas HIV-positivas sem camisinha será considerado apto como doador um ano depois da relação de risco mas não um homem homossexual envolvido em uma relação monógama com sexo seguro. Para ser doador, o gay deve manter celibato por cinco anos."  

Atualização: O texto original, em que se baseia essa postagem, é da Associated Press, de 2005. Nele se fala que a FDA estaria recomendando que gays fossem barrados em bancos de esperma. Agora, fala-se em proibir que gays doem esperma nos EUA. Ver também RT Question More .Na página da FDA, no Facebook, pessoas irritadas estão pedindo um posicionamento do órgão. Vamos ver se aparece algum.

'I've Only Just Begun', contra a discriminação aos LGBT na Rússia e em qualquer lugar

sexta-feira, 24 de agosto de 2012 1 comentários

Cortejo de Venuz Vulgar desce o braço nos homofóbicos

I've Only Just Begun
(Apenas comecei)  é um curta musicado que enfoca a luta LGBT contra a discriminação na Rússia e em qualquer lugar. Rodado pelo diretor finlandês Elias Koskimies ("E" nos créditos), produzido com dinheiro do próprio e com um elenco de voluntários, o filme conta a história de Venuz Vulgar que caminha em cortejo, por uma floresta enevoada, rumo a São Petersburgo, para libertar alguns amigos aprisionados pelas recentes leis russas que baniram a "propaganda homossexual". 

Clara referência às leis draconianas contra os direitos homossexuais, na Rússia, e à prisão das jovens da banda punk Pussy Riot, o curta mostra o cortejo de Venuz Vulgar entrando literalmente no pau contra os tradicionais inimigos dos LGBT: primeiro, os crentões hipócritas e depois um bando de neonazis, ambos derrotados no braço, com os últimos inclusive terminando por puxar o carro do cortejo.

Houve críticas ao visual dos integrantes do cortejo LGBT, para alguns estereotipado e decadente, mas consenso sobre a beleza da música melancólica, com versos pungentes, em tradução livre: "Caminhando nesta estrada maluca/ é tão absurdo que esteja rindo/eles nunca escutam a batida do meu coração/Se eu perder uma batalha aqui e acolá/continuarei como se não me importasse/pararei em algum lugar que me acolha. E o refrão: "Estou me preparando para o acontecimento/Não caminho ao som de seus tambores/Estou pront@ para começar a revolução/eu somente comecei/eu somente comecei".

Abaixo o vídeo do curta e a letra de I've Only Just Begun. Ao final da postagem, a página do filme no Facebook.



Walking down this lonely road

They closed their eyes and shut the doors
They've never heard
The beating of my heart
I'm walking down this silent road
Not begging 'em to come along
They've never heard
The beating of my heart

I'm rising to the occasion

Not walking by the beat of their drums
I'm ready to start the revolution
I have only just begun

Walking down this crazy road
It's so absurd I'm laughing out
They've never heard
The beating of my heart
If I'll lose one battle here and there
I'll walk away like I don't care
I'm gonna end up
Somewhere I belong

I'm rising to the occasion
I'm not walking by the beat of their drums
I'm ready to start the revolution
I have only just begun
I have only just begun

Walking down this lonely road
They close their eyes and shut the doors
They've never heard
The beating of my heart

I'm walking down this silent road
Not begging 'em to come along
They've never heard
The beating of our hearts

I'm rising to the occasion

Not walking by the beat of their drums
I'm ready to start the revolution
I have only just begun
I have only just begun
Mais informações: I've Only Just Begun - the short music film

“Casos de Família” desta quarta-feira apresenta o tema "Somos irmãos e gays. E daí?"

quarta-feira, 22 de agosto de 2012 0 comentários


Pepe e Nenem no Casos de Família

O programa “Casos de Família”, do SBT, desta quarta-feira, 22 de agosto (17 horas), abordará o tema "Somos gays e irmãos. E daí?”.

O depoimento principal fica por conta das gêmeas cantoras Pepê e Neném que já assumiram publicamente sua homossexualidade no programa De Frente Com Gabi e agora repetem a dose no "Casos". 

Para a apresentadora Cristina Rocha, do “Casos”, Neném afirmou que os empresários não queriam que elas se assumissem por temer perda de audiência. Devem ter mudado de opinião.

Também os irmãos Arthur e Thiago, que não sabiam da orientação um do outro, contarão como ficou mais fácil para ambos quando se assumiram juntos. Falarão também dos relacionamentos com os respectivos namorados.

Agosto com orgulho: os primórdios da organização lesbiana no Brasil

terça-feira, 21 de agosto de 2012 3 comentários

Edição 12 do Lampião que dá início
 ao Grupo Lésbico-Feminista (LF)
Por Míriam Martinho

A organização lésbica brasileira se inicia no começo de 1979 quando algumas mulheres ingressam no primeiro grupo homossexual do país, o SOMOS, formando um subgrupo, em maio daquele ano, que recebeu várias denominações (facção lésbica-feminista, subgrupo lésbico-feminista, ação lésbica-feminista) até oficializar-se, em sua breve vida (de 1979 a meados de 1981) com o nome de Grupo Lésbico-Feminista (LF). Este grupo será pioneiro no tratamento da questão homossexual, dentro do Movimento Feminista, e da questão da mulher, dentro do Movimento Homossexual, bem como na elaboração da primeira publicação lésbica do país, intitulada ChanacomChana (janeiro de 1981).

Em outubro de 1980, o Grupo Lésbico-Feminista, a partir de uma série de conflitos internos, sofre um racha, com a maior parte de suas integrantes deixando a militância, algumas outras formando um outro grupo lésbico (Terra Maria), ou indo atuar em organizações feministas (SOS Mulher), e outras ainda decidindo dar continuidade ao grupo lésbico-feminista com outra perspectiva.  Para informações mais detalhadas sobre o Grupo Lésbico-Feminista (LF), clicar aqui.

Em outubro de 1981, as que optaram por dar continuidade à militância especificamente lesbiana e feminista (Miriam Martinho e Rosely Roth), fundaram o Grupo Ação Lésbica Feminista (GALF), organização que voltou a produzir a publicação ChanacomChana, como boletim, construiu a primeira biblioteca sobre a temática lésbica no Brasil, fez as primeiras reivindicações junto a políticos pelo combate contra a discriminação, as primeiras articulações entre ativistas lésbicas em nível internacional (em particular da América Latina), as primeiras aparições públicas nos meios de comunicação nacionais (mídia impressa e televisiva) e permaneceu atuante durante praticamente toda a década de oitenta (1981-1989), ao contrário das outras poucas organizações lésbicas da época que tiveram vida efêmera.

Em 1989, o Grupo Ação Lésbica-Feminista também se encerra, dando origem à Rede de Informação Um Outro Olhar, esta muito influenciada, em seus primeiros anos, por distintas correntes ideológicas do Movimento Lésbico Internacional (não só mais pelo Feminismo), participando de vários encontros nacionais e internacionais e tornando-se, a partir de 1995, uma organização não-governamental, com vários projetos na área de saúde da mulher, com recorte para a população lésbica.

Abaixo, sumário cronológico da organização lésbica no Brasil dos anos 80, 90, até 2003.



Anos
80 - Organizações


Anos
90/2000 – Organizações

1979-1981
Grupo Lésbico Feminista (LF) – SP


Rede de Informação Um Outro Olhar 

1981-1988
Grupo Ação Lésbica Feminista(GALF-SP)


Grupo Deusa Terra (SP) 

Grupo Terra Maria Opção Lésbica (SP)


Grupo Afins (Santos, SP) 

Grupo Libertário Homossexual (BA)  


Estação Mulher (SP) 

Grupo Terceira Dimensão (RS)  


Coletivo de Feministas Lésbicas (SP)

Grupo 
Gaúcho de Lésbicas Feministas 
Grupo Lésbico da Bahia

Rede de Informação Um Outro Olhar 


Coletivo de Lésbicas do Rio de Janeiro


Movimento D’Ellas (RJ)


Associação Lésbica de Minas





 Organizações
2000-2003





Movimento Lésbico de Campinas (SP)


Lésbicas Gaúchas –Legau (RS)

Grupo de Mulheres Felipa de Souza (RJ)


Athena (SE)

AMAM (SP)

Umas e Outras (SP)

Secretaria de Lésbicas da
Associação da Parada GLBT de SP







Periódicos
– anos 80


Periódicos
– anos 90
Jornal
Chanacomchana (1981). Edição 0 –
Publicado pelo Grupo Lésbico-Feminista (LF)


Boletim
Um Outro Olhar

do 12 ao 25, até 1995
pela  Rede de Informação Um Outro Olhar

Boletim ChanacomChana  (12 edições- 1982 a 1987)
publicado pelo Grupo Ação Lésbica-
Feminista (GALF)
Boletim Gem, publicado
pelo grupo Estação Mulher

Boletim Iamaricumas (RJ)
pelo grupo de mesmo nome
 


Boletim Deusa Terra
publicado pelo grupo Deusa Terra

Boletim Amazonaspublicado pelo Grupo Libertário
Homossexual (BA)


Revista Femme,
publicada pelo grupo Afins 

Boletim Xererecapublicado por Rita Colaço e independentes (RJ)


Boletim Lesbertáriapublicado por lésbicas-feministas de São Paulo

Boletim Ponto G
publicado pelo Grupo Lésbico da Bahia


Boletim Ponto G
publicado pelo Grupo Lésbico da Bahia

Boletim Um Outro Olhar
do 1 ao 12, até 1990
pela Rede de Informação Um Outro Olhar
Boletim Folhetim
publicado pelo Movimento D ’Ellas


Boletim Ousar Viver (1995-2002)
publicado pela Rede de Informação Um Outro Olhar, 17 edições.


Revista Um Outro Olhar (1995-2002) publicada pela Rede de Informação Um Outro Olhar, 38 edições.

Publicado originalmente em 2004 no site Um Outro Olhar sob o título 1979-2004: 25 Anos de Organização Lésbica no Brasil. Nova edição 21 de agosto de 2012.

Ver também:
Tributo a Rosely Roth e Livreto Dia do Orgulho das Lesbianas do Brasil
Agosto com orgulho: Repercussão do 19 de agosto na Imprensa

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