Memória lesbiana: há 33 anos surgia a Rede de Informação Um Outro Olhar, paladina da visibilidade lésbica

segunda-feira, 12 de abril de 2021

Trio elétrico da Um Outro Olhar em 2003

Registrada em 12 de abril de 1990, a Rede de Informação Lésbica Um Outro Olhar (RILUOO) marca o divórcio do Grupo Ação Lésbica Feminista (GALF/1981-1990) do movimento feminista, dando início a um ativismo focado nas questões e visibilidade lésbicas. De fato, o GALF já iniciara um processo de separação do movimento feminista desde 1985, priorizando mais a população lésbica do que as chamadas questões de gênero, por considerar contraproducente sua atuação num movimento que, à época, hostilizava sem pudores a visibilidade lésbica. Entre as feministas homossexuais do período prevalecia a ideia de que era necessário submergir a identidade lésbica na identidade feminista (o armário feminista) ou de que as lésbicas deveriam no máximo se contentar em realizar alguma oficina sobre “lesbianismo” perdida entre zilhões de outros temas heterossexuais dos encontros feministas. Grupo autônomo de lésbicas nem pensar.

As ativistas do GALF, contudo, vão progressivamente considerar que valia mais a pena tentar a autonomia, influenciadas pelo crescimento das organizações lésbicas em nível internacional e pela leitura do livro Lesbian Ethics da filósofa lésbica americana Sarah Lucia Hoagland e seu conceito de redes entre sapatas. Com esta nova perspectiva em mente, as integrantes do GALF passaram a gerar a Um Outro Olhar a partir dos últimos 2 meses de 1989, oficializando-a em abril do ano seguinte.

Entre inúmeras produções e atividades, ao longo de sua trajetória, a Um Outro Olhar publicou o título Um Outro Olhar, primeiro como boletim (11 edições), depois como revista (14 edições). A partir de 1995, como parte do pioneiro projeto Prazer sem Medo, financiado pelo Ministério da Saúde, publicou também o boletim Ousar Viver (15 edições) sobre saúde lésbica em geral, encartado na revista Um Outro olhar, a cartilha Prazer sem Medo, e vários outros materiais sobre prevenção a doenças sexualmente transmissíveis e saúde lésbica em geral.

Na organização de atividades, destacaram-se, entre suas realizações, a organização do VII Encontro de Lésbicas e homossexuais, em setembro de 1993, inserindo a palavra lésbica no nome do encontro e inaugurando o movimento de gays e lésbicas brasileiro, antigo Movimento Homossexual, e o IX Encontro Brasileiro de Lésbicas e Travestis, em fevereiro de 1997, que inspirou a I Parada GLT de SP. Destacou-se também pelo lançamento do Dia Do Orgulho Lésbico, em 2003, em homenagem à primeira manifestação lésbica contra a discriminação e à memória de Rosely Roth, destaque do evento. Participou ainda pioneiramente da maior parte das edições das Paradas LGBT de São Paulo até 2009, sempre buscando garantir a visibilidade lésbica num evento até hoje majoritariamente masculino.


A Um Outro Olhar foi igualmente sócia-fundadora da Associação Brasileira de Gays, Lésbicas e Travestis (ABGLT-1995) e participou de vários outros encontros, nacionais e internacionais, como a Reunião de Reflexão Lésbica-Homossexual (Santiago, Chile/ nov. 1992), a 17ª Conferência da ILGA (18 a 25/05/1995), no Rio, e a Conferência Nacional de Mulheres Brasileiras (6-7 de julho de 2002), onde garantiu a menção, na Plataforma Feminista, da contribuição inestimável das lésbicas para a luta das mulheres, pelo direito ao próprio corpo, pela livre orientação sexual e tantas outras contribuições sapatônicas pelos direitos do sexo feminino.

Ainda a Rede de Informação Um Outro Olhar construiu acervo onde preservou publicações e documentações das primeiras organizações lésbicas e homossexuais desde 1979, inventariados e resgatados agora por sua orgulhosa herdeira, esta página Um Outro Olhar, através da série Memória Lesbiana e outros títulos históricos. Informe mais detalhado da organização para breve.

Míriam Martinho e gay criativo na Parada do Orgulho LGBT de SP


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*Miriam Martinho é uma das fundadoras do Movimento Homossexual brasileiro, em particular da organização lésbica, tendo co-fundado as primeiras entidades lésbicas brasileiras, a saber, Grupo Lésbico-Feminista (1979-1981), Grupo Ação Lésbica-Feminista (1981-1989) e Rede de Informação Um Outro Olhar (1989....). Editou também as primeiras publicações lésbicas do país, como o fanzine ChanacomChana (década de 80) e o boletim e posterior revista Um Outro Olhar (década de 90 até 2002). Atualmente administra as páginas Um Outro Olhar e Contra o Coro dos Contentes. 

Fundou igualmente o movimento de saúde lésbica no Brasil, em 1994, realizando a primeira campanha de prevenção às DST-AIDS para mulheres que se relacionam com mulheres, em 1995, e editando as primeiras publicações sobre o tema desde essa época (em 2006 publicou a 4 edição da cartilha Prazer sem Medo sobre saúde integral para lésbicas e bissexuais). Participou da organização do I EBHO (1980), organizou dois encontros LGBT nacionais (VII EBLHO/93 e IX EBGLT/97) e foi sócia-fundadora da Associação Brasileira de Gays, Lésbicas e Travestis (ABGLT-1995). Participou igualmente de vários encontros internacionais com destaque para a 8ª Conferência Internacional do Serviço de Informação Lésbica Internacional-ILIS (Genebra, Suiça, 28 a 31/03/1986), o I Encontro de Lésbicas-Feministas Latino-Americanas e do Caribe (Cuernavaca, México, 1987) e a Reunião de Reflexão Lésbica-Homossexual (Santiago, Chile/ nov. 1992).

2 comentários:

  1. Será que é possível pensar em um livro sobre a história do protagonismo desse movimento? De suas atividades de luta e empenho?
    Se já houver um livro poderíamos pensar em uma reedição atualizada?

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    1. Está sendo elaborado, colega. Por enquanto, o resgate está sendo em partes aqui pelo site. Míriam

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